Máximas e Reflexões
Comunismo e socialismo utópicos
"[Os habitantes das Ilhas do Sol] "vivem nas pradarias,
onde encontram o que lhes é necessário à vida (...) o
casamento não está em uso entre eles; as mulheres e as crianças
são mantidas a expensas comuns com igual afecto. Como não pode
haver ciúme nem ambição, os habitantes vivem entre si na mais
perfeita harmonia."
Diodoro Sículo, Biblioteca histórica (séc. I antes da
nossa era).
"O único processo para organizar a felicidade pública é a
aplicação integral do princípio da igualdade."
Thomas More, A Utopia (1516).
"Quando Adão cavava a terra e Eva fiava, onde estava então
o fidalgo?"
(De um panfleto igualitarista de 1642, durante a Revolução
inglesa).
"Por toda a Terra, as nações mais humanas e mais pacíficas
foram sempre aquelas em que quase não houve propriedade
(...)."
Morelly, Código da natureza (1755).
"Esta guerra dos plebeus e dos patrícios, ou dos pobres e
dos ricos, não existe só desde que é declarada (...) Ela começa
quando as instituições tendem a que uns tomem tudo e nada
reste aos outros."
Babeuf, O tribuno do povo, nº 34, 1794.
"Estão próximos os tempos em que o sistema maldito do
velho mundo de ignorância, pobreza, opressão, crueldade, crime
e miséria, desaparecerá (...) Não tenhais pena que expire The
Crisis, porque ela só morre para ser substituída pelo New
Moral World, no qual reinarão para todo o sempre verdade,
trabalho e ciência."
Owen, no último número do jornal The Crisis (1834).
"A concorrência e a associação apoiam-se uma na
outra. Muito longe de se excluirem, elas nem sequer são
divergentes. Quem diz concorrência, supõe já objectivo comum.
A concorrência não é, pois, o egoísmo, e o erro mais
deplorável do socialismo foi o de tê-lo olhado como o derrube
da sociedade."
Proudhon, Filosofia da miséria (1846).
"Contudo, quando foi escrito não lhe podíamos ter chamado
um Manifesto Socialista. Em 1847 entendia-se por
socialistas, de um lado os aderentes aos vários sistemas utópicos
- owenistas em Inglaterra, fourieristas em França, já reduzidos
ambos à condição de meras seitas, e que estavam a morrer
gradualmente; do outro lado, os mais variados charlatães
sociais, que por toda a espécie de remendos pretendiam remediar,
sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todas as espécies
de gravames sociais; [eram,] em ambos os casos, homens que
estavam fora do movimento da classe operária e que procuravam
apoio de preferência junto das classes «educadas». Todo e
qualquer sector da classe operária que se tivesse convencido da
insuficiência de meras revoluções políticas e tivesse
proclamado a necessidade de uma mudança social total, esse
sector chamava-se a si próprio comunista. Era um tipo de
comunismo puramente instintivo, tosco, cru; mas já punha o dedo
na chaga e teve a força bastante entre a classe operária para
produzir em França o comunismo utópico de Cabet, e na Alemanha
o de Weitling. Assim, em 1847, o socialismo era um movimento da
classe média, e o comunismo um movimento da classe operária. O
socialismo era, pelo menos no Continente, «respeitável»; o
comunismo era precisamente o oposto. E como a ideia que tínhamos
desde o princípio era de que «a emancipação da classe operária
tem de ser obra da própria classe operária», não podia haver
dúvidas sobre qual dos dois nomes tínhamos de adoptar. E o que
é mais: estamos, e sempre estivemos, longe de o repudiar."
Engels, Prefácio à edição inglesa do Manifesto do Partido
Comunista (1888).