25 de Abril - 25 de Novembro


No Boletim da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) nº 87, série 3, de Outubro/Dezembro - 98, é publicado um artigo, de Geraldo Lourenço, que se intitula: Reconciliar ... fazendo justiça!
Aí se diz: "Em 15 de Outubro de 1984, o Governo de então fez aprovar e publicar no «Diário da República» (1ª série) o decreto-lei 330/84 que teve como finalidade reintegrar nas Forças Armadas, e refazer as suas carreiras, os militares passados à reserva pela Revolução. Dizia ele: "Espera-se que esta reparação contribua para o reforço da pacificação da família portuguesa, pondo termo a ressentimentos que só a subsistência de situações injustas dez anos volvidos alimenta ainda".
É bom, justo e salutar observar a diferença que existe entre os homens democráticos, que acreditam nos outros Homens e sabem perdoar e os que, ao contrário, preferem pisar e nesse pisar constante se realizam.
Só que há mais vítimas entre os militares. Então os afastados em Novembro de 1975? Foram cerca de uma centena de bons democráticos militares dos três ramos das Forças Armadas, especialmente Sargentos e Praças dos Quadros Permanentes, para além dos que estavam em regime de Serviço Militar Obrigatório, pois, estes foram de imediato desmobilizados. Contudo os dos Quadros Permanentes foram colocados em casa na siuação de licença, e à medida que surgiam as suas reconduções nas carreiras, não eram reconduzidos mas sim passados compulsivamente à situação de reserva.
Destes, os que tinham quinze anos ou mais de serviço, tiveram direito, ao abrigo da lei em vigor, a uma pensão de reserva, mediante os anos de serviço. Os restantes não tiveram qualquer direito ou regalia.
Muitos deles requereram certidões justificativas dos seus processos, de forma a poderem defender-se de acordo com os seus legítimos direitos. Nunca as conseguiram.
A resposta da chefia foi sempre: indeferido; não tem processo disciplinar; não é reconduzido por não satisfazer todas as condições do artigo 61º do Estatuto dos Sargentos e Praças da Armada. (...)"
Porquê, passados 24 anos, nunca houve uma decisão para pôr "termo a ressentimentos que só a subsistência de situações injustas (...) alimenta ainda"?
Será porque o 25 de Abril foi uma acção revolucionária e o 25 de Novembro não o foi, foi uma acção contra-revolucionária.


«O Militante» Nº 239 - Março / Abril - 1999