Sérgio Vilarigues - Destacado dirigente do Partido Comunista Português Resistente antifascista

Sérgio Vilarigues - Destacado dirigente do Partido Comunista Português Resistente antifascista

1914-2014 | CENTENÁRIO DO NASCIMENTO

Sérgio Vilarigues

Destacado dirigente do
Partido Comunista Português
Resistente antifascista

Iniciativa de Comemoração

3 Dez.

Casa do Alentejo, Lisboa

Alguns dados biográficos

1914

Nasce a 23 de Dezembro em Torredeita, Concelho de Viseu.

Marçano aos 12 anos e mais tarde operário salsicheiro. Liga-se ao Sindicato dos Trabalhadores em Carnes Verdes.

1932

Com 18 anos adere à Federação da Juventudes Comunistas Portuguesas. Faz parte do Socorro Vermelho em 1933/1934.

1934

Participa na jornada do 18 de Janeiro contra a fascização dos sindicatos.

É preso em Setembro desse ano. Passou por várias esquadras da polícia, seguindo-se Aljube, Peniche, Angra do Heroísmo e Tarrafal.

1935

Quando se encontrava preso em Peniche, adere ao PCP.

1936

Em Outubro quando se encontrava na cadeia de Angra do Heroísmo é deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal.

1940

Libertado em Julho, integra o núcleo de 8 camaradas que no verão desse ano dão início à reorganização do Partido.

1942

Torna-se funcionário do Partido, passando à clandestinidade, situação em que se encontrava em 25 de Abril de 1974.

Foi o último dirigente do Partido a regressar à legalidade.

1944

Integrou o Comité dirigente das grandes greves de 8 e 9 Maio.

Foi responsável pelo «Avante!», por várias vezes no total de 16 anos.

1943 - 1996

Foi membro do Comité Central do PCP.

1949 - 1988

Integrou continuadamente o Secretariado do Comité Central.

1967 - 1972

Integrou simultaneamente a Comissão Executiva e o Secretariado do Comité Central.

1974 - 1988

Foi membro da Comissão Política entre 1974 e 1988.

1988 - 1996

Foi membro da Comissão Central de Controlo de 1988 a 1996.

2007

Faleceu a 8 de Fevereiro.

Sérgio Vilarigues em comício do PCP, Março de 1976

O Preso 254

Dois anos depois de ter ingressado na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, Sérgio Vilarigues foi preso com outros jovens na noite de 23 de Setembro de 1934, junto à Rocha de Conde de Óbidos, quando realizavam uma acção de colagem de propaganda clandestina, a reclamar a libertação de um jovem condenado a vários anos de prisão. A PVDE fichou-o com o nº 254.

Retrato Robot

No conjunto do vasto e diversificado arsenal de medidas usadas pela PIDE com vista à localização e prisão de quadros clandestinos, contava-se a distribuição pelos seus agentes, bufos, legionários, forças policiais, e também autoridades administrativas locais, de fotografias dos clandestinos tiradas quando presos ou antes, o que obrigava os quadros clandestinos a recorrer ao disfarce das características fisionómicas.

Contrariamente ao que acontecia com a generalidade dos dirigentes do PCP a viverem na clandestinidade, a PIDE apenas dispunha de uma fotografia de Sérgio Vilarigues, com a idade de 20 anos, tirada em 1934 quando da sua primeira e única prisão, pelo que recorreu à produção deste «retrato robot» com vista à sua localização.

A Prisão

O Disfarce

A arbitrariedade fascista

  • Deportação de presos para o Forte de Angra do Heroísmo, Sérgio Vilarigues é o segundo em baixo a contar da direita, 1935

  • Forte prisão de Angra do Heroísmo

  • Forte prisão de Peniche

  • Prisão de Caxias

  • Ficha prisional de Sérgio Vilarigues, 12 Outubro 1934

  • Prisão do Aljube

  • Campo de concentração do Tarrafal (Gravura)

A Poterna

A polícia política e o sistema de justiça fascista aplicado aos casos políticos, eram uma e a mesma coisa. A PIDE prendia, elaborava os processos, redigia as sentenças – o relatório – e tinha igualmente o poder de decisão quanto à libertação dos presos, podendo mantê-los na cadeia durante longos anos já com penas terminadas ou mesmo sem terem sido julgados. Casos houve de presos que morreram nas cadeias sem nunca terem sido julgados.

