Intervenção de Rita Rato na Assembleia de República

"É um dia para assinalar as razões da luta de todos os dias"

Sr. Presidente,
Sr. Deputados,

103 Anos depois da proclamação do Dia Internacional da Mulher, vivemos tempos de retrocesso civilizacional.

O país está a ser destruído pelas medidas do Pacto de Agressão da Troika, subscrito por PS, PSD e CDS, e aplicadas por este Governo. Somos por isso chamados a resistir e a defender direitos conquistados à pouco mais de 30 anos com a Revolução de Abril.

São tempos de retrocesso, que trucidam ideais, valores e direitos de participação das mulheres em igualdade na lei e na vida, de degradação das condições de vida e de trabalho das mulheres.

O desemprego atinge 42,5% das jovens mulheres e 76% não recebe subsídio de desemprego;
1 em cada 2 jovens tem vínculo precário;

265 000 recebem SMN e milhares têm salários em atraso;

Aqui mesmo na Assembleia, as trabalhadoras da Conforlimpa, trabalharam todo o mês de Fevereiro mas ainda não receberam o seu salário. É inaceitável.

As disparidades salariais entre mulheres e homens chegam a superar os 30% nos diversos sectores de atividade;

Persistem as discriminações salariais diretas e indiretas entre mulheres e homens e as violações dos direitos de maternidade e paternidade;

Agravam-se as dificuldades da articulação entre a vida familiar e profissional.
Milhares de jovens mulheres desempregadas, sem qualquer tipo de proteção social, são obrigadas a emigrar, regressar com os filhos à casa dos pais, a adiar o momento de ter filhos;

Muitas trabalhadoras acumulam 2 e 3 “trabalhos” para ao fim do mês somarem o mínimo para as despesas primárias de sobrevivência, sem quase verem os seus filhos;

Muitas mulheres trabalham 12 horas por dia para receber um salário de miséria;

Tantas e tantas mulheres são consideradas “velhas demais para este emprego” e “novas demais” para se reformarem.

É chocante o desperdício de conhecimento e capacidades de uma população feminina que nas últimas décadas não se poupou a esforços para progredir na carreira.

É sobretudo chocante, se percebermos que muitas empresas aproveitam e lucram com o desempenho de uma mão-de-obra excelente e qualificada, que sujeita a um quadro de instabilidade e incerteza, muitas vezes obrigadas “a trabalhar de graça”.

Neste tempo de retrocesso germinam e recrudescem seculares formas de exploração e violência sobre as mulheres.

São tempos de empobrecimento forçado de largas camadas da população e de agudização da pobreza e exclusão social são tempos de retrocesso civilizacional em especial para as mulheres e crianças.

Sr. Presidente,
Sr. Deputados,

Mas não tem que ser assim, há outro caminho.

Um caminho urgente e necessário de valorização efetiva dos direitos das mulheres no mundo do trabalho, colocando as suas capacidades e qualificações ao serviço do desenvolvimento económico e social do País.

Propomos por isso:

1. Criação de um Programa Nacional de Combate às Discriminações Salariais, Diretas e Indiretas para 2013 e 2014, através da ACT e da CITE;

2. Elaboração anual de um Relatório sobre a situação laboral das mulheres;

3. Medidas de combate ao empobrecimento e agudização da pobreza;

4. Criação de um Plano de Combate à Exploração na Prostituição;

5. Fiscalização anual do “Acordo de Adesão ao Fórum de Empresas para a Igualdade de Género”.

Sr. Presidente,
Sr. Deputados,

Comemorar o 8 de Março neste momento é também um grito de esperança e confiança.

Esperança e confiança nas mulheres do meu país, e nas centenas de iniciativas que hoje são levadas a cabo pelas comunistas, pelo movimento de mulheres, pelo movimento sindical de classe, de norte a sul de Portugal, provando que outro caminho é não só urgente como possível!

Hoje é mais um dia de confiança, onde os valores de Abril e a Constituição representam um espaço de unidade de todas as mulheres e homens que exigem a demissão do Governo, a derrota desta política e do Pacto da Troika, por uma política patriótica e de esquerda.

Hoje “é um dia para assinalar as razões da luta de todos os dias”, feita por Mulheres e Homens que não desistem de lutar pela sua dignidade, porque a luta emancipadora das mulheres é inseparável da luta por uma sociedade mais justa e avançada.

Disse.

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