IV Assembleia da Organização Regional de Lisboa do PCP
Um Partido mais forte para intervir melhor


Helena Medina
Membro do Comité Central
e membro do Executivo da DORL


1. Realizou-se no passado dia 30 de Janeiro, no pavilhão Multiusos do Parque das Nações, a IV Assembleia da Organização Regional de Lisboa do PCP, sob o lema “Um Partido mais forte para intervir melhor”.
A decisão de convocar esta Assembleia e a definição dos seus objectivos fundamentais foram questões assumidas pela DORL em Janeiro e Fevereiro de 98, após os resultados das últimas eleições autárquicas.
O reforço do Partido, o seu reforço orgânico, político e ideológico; o reforço da sua ligação à vida e aos problemas dos trabalhadores e da sociedade portuguesa, dos que vivem e trabalham no distrito de Lisboa; o reforço da sua intervenção e influência política - constituíram o tema central do debate que teve como bases de trabalho o documento da reunião do Comité Central de 14 e 15 de Fevereiro; um conjunto de orientações nacionais, sectoriais e regionais - nomeadamente a Resolução Política da III Assembleia - que se mantêm no fundamental actuais; e a experiência, o conhecimento, as análises, as preocupações e propostas dos militantes e organismos. O debate foi ainda sustentado nos últimos dois meses por dois projectos de documentos: a Resolução Política da Assembleia e a Proposta de Intervenção Política e de Medidas para a Melhoria da Qualidade de Vida no Distrito de Lisboa.

2.
Realizaram-se no distrito muitas e muitas centenas de reuniões, envolvendo muitos e muitos milhares de camaradas.
Deste debate muito alargado e franco, o que transpareceu foi uma posição de confiança - de confiança no projecto do Partido e de confiança na nossa capacidade de, olhando de frente a realidade, não virando a cara às dificuldades e aos problemas, falando verdade, darmos a volta à situação, vencermos os atrasos e deficiências, alterarmos aquilo que colectivamente entendemos que não está bem no nosso trabalho.
O debate realizado nestas condições foi um debate exigente, provocou desde logo a adopção de medidas em muitas organizações, enriqueceu profundamente os documentos, mas colocou-nos, a todos nós, responsabilidades incontornáveis para o presente e o futuro imediato. A confiança, a disponibilidade manifestada, a alegria de sentirmos que não baixamos os braços perante as dificuldades nem assumimos o “inevitável” enfraquecimento do Partido à espera de dias melhores que não se sabe quem construirá, não podem ser defraudadas.
O caminho que nos propusemos colectivamente percorrer na IV Assembleia será certamente complexo e difícil, mas abre uma perspectiva real de reforço do Partido. E exige um estilo de trabalho de direcção e organização que, fundido com uma justa orientação política, construída e aplicada por todos nós, dinamize a participação de todos os camaradas, o debate das ideias e dos problemas, num ambiente franco, aberto e confiante que fortaleça uma grande unidade na sua concretização.
A Resolução Política aprovada na Assembleia é a este respeito muito clara: “É necessário cimentar a ideia, nas organizações e nos seus militantes, que o Partido não é uma entidade longínqua e abstracta capaz de resolver os problemas, mas uma construção colectiva que existe também na medida em que cada comunista se associa à procura colectiva de soluções e ao esforço para a sua concretização”.

3.
O Partido tem hoje uma efectiva influência e um indiscutível prestígio no distrito de Lisboa. É contudo uma verdade incontornável, evidente não só nos resultados eleitorais como na nossa actividade e intervenção diárias, que o Partido tem perdido influência social, política e eleitoral. Esta questão, complexa e contraditória, avançada no Projecto de Resolução, esteve no centro do debate. A Assembleia considerou que existem múltiplas causas para este fenómeno: causas objectivas, decorrentes da degradação real da democracia, da destruição do sector público da economia, das profundas alterações no mercado e nas relações de trabalho e do desenvolvimento da exploração capitalista, da situação internacional, do papel crescente do grande capital no domínio da informação; e causas que têm a ver com o nosso trabalho. A conclusão do debate é que, apesar das dificuldades objectivas que são muitas e não irão desaparecer a curto prazo, podemos trabalhar melhor e, se acertarmos nas soluções, temos condições para crescer, ultrapassar obstáculos e aumentar a nossa influência.

