XV
Assembleia da Federação Mundial da Juventude Democrática
Educação e emprego são os nossos direitos fundamentais!
Margarida Botelho
Membro do Secretariado e da Comissão Política da JCP
Os jovens são, naturalmente, das primeiras
vítimas do capitalismo. As políticas neoliberais e os ditames
das instituições internacionais do sistema comprometem
gravemente a vida das futuras gerações. A ofensiva ideológica
e a repressão procuram sossegar a constestação do movimento
juvenil. É neste contexto que se torna especialmente importante
a Federação Mundial da Juventude Democrática.
Perto de 150 jovens, de 54 países, representando 70
organizações progressistas de juventude, reuniram-se de 27 a 31
de Janeiro em Larnaca, no Chipre, para a XV Assembleia da
Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD). Durante
cinco dias, a discussão, a solidariedade e o convívio foram as
tónicas centrais. A Juventude Comunista Portuguesa, membro
destacado da Federação, participou com uma delegação de três
camaradas, da direcção e da Secção Internacional da JCP.
A FMJD reúne mais de 120 organizações de juventude
progressistas, anti-imperialistas e de esquerda de todo o mundo.
Com mais de 50 anos e créditos firmados no movimento juvenil de
massas, a FMJD conseguiu até hoje manter o carácter
anti-imperialista, antifascista, anticolonialista, de defensora
da paz e da solidariedade, que lhe valeu mesmo o reconhecimento
como organização com estatuto consultivo junto das Nações
Unidas. E se, na XIV Assembleia, realizada há quatro anos no
Seixal, se discutia, num quadro de relações e equilíbrio de
forças diferente, a existência ou não da Federação, nesta
Assembleia discutiu-se a análise do mundo, as linhas com que o
capitalismo nos cose, que rumo dar à luta, que actividades
definir para a Federação.
O prestígio e o trabalho da FMJD são realidades diariamente
construídas e expressas no facto de a Federação ter voltado a
crescer: 13 novas organizações subscreveram nos últimos quatro
anos o carácter e o projecto da Federação, reforçando-a.
Treze novas organizações da Bulgária, da República Checa, da
Catalunha/Espanha, da Dinamarca, da República da Irlanda, da
Jugoslávia, do Nepal, do Bangladesh, do Brasil, do Paraguai, do
Uruguai e do Japão. Em processo de auscultação continuam uma
série de organizações-amigas, de todos os continentes.
Durante os cinco dias de discussão, estiveram em foco os
problemas com que a juventude um pouco por todo o mundo se
depara. O mais enriquecedor de uma reunião deste género é a
diversidade de dificuldades e análises que jovens de todo o
mundo apontam. Guerras e ditaduras, medidas neoliberais e crises
financeiras, desinvestimento na educação e no emprego,
preconceitos e imigração: os problemas que o capitalismo cria e
agrava reflectem-se na vida dos jovens. Na sua vida quotidiana,
na sua luta, na sua forma de pensar.
A aprovação de uma Resolução Política que traça as linhas
de trabalho para os próximos quatro anos da Federação, a
apresentação de resoluções regionais mais específicas (da
Europa e da América do Norte, do Médio Oriente, de África, da
Ásia e do Pacífico, da América Latina), a discussão de
resoluções temáticas foram pretexto para a discussão de
jovens progressistas, culturalmente muito diferentes, com cargas
históricas diversas, com uma crítica comum: o capitalismo, o
imperialismo não são solução.
Resolução Política
Os jovens debateram uma longa análise do que mudou no mundo
desde a última Assembleia. Ainda que o imperialismo se tenha
reforçado, lê-se, sinais de crise, financeira e política,
caracterizam a natureza do capitalismo. Cada vez mais dominada
pelo neoliberalismo, a vida dos jovens pauta-se por enormes
problemas comuns: desemprego, precaridade, extremismo religioso,
iliteracia e crise dos sistemas educativos, conflitos armados.
Problemas de tal maneira comuns, nomeadamente dentro de cada
região do globo, que a descrição da situação social e
económica de cada país criava nos jovens vizinhos a surpresa de
um reconhecimento tristemente esperado. Muito óbvios são os
ditames da União Europeia, adaptados apenas o suficiente à
realidade dos países-membros, no que toca à entrada de capitais
privados na educação, ao desinvestimento do Estado, à
precarização do emprego, à tentativa de criação de uma nova
geração sem direitos.
Os jovens das organizações da Federação reforçaram nesta
Assembleia o desejo de construir um mundo de paz, livre de armas
nucleares, baseado na justiça social, na cooperação
internacional, no desenvolvimento sustentado, em que os seres
humanos estejam no centro do desenvolvimento. Lutamos pela
solidariedade internacional, a paz, a amizade, o respeito pelos
direitos humanos, e principalmente pelos dos jovens, a
democratização das relações internacionais e um mundo livre
da dominação e da manipulação imperialista, lê-se na
Resolução Política, discutida e alterada desde Setembro nas
organizações-membro e voltada a discutir no Chipre.
