INTERVENÇÕES
Intervenção
de José Pós de Mina no encerramentos dos trabalhos
da
Conferência Nacional - O PCP e o Poder Local
11 de Maio de 2003

1. A Constituição da República
Portuguesa, refere no seu artigo 236, que no continente as autarquias
locais são as freguesias, os municípios e as regiões
administrativas.
Refere ainda a Constituição
que as atribuições e competências das autarquias
locais são reguladas por lei, de harmonia com o princípio
da descentralização administrativa.
A luta pela instituição
das regiões e pela descentralização administrativa,
faz parte do património e da história do Partido Comunista
Português, que tem dado um contributo relevante para a afirmação
da necessidade da adopção de verdadeiras políticas
de desenvolvimento regional, baseadas em princípios de sustentabilidade
e solidariedade.
Os períodos de maior luta pela
regionalização foram inseparáveis da acção
e esforço do colectivo comunista.
2. A direita não está interessada no desenvolvimento
e na melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e das camadas
mais favorecidas.
A direita teme a participação popular e a aproximação
do poder às populações, pois a disseminação
da cultura democrática e de intervenção na
sociedade é contrária aos interesses ideológicos,
dos que apostam tudo no primado do mercado e da concentração
capitalista.
Centralizar o poder tem acompanhado a ofensiva e a política
da direita.
O resultado desta política, partilhada pelos Governos do
PSD e PS, tem sido o acentuar das desigualdades regionais, das assimetrias,
com a litoralização do País e tem contribuído
para poder distribuir recursos à sua maneira sem atender
aos reais interesses das diversas regiões.
Anos e anos de aplicação de fundos comunitários,
geridos de uma forma predominantemente centralizadora, não
se traduziram na diminuição das desigualdades. A opção
dos grandes investimentos não tem respeitado os reais interesses
do desenvolvimento regional.
Por isso também se torna necessária a luta por uma
participação mais activa dos municípios na
gestão dos fundos comunitários.
3. As principais vantagens da regionalização são:
· Aumentar o bem estar das populações, através
de uma melhor acesso e um maior cuidado na distribuição
dos equipamentos e investimentos;
· Contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços
públicos e para a indispensável reforma da administração
pública, aproximando o poder de decisão das pessoas;
· Permitir uma gestão mais eficaz dos recursos de
cada região, e um maior equilíbrio da ocupação
do território;
· Reduzir as assimetrias, combate o despovoamento e a desertificação
e permitir a promoção do emprego e da economia regional;
· Aumentar a capacidade das regiões para decidir
acerca do seu próprio futuro, tendo o direito a eleger os
seus representantes aos órgãos políticos regionais.
Sendo verdade que o desenvolvimento regional só pode ser
assegurado por uma justa política nacional, não é
menos verdade que esse desenvolvimento regional reclama a existência
de um poder e uma capacidade de decisão regional, com legitimidade
e força política emanadas da vontade popular, com
meios e instrumentos adequados.
4. A alegada política de descentralização
posta em prática pelo Governo PSD/PP, na sequência
da inépcia das políticas do Partido Socialista, visa
numa perspectiva de classe, separar responsabilidades, aligeirando
o aparelho da administração central de tarefas incómodas
A recém aprovada lei relativa ao regime de criação,
quadro de atribuições e competências das comunidades
intermunicipais, tem como principais aspectos negativos:
- Estas novas entidades estão submetidas às limitações
ao endividamento municipal e são condicionadoras deste;
- Implica a transferência de competências próprias
dos municípios para um nível supramunicipal, ao invés
do que seria necessário;
- Prevê a transferência de competências da administração
central sem adequada transferência de meios;
- Não estão dotadas dos meios financeiros suficientes
para as competências previstas;
- Abre campo à arbitrariedade em torno da contratualização
de competências com a administração central.
O conjunto da legislação sobre as áreas metropolitanas,
as comunidades urbanas e as comunidades intermunicipais, associado
à alteração da NUT Alentejo e ao novo figurino
adoptado para as CCR configura, num quadro gerador da mais completa
dispersão e confusão em órgãos de carácter
regional, numa lógica de “geometria variável”
levado ao extremo, a mais um passo na tentativa de inviabilização
do procedimento constitucional de instituição das
regiões administrativas.
Com esta política e com estes métodos de actuação
o Governo PSD/PP, visa dar uma machadada profunda na descentralização
administrativa, e faz retroceder as expectativas da concretização
de políticas de desenvolvimento regional.
Sem a existência de uma política nacional de ordenamento
do território, sem regiões instituídas com
capacidade para definir e implementar políticas de desenvolvimento
regional, com as limitações crescentes à capacidade
de intervenção dos municípios e freguesias,
com o acentuar das políticas económicas contraccionistas,
está aberto o caminho para o triunfo do liberalismo, para
a concentração da riqueza nas mãos de poucos,
para o cavar das desigualdades na sociedade portuguesa. Aqui se
demonstra a importância que o sentido e o ruma da política
nacional têm na política regional.
Também em matéria de descentralização
e de desenvolvimento regional, é diferente a perspectiva
dos que lutam pela participação dos cidadãos
nas decisões que lhes dizem respeito.
É perfeitamente apropriada a ideia referida no projecto
de documento para esta Conferência de que é necessária
“Uma efectiva política de descentralização
na qual a criação das regiões administrativas
é condição principal para a concretização
de uma coerente reforma da administração pública
e para uma política de desenvolvimento regional capaz de
aproveitar os recursos de cada região, combater as assimetrias
e contribuir para a coesão regional”.
A luta pela regionalização e pela descentralização
é inseparável da luta pela construção
de uma alternativa à política da direita, e da batalha
pela transformação da sociedade.
É indispensável a mobilização das organizações
do Partido em torno desta ideia e da colocação deste
problema na agenda política, mobilizando as populações
e as mais diversas organizações em torno da necessidade
da elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento
regional, do aproveitamento dos recursos e potencialidades locais.
A batalha por estas ideias visa tornar clara e disseminar a necessidade
objectiva da criação das regiões.
Viva o Partido Comunista Português
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