Sérgio Vilarigues preso em Setembro de 1934 foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 20 de Março de 1935, tendo sido condenados a 23 meses de prisão correccional. Depois de ter sido enviado para o Forte de Peniche, é deportado para a cadeia do Forte de São João Baptista em Angra do Heroísmo – Açores – onde passou 16 meses e onde foi sujeito a vários castigos incluindo o envio para a Poterna. Em 29 de Outubro de 1936, quando já tinha terminado a pena, Sérgio Vilarigues, na altura com 22 anos, constituiu com outros 151 antifascistas a primeira leva de presos enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou 4 anos, e foi sujeito a violentos castigos incluindo o envio para a “frigideira”.

Uma das originalidades da justiça fascista reside no facto, de Sérgio Vilarigues bem como outros presos em 1940, terem sido amnistiados quando já tinha cumprido a pena há mais de 4 anos.

foi sujeito a violentos castigos incluindo o envio para a “frigideira”

Homenagem do povo, na transladação dos tarrafalistas mortos no campo do Tarrafal, Lisboa 18 Fevereiro 1978

Promessa cumprida

O Campo de Concentração do Tarrafal foi concebido e organizado para arruinar a saúde dos presos e a sua liquidação física. No Tarrafal os presos eram sujeitos a um regime prisional brutal e arbitrário: péssima alimentação, ausência de cuidados de saúde, castigos constantes e prolongados, trabalhos forçados, privação de jornais e isolamento completo das famílias. O tempo de prisão dos 340 presos enviados para o Tarrafal, no seu conjunto atingiram mais de dois mil anos de cadeia. Lá foram assassinados e enterrados no Cemitério do Campo, 32 antifascistas, entre eles o Secretário-Geral do PCP, Bento Gonçalves.

Só depois do 25 de Abril com a conquista da liberdade em Portugal e a Independência de Cabo Verde, foi possível organizar a transladação dos restos mortais dos 32 antifascistas, para solo português, cumprindo-se a promessa feita pelos tarrafalistas junto dos camaradas cujas mortes se iam sucedendo, de que os que vivessem na altura do derrubamento do fascismo, tudo fariam para que os restos mortais dos seus companheiros fossem sepultados em Portugal.

No dia 28 de Fevereiro de 1978 – dia do funeral da transladação para o Mausoléu expressamente construído para os mártires do Tarrafal no Cemitério do Alto de São João – o povo português, numa das mais impressionantes manifestações realizadas depois do 25 de Abril, prestou a justa homenagem aos mártires do Tarrafal.

  • Vista aérea do Campo do Tarrafal

  • Tendas de lona onde dormiam os presos (Gravura de Rogério Amaral)

  • Frigideira (Gravura de Rogério Amaral)

  • Entrada do Campo e posto de vigias (Gravura de Rogério Amaral)

  • Homenagem e transladação dos tarrafalistas mortos no Tarrafal. Sérgio Vilarigues junto aos outros sobreviventes e às urnas com os restos mortais dos camaradas, 17 Fevereiro 1978

  • Transladação dos tarrafalistas. Três sobreviventes, Sérgio Vilarigues, Miguel Russel e João Faria Borda, transportam os restos mortais de Bento Gonçalves, Secretário-Geral do PCP

  • Encontro dos sobreviventes do Campo do Tarrafal em Belém, Sérgio Vilarigues ao centro na foto, Lisboa, 1978

  • Discursando em nome e no meio dos sobreviventes junto ao Mausoléu dos tarrafalistas no Cemitério do Alto de S. João, Lisboa, Fevereiro 1980

O Tarrafal

Da resistência
à Revolução

Como militante e destacado dirigente do Partido, ao qual durante mais de 70 anos dedicou o melhor da sua vida, Sérgio Vilarigues foi um revolucionário comunista empenhado e confiante na luta contra o fascismo, pela liberdade, a construção de um Portugal democrático, pelo Socialismo e pelo Comunismo. A prisão, a deportação, a clandestinidade, os sacrifícios e privações que a entrega à luta revolucionária lhe acarretaram não abalaram as suas convicções no papel do Partido e na justeza e triunfo da causa que abraçou.

