"Existem trabalhadores explorados

em Portugal?"




Esta pergunta foi feita pelo Público (9/3/98) ao secretário de Estado da Segurança Social e Relações Laborais, Fernando Ribeiro Mendes.
A fuga à resposta é interessante, embora com um português difícil: “Seguramente que há exploração do trabalho. Agora, o conceito de exploração marxista não seria o mesmo que na juventude pensava que era.”
A nova pergunta é “Ou seja?” e a resposta continua: “Como toda a teoria económica baseada na mais-valia, nos conceitos de Marx, não sei se mantêm actualidade. É inegável o fenómeno da exploração das pessoas que trabalham, com a utilização de crianças, o desrespeito das regras básicas de higiene e segurança no trabalho e salários mais baixos do que a lei permite. Felizmente é algo residual na nossa sociedade. Tem havido um grande progresso nesse sentido, mas há manchas de trabalho clandestino e aí há exploração evidente.” (O itálico é de O Militante) (Conhecerá o secretário de Estado que a percentagem do rendimento nacional que vai para os trabalhadores é, actualmente, menor do que no tempo de Salazar? Será esse o grande progresso? Será isso residual?).
Mas o Público continua com as perguntas: “Por que razão a diferença entre os salários mais altos e mais baixos tem aumentado nos últimos anos?” E a resposta é vaga, terminando com a afirmação de que “é cada vez mais necessário a intervenção do Estado no terreno da redistribuição, fiscal e para-fiscal.”
E isso tem sido feito?” (Já se sente entalado) Responde: “Penso que sim. Tem havido um esforço nesse sentido. Mas terá que questionar os responsáveis da política fiscal.”
Mas na sua opinião deveriam os esforços de redistribuição ser mais acentuados?” (Já não sabe o que dizer apesar de ser responsável pela segurança social) “Não tenho presente as estatísticas, mas não é tão claro esse fenómeno.”
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) são claros. Os salários têm perdido peso no rendimento, em benefício dos rendimentos nas empresas…” (Foi apanhado, só tem uma safa: avançar com um dos chavões que está na base da política de direita, das medidas de apoio aos grandes empresários contra as reivindicações dos trabalhadores) “Os rendimentos das empresas representam também investimento, não só a remuneração do capital.”
É esta a explicação dada por um responsável do Governo para a repartição do rendimento nacional ser cada vez mais favorável aos grandes exploradores. Outro chavão muito usado (não se terá lembrado na altura) é a “grande” questão da competitividade…
A entrevista é muito grande. O resumo feito pelos jornalistas é esclarecedor: o entrevistado “garante que a integração dos recibos verdes irregulares vai avançar, mas o patronato terá direito a um prazo mais alargado de adaptação. O prazo actual de 30 dias é considerado curto. O Executivo vai conceder, ainda este ano, um abatimento na taxa social única aos empresários que conseguirem uma baixa incidência de acidentes de trabalho e na higiene e segurança, em consequência de uma certificação de boas práticas.”
Mais bonificações para o patronato…




«O Militante» Nº 234 - Maio / Junho - 1998