Cartazes contra a democracia
Não há dúvida que o PP, ou, particularmente, o seu dirigente
actual, Paulo Portas, ultrapassou a barreira da
decência.
Tinha-se já a experiência do uso e abuso de fraude na
propaganda do Não.
Mas Paulo Portas foi mais longe: distribuiu pelo continente
grandes cartazes dizendo Corrupção X 8, Tachos X 8,
o que significa que, para ele, todos os eleitos só têm é
tachos e são corruptos. E os que actualmente dirigem as
regiões existentes não têm tachos e não são corruptos por
uma simples razão - não foram eleitos.
Logo pode concluir-se que bom era o tempo em que os Presidentes
de Câmara e os regedores eram simplesmente nomeados. Para Paulo
Portas é a eleição, é a democracia que conduz à corrupção.
Os protestos contra aqueles cartazes vieram de todos os lados. Os
presidentes das Câmaras Municipais da Área Metropolitana de
Lisboa, membros do PS, CDU e PSD, reunidos em Sintra em 18.9.98,
deliberaram "repudiar os cartazes de propaganda política do
PP". Esses cartazes "constituem um perigoso atentado
às instituições democráticas e àqueles que nelas estão
representados, quer a nível do Governo, quer a nível do poder
local". E ainda: "é uma peça sem precedentes em
campanhas eleitorais ou referendárias e constitui uma violação
da responsabilidade dos direitos democráticos" (Correio
da Manhã, 20.9.98).
Dentro do próprio PP houve sérios protestos. Segundo o Independente
(25.9.98) "apenas os monteiristas estão satisfeitos". Manuel
Cavaleiro Brandão da Comissão Directiva do PP, afirmou:
"Não tenho nada a ideia de que a regionalização possa
contribuir para o aumento da corrupção. Pelo contrário, pode
imprimir maior transparência à administração pública".
Carlos Abreu Amorim, militante do PP/Porto e promotor do
movimento "Direita pela Regionalização", que não
chegou a legalizar-se, afirmou: "Aquilo que a actual
direcção tem feito é o maior exercício de demagogia política
desde o 25 de Abril, é enganar os portugueses. Estamos ao nível
da vigarice política" (Público, 23.9.98).