Intervenção de

Sess?o Solene Comemorativa do 28? anivers?rio do 25 de Abril<br />Intervenção do Deputado Honório

Senhor Presidente da República Senhor Presidente da Assembleia da República Senhor Primeiro Ministro e demais Membros do Governo Senhores Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional Senhoras Deputadas e Senhores Deputados Senhores Convidados Faz hoje 28 anos que as ruas se inundaram de uma torrente de Povo. Era uma alegria imensa, o explodir de emoções, de lágrimas de felicidade, de encontros e reencontros na vitória sobre o fascismo que nos oprimia, como Povo e como Pátria. Foi um mar de liberdade, um convergir de vontades para construir um mundo novo de progresso e de riqueza, de educação e cultura, de participação e igualdade, de dignidade e de luta, de justiça e solidariedade. E foi assim que em Abril acabou uma guerra injusta e cruel, sem sentido, mas que apesar de tudo nunca conseguiu separar povos, antes os uniu para vencerem o colonialismo opressor, inimigo comum. E foi assim que em Abril se quebraram as grilhetas das prisões e das censuras e se ganharam as liberdades. E foi assim que, por Maio dentro, se foram construindo as pontes para um futuro melhor, conquistando direitos que são nossos, de trabalhadores e actores da transformação económica, da evolução social e humana. Foi assim há 28 anos. E é por tudo isto, e também por tudo o mais que não consigo dizer porque a tanto me não ajuda o engenho nem a arte, que para nós, para o PCP, não é mero formalismo nem retórica homenagear, cada ano, cada dia que passa, os que mais fizeram para que em 74 Portugal vivesse essa explosão de Liberdade. Por isso homenageamos os capitães de Abril, homens fardados com o orgulho de uma Nação, que num acto de coragem sublime reencontraram os caminhos da dignidade colectiva, marcando a ouro páginas das mais brilhantes de uma história de nove séculos. Por isso homenageamos milhares de homens e mulheres resistentes, com e sem Partido, que ao longo da noite opressora, muitas vezes com o sacrifício supremo da própria vida, venceram o combate pela Liberdade. Por isso homenageamos também o nosso Povo, esse Povo que apesar de oprimido, subjugado e perseguido durante cinquenta anos de obscurantismo e de fascismo foi capaz de gerar e de inspirar a mão e a acção de tantos heróis resistentes, de tantos capitães soldados. Senhor Presidente da República Senhor Presidente da Assembleia da República Senhor Primeiro Ministro e demais Membros do Governo Senhores Presidentes do Supremo Tribunal de Jusiça e do Tribunal Constitucional Senhoras Deputadas e Senhores Deputados Senhores Convidados Tudo isto aconteceu. O Fascismo e a opressão, brutais. A resistência e a luta, heróicas. A explosão de liberdade e a luta pela democracia, intensas e sentidas. É preciso dizer que tudo isto acorda e emociona a memória de muitos - os que assistiram e participaram mas não faz vibrar quem não viveu e quer saber e conhecer, para poder inovar e voltar a gerar emoções. Por isso é preciso que saibam que o Fascismo existiu. E que a liberdade e a democracia, bens preciosos como o ar que respiramos, nem sempre existiram, não são sequer irreversíveis. E é preciso que saibam que havia a PIDE. E a Censura. E a Legião. E a Mocidade Portuguesa. E também é preciso dizer que muito do que depois aconteceu e agora acontece nada tem a ver com Abril e o seu espírito, nada tem a ver com o património de dignidade e justiça social que é perfume dos cravos de Abril. E por isso, todos, os que viveram e os que querem saber e vão conhecendo para poder recriar, querem retomar e prosseguir a esperança que "Abril abriu". Sabem que a discriminação, a xenofobia e o racismo são a negação de Abril. Sabem que o trabalho precário e sem direitos, de sol a sol, aos domingos, sem contrato nem segurança social, com salários indignos da condição humana, não são fruto de Abril. Sabem que as desigualdades e as injustiças na distribuição da riqueza, as pensões de miséria, a pobreza e a exclusão, a discriminação das mulheres e dos jovens, das minorias, dos deficientes, não fazem parte do património do 25 de Abril. Sabem que a educação e a cultura são direitos públicos conquistados em Abril, que não podem ver mitigados por critérios de acesso mercantilistas que condenem à exclusão milhares de rapazes e de raparigas. Sabem que a Paz e o respeito pelos Povos, pela sua autonomia e independência, são exemplo, são legado de Abril. Mas nem Abril nem Maio aceitarão o regresso do autoritarismo. Venha ele como vier, tenha ele o rosto que tiver! Por isso nos espanta - e não aceitamos - que haja quem depois de Abril queira de novo forçar o trabalho no 1º de Maio, no Dia do Trabalhador, obrigando quem não tem contrato nem vínculo a servir a voracidade de lucro dos Continentes desta terra! E por isso recusamos o horror em Ramallah e os massacres de Jenin e não aceitamos que se cerque um Povo e se pretenda expulsá-lo da sua própria terra. E por isso dizemos não à globalização grávida de um neoliberalismo que oprime povos, rouba recursos e remete a maioria para a pobreza e a exclusão, para um futuro sem sentido e sem valores, para um oceano de insegurança e de precariedade, caldo de cultura dos "LePen" deste mundo. Falem eles a língua que falarem. A tudo isso dizemos não! E porque Abril a isto tudo disse não, repetimos hoje e agora: Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!

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