Uma Misericórdia na retaguarda...



Comemoraram-se recentemente os 500 anos das Misericórdias, cujo objectivo principal era, e deve continuar a ser, o de socorrer e apoiar os mais necessitados.

No passado dia 22 de Maio deste ano, realizou-se uma Assembleia na Misericórdia do Barreiro. Foi um verdadeiro pandemónio pelas ilegalidades e prepotências que foram cometidas por quem dirigia a reunião.
Marcada uma nova Assembleia para um mês depois, esta decorreu de forma correcta, dirigida pelo presidente da Mesa da Assembleia. A proposta que tinha sido apresentada um mês antes e que tão grande celeuma levantou obteve um único voto...
Deve ter tido influência nesta modificação de comportamentos um documento, divulgado uma semana antes, assinado por 16 sócios da Misericórdia, entre os quais o Presidente da Assembleia Municipal, dois membros da própria Mesa Administrativa da Misericórdia, diversos ex-dirigentes da Misericórdia, todos pessoas prestigiadas no Barreiro, com diversas posições políticas.

São desse documento as seguintes passagens:
“Na Misericórdia do Barreiro, onde a fraternidade parece andar ausente, o clima de incomodidade e de conflito latente que se vinha sentindo, acabou por conduzir aos lamentáveis acontecimentos e ilegalidades verificados na Assembleia Geral de 22.05.98. Sucedeu o que se temia: Uma Assembleia tumultuosa e desunida, numa casa que se quer de concórdia, de isenção e solidariedade.
A proposta de Alteração e Substituição dos Compromissos/Estatutos que deveria introduzir melhorias no actual Estatuto, foi a gota de água que acabou por fazer transbordar uma taça já demasiado cheia de incompreensões e intolerância.
O mal-estar, visível há algum tempo, medrou no amargo caldo das frustrações, dos azedumes pessoais e políticos a que não têm sido alheios os fogos ateados pelo «Jornal do Barreiro»”.
“A proposta de Substituição dos Estatutos, patrocinada pelo Provedor, que agrava a autonomia da Misericórdia perante a hierarquia católica, não deve afrontar consciências nem ser instrumento de exclusão arbitrária dos que têm opiniões diferentes, mas sim congregadora de boas vontades.
A proposta não deve ser elemento de retrocesso, mas sim um meio de avançar na democracia da instituição adequando-a aos preceitos democráticos da Constituição e ao pensamento dos sectores mais esclarecidos da Igreja Católica.
Criar questões religiosas, estimular fervores de fé, discriminar cristãos, criar cargos e funções obsoletos, são coisas do passado, que nada têm a ver com a nossa época!”
“Na próxima Assembleia de 22 de Junho, a proposta da discórdia deverá ser retirada, sem ressentimentos, reanalisada com espírito construtivo, sem preconceitos de vencidos nem de vencedores.
A Misericórdia do Barreiro merece todos os esforços que a dignifiquem e prestigiem.”

Exactamente de 22.05.98 é o exemplar do Jornal do Barreiro que traz na primeira página a figura do padre Vítor Melícias (que, segundo se diz, é confessor de António Guterres e de Marcelo Rebelo de Sousa) com afirmações suas completamente desmentidas pelo que se passou na Assembleia realizada naquele dia. Aquele jornal é propriedade da Misericórdia e o seu director é o provedor desta instituição...


«O Militante» Nº 237 - Novembro / Dezembro - 1998