Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«A recusa»

O que aconteceu no domingo em Espanha foi pura e simplesmente o primeiro falhanço de uma operação de dimensão mundial baseada na chantagem, ameaça e mentira.

Desde o 11 de Setembro a política norte-americana assentou em dois eixos: por um lado, uma deliberadamente confusa mistura entre ameaças terroristas e ambições expansionistas; por outro, uma operação de propaganda rotulando a discordância com as soluções preconizadas como cedências - ou mesmo cumplicidades - face ao terrorismo.

Foram as posturas imperiais perante as Nações Unidas, as novas doutrinas de defesa, os insultos aos aliados franceses e alemães.

A realidade, porém, revelou insuficiente a temível ofensiva. Fosse para conquistar as opiniões públicas (a começar pelos próprios EUA), fosse para convencer Governos reticentes.

O passo seguinte foi o da assumida mentira, a questão das armas de destruição maciça sendo o exemplo acabado. Mas sobre isto tudo caiu com estrondo o falhanço da guerra do Iraque, negando tudo o que fora invocado para a justificar.

Até ao fim, o Governo de Aznar foi um exuberante exemplo desta política.

Não foi derrotado pelo medo; foi sim derrotado pela recusa. Pela recusa da subserviência, da falta de escrúpulos, da mentira.

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