Ludwig van Beethoven nasceu em Bona a 15 de Dezembro de 1770 e morreu em Viena a 26 Março de 1827.
Seu pai, Johann (1740-1792), tenor da capela do Eleitor de Colónia, era, por sua vez, filho de um mestre de capela do Eleitor, nascido em Malinas e fixado em Bona. Tinha herdado de sua mãe uma propensão para a bebida, que se acentuou até provocar o seu despedimento nos últimos anos de vida. A mãe de Beethoven, M. M. Keverich (1746-1787), filha de um cozinheiro, era, em contrapartida, doce e boa. Teve sete filhos, dos quais só sobreviveram três: Ludwig, Kaspar e Johann. Kaspar teve um filho, Karl (1806-1858), pessoa bastante medíocre cuja tutela foi confiada ao tio Ludwig e que viria a constituir um dos grandes problemas dos últimos anos do compositor.
Beethoven fez estudos gerais sumários, que não parece terem se prolongado para além dos onze anos. Em contrapartida, evidenciou desde muito novo dons musicais e seu pai ensinou-lhe piano, violino e órgão. Aos nove anos, foi entregue aos cuidados de Christian Neefe, organista e compositor, que lhe deu a conhecer os mestres alemães do século XVIII posteriores a Bach e o ensinou a conhecer os mestres da composição. Os seus progressos foram tão rápidos que em 1784 era segundo organista da capela do Eleitor e um pouco mais tarde, era violetista na orquestra da corte, onde se tocava Mozart, Cimarosa, Pergolesi, Paisiello, Gluck. Em 1787, o Eleitor manda o jovem Beethoven para Viena, a fim de estudar com Mozart, mas Betthoven regressa, em breve, a Bona para assistir à morte da mãe.
Não volta logo a Viena mas, em 1789, consciente talvez das lacunas da sua cultura geral, matricula-se na Universidade para estudar literatura e filosofia alemãs. Quando, cinco anos mais tarde, perde o pai, tem vinte e dois anos: é o chefe da família, entregue a si mesmo ou, melhor, à protecção de amigos dedicados, entre os quais figuram a senhora von Breuning e o conde Waldstein. Encontra-se então em Viena, a fim de estudar com Haydn, que conhecera em Bona. Estes ensinamentos serão completados, dois anos mais tarde, por Albrechtsberger e Salieri.
Nesta época, Beethoven é elegante, mundano, faz a corte às raparigas no Prater. Graças às cartas de apresentação do conde Waldstein, é recebido pela alta sociedade vienense, que o aprecia como compositor e pianista; é um improvisador notável que, já em 1787, espantava Mozart. É muito solicitado e, quanto ao resto, vive do seu talento (recitais, aulas, composições, dedicatórias...) Em 1796, faz uma série de viagens a Nuremberga, Praga, Dresden, Berlim e regressade a Viena que não torna a abandonar.
Apesar das reservas de uma parte da crítica que caustica todas as obras novas, o êxito do jovem mestre vai aumentando. Encontra empregos bem pagos e vende honrosamente a sua música, tem numerosos amigos dedicados e poderosos, entre os quais a família Brunswick, o príncipe Lichnowsky, o príncipe Lobkowitz, o arquiduque Rodolfo, o violinista F. A. Ríes. Se não fossem a surdez e os dissabores causados pelo seu sobrinho, poderia ter sido um músico e um homem feliz.
Apesar do insucesso de Fidelio, em 1805, numa Viena em crise onde Napoleão acabara de se instalar, apesar do êxito medíocre do concerto onde foram apresentadas, em primeira audição, a 5ª e a 6ª Sinfonias e o Concerto para Piano nº 4 (compreende-se o espanto de um público pouco "moderno" perante tanta novidade), Beethoven tornava-se o músico mais célebre da Europa. A sua vida sentimental foi, certamente, menos feliz do que a profissional, mas é difícil tirar conclusões definitivas sobre um insucesso amoroso cujo balanço se conhece, apesar de tudo, bastante mal. Parece que Beethoven conduziu mal os seus casos sentimentais e que sofreu com seus malogros tanto na sua vaidade como na sensibilidade.
O verdadeiro grande drama da sua vida - e de facto dramático -foi, incontestavelmente, a surdez, cujos primeiros sintomas se fizeram sentir desde 1798?1799, e que provoca o grito de desespero do Testamento de Heiligenstadt dirigido a seus irmãos, documento tanto mais patético e humano quanto, graças a uma vontade extraordinária, Beethoven ultrapassara a depressão desse ano de 1802: entre 1804 e 1808 compõe não apenas a 5ª Sinfonia e a Sonata Appasionata, mas também o Concerto de Violino e a 6ª Sinfonia.
À tragédia do silêncio exterior que o oprime e humilha, vêm juntar-se, a partir de 1815, os intermináveis aborrecimentos que lhe causa a tutela de seu sobrinho Karl. No entanto, é então que começa a época de composição das maiores obras. A sua fama é universal: recebe a visita de Rossini, de Schubert, de Weber e do jovem Liszt, então com onze anos. Mas não os compreende: independente, orgulhoso, misantropo, cria voluntariamente o vazio à sua volta, proclama agressivamente os direitos do seu génio e refugia-se na sua arte. A Missa Solemnis e a 9ª Sinfonia obtêm, em 1824, um êxito que deixa indiferente este homem superior. Mais ainda, talvez, do que os últimos quartetos ou as últimas sonatas, estas duas obras excepcionais exaltam numa apoteose a nobreza de carácter e o génio de Beethoven.
A partir de 1825, está sempre doente (reumatismo, dores de estômago, icterícia crónica); morre na tarde de 26 de Março de 1827, de cirrose hepática. Nas suas exéquias, acompanhadas por uma grande multidão, Czerny e Schubert levaram os círios. Em 1888, os seus restos mortais foram exumados e transladados para o cemitério central de Viena, onde repousam ao lado dos de Schubert.
Tudo já se escreveu sobre a arte de Beethoven, mas nunca é demais insistir no facto de que representa o apogeu da música clássica do século XVIII. Engrandeceu as formas e aperfeiçoou-as ao ponto de as tomar quase definitivas, mas, sobretudo, foi o primeiro a desviar a música do seu destino aristocrático ao dirigir-se, para além do público de um espectáculo, fraternalmente a toda a humanidade. Foi o primeiro grande músico a ser tocado pelo espírito liberal e democrático do seu tempo.
A tradicional divisão da sua obra em três períodos efectuada por W. von Lenz é aproximativa, mas constitui uma útil e esclarecedora sistematização:
Até 1800: Sinfonia nº 1, Concertos de Piano nº 1 e 2, Sonata Patética (estilo profundamente influenciado por Haydn, com toques muito pessoais na instrumentação e na escrita polifónica).
1800-1814: Fidélio, Sinfonias n.° 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, Concertos de piano n° 3, 4, 5, Concerto de Violino, Sonata Appassionata (pesquisas instrumentais, substituição do scherzo pelo minueto, oposição de dois temas no primeiro andamento da sonata e da sinfonia, onde o tema B é muito aumentado).
1814-1826: 9ª Sinfonia, Missa Solemnis, últimas sonatas, últimos quartetos, Bagatelas op. 119 e 126 (o quebrar dos moldes clássicos, espiritualização da forma, esoterismo subjectivo em algumas obras, proporções por vezes monumentais).
Segundo CANDÉ, Roland. Os Músicos - a vida, a obra, os estilos.
Edições 70. Lisboa, 1985