Sobre afirmações de Pacheco Pereira e falsificações da história do PCP
Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
06 de Dezembro de 2005

 

1. Nos últimos dias, a propósito da edição do 3.º volume do livro de Pacheco Pereira, “Álvaro Cunhal – Uma Biografia Política”, a opinião pública foi literalmente bombardeada com uma caluniosa e intelectualmente indigna campanha contra a história, o papel e a luta do PCP, a pretexto de pretensos assassinatos efectuados pelo PCP nos anos 50, do século passado, história desenterrada por Pacheco Pereira, das operações da PIDE, aliás a sua principal e praticamente única “fonte”, em particular na pessoa de um inspector da PIDE, o conhecido torcionário, Fernando Gouveia.

2. As afirmações de Pacheco Pereira, de uma extrema gravidade não podem ser silenciadas tanto mais que para além de serem caluniosas em relação ao PCP, o são igualmente em relação a pessoas que deram o melhor das suas vidas à luta pela liberdade do povo português e cuja memória deve ser preservada.

A história, o método e as “fontes” não são novos, nem originais. A ditadura fascista e a sua polícia política, aliás na esteira dos seus mestres hitlerianos, sempre responsabilizaram o PCP e as forças antifascistas, por crimes que eles próprios cometeram e não foram poucos.
O que há de novo e original é o facto de Pacheco Pereira adoptar como suas as “provas” e os argumentos da PIDE e procurar credibilizá-las com uma pretensa investigação histórica cujo objectivo é inocentar a PIDE e criminalizar o PCP.

3. Pacheco Pereira, afirma que o «PCP sempre negou ter procedido a qualquer execução», como diz igualmente que “não existe qualquer documentação decisiva e de nem mesmo a PIDE – e a Polícia Judiciária, neste caso – terem conseguido encontrar provas que incriminassem os autores materiais dos assassinatos”, mas nada disso o impede, recorrendo a um processo indigno e violador das mais elementares exigências de rigor, isenção e honestidade intelectual que deve pautar qualquer investigação histórica, de concluir pela responsabilidade do PCP nas referidas execuções.

4. Para Pacheco Pereira a ausência de provas, os desmentidos do PCP são coisas de pouca monta. Para ele, o que conta é a sua convicção de que essas seriam práticas comuns, em outros Partidos Comunistas “amigos do PCP, “além de que a PIDE não tinha por hábito executar militantes comunistas”.

Pacheco Pereira, não apresenta uma única prova que comprove as suas teorias, mas absolvida a PIDE, só lhe resta a teoria de que foi o PCP, teoria alicerçada nas elucubrações do inspector da PIDE, no diz que diz, em fontes “confidenciais”, na referência a documentos da época que não revela e na infame truncagem e descontextualização de textos para os ligar aos factos.

5. Dando-se conta da inconsistência da sua “investigação histórica” tropeçando no assassinato de Humberto Delgado, não hesita, para manter a sua tese e ilibar a PIDE como instituição, em considerar o “caso Delgado muito obscuro quanto à responsabilidade da hierarquia da polícia no assassinato”.

6. É facto que Pacheco Pereira, penetrado de um anticomunismo vesgo, revela muito pouco respeito pelas vítimas do fascismo, mas não pode passar sem a mais viva indignação a lama que lança sobre a memória de Militão Ribeiro, militante comunista que se portou sempre com grande heroicidade e que foi tragicamente assassinado pela PIDE, afirmando ser duvidosa a genuinidade da carta – ou pelo menos parte do texto – escrita por Militão Ribeiro, ao PCP com o seu próprio sangue, pouco antes da sua morte na cadeia da Penitenciária, onde foi assassinado pela PIDE.

7. Finalmente, o PCP não pode deixar de chamar a atenção da opinião pública democrática para a gravidade das acusações de Pacheco Pereira, na medida em que na base de meras suposições e efabulações, vai muito mais longe do que foi a própria PIDE, acusando no concreto um conjunto de destacados dirigentes do PCP, coisa que na altura, nem a PIDE, apesar dos meios de que dispunha, se atreveu a fazer.

Felizmente que, pelo facto de vivermos em liberdade as elucubrações históricas de Pacheco Pereira não poderão ser mais do que isso, embora não sejam pouco.

8. A verdade histórica é que sobre o PCP se abateu a mais feroz repressão pela sua perseverante e coerente luta pela liberdade do povo português. O PCP nessa luta pagou um pesado tributo com milhares dos seus militantes perseguidos, presos, torturados, caluniados e assassinados. A defesa da liberdade e da democracia exigem não o branqueamento do fascismo e dos seus crimes, mas a sua denúncia.