&quot;Em defesa da Sorefame&quot;<br />António Abreu na &quot;Capital&quot;

1. A Sorefame foi vendida ao desbarato no início da década de 80,quando contava com 4100 trabalhadores e produzia, para muitos países, equipamentos para as áreas da energia e do transporte ferroviário. Num processo em que estiveram envolvidos governos do PS e do PSD, e contra o qual estiveram os trabalhadores e, no plano político, o PCP, e que foi na altura apresentado como forma de abrir à empresa negócios que permitissem o seu desenvolvimento. A Sorefame dispôs, até agora, de uma base tecnológica e de engenharia própria de grande prestígio e competitividade. Depois da privatização, a “nova” Sorefame/Bombardier foi sucessivamente amputada se recursos produtivos estratégicos transferidos para outros países. E em meados do ano passado, a administração do grupo só garantiu a produção até ao próximo mês de Abril. Precisamente quando nos últimos anos se tem falado muito em investimentos públicos no sector ferroviário dos transportes do nosso País. A Bombardier Trensportation/Sorefame investe em investigação e desenvolvimento (I&D) cerca de 5% da facturação, sendo a principal empresa industrial a fazê-lo, num quadro em que são muito poucas as empresas que têm tais práticas no nosso País. Com as consequências conhecidas a nível da produtividade e competitividade da economia. A sua capacidade de liderança e de coordenação de projectos de investigação europeus está evidente no facto de ter coordenado três projectos europeus e participado em dez outros. Será de destacar o caso do projecto SAFETRAIN, que foi financiado pela União Europeia, em que a empresa liderou e coordenou uma equipa com os principais construtores e utilizadores europeus, projecto que foi um dos finalistas ao principal prémio da UE, em 2001, para investigação, desenvolvimento e inovação – o prémio Descartes. O Governo, a Assembleia da República e o Presidente da República devem pesar as consequências de não serem tomadas medidas de apoio à Sorefame, particularmente no que respeita aos investimentos públicos no sector ferroviário de transportes e da administração da empresa não tomar uma atitude activa de procura de projectos no mercado internacional. E de não ser, uma vez mais, estimulado o desenvolvimento de uma actividade empresarial que aposte na inovação, na investigação, na capacidade de apresentar e desenvolver projectos próprios, de planear e de produzir, como neste caso, importantes equipamentos. Estas questões já lhes foram suscitadas num manifesto que lhes foi apresentado há pouco tempo e que colheu largo apoio, nomeadamente nos meios da engenharia. A não ser que queiram ficar indiferentes à falência desta importante empresa e às piores condições que isso traria no futuro para a mobilidade ferroviária dos portugueses. Não vale a pena iludir a opinião pública com promessas de grandes esforços na investigação e na evolução qualitativa do nosso trabalho, como fez há dias em passeio a Óbidos o Primeiro-Ministro, quando depois a realidade do dia-a-dia é esta.... O distrito de Lisboa tem acentuado a sua fragilidade e e subcontratação ao nível industrial. Sectores produtivos desaparecem. Mão-de-obra experiente e qualificada é jogada no desemprego. Acabam-se com importantes sectores de projecto de engenharia essenciais ao desenvolvimento sustentado do país. Nas duas últimas décadas desapareceram 50 mil postos de trabalho na região. Há governos e “empresários” por detrás de tudo isto. Para onde é que estes estrategas de aviário, embalados na economia virtual, querem conduzir o País? Tal como era referido nesse manifesto estamos profundamente convictos de que “Portugal não está condenado a prosseguir um caminho de regressão social e económica. É possível e necessária uma política que aposte nos recursos e potencialidades de Portugal e dos portugueses, que aposte no ensino, na investigação científica e tecnológica, na formação profissional e no emprego qualificado”.2. Recebi há dias em casa um envelope do município de Mafra que me era endereçado na qualidade de “antigo professor do Externato Secundário da Malveira”. Fiquei surpreso. Abri e no convite estava a foto de um edifício restaurado. Olhei melhor. Passaram 32 anos mas, sem dúvida, era ela. A primeira escola onde “dei aulas” enquanto tirava o curso no Técnico, a escola que tinha sido construída nos anos 60 pela Junta de Freguesia de então com uma subscrição pública. Saía de casa, na Oscar Monteiro Torres, ainda de noite para apanhar o autocarro, onde ainda dormitava mais um pouco, e descia na paragem da rua que atravessa a Malveira em direcção a Mafra, e que hoje tem o nome do 25 de Abril. Subia um pouco mais além do terreno da feira e sofria o impacto estimulante da vozearia de crianças, rapazes e raparigas, da pré-primária ao liceal. Era director o professor Gustavo Caetano que me deu palavras de estímulo quando o Ministério da Educação Nacional me recusou o diploma de professor do ensino particular por informações da PIDE (já DGS). Reencontrei, muitos anos depois, uma educadora de infância de então na qualidade de vereadora da Educação em Mafra, quando eu tinha idêntico pelouro em Lisboa, no âmbito das “guerras” que travamos com outros ministérios da Educação, em conjunto com os outros vereadores da Educação da Área Metropolitana. Foi certamente ela que teve a iniciativa do convite. Aqui fica o reconhecimento e a agradável surpresa de ver a antiga escola transformada em Casa da Cultura, com uma biblioteca municipal, o museu popular Beatriz Costa (que doou o espólio à Junta de Freguesia), um espaço jovem/Univa e um auditório. A memória já não conseguia reconstituir tudo mas a Helena Mota lá ia dizendo o que ficava dantes em cada novo espaço. E também onde estava o duplicador de álcool que por vezes utilizei à hora do almoço para imprimir tarjetas para um 1º de Maio. E que penso que os meus colegas até sabiam...

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