Intervenção do Deputado
        Honório Novo
 Porto - Capital Europeia da Cultura 2001
        
      
18 de Janeiro de 2001
  Senhor Presidente
  Senhoras e Senhores Deputados,
  
  Desde o passado sábado que o Porto, capital do trabalho, passou também 
  a ser capital da cultura, Capital Europeia da Cultura.
  
  Durante o ano de 2001, o Porto vai centrar as atenções dos europeus, 
  vai promover os valores universais da Arte e da Cultura, vai saber prestigiar 
  o nome da região e do país perante quem o visitar, vai assegurar 
  que criadores de todos os tempos, de muitas origens e lugares, possam viver 
  e conviver com os seus públicos, para os seus públicos.
  
  Mas o projecto Porto 2001 não foi, nem é, apenas, um vasto e diversificado 
  conjunto de manifestações artísticas e culturais. Não 
  será apenas uma rica programação cultural, mesmo que sobre 
  ela haja, eventualmente com razões, algumas críticas sobre omissões 
  ou lacunas.
  
  O Porto 2001 foi organizado visando associar à programação 
  cultural a concretização de um vasto conjunto de investimentos 
  que perdurassem bem para além do ano em que quase 500 iniciativas culturais 
  vão ocorrer.
  
  O Porto 2001 visou também captar investimentos para recuperar e construir 
  equipamentos, para proceder a uma vasta operação de requalificação 
  urbana, para no futuro concretizar uma profunda recuperação habitacional 
  e uma extensa revitalização económica.
  
  O Porto 2001 é assim um projecto complexo cujo desenrolar, até 
  pelas características e objectivos pelos quais optou desde a génese, 
  sofreu e sofre ainda hoje demasiados percalços, muitos deles certamente 
  desnecessários e evitáveis
  
  Recorde-se a crise na liderança da Sociedade Porto 2001, com a substituição 
  inesperada e extemporânea de Santos Silva pela Dra. Teresa Lago. Recordem-se 
  as demissões de Álvaro Domingues e João Teixeira Lopes 
  que tiveram papel determinante na génese e no desenvolvimento do projecto.
  
  Recorde-se - é bom não esquecer - o papel que alguns desempenharam 
  mas que o PCP sempre cumpriu (por exemplo no âmbito da sua participação 
  activa na Comissão Parlamentar de Acompanhamento) para que o Projecto 
  prosseguisse, para que a programação, então já delineada, 
  pudesse ser preservada e para que questões orçamentais que a atingiam 
  pudessem - como foram - ser minimamente superadas.
  
  Hoje, o programa cultural está na rua e vai impor-se. Mas há questões 
  que - é já hoje bem visível - poderiam ter sido tratadas 
  e resolvidas de forma bem diferente.
  
  Não insistiremos com o facto da sua imagem de marca - a Casa da Música 
  - só vir a estar concluída lá para o ano. Mas direi, em 
  nome do PCP, quanto é já grande a preocupação sobre 
  o seu futuro modelo de gestão e financiamento. Cumpre chamar também 
  a atenção para o facto de, quer o Auditório Nacional Carlos 
  Alberto quer a futura Casa da Animação, só "entrarem 
  em cena" bem mais tarde do que o previsto, se calhar também já 
  não serão "úteis" este ano. São factos 
  como estes que podem vir a apoucar a imagem do Porto - Capital Europeia da Cultura.
  
  Cumpre também tomar posição sobre as consequências 
  que as obras de requalificação urbana - a forma como foram lançadas 
  e decorrem - estão a ter no tecido empresarial do pequeno comércio. 
  local
  
  Senhor Presidente
  Senhoras e Senhores Deputados
  
  O Porto 2001 - e os problemas que tem e certamente terá - não 
  pode ser alvo de intervenções à moda dos velhos do Restelo. 
  Contra este tipo de considerações e de intervenções 
  a população reage, e bem, mesmo aqueles que se manifestam publicamente 
  contra erros que os atingem profundamente.
  
  Mas a honra e o prestígio do evento não admite que haja quem prefira 
  meter a cabeça na areia para não ver as realidades.
  
  O PCP continuará a manter a postura responsável que desde o lançamento 
  do projecto assumiu.
  
  É essa postura responsável que faz com que o PCP, ao mesmo tempo 
  que se congratula pela forma como decorreu a inauguração do Porto 
  2001 e aprecia a valia de uma programação cultural que já 
  está no terreno, entrega hoje mesmo na Mesa da Assembleia da República 
  um projecto de resolução que visa contribuir para minorar as consequências 
  negativas que as obras de requalificação urbana provocam na actividade 
  empresarial das zonas intervencionadas.
  
  Disse.