Orçamento do ensino superior para 1998 - Um debate muito urgente!
Nota da Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP
8 de Outubro de 1997

 

1. O Ministério da Educação tem rodeado de acentuado secretismo a preparação da proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, em flagrante contraste com as "fugas de informação" de alguns dados parciais susceptíveis de criar uma imagem favorável na opinião pública.

Este comportamento, bem como as informações obtidas através dos estabelecimentos do ensino superior nada condizentes com o tom oficial "cor de rosa", impõem a revelação das reais opções do Governo e a viva chamada de atenção da opinião pública para elas.

2. Em termos globais caracterizam a proposta de Orçamento para o Ensino Superior os seguintes dados:

Quanto aos fundos do PRODEP / Fundo Social Europeu, incluídos no orçamento de funcionamento para 1998 eles excedem em 851,7 mil contos o montante orçamentado no presente ano.

Desta forma e contrariamente ao que havia sido repetidamente afirmado e prometido pelo Governo aquando da discussão da "lei do financiamento", a verba a cobrar das propinas não surge como aditiva em relação ao financiamento do ensino superior público (com a função de investimento suplementar na sua qualidade) mas pura e simplesmente como substitutiva do esforço do Estado, como aliás se receava.

3. A Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP considera que o Orçamento do Ensino Superior para 1998 constitui uma questão de incontornável e decisiva importância, na perspectiva da criação de condições para a resolução de muitos dos problemas que atingem este sector educativo.

É particularmente inadmissível que o Governo desrespeite, uma vez mais, a fórmula de financiamento existente e pretenda utilizar a verba a cobrar das propinas como substitutiva do financiamento público. Outros argumentos que não houvesse - como há - para demonstrar o carácter injusto, iníquo e inadequado da "lei das propinas" aprovada por iniciativa do Governo, bastaria este procedimento para esclarecer o verdadeiro propósito de desresponsabilização do Estado em relação ao ensino público e para evidenciar a necessidade da revogação desse diploma.

É indispensável que o Ministério da Educação torne públicos, com verdade e transparência, todos os elementos relativos à sua proposta de Orçamento para 1998 e esclareça os critérios que estiveram na base da sua elaboração.

Importa também que o Ministério da Educação preste pública explicação ao país da baixíssima execução financeira das despesas de investimento cobertas pelo PRODEP/FEDER, relativas à construção de infraestruturas do ensino superior e à remodelação das já existentes, que constitui como se sabe uma questão de crucial importância para muitas escolas e para a expansão do sistema. Recorde-se que durante o ano de 1996 a execução financeira já tinha sido apenas de 47.5% do montante programado para aquele ano. E que em relação ao presente ano de 1997 foi oficialmente reconhecido e adjectivado como de "alarmante", o escandaloso facto de no fim de Setembro, para uma execução anual prevista de 21.4 milhões de contos só ter sido contabilizada uma despesa de 4,7 milhões de contos (21.9% de execução ).

Em torno dos problemas da execução financeira do PRODEP 2 e da proposta de Orçamento para 1998 e da necessidade da sua superação, é urgente que se desenvolva um amplo e participado debate público, em que participem nomeadamente todas as escolas do ensino superior e as suas estruturas democráticas, os estudantes, os docentes e os não docentes, e as suas organizações representativas.

A Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP procurará contribuir também activamente para esse indispensável esclarecimento e debate. E anuncia desde já a realização no dia 18 de Outubro, sábado, às 14.30 horas, no Centro Vitória em Lisboa de um debate público sob a designação Ensino Superior: a crise que segue dentro de momentos.