Os jovens condenam a nova ordem mundial, de hegemonia dos EUA, do
FMI, do Banco Mundial e da NATO, dos ataques à soberania dos
povos, da concentração da riqueza, dos ataques ao ambiente, à
educação e ao emprego. A FMJD condena a existência de armas
nucleares, as ocupações imperialistas de territórios, a
inacção perante a miséria e a pobreza, a imposição de
políticas económicas neoliberais, a emergência de tendências
neofascistas, a corrupção, o desemprego juvenil, a
especulação, o desinvestimento na educação, a discriminação
das jovens mulheres, dos emigrantes, dos povos indígenas e de
todas as minorias, a conivência com o tráfico de
estupefacientes, a monopolização dos meios de comunicação
social.
A FMJD considera que o seu maior contributo nestes quatro anos
para o movimento juvenil mundial foi o apoio e a contribuição
dados à realização do XIV Festival Mundial da Juventude e dos
Estudantes, realizado em Cuba no Verão de 97. Para si própria,
a Federação congratula-se com a orientação dada para ela
própria no Seixal: a de ser uma organização política,
estreitamente ligada ao movimento juvenil, com um carácter
anti-imperialista expresso em posições e acções concretas. O
desejo e o objectivo de estar ao serviço da solidariedade, de
coordenar e fazer eco de campanhas sobre todos os interesses do
movimento juvenil ficou bem expresso, bem como o compromisso de
usar o estatuto consultivo junto da ONU para defender os
interesses dos jovens.
Resoluções temáticas
Uma série de resoluções temáticas estavam previstas pela
organização da Assembleia.
Emprego, educação, paz e desarmamento, jovens mulheres,
racismo, saúde, direitos da juventude, solidariedade
internacional, cooperação juvenil internacional e o sistema das
Nações Unidas, ambiente, comunicação e serviço voluntário
juvenil eram os temas à partida suportados por organizações do
Conselho Geral. Expressas no próprio lema da Assembleia - Educação
e Emprego são os nossos direitos fundamentais, as duas
principais preocupações da juventude do mundo foram as mais
debatidas.
A cargo da JCP ficou o painel sobre Emprego. O mais concorrido em
número de delegados, este painel enriqueceu-se com os
contributos dos camaradas de outras regiões. Porque se a JCP
sabe na pele o que acontece aos jovens trabalhadores e
desempregados vítimas dos países mais desenvolvidos, sabe
apenas na teoria o que sucede aos jovens que nos países em vias
de desenvolvimento são lançados no mercado de trabalho. Para os
camaradas africanos ou asiáticos, escravatura, total
dependência, discriminação, emigração clandestina são
realidades descritas pormenorizada e sentidamente, o que permitiu
que a resolução fizesse reivindicações concretas quanto ao
direito à segurança e à higiene no trabalho, a condenação do
trabalho infantil, a igualdade no acesso, o fim do trabalho
escravo, etc..
A cargo dos camaradas da UJC de Cuba, a resolução sobre
Educação estabelecia a análise das tendências principais do
mundo nesta área - como sejam o desinvestimento, a precaridade,
a orientação ideológica -, delineando ao mesmo tempo que
Educação exigem os jovens da FMJD: uma educação que
mostre os caminhos para a liberdade, a justiça e a crítica,
lê-se.
A JCP participou activamente também nos grupos de trabalho sobre
Educação, Racismo, Paz e Desarmamento, Ambiente, Direitos da
Juventude e Jovens Mulheres.
A propósito desta última Resolução, é bom sublinhar que
entre as quase duas centenas de participantes contavam-se apenas
nove jovens delegadas: Reino Unido, Vietname, Portugal, Cuba,
Paraguai, Grécia e França foram os únicos países em que
mulheres integravam as delegações, facto no mínimo preocupante
em organizações juvenis progressistas.
Com a presença de jovens com percursos tão diferentes atrás de
si, é natural que as moções de solidariedade se sucedam:
reivindicações muito concretas e com conhecimento estreito da
realidade sobre o conflito fronteiriço entre a Etiópia e a
Eritreia, a ocupação turca no Chipre, os entraves à
auto-determinação dos povos do Sahara Ocidental, de Timor-Leste
ou de Porto Rico, a situação na Somália e em Myanmar (Burma),
os atentados aos direitos humanos no Irão, no Líbano e na
Colômbia, o bloqueio a Cuba, os embargos ao Iraque, à Coreia e
à Líbia, a exigência do desmantelamento de bases militares um
pouco por todo o mundo.
Direcção
Eleita por consenso, a nova direcção da FMJD tem pela frente
quatro anos de trabalho, em que a tarefa principal será
desenvolver a actividade da Federação, reforçando-a. A
estrutura directiva da Federação é composta pelo Conselho
Geral, em que têm assento sete organizações por região, e
pelo Conselho Coordenador, composto pela presidência, duas
vice-presidências por região e pelos coordenadores das
regiões.
Depois de quatro anos de presidência a cargo do Movimento dos
Jovens Comunistas Franceses (MJCF), a nova presidência cabe à
Juventude Comunista Grega (KNE). Na sequência do prestígio
internacional da JCP está a eleição da organização
portuguesa para a vice-presidência e a coordenação da região
da Europa e América da Norte. A coordenação é tripartida; a
par com os camaradas da UJC de Espanha (UJCE) e da EDON, do
Chipre.