Intervenção de

Saudação a Xanana Gusmão - Intervenção de Carlos Carvalhas

Senhor Presidente do CNRT
Companheiro Xanana Gusmão

Em nome do Partido Comunista Português, em nome de uma força política que há 42 anos ligou a libertação do povo português da ditadura fascista à libertação dos povos submetidos ao colonialismo português, e que há 34 anos explicitamente inscreveu no seu Programa a luta pelo reconhecimento do direito à independência do povo de Timor-Leste, quero saudar a sua visita a Portugal e a sua presença na sede da representação nacional, e quero sobretudo, em sintonia com os generosos sentimentos solidários do povo português, saudar na sua figura todo o povo de Timor-Leste e o seu impressionante exemplo de coragem, determinação e confiança no futuro, pois como há pouco nos dizia no almoço oferecido pelo Senhor Presidente da República, ele é o herói de todo este combate.

E quero saudar também na sua figura de destacado combatente da causa do povo timorense, o movimento de resistência que dirige, as FALINTIL e todos os resistentes timorenses que, pelo seu povo e pelos seus sagrados direitos, enfrentaram a dor, a tortura, o sofrimento e a morte, e souberam assim, mesmo nos tempos de horizontes mais fechados e sombrios, rasgar as avenidas de esperança desenhadas pela força das suas convicções e da sua coragem.

E, nesta ocasião, quero assegurar-lhe que, como ao longo destes sofridos e martirizados últimos 24 anos, como ao longo deste trágico período posterior à derrota dos ocupantes no referendo e ao recomeço da violência assassina sobre o seu povo, tudo faremos para que a causa da paz, da liberdade e da independência de Timor-Leste continue a ser considerada uma grande causa nacional, e tudo faremos para prolongar e manter forte e activa a vibrante solidariedade do povo português para com o povo timorense.

Por isso, aqui juntamos a voz dos comunistas portugueses à voz de todos quantos reclamam e se batem por uma rápida, generosa e eficiente assistência humanitária ao povo timorense, pelo regresso rápido de todos os exilados e deslocados à força, pela manutenção de um alto nível de pressão sobre o regime indonésio que desencoraje novas manobras e crimes, por um amplo apoio à reconstrução da vida colectiva em Timor e por uma transição rápida, segura e pacífica em direcção à conquista plena da independência de Timor-Leste e à total concretização do direito do povo timorense a autogovernar-se e a decidir dos seus próprios destinos.

O povo de Timor-Leste e os responsáveis políticos em quem confia, têm, como todos sabemos, desafios imediatos, tarefas urgentes e preocupações instantes que, justa e imperativamente, se circunscrevem ao seu território e à sua Pátria, e que continuam a reclamar uma activa solidariedade internacional.

Mas pensamos que, com a sua heróica luta e com as vitórias que, embora por alto preço, já alcançou, o povo de Timor-Leste praticou também uma grande solidariedade com muitos outros povos e nações ainda hoje oprimidos, ao demonstrar, contra tantas sentenças derrotistas, contra tanta pedagogia da renúncia e da resignação, contra tantas pretensas fatalidades, que vale a pena lutar, que vale a pena ter causas, que vale a pena empunhar as bandeiras da esperança, da justiça e da liberdade.

A História registará sem dúvida, para o olhar talvez incrédulo dos vindouros, que - entre tantas outras tragédias e crimes - foi possível, no último quartel do século XX, e com uma chocante indiferença dos países mais poderosos, submeter todo um povo a 24 anos de uma ocupação totalmente ilegítima e sustentada por uma brutal, hedionda e premeditada série de crimes, violências e massivos assassinatos, da responsabilidade directa de uma ditadura que, logo ao emergir, massacrou e assassinou barbaramente centenas de milhar de democratas indonésios.

Mas confiamos que a História não deixará de registar, esperamos que com lúcida compreensão dos vindouros, e para seu proveito, que nenhuma ocupação, nenhuns crimes, nenhumas violências e nenhuns assassinatos massivos conseguiram aturdir, anestesiar ou esmagar nem o apego do povo timorense à sua identidade nacional, nem a sua firme, profunda e insubmissa vontade de viver livre e independente.

E é essa lição maior que nos dá a certeza de que Timor vencerá!

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