Regressado do Campo de Concentração do Tarrafal (Julho de 1940) de imediato retoma a actividade partidária e a luta contra o fascismo. Integra o grupo de 8 camaradas – tal como ele regressados do Tarrafal ou saídos das cadeias em Portugal – que no verão daquele ano iniciaram a reorganização do Partido, que nos seus desenvolvimentos iriam transformar o PCP num grande Partido nacional, vanguarda da luta dos trabalhadores e da resistência antifascista e grande obreiro da Revolução de Abril.

Em 1942 torna-se funcionário do PCP situação em que se encontra em Abril de 1974. Sérgio Vilarigues foi o militante comunista que mais tempo seguido viveu na clandestinidade – 32 anos dos quais 27 no interior do país sem ser preso.

Em 1943, no III Congresso, ingressa no Comité Central ao qual vai pertencer – sempre em actividade continuada – durante 53 anos. Integra durante longos anos todos os organismos executivos do Comité Central.

Sérgio Vilarigues, quando foi libertado do Tarrafal em 1940

foi o militante comunista que mais tempo seguido viveu na clandestinidade

Cadeia de Peniche, 1935, grupo de presos, Sérgio Vilarigues é o terceiro a contar da esquerda, atrás junto à parede

Cadeia de Peniche, 1935, grupo de presos com Sérgio Vilarigues deitado à frente no chão lado direito

Encontro do núcleo de comunistas da reorganização do PCP, nos anos 40, em que Sérgio Vilarigues participou, vendo-se na foto, Álvaro Cunhal e António Dias Lourenço

A realização em Novembro de 1943 do III Congresso do PCP, realizado na mais rigorosa clandestinidade a que o Partido estava sujeito no seguimento do golpe fascista de 1926, foi a primeira grande vitória política e organizativa do resultado da reorganização de 1940/41.

O III Congresso ocupa um lugar particular no conjunto dos congressos do PCP. As suas decisões e orientações essenciais, depois aprofundadas no IV Congresso (1946) marcaram decisivamente as características fundamentais do PCP como o conhecemos hoje: um partido profundamente ligado às massas, fiel aos princípios de emancipação da classe operária, à luta pela soberania e independência nacional, pelo socialismo.

Foi no III Congresso, no qual interveio sobre a juventude sob o lema «Pela Liberdade e pela Democracia, pela Salvação da Jovem Geração da Miséria Económica e Cultural”, que Sérgio Vilarigues («Amílcar») foi eleito pela primeira vez para o Comité Central, ao qual pertenceu durante 53 anos.

Chamado ao Secretariado em 1949 – organismo que vai ter a tarefa de defender o Partido e de fazer frente à ofensiva policial contra o PCP que resulta do golpe do Luso com a prisão de Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira – Sérgio Vilarigues foi o dirigente do Partido que durante mais tempo seguido – 39 anos, integrou o Secretariado do Comité Central.

O camarada «Amílcar»

Sérgio Vilarigues usou durante os longos 32 anos de clandestinidade vários pseudónimos – Jorge, Guilherme, Victor – nos contactos com as diferentes organizações pelas quais foi responsável. Mas foi com o pseudónimo de «Amílcar» que exerceu as suas funções como membro da Direcção do Partido até ao 25 de Abril, pseudónimo que se tornou lendário pela longa clandestinidade sem cair nas garras da PIDE.

Casa clandestina onde viveu, em 1953/1954, Sérgio Vilarigues, na Travessa D. Vasco, 2 - 3º Esq, Ajuda, Lisboa

Obra de Rogério Ribeiro sobre a actividade clandestina do Partido, para o livro «Até Amanhã Camarada» de Manuel Tiago

Casa clandestina onde viveu entre 1956/1958, Sérgio Vilarigues, na Rua Joaquim Moreira Rato, 31-A, Paço de Arcos

Casa “Vila Arriaga” no Monte Estoril, onde se realizou o III Congresso (ilegal) do PCP, 1943

Delegação do PCP em Moscovo, junto ao Mausoléu de Lenine, Álvaro Cunhal, Sérgio Vilarigues, Blanqui Teixeira e António Dias Lourenço, início década de 60