4.
E esta foi claramente outra das questões que esteve no centro do debate - sim ou não podemos trabalhar melhor.
A Assembleia deu um balanço muito positivo ao enorme e valioso trabalho realizado pelos comunistas do distrito, ao seu profundo e diário empenhamento na luta em defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores e das populações, na resolução dos problemas, em defesa da liberdade e da democracia, das grandes causas sociais e políticas do Partido, contra os aspectos centrais da política do Governo PS. Assumiu uma posição de justa valorização das propostas e da intervenção do PCP, da luta da classe operária, dos trabalhadores e das populações, do trabalho concreto nos órgãos do Poder Local, em outras instituições e nas mais diversas organizações sociais e culturais. Considerou que têm constituído um elemento essencial para obrigar o Governo a recuar em muitas das suas decisões e para a obtenção de importantes vitórias. Sublinhou o valor da luta e os resultados da luta de resistência.
Mas a Assembleia concluiu também, duma forma muito clara - Podemos trabalhar melhor. Temos de trabalhar melhor.
Temos no Partido capacidades que estão longe de estar aproveitadas. Temos formas de trabalho que muitas vezes não responsabilizam nem os militantes nem os organismos. Muitos camaradas têm uma participação muito reduzida na vida do Partido, mesmo em casos em que têm uma intensa actividade social e cultural. O debate político é insuficiente e a iniciativa política é muitas vezes reduzida. A orientação do Partido não chega a muitos camaradas. Estamos desligados de muitas empresas, de sectores da classe operária e dos trabalhadores e de outros sectores muito importantes. Temos problemas sérios na composição etária da nossa organização, o que implica não só com o futuro do Partido mas, como dizia um camarada, “com o presente do Partido, com a sua influência e actividade hoje, com a forma como é capaz de formar uma opinião, de estabelecer orientações acertadas e de ter em si as energias necessárias para transformar as ideias e as orientações em acção”.
Para que o Partido se reforce e reforce a sua influência social, política e eleitoral é necessário um grande acerto das orientações políticas; uma clara definição de prioridades e a concentração de energias no que é fundamental; a responsabilização crescente de um maior número de membros do Partido; o rejuvenescimento da estrutura do Partido; o reforço do trabalho colectivo; a simplificação de estruturas quando esgotam por inteiro as nossas energias num trabalho desligado dos problemas e da intervenção política e de massas do Partido; um trabalho integrado de direcção e organização; um estilo e conteúdo de trabalho em que todos os militantes se sintam e sejam construtores das orientações e intervenientes activos na sua concretização, nas pequenas lutas e realizações, mas também nas grandes batalhas e causas políticas do Partido. A Assembleia avançou com um conjunto de interrogações que devem estar sempre presentes no nosso trabalho diário e que respeitam, entre outros, ao nosso conhecimento da realidade, ao nosso relacionamento com os trabalhadores e as populações, à forma como exercemos o poder, à iniciativa, ao aproveitamento do potencial humano e militante do Partido.

5.
Foi com este espírito e com estes objectivos que a IV Assembleia da ORL definiu as linhas fundamentais e prioritárias de intervenção que se propõe levar à prática apoiada num núcleo activo de milhares de camaradas com uma grande capacidade e experiência, com responsabilidades mais directas no trabalho de organização do Partido, no movimento sindical, nas comissões de trabalhadores, nas colectividades, nas associações e movimentos de massas, nos órgãos do Poder Local e noutras instituições:

- Concentrar meios e energias no reforço da organização e da intervenção do Partido na classe operária e entre todos os trabalhadores, com um plano de trabalho interligado, que tenha em conta as mudanças e alterações no mundo do trabalho e que dê uma atenção muito particular: aos sectores profissionais, existentes e em construção; aos sectores e células de empresas; aos grandes pólos de concentração de trabalhadores e de futuros trabalhadores; às jovens gerações de trabalhadores; às mulheres trabalhadoras; à manutenção, desenvolvimento e reforço da natureza de classe do movimento sindical unitário e das Comissões de Trabalhadores; à actividade das organizações e associações de trabalhadores dedicadas às actividades de recreio, cultura e desporto; à necessária alteração do conteúdo e estilo de trabalho das Comissões Concelhias, organismos de grande importância em toda a acção do Partido e cujo envolvimento e trabalho são indispensáveis para o êxito deste objectivo fundamental;
- promover o rejuvenescimento e renovação da organização: construindo campos de aproximação, diálogo e envolvimento em iniciativas e acções concretas de luta e de intervenção política, social e cultural com as mais jovens gerações de trabalhadores e de estudantes; recrutando, integrando e responsabilizando a todos os níveis da estrutura partidária e na intervenção de massas; não hesitando em criar e experimentar formas novas e maleáveis de direcção e de organização que garantam este objectivo; encarando com particular atenção os sectores profissionais onde se associam uma elevada média etária, reformas antecipadas e um muito grande crescimento, nos últimos anos, do peso das novas gerações de trabalhadores;
- valorizar o papel dos militantes e dos organismos;
- abrir de forma mais decidida o trabalho das organizações locais do Partido para os problemas concretos dos trabalhadores e das populações e para a intervenção política;
- intensificar e enriquecer a vida política das organizações encontrando as formas adequadas de trabalho que permitam abrir um maior espaço para o debate político associado ao desenvolvimento da luta e do trabalho concreto para a resolução dos problemas dos trabalhadores e das populações, para a formação e responsabilização dos quadros, para a afirmação das propostas, do projecto e dos ideais dos comunistas e que permitam que um número cada vez maior de organizações e militantes assuma as suas responsabilidades no âmbito das suas competências;
- valorizar o papel do “Avante!” e de “O Militante”, intensificar o trabalho de informação e propaganda e o trabalho com a comunicação social; promover regularmente o debate político e ideológico; imprimir um novo vigor ao trabalho de fundos;
- reforçar a capacidade de intervenção unificada do Partido em torno das grandes batalhas políticas, sociais e culturais.

