Um Congresso?


Apesar da comunicação social estar constantemente a render homenagens ao PS e, particularmente, a António Guterres, é muito difícil encontrar um relato do Congresso do PS, realizado em 6 e 7 de Fevereiro, que não o desclassifique de muito variadas maneiras.

"Uma espécie de comício-festa destinado à autocontemplação de um grupo de homens que estão no poder" é como o classifica Eduardo Dâmaso (Público, 7/2/99). E diz, depois, que "foi uma encenação simbólica de um confronto-ideológico-que-nunca-existiu mas que obedecia às regras do consumo televisivo". E ainda: "António Guterres, apesar de ter feito, provavelmente, o discurso mais esquerdista que se lhe conhece desde que é primeiro-ministro, deixou a convicção de que isso obedeceu a uma nova lógica de satisfação das sensibilidades internas."
António Barreto (Público, 7/2/99) acha que "que nada de realmente importante se discutiu" e destaca que "neste congresso chega-se ao cúmulo de aprovar, por aclamação, alterações estatutárias que não foram postas à votação, nem sequer por braço levantado."
Depois de longos elogios a Mário Soares, o director do Público, José Manuel Fernandes, considera (8/2/99) que "é fraca a recordação que nos fica destes dois dias". Afirma que "Manuel Alegre acabou por ser a cereja no bolo da auto-satisfação" e depois de considerar "triste" uma série de factos sucedidos no Congresso, termina: "Mas foi sobretudo triste assistir a como a direcção do PS se empenhou em esvaziar o debate e em meter no bolso todos os possíveis divergentes".
Mais tarde, e no Diário de Notícias (13/2/99), Vasco Pulido Valente diz que "a imprensa inteira" e "os próprios participantes" reconheceram que o Congresso "foi um buraco". "O PS muito evidentemente não existe, a não ser como centro de poder e organização para o conservar e aumentar".
Antes do Congresso, Manuel Vilaverde Cabral (DN, 5/2/99) dissera que "a hegemonia da actual direcção do PS" passou pela "desmobilização do partido" e "pela alteração da sua base social de apoio". "Nada o ilustra melhor do que o facto de a moção da direcção ao próximo Congresso do partido ter sido redigida por um quadro superior do grupo Melo...".


«O Militante» Nº 239 - Março / Abril - 1999