Documento de indentificação falso, de Sérgio Vilarigues na clandestinidade, com identidade e origem do mesmo no Brasil

VII Congresso (Extraordinário) do PCP em Outubro 1974, Sérgio Vilarigues na mesa da presidência à direita da foto

Sérgio Vilarigues na abertura da Festa do «Avante!» no Alto da Ajuda em Lisboa, com Álvaro Cunhal, Octávio Pato e Jaime Serra entre outros

Inauguração em Berlin, na RDA da exposição dos 60 anos do PCP, em 1981 com dirigente do PSUA discursando com a presença de delegação do PCP

Delegação do PCP com Sérgio Vilarigues, Álvaro Cunhal, Carlos Aboim Inglez, numa Conferência Internacional dos Partidos Comunistas e Operários da Europa

Comício de Solidariedade do PCP com os povos da América Latina no Campo Pequeno em Lisboa, 15 Maio 1976. Samuel Riquelin do PC Chile, Sérgio Vilarigues, Luís Carlos Prestes do PC Brasileiro, Álvaro Cunhal e Rodney Arismendi do PC Uruguai

Sérgio Vilarigues com o Ministro sem pasta, Álvaro Cunhal e Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, na recepção a uma delegação governamental da Hungria, chefiada por Gierek, aeroporto de Lisboa, 1975

Encontro do PCP com Vice-Primeiro Ministro Cubano, na sede do PCP em Lisboa, Maio 1975

Sérgio Vilarigues discursando em Congresso do MPLA, Angola

Sérgio Vilarigues com Albano Nunes, num encontro em Lisboa com delegação da FDL da Palestina, Novembro 1979

Sérgio Vilarigues a discursar em comício do PCP no Alentejo, 1975

A actividade de Sérgio Vilarigues como militante e dirigente do Partido está indissociavelmente ligado à construção e defesa do aparelho clandestino do Partido e à intervenção política do PCP na luta contra o fascismo e na construção do Portugal democrático. Foi responsável por quase todas as organizações regionais do Partido, do Norte ao Sul do país, pela publicação do «Avante!». Esteve ligado a importantes lutas de massas, tendo pertencido ao Comité Dirigente, das grandes greves de 8 e 9 de Maio de 1944. Derrubado o fascismo, objectivo que com milhares de outros comunistas prosseguiu incansavelmente, interveio nas batalhas políticas travadas pelo PCP no decurso da Revolução de Abril. Embora já antes do 25 de Abril Sérgio Vilarigues tivesse desempenhado importantes tarefas na área internacional, no período crucial da Revolução, quando se intensificaram as relações do PCP com Partidos Comunistas e outras forças progressistas e anti-imperialistas, Sérgio Vilarigues assume no Secretariado a responsabilidade pelas relações internacionais e pela secção Internacional do PCP, tendo participado em vários Encontros, Congressos e outras iniciativas em representação do Partido. Assistiu à Proclamação da Independência de Angola em representação do PCP, a única força política portuguesa presente nesse acontecimento histórico. Sérgio Vilarigues foi um militante comunista do qual se pode dizer justamente, ter sido um dos construtores do Partido.

Assistiu à Proclamação da Independência de Angola em representação do PCP, a única força política portuguesa presente nesse acontecimento histórico

Gravura «Tipografia clandestina» de José Dias Coelho

Organizador e responsável pelo «Avante!» Clandestino

  • Sérgio Vilarigues

  • Obra de Rogério Ribeiro sobre a organização e a imprensa do Partido na clandestinidade, para o livro «Até Amanhã Camarada» de Manuel Tiago

  • Tipografia disfarçada no interior de uma casa clandestina

  • Preparação do material de tipografia para começar a impressão da imprensa clandestina

  • Gravura de Rogério Ribeiro sobre fases da distribuição da imprensa clandestina

  • Gravura de Rogério Ribeiro sobre fases da distribuição da imprensa clandestina

  • Gravura de Rogério Ribeiro sobre fases da distribuição da imprensa clandestina

  • Gravura de Rogério Ribeiro sobre fases da distribuição da imprensa clandestina

O nome e acção de Sérgio Vilarigues (...) ficaram ligados indissoluvelmente à grande vitória política e organizativa do PCP que é a publicação do «Avante!» Clandestino.

