Portugal 2000: O futuro
em debate aberto

Edgar Correia
Membro da Comissão Política

O acolhimento muito favorável e o interesse que têm sido dispensados ao PORTUGAL 2000 têm evidenciado uma muito vasta convergência de opiniões com o PCP a respeito da necessidade e da oportunidade de realização de um alargado processo de diálogo e de debate à esquerda, construídos no respeito pela pluralidade das expressões e das diferenças e em cujo quadro os comunistas assumem, igualmente, a sua própria identidade e posições. Processo de diálogo e de debate que enunciou à partida a possibilidade e a perspectiva de estabelecimento de pontes e da construção de convergências. E o propósito de afirmação e de viabilização futuras de um projecto de esquerda e de poder, que concretize um rumo democrático alternativo a um rotativismo centrado no PSD ou no PS.
Cumprido um primeiro conjunto de iniciativas antes das férias do Verão, o PORTUGAL 2000 entrou agora numa fase de intensificação das iniciativas, apesar da sobrecarregada agenda política e social a que as organizações do Partido têm tido necessidade de fazer frente, como o referendo da regionalização, as batalhas em torno do pacote laboral e da segurança social, o Orçamento do Estado, etc..

Temas ainda a abordar

O “caderno de encargos” dos assuntos a debater é muito vasto. Ele abrange, como se sabe, quer a discussão das diversas políticas sectoriais, quer o exame dos temas mais importantes em termos da afirmação e da credibilização de uma alternativa de esquerda e de poder - que política? com que forças? porque caminho?
O facto de, no traçado da actual fronteira entre a esquerda e a direita, ser relevante a posição em relação às políticas neoliberais, torna compreensível o particular interesse do debate das questões que melhor substantivam as diferenças existentes. É o caso, nomeadamente, de temas tais como:

· crescimento económico e desenvolvimento - a justiça social como condição de desenvolvimento;
· emprego com direitos, horário de trabalho, repartição do rendimento;
. igualdade/desigualdade: política de rendimentos e política fiscal;
· funções sociais do Estado, direitos sociais, discriminações classistas no acesso dos cidadãos;
· Portugal, União Europeia, quadro mundial;
· participação, informação e democracia;
· descentralização, regionalização, áreas metropolitanas, poder local;
· qualidade de vida, crise urbana e urbanismo, habitação, ambiente.

Passos na linha aprovada no XV Congresso

Desde o lançamento do PORTUGAL 2000 que o PCP tornou claro que a contribuição dos comunistas para este alargado e genuíno processo de diálogo e de debate, à esquerda, não devia ser confundida com a fase de intervenção do Partido em relação às próximas eleições legislativas. Donde emanou a expressa garantia que tem sido dada, a todos quantos se têm disposto a participar nos debates para uma política de esquerda, da completa ausência de propósitos instru-mentalizadores, do respeito pela liberdade de posicionamento político de cada um e da inexistência de laços ou compromissos em relação ao futuro.
Esta postura torna evidentemente necessário que, à medida que se aproximarem os actos eleitorais - europeias e legislativas - previstos para 1999, a fase do debate político à esquerda realizada sob a égide do PORTUGAL 2000 ceda naturalmente o seu lugar à intervenção própria do Partido nas pré-campanhas e campanhas eleitorais que se perspectivam no horizonte.
Não sendo ainda a hora do balanço final do PORTUGAL 2000 - esse terá lugar numa iniciativa específica a realizar em princípio nos primeiros meses do próximo ano -, há porém uma cons-tatação fundamental que pode desde já ser apontada.
É a de que começaram a dar-se passos, na linha aprovada pelo XV Congresso, de “dinamização pelo PCP de um amplo movimento de debate, reflexão, diálogo e acção comum com correntes e sectores democráticos, com organizações e movimentos sociais, com todos os cidadãos que reconhecem ser indispensável a construção na sociedade portuguesa de uma alternativa à política de direita”. E que o começo deste trabalho, de acordo com essa orientação, é evidentemente um trabalho - sob outras formas e noutros momentos - a continuar.

Principais iniciativas

- 28.04.98 - Acto de Apresentação do “Portugal 2000”, em Lisboa. Intervenção de Carlos Carvalhas.
- 17.06.98 - Que reforma da Segurança Social?, em Lisboa. Painel: Edgar Correia, Eugénio Rosa, Leonor Guimarães, Maldonado Gonelha, Maria Bento.
- 19.06.98 - A participação dos cidadãos, valor inseparável da democracia, em Setúbal. Painel: Carvalho da Silva, Fernando Nunes da Silva, Isabel Guerra, Luís Sá, Óscar Mascarenhas.
- 22.06.98 - Para um sistema fiscal mais justo, em Lisboa. Painel: Medina Carreira, Saldanha Sanches, Octávio Teixeira.
- 01.07.98 - Projecto de esquerda e de poder, em Coimbra. Painel: Boaventura Sousa Santos, Fernando Rosas, Manuel Vilaverde Cabral, Vítor Dias.
- 04.07.98 - Regionalização, a democracia e o seu desenvolvimento, em Évora. Painel: Cláudio Torres, Eduardo Anselmo Castro, Luís Sá, Rogério de Brito e Rogério Roque Amaro.
- 09.07.98 - Trabalho e direitos na mudança do século, em Lisboa. Painel: Alan Stoleroff, Jerónimo de Sousa, João Arsénio Nunes, Manuel Carvalho da Silva.
- 14.07.98 - A reforma estrutural do sistema de saúde, no Porto. Painel: Edgar Correia, Emídio Peres, Octávio Cunha, Nuno Grande, Sampaio Duarte.
- 18.07.98 - Visões sobre a justiça - situação e projecto, em Lisboa. Painel: Alfredo Gaspar, António Cluny, Gonçalves da Costa, Guilherme da Fonseca, Luís Nunes de Almeida, Luís Sá.
- 17.09.98 - O Pós-EXPO 98, em Lisboa. Painel: António Mega Ferreira, Arménio Carlos, Demétrio Alves, Octávio Teixeira, Vassalo Rosa, Vitor Costa.
- 24.09.98 - Portugal e o futuro da União Europeia, em Lisboa. Painel: Joaquim Miranda, João Amaral, Oliveira Batista, Manuel Villaverde Cabral, Sérgio Ribeiro.
- 15.10.98 - Sistema educativo em mudança - com que rumo?, em Coimbra. Painel: António Silva, Cabral Pinto, Fernando Gomes, José Gabriel, Paulo Sucena.
«O Militante» Nº 237 - Novembro / Dezembro - 1998