Intervenção do deputado
          Joaquim Miranda no PE
 No debate sobre a Conferência das Nações 
          Unidas 
          sobre o Financiamento do Desenvolvimento (Monterrey, México)
        
6 de Fevereiro de 2002
    Sr. Presidente,
É sobejamente conhecida a situação da pobreza ao nível 
    mundial e a profunda clivagem que separa os dois hemisférios do planeta.
    E todos recordamos os compromissos sucessivamente acordados em várias 
    Conferências das Nações Unidas orientados, todos eles, 
    para pôr termo a essa realidade dramática, nomeadamente o compromisso 
    de reduzir o nível de pobreza para metade até 2015.
Porém e apesar das múltiplas declarações de boas intenções, do compromisso solene de 1974 de atingir o objectivo de ajuda pública ao desenvolvimento de 0,7% do PNB e da próprio facto de o Banco Mundial, mais recentemente, considerar necessário duplicar os recursos destinados a esse objectivo, a verdade é que a ajuda pública não vai além dos 0,22% nos países da OCDE - o mais baixo de sempre ( menos de um terço da meta fixada), tendo descido em cerca de 25% na última década - e não ultrapassa actualmente os 0,32% nos Estados-membros da União Europeia.
A Conferência de Monterrey ganha, neste contexto e na perspectiva de 
    Joanesburgo, uma importância incontornável. 
    Com efeito, é tempo de inverter factos e tendências negativas, 
    de olhar para o problema do desenvolvimento dos países pobres com outros 
    olhos, mais solidários, e de tomar medidas concretas e vinculativas.
Valorizamos o facto de o Conselho de 8 de Novembro ter mandatado a Comissão 
    para negociar um calendário com cada um dos Estados-membros com vista 
    a observarem - todos e cada um deles - o objectivo mínimo de 0,7%. 
    
    Mas fundamental agora é que a Presidência espanhola e a Comissão 
    não se poupem a esforços com vista a que de Monterrey saiam 
    compromissos objectivos e calendarizados, que garantam progressos sensíveis; 
    mesmo se conhecemos as posições recuadas e inaceitáveias 
    da administração americana neste domínio, que não 
    se compadecem com posições de conformismo e se são conhecidas 
    as debilidades do "consenso de Monterrey".
E é necessário também que de Monterrey saiam orientações que ponham termo ao efeito devastador da dívida exerna no desenvolvimento dos PVD, preconizando mecanismos que não se atenham à iniciativa relativa aos Países Pobres Altamente Endividados, e que antes se alicercem numa base de reconhecimento global do princípio da anulação da dívida.
 A situação tremenda por que passam os PVD não pode 
    manter-se. 
    E a União Europeia e os seus Estados-membros não só não 
    podem contentar-se com o facto de serem o principal doador como devem assumir 
    nesta Conferência uma posição clara que permita aos PVD 
    sair daquela situação.