&quot;O tempo das estatísticas&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

As estatísticas económicas portuguesas têm traços definitivamente peculiares. O que as torna um deveras interessante fenómeno científico são também os seus calendários. Atente-se no seguinte.O primeiro trimestre de 2004 é (ou melhor, foi) constituído pelos meses de Janeiro, Fevereiro e Março. Este lapso de tempo corresponde a uma unidade estatística que é o trimestre. O ritmo mensal e anual da vida económica aconselha razoavelmente que se procurem unidades intermédias que possa operativamente indiciar tendências. Seria de supor que tais dados estivessem disponíveis rapidamente, exactamente para que o seu curto prazo pudesse ser considerado imediatamente a seguir.Mas em Portugal é diferente. Os resultados estatísticos da economia no primeiro trimestre estão acessíveis dois meses e nove dias depois. Isto é, a unidade trimestral passa a ser, afinal, semestral.Sucede que, ao necessitar de dois meses e nove dias para chegar a conclusões, o Instituto Nacional de Estatística fez coincidir a divulgação de umas décimas de recuperação económica no há dois meses transcorrido primeiro trimestre com o discurso político do Governo no fim do segundo trimestre. E em vésperas de eleições.Por uma sucessão de acontecimentos trágicos, a operação falhou. Mas as estatísticas, de facto, esclarecem muita sobre a seriedade com que se faz política.

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