O «Avante!», órgão central do PCP, publicado clandestinamente desde 1931, e regularmente e sem interrupções desde 1941 até 1974, sempre impresso no interior do país por meios próprios do Partido, tornou-se caso único no mundo. A criação de um aparelho de propaganda, e em particular a publicação de o «Avante!», que assegurasse a intervenção político-ideológica do PCP sujeito à mais rigorosa clandestinidade foi um dos principais objectivos defendidos por Bento Gonçalves para a reorganização do Partido de 1929, objectivo alcançado num muito curto espaço de tempo, constituindo uma grande vitória do PCP e uma derrota do aparelho repressivo do fascismo que não dedicou poucos esforços e meios para impedir a publicação de o «Avante!» e outros materiais clandestinos.

O «Avante!» desempenhou papel de grande relevo no desenvolvimento da organização partidária, como elo de coesão das organizações espalhadas pelo país, na organização de lutas dos trabalhadores e das massas populares, como meio de formação ideológica e de informação política.

«Avante!» clandestino

Sem a dedicação e a abnegação de milhares de militantes – «correspondentes», redactores, tipógrafos, distribuidores – e a estabilidade da organização clandestina não teria sido possível publicar regularmente o «Avante!».

O nome e acção de Sérgio Vilarigues, que por vários períodos, somando 16 anos, foi responsável pelo «Avante!», ficaram ligados indissoluvelmente à grande vitória política e organizativa do PCP que é a publicação do «Avante!» Clandestino.

1945 – O PCP reclama eleições livres e a sua legalização

Nos primeiros meses de 1945, com a derrota do nazi-fascismo, criou-se uma situação nova em Portugal e no mundo. Salazar perdeu os dois principais amigos: Hitler e Mussolini.

A União Soviética, a força decisiva para a derrota do nazi-fascismo, ganhou enorme prestígio. Por todo o mundo cresce a exigência de profundas transformações democráticas.

Neste quadro salvar as ditaduras fascistas da Península Ibérica tornou-se objectivo estratégico dos imperialismos americano e inglês, plano que exigia a reciclagem da ditadura fascista portuguesa.

A 7 de Outubro de 1945, Salazar anunciou ao país, um conjunto de «reformas» e a realização de “eleições livres”.

A 25 de Outubro, a Comissão Política do CC do PCP, em comunicado ao país, toma posição contra as manobras salazaristas, sublinhando que Salazar não pretendia encaminhar o país na via da democracia, que os antifascistas e em particular os comunistas continuavam a ser presos, o Campo de Concentração do Tarrafal a funcionar e o povo privado das liberdades fundamentais.

O PCP, como partido nacional, como a força mais consequente defensora do povo e do país, o Partido que tinha suportado os maiores custos na luta contra o fascismo, reclama a sua legalização. O PCP torna público os nomes, os pseudónimos e as profissões dos principais dirigentes, todos na clandestinidade, encontrando-se entre eles Sérgio Vilarigues («Amílcar»).

Fruto da luta, Salazar era obrigado a fazer promessas demagógicas. Pela primeira vez, numas “eleições” organizadas pelo governo fascista, a oposição podia concorrer às urnas.

O PCP define as condições mínimas para o povo concorrer às urnas:

1.º – Liberdade de expressão de pensamento, de reunião, de associação, de imprensa;

2.º – Permissão de organização de todos os partidos políticos;

3.º – Adiamento das eleições;

4.º – Novo recenseamento eleitoral.

Cerimónias fúnebres de Sérgio Vilarigues

Até sempre camarada

Sérgio Vilarigues acompanhou e interveio até ao fim da vida, na medida das suas forças e capacidades, na actividade partidária, não poucas vezes ainda tratado como o camarada «Amilcar».

Manteve sempre o seu gabinete de trabalho na Sede Central do Partido, que ocupou diariamente até pouco antes de morrer. Por ocasião do seu 90.º aniversário, familiares, amigos e o colectivo partidário da Soeiro Pereira Gomes assinalaram a data com um convívio fraternal.