6. Em todo o debate realizado, as questões de direcção, organização, orientação, intervenção e luta foram sempre consideradas como questões interligadas e indissociáveis.
A realidade concreta do distrito, as pequenas e grandes lutas da classe operária, dos trabalhadores, dos agricultores, das mulheres, dos estudantes, as realizações do Poder Local e do movimento popular, as iniciativas políticas e culturais estiveram presentes em todo o debate e no conjunto das intervenções realizadas. O documento “Propostas de Intervenção Política e de Medidas para a Melhoria da Qualidade de Vida no Distrito de Lisboa”, elaborado com uma muito grande participação dos militantes e das organizações, constitui uma base muito importante para a intensificação da luta e da nossa intervenção concreta.
A luta contra o Pacote Laboral e pelos direitos políticos, sociais e culturais dos trabalhadores, as Comemorações do 25º aniversário do 25 de Abril (e a decisão de recrutar até esta data 250 novos militantes), as comemorações do aniversário do Partido e do 1º. de Maio e as próximas eleições para o Parlamento Europeu e Assembleia da República, são as grandes tarefas que temos de imediato pela frente.

Tal como a Assembleia afirmou, é indispensável mas não é suficiente para resolver os problemas conhecê-los e decidirmos que os vamos resolver. É também indispensável assumirmos esta dinâmica de crescimento com os nossos meios, com as nossas forças, com a inteligência, a determinação e a persistência necessárias para as resolver no contexto concreto em que trabalhamos.


Alguns dados sobre a DORL eleita na IV Assembleia

Composição social etária

48 operários - 37,2%
40 empregados - 31,0%
34 QT’s ou Intelectuais - 26,3%
5 estudantes - 3,9%
1 agricultor - 0,8%
1 empresário - 0,8%

Composição etária

- menos 20 anos - 1
de 21 a 30 anos - 16
de 31 a 40 anos - 18
de 41 a 50 anos - 53
de 51 a 60 anos - 39
+ de 60 anos - 2

A média etária é de 44,1 anos
Participação de mulheres - 39 (30,2%)

A nova DORL tem 129 membros, mais 15 que a anterior DORL; 64 camaradas são responsáveis por organizações do Partido (37 ligados a sectores profissionais, sectores e células de empresas); 35 são dirigentes sindicais; 19 são eleitos em autarquias locais; 13 são dirigentes associativos; e 1 é deputado à Assembleia da República.


Delegados à IV Assembleia da ORL

Composição social

179 operários - 23%
335 empregados - 43%
163 quadros técnicos e intelectuais - 21%
34 empresários - 4%
46 estudantes - 6%
15 diversos - 2%

Composição etária

Com menos de 20 anos - 22 (3%)
De 21 a 30 anos - 90 (12%)
De 31 a 40 anos - 92 (12%)
De 41 a 50 anos - 237 (30%)
De 51 a 64 anos - 272 (35%)
Com mais de 65 anos - 59 (8%)
Média etária - 47 anos
Delegadas Mulheres - 232 - 30%
- 451 delegados são dirigentes de organismos ou movimentos de massas, dos quais 219 são membros de Comissões de Trabalhadores, Delegados e dirigentes sindicais.
- 257 delegados desempenham cargos públicos em diversos órgãos do poder local e 3 são deputados à Assembleia da República.
- Realizaram-se 168 Assembleias Electivas que elegeram 877 delegados efectivos e 390 delegados suplentes. Foram indicados 161 delegados por inerência - 123 membros da DORL que cessa funções e do Comité Central com tarefas na ORL, 38 da Comissão Distrital e da DOESL da JCP.

(Dados do Relatório da Comissão de Verificação de Mandatos.


«O Militante» Nº 239 - Março / Abril - 1999