Veiga Simão, ministro do Governo PS
A história dos diversos povos que vivem nos Balcãs é muito
complexa. Invasões e guerras deslocaram frequentemente diversas
populações. O Kosovo, por exemplo, tem, actualmente, uma
maioria de Albaneses. Mas, para os Sérvios, o Kosovo é o berço
da sua nação. No final do século XIV os Turcos venceram os
Sérvios e ficaram a dominar e a islamizar. Os Sérvios foram
forçados a afastar-se e muitos Albaneses ocuparam esse espaço.
Só em 1912 o Kosovo foi reconquistado pela Sérvia. Após a
última guerra, o Kosovo tem o estatuto de província autónoma.
O desmembramento da Jugoslávia, em 1991, foi muito instigado
pela Alemanha de Kohl. Sem sequer atender à União Europeia, a
Alemanha apressou-se a reconhecer as independências da
Eslovénia e da Croácia.
Os problemas existentes na Croácia e também na Bósnia foram
aproveitados pelos EUA para intervir nos Balcãs e implantar, a
ferro e fogo, aí os seus interesses.
Os Sérvios continuam a ser considerados, nos Balcãs, os
inimigos principais dos EUA e, portanto, da NATO.
Em Junho passado, a NATO dirigida pelos EUA, realizou uma
operação de guerra que consistiu numa simulação de ataque a
uma zona fronteiriça da Jugoslávia. É evidente o desrespeito
pela soberania daquele país, pelo direito internacional e
também pelas instituições internacionais (quer a ONU, quer a
Organização para a Segurança e Cooperação Europeia).
Portugal participou naquela operação com dois aviões F16 e
respectiva tripulação. Porquê? Que temos nós contra os
Sérvios?
A propósito desta problemática o DN (17/6/98)
perguntou a cinco personalidades: "Concorda com a
intervenção da NATO no Kosovo?". Nuno Severiano
Teixeira, director do Instituto de Defesa Nacional, Rui
Albuquerque, presidente da Concelhia do PP/Porto, Carlos
Candal, eurodeputado do PS e Loureiro dos Santos,
general, ex-CEME, todos, de uma ou outra maneira, dizem que sim.
Só o coronel na reserva João Teixeira afirma que tem
"muitas dúvidas, até porque existem problemas idênticos,
por exemplo, no México, sem que adoptem ali medidas
semelhantes."
Agora, de novo, a NATO está ameaçando a Jugoslávia de um
ataque militar e de colocação, no Kosovo, de tropas da NATO.
No dia 24 de Setembro, o Público informava que
«Portugal vai pôr à disposição da NATO três aviões F16
para integrarem "uma força em estado de alerta" que
actuará no Kosovo assim que seja necessário». E, como
declaração do ministro da Defesa, Veiga Simão,
acrescentava-se «Numa fase posterior (...) o apoio militar por
parte de Portugal será mais "aprofundado"». O Avante!
(8.10.98) refere uma fragata e uma unidade operacional terrestre.
Imediatamente o grupo parlamentar do PCP levantou a questão do
ministro da Defesa ter definido e decidido o pessoal e os meios
militares a enviar para uma missão no estrangeiro sem ter ouvido
o Presidente da República, a Assembleia da República e o
Conselho Superior de Defesa Nacional.
Dias depois "em todas as bancadas, sem excepção, o DN
(2.10.98) ouviu críticas a Veiga Simão". Entre os
próprios socialistas há quem afirme tratar-de de uma
"falha imperdoável". Para o deputado comunista João
Amaral "este episódio demonstra a ligeireza e a
irresponsabilidade com que o sector da defesa nacional tem vindo
a ser tratado pelo actual Governo."
Todos os que conhecem a trajectória deste ministro do Governo
PS, antigo ministro de Educação no tempo do fascismo e das
graves medidas de perseguição aos estudantes, não se admiram
com o seu à-vontade para resolver uma questão que não
lhe compete pessoalmente. A defesa dos interesses dos EUA pode
ter-lhe toldado a mente.
É possível que esta mesma "defesa" esteja por detrás
do que, agora, informa o Público (3.10.98). Jean
Bletiere, francês, adepto da causa independentista
açoriana, que se intitula como "o principal
conselheiro" da FLA (Frente de Libertação dos Açores), a
qual desejava separar os Açores de Portugal para os aproximar
dos EUA, diz que durante o ano de 1975, Veiga Simão "terá
sido um dos contactos privilegiados da FLA".