Intervenção do Deputado
          Lino de Carvalho
 Sobre os atrasos no empreendimento de Alqueva
          (sessão de perguntas ao Governo) 
28 de Abril de 2000
    Senhor Presidente,
    Senhora Ministra do Planeamento,
    Senhores Deputados,
 A construção do Empreendimento de Alqueva, nas sua diferentes 
    valências, está profundamente atrasada.
    Atrasada, pelo menos em mais de três meses, nas obras de construção 
    civil; atrasada na aprovação dos Planos de Ordenamento das Albufeiras 
    de Alqueva e Pedrogão, do Plano Regional de Ordenamento do Território 
    da Zona Envolvente da Albufeira (o PROZEA) e de Desenvolvimento Turístico 
    da Zona de Intervenção do Empreendimento; atrasada na definição 
    dos sistemas agrários o que inclui a questão fundiária 
    e o novo ordenamento cultural; atrasada na definição das perspectivas 
    para as actividades agro-industriais; atrasada na definição 
    e instalação das estações de monitoragem entre 
    a fronteira do Caia e Alqueva para controlo da carga poluente proveniente 
    de Espanha; atrasada na reconstrução da rede viária alternativa 
    à que vai ficar submersa; envolta em polémica entre a EDIA, 
    o Agrupamento de Empresas responsável pela construção 
    e os projectistas.
    O Governo garantiu, várias vezes, que as comportas encerrariam no Inverno 
    de 2000, data prevista para o início do enchimento da Albufeira. O 
    atraso de três meses agora anunciado significará, de facto, um 
    atraso de um ano porque o início do enchimento só poderá 
    começar a ser feito no Inverno de 2001. Entretanto, multiplicam-se 
    as críticas entre os vários intervenientes no processo, com 
    pedidos de indemnização mútua entre a EDIA, da tutela 
    e responsabilidade do Governo, e o Agrupamento de Empresas responsável 
    pela Empreitada Principal de Construção Civil.
    No plano agrícola, componente estratégica do Empreendimento, 
    a indefinição e o atraso são evidentes e extremamente 
    preocupantes: quem vai beneficiar com Alqueva, o que se vai produzir, os campos 
    experimentais que não existem e que precisam de vários anos 
    para terem efeitos ao nível da sua aplicação e experimentação, 
    a formação dos agricultores para passarem de uma cultura de 
    sequeiro para uma cultura de regadio, as questões de comercialização 
    e de transformação agro-industrial, tudo ou quase tudo está 
    por fazer. A única coisa que se conhece é a realização 
    de um colóquio recente sobre as várias hipóteses de ordenamento 
    cultural.
    Há projectos concretos de investimento turístico que estão 
    parados e em risco de procurarem outras paragens por falta dos Planos de Ordenamento, 
    cuja elaboração, se está a ser feita está a sê-lo 
    no mais completo segredo sem qualquer participação, por exemplo, 
    do poder local ou das entidades regionais responsáveis pelo turismo 
    no Alentejo.
    Não há qualquer trabalho de integração e articulação 
    entre a actividade agrícola e as restantes actividades. 
    E, sobretudo, não há qualquer articulação nem 
    planeamento integrado entre os vários Ministérios e departamentos 
    do Estado.
    O País está acorrer sérios riscos de não se fazer 
    de Alqueva a alavanca de desenvolvimento que o Empreendimento pode e deve 
    constituir para o Alentejo, na qual o PCP sempre tem estado, e continua a 
    estar, profundamente empenhado. E isto por exclusiva responsabilidade do Governo. 
    O PS auto elogia-se permanentemente por ter avançado com a obra (o 
    que, além do mais, não é historicamente verdade). Mas 
    a verdade é que é a incompetência, a falta de articulação 
    e a indiferença com que o Governo tem acompanhado a obra que se podem 
    tornar os responsáveis por frustar as expectativas dos Alentejanos 
    e do País.
    São estas as questões que queremos ver esclarecidas nesta pergunta.