Declaração de Carlos Carvalhas,
Secretário-geral do PCP,
no funeral de Lino de Carvalho

11 de Junho de 2004

 

Com profunda mágoa, desgosto e tristeza, estamos hoje aqui para nos despedirmos do camarada e amigo Lino de Carvalho a quem uma morte prematura acaba de roubar ao nosso convívio, ao nosso trabalho e à nossa luta quando muito havia a esperar da sua contribuição para a vida e a intervenção do nosso partido, em prolongamento de cerca de quarenta anos de generosa intervenção cívica e política e de 35 anos de intensa e empenhada militância no nosso Partido.

Neste triste e comovido momento, aqui queremos mais uma vez dirigir à sua família, aos seus filhos e à sua mulher, ao seu irmão e a todos os que por ele sentiam laços de afecto mais próximos e fortes, a sentida solidariedade do nosso Partido e do seu colectivo partidário para com a sua dor, amargura e sofrimento, mas queremos agradecer também a todas as instituições, titulares de cargos públicos, titulares de cargos políticos e a tantos e tantos cidadãos que nos deixaram as suas condolências.

Aqui estamos hoje a despedirmo-nos do camarada Lino de Carvalho a quem não apenas a luta do PCP mas também a própria conquista da liberdade e a construção e defesa da democracia portuguesa tem um indeclinável dever de testemunhar um forte reconhecimento e um grande apreço por esta vida agora tragicamente interrompida mas marcada por uma imensa generosidade e determinação, por inabaladas convicções comunistas, por uma profunda indignação face às opressões e injustiças e por uma grande e persistente dedicação aos ideais humanistas da liberdade, da democracia e do socialismo.

Sim, estamos hoje a despedirmo-nos de um português integro e vertical, de um democrata corajoso e consequente e de um comunista empenhado e combativo que viveu sempre com intensidade, paixão e empenhamento muitas décadas de lutas e de combates, sempre compartilhados por milhares e milhares de outros homens e mulheres e por milhares e milhares de camaradas muitos dos quais o país não conhece o nome, lutas que fazem parte da nossa história nacional e que dela não podem ser rasurados.

A este propósito, e ainda que de forma necessariamente pobre e insuficiente, é justo lembrar a destacada intervenção de Lino de Carvalho na luta estudantil e na luta da oposição democrática nos anos finais da ditadura fascista como importante afluente do rio mais largo e impetuoso que criou as condições para a conquista da liberdade em 25 de Abril. É justo lembrar a sua participação nas importantes tarefas de democratização da vida nacional no período que se seguiu à derrota do fascismo e à criação de uma situação democrática ainda tão frágil e tão ameaçada.

É justo lembrar a sua persistente contribuição para a luta dos trabalhadores dos campos do Sul em defesa da reforma agrária fazendo heroicamente frente a um ofensiva destruidora que não pode deixar de ficar para a história como um indigno exemplo dos métodos de políticas serventuárias dos interesses de classe mais retrógrados.

É justo lembrar a qualificada contribuição que, enquanto deputado do PCP ao longo de 17 anos, Lino de Carvalho deu, com a sua assinalável capacidade de trabalho, experiência e preparação, para a defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo e para afirmar com a sua voz forte a defesa de ideias, propostas e causas do PCP que foram e são elementos constitutivos da nova política de que o País há muito precisa.

Entretanto, o ponto que queremos salientar, Lino de Carvalho era dos que sabia e muitas vezes o afirmou, que quem abraça uma causa como a nossa e partilha das suas batalhas ao longo de quase quatro décadas, têm muitas razões para perceber que cada comunista traz a essa causa o incontornável valor e a indispensável contribuição especifica dos seus méritos, experiências e capacidades individuais mas também beneficia desse valor essencial que é o património colectivo de luta e de experiência, que é a diversidade de contribuições e percursos humanos que o nosso Partido integra, que é a capacidade e a abertura de cada um e de todos os comunistas para dialogarem e aprenderem uns com outros, e com o povo sem fronteiras de instrução, de funções, de gerações ou de notoriedade.

Vivemos pois hoje um dia de luto e um momento de grande tristeza. Mas estamos certos que os comunistas portugueses e todos os portugueses que confiam no PCP e reconhecem o valor e a indispensabilidade das causas a que dá voz, por entre este luto e esta tristeza, através do testemunho da vida e acção de Lino de Carvalho, verão afirmar-se, para hoje e para amanhã, o valor da firmeza de convicções, da coragem de enfrentar dificuldades e incertezas, da vontade de honrar compromissos de vida e de luta que são um motivo de orgulho nas nossas vidas e na história do nosso Partido, e de avançar mais e melhor para continuar a afirmação do PCP como um grande partido de causas e convicções e voltado para o futuro.

A frase não tem novidade, mas tem verdade que é uma coisa bem mais importante: Sim, camaradas: a luta continua!