Sérgio Vilarigues faleceu no dia 8 de Fevereiro de 2007, com 92 anos. Nesse dia o Partido perdeu um dos seus empenhados construtores, mas ficou o exemplo de uma vida de militante comunista de mais de 70 anos inteiramente dedicados ao Partido, à luta pela liberdade, pelo socialismo e o comunismo.

Como declarou o Secretário-Geral do Partido, Jerónimo de Sousa, no momento do adeus até sempre ao camarada Sérgio Vilarigues, «sem ele e outros camaradas como ele, o PCP não seria a força necessária e insubstituível aos trabalhadores portugueses que realmente é. Achou sempre que o melhor da sua vida, que aquilo que aprendeu e que sabia devia-o ao seu Partido».

Albano Nunes, Sérgio Vilarigues e Jerónimo de Sousa no convívio que assinalou o 90º Aniversário de Sérgio Vilarigues

"Aquilo que sou devo-o ao Partido"

Durante sete décadas a vida de Sérgio Vilarigues confunde-se com a vida do Partido. Aos 90 anos de idade, apesar do enorme custo humano e pessoal que pagou pela sua opção comunista, Sérgio Vilarigues mantinha inabalável confiança no ideal comunista e no PCP, o Partido de toda a sua vida.

Numa entrevista ao «Avante!» Para assinalar o seu 90º aniversário, à pergunta de se para seguir uma vida de luta teve de abdicar de sonhos, Sérgio Vilarigues respondeu: "Sonhos? Não sei o que isso é. Olha, muitas vezes, fala-se em solidão. Tenho estado anos e anos isolado, a viver sozinho, estive incomunicável, estive castigado e nunca me senti só: lá fora pulsava o coração da classe operária e do partido. Os meus camaradas acompanharam-me sempre nas situações de isolamento. E aquilo que sou devo-o ao partido, o Partido não me deve nada."

Entrevista ao «Avante!» na íntegra

Eles caminham
ao nosso lado

Evocar militantes comunistas como Sérgio Vilarigues e tantos outros, que arrostando com enormes sacrifícios – prisões, torturas, assassinatos, deportações, clandestinidade – ergueram o PCP como grande Partido nacional, vanguarda da classe operária e de todos os trabalhadores, força dirigente na luta contra o fascismo e pela liberdade, o Partido da Revolução de Abril, é não deixar esquecer que o fascismo existiu com os seus crimes e que a conquista da liberdade é inseparável da longa luta dos militantes comunistas.

É afirmar a determinação de hoje e amanhã seguir os seus exemplos. É garantir que o Partido que nos legaram com a sua identidade comunista continuará a desempenhar papel insubstituível na luta pela construção de um Portugal de liberdade e soberano, pelo socialismo e o comunismo.

O PCP é o que é hoje porque foi e continuará a ser capaz de forjar milhares de militantes – homens, mulheres e jovens – que nas condições de fascismo ou na obra maior do Partido, que foi a Revolução de Abril, se revelaram lutadores, abnegados, firmes nas suas convicções comunistas e dedicados ao Partido. Só um Partido revolucionário, guiado por uma nobre e justa causa, a causa do socialismo e do comunismo, como o Partido Comunista Português, pode forjar tais lutadores.

  • Encontro entre Álvaro Cunhal, António Dias Lourenço, Sérgio Vilarigues e Blanqui Teixeira, em Moscovo

  • Mesa da presidência do VIII Congresso do PCP, em Lisboa, vendo-se em primeiro plano, Octávio Pato, Álvaro Cunhal e Sérgio Vilarigues, entre outros camaradas dos organismos executivos do Comité Central do PCP, 1976

  • Sérgio Vilarigues presidindo a reunião do Comité Central do PCP

  • Sérgio Vilarigues na apresentação do livro «Dosssier Tarrafal» e da Exposição «70 anos da abertura do Campo do Tarrafal»

Dirigentes do PCP: (de pé), Jaime Serra, Sérgio Vilarigues e Blanqui Teixeira, (sentados a contar do lado esquerdo) António Dias Lourenço, Álvaro Cunhal, José Vitoriano, Joaquim Gomes e Octávio Pato (Fotografia de Eduardo Gageiro)