&quot;Quem ajuda a Ajuda?&quot;<br />António Abreu na &quot;Capital&quot;

1. Criada no início do séc. XVI, com um passado relativamente conhecido que remonta à pré-história, a freguesia da Ajuda nasceu com a força da lenda da Nossa Senhora da Ajuda e começou por ser uma povoação que abrangia outras actuais freguesias. Retirada a Lisboa para integrar no séc. XIX o concelho de Belém, ia da praia até à Serra de Monsanto. Foi antes residência para muitos dos que fugiram aos efeitos do terramoto de1755 e local de concentração de casas de campo da nobreza. O séc. XIX trouxe-lhe o carácter popular e operário que a marcou durante o século seguinte, com a habitação correspondente e a pujança do associativismo que continua a marcar o seu tecido social.Apesar de se falar de um grande futuro (que esperamos não se fique pela alteração aos instrumentos de planeamento para generalizar a construção em altura...), os projectos municipais adiados são muitos. As obras para o mercado municipal acabaram por avançar, apesar de recente interrupção por se ter encontrado uma massa rochosa não prevista que obrigou a rever a intervenção. Mas continuam por se ver as obras nos lotes em estado muito degradado no Bairro 2 de Maio. Ou a reabilitação de outros fogos com empreitada lançada para o efeito há seis meses. Ou o projecto de requalificação da Rua Eduardo Bairrada, com o pavilhão, o museu, a escarpa e as zonas verdes. Como a piscina prometida junto à Memória. Ou o Plano de Pormenor do Palácio da Ajuda, sobre cujos episódios a população deveria ser informada, mais a necessária remoção das lixeiras e entulhos nos terrenos que circundam o Palácio. Como os últimos realojamentos de barracas por fazer. Ou ainda os buracos que se não taparam e os passeios que se não arranjaram. Como a Rotunda que faz falta na Av. Helen Keller, a carência de espaço para estacionamento que se poderia obter adaptando espaços expectantes, incluindo em bairros municipais e espaços de terra batida. Ou novas ameaças da Carris para reduzir as carreiras nos fins de semana e feriados do autocarro 32 e do eléctrico 18. Apesar de, num passado recente, a população ter vencido o braço de ferro pela manutenção do 18. O interesse mais recente dos media pela Ajuda está ligada ao episódio que levou à demolição de um edifício de realojamento e à eliminação dos quartos pisos e metades de outros para criar...miradouros. Numa clara cedência à invocada perda de vistas de quem lá vive em moradias, seguindo critério diferente de idênticos direitos retirados aos moradores do Bairro do Caramão que, nos anos 80 se confrontaram com a barreira das torres da Avenida Helen Keller e, mais recentemente, as construídas em frente, em S. Francisco de Xavier. Tal como no conjunto da cidade, nestes dois últimos anos, a relação com a Câmara rareou e tornou-se mais distante, quer ao nível de vereação quer ao nível de serviços. As respostas não chegaram. O conhecimento do andamento de processos de interesse local teve os mesmos destinos. Chegou, tão só, a informação burocrática. Esta é outra freguesia em que, para a população autarquia quer dizer Junta de Freguesia. Por ela passa um intenso trabalho de técnicos nos bairros com jovens e crianças de rua, programas de voluntariado com a terceira idade e trabalho com os seus centros de convívio e o trabalho com as colectividades que contorna as dificuldades criadas pelo retirar de técnicos municipais que acompanhavam actividades desportivas. Pelo que conheço são significativas as acções desenvolvidas com a terceira idade com várias IPSS, o trabalho de outras como o CCRCCR ou a Liga Portuguesa dos Deficientes Motores. O associativismo continua, em geral, muito activo. Junta de Freguesia, associações são a ajuda da Ajuda.2. Apesar de já terem passado uns dias, não queria deixar de registar que foi uma boa passagem de ano a do Terreiro do Paço. Com meios utilizados, nuns casos com maior e noutros com menor impacto que em edições anteriores. Mas com uma boa moldura humana e um bom nível de espectáculo. Mas, no melhor pano cai a nódoa. Com vários protestos, a projecção laser deixou o pingarelho “Lisboa Feliz” a crepitar nas paredes do Ministério da Justiça, depois da meia-noite. Oportunismo de mau gosto, apesar de muita gente já ter esquecido o slogan da campanha de Santana Lopes e confundir hoje a expressão com um prato de cozinha chinesa, tendo retido na memória dessa campanha eleitoral preferencialmente as promessas de uma piscina em cada bairro, da reabilitação a todo o vapor da Baixa, dos bairros e do Parque Mayer... O pingarelho, porém, não estragou a noite. O que nos vai estragar as noites que aí vêem são mais despedimentos, São os aumentos (pão, rendas de casa, água, electricidade, portagens,...), a liberalização do preço dos combustíveis, o aumentos das custas judiciais. São os rendimentos escassos que não resistem a isso. São mais falências e a redução dos direitos da Função Pública com tanto peso na cidade. As festas são um bom anti-depressivo para alguns dias mas o governo do “Portugal feliz” lá vai produzindo aqueles e outros produtos do “centrão” de direita que há tantos anos nos desgoverna ininterruptamente. Não há remodelação governamental que nos valha! Só deslocando tais governos e políticas, que em desespero de causa recorrem a astrólogos e quiromantes e alguns comentadores que, travestindo-se reciprocamente, nos vêem falar do “positivismo” com que se devem ler os sinais da “retoma”, do “fim da crise” e do “sempre a subir” que aí viria.... Mas, como? Se são a Eurostat, o Primeiro Ministro, o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal que, ao mesmo tempo, nos dizem que a produtividade do país baixou assinalavelmente no período de adaptação para o euro, se os seus ganhos não se repercutirão nos salários e o crescimento irá nos próximos anos afastar-nos da média europeia, se a retoma do poder de compra, também dizem, foi adiada para 2005...Decididamente do lado do “centrão” estão os visionários da luz ao fundo do túnel... Por aqui a esperança é feita de muito trabalho e luta no plano social, no da economia real, no da produção e outras condições de fruição cultural, no da resolução dos problemas concretos que melhore a vida do dia-a-dia, com idéias, estratégias, objectivos, e actos políticos que dêem corpo à mudança que faça recuar a bigbrotherização do país e nos faça reencontrar com a dignidade.

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