Continuar a batalha da militância
No número anterior procurou-se explicar, com
algum pormenor, a razão e o papel da militância que caracteriza
os membros do Partido. E não só, também a sua necessidade e a
sua obrigação. Obrigação no sentido de que, como se sabe, a
militância é um dos dois deveres fundamentais dos membros do
Partido.
É por isso que temos de voltar agora à mesma questão e, com
certeza, mais vezes. Pode dizer-se que a batalha pela militância
ou a batalha da militância tem de ser ampliada, sistematizada e
sempre continuada.
É uma batalha que tem de ser muito paciente, muito
persistente e também muito persuasiva.
Um dever fundamental dos membros do Partido
Antes de mais interessa conhecer e compreender por que há
membros do Partido que não militam.
Em primeiro lugar, há camaradas que não sabem o que é a
militância e que ela é um dever fundamental dos membros do
Partido. Não leram e não conhecem os Estatutos do Partido e, em
especial, o seu Art.º 9.º, que diz: Pode ser membro
do Partido Comunista Português todo aquele que aceite o Programa
e os Estatutos, sendo seus deveres fundamentais a militância
numa das suas organizações e o pagamento da sua quotização.
Isto significa que é necessário discutir esta questão nas
organizações do Partido e com cada um dos seus membros. Quando
há um recrutamento, é indispensável que haja uma conversa para
esclarecer questões importantes para um novo membro do Partido e
é natural incluir, pelo menos, o que são os nossos deveres
fundamentais. Já se sabe que se a conversa for colectiva se
torna mais interessante. Como sucede que, nem sempre, esta
questão é logo discutida, torna-se necessário fazê-lo mais
tarde.
Os militantes reformados
Há membros do Partido organizados e com actividade política
que, quando se reformam, acham que também acabou a sua
militância.
É claro que não há a reforma da militância, não
há militantes reformados. Há sim, felizmente
muitos, reformados que são militantes.
Só grandes incapacidades físicas podem impedir a militância.
Há muitos exemplos de membros do Partido reformados que, até
porque têm mais tempo não ocupado, passam a ter uma maior
militância. Não são poucos os membros do Partido que estão
reformados que desempenham, actualmente, tarefas muito
importantes e responsáveis na organização do Partido. O
militante reformado é uma situação que não é
aceitável.
Os que têm o tempo todo ocupado
Ainda em relação a membros do Partido que estão reformados,
há muitos que, embora não afirmem que reformaram a
sua militância, têm outras explicações para não militarem.
Há, evidentemente, membros do Partido que têm situações
concretas que os limitam muito. Já se falou atrás de grandes
incapacidades. Mas, por vezes, não é o problema da doença do
próprio, mas de um familiar que lhe tolhe muito a sua
actividade. É necessário ter sempre uma compreensão elevada em
relação a estas situações, mas sem perder a ideia de que um
membro do Partido não deixou de militar na medida em que tem
oportunidades de influenciar pessoas com quem se dá ou se
encontra, e até pode, mesmo que seja excepcionalmente,
participar numa ou outra reunião onde troca experiências com os
militantes presentes. Tudo depende das condições concretas de
cada situação mas também, por vezes, da compreensão dos
membros do Partido.
Também sucede que muitos reformados, devido à pequenez da sua
reforma, são obrigados a arranjar algum trabalho, outros compram
um terreno que passam a cultivar, outros ainda ocupam o seu tempo
livre para tomar conta de netos (a exploração do trabalho
dos avós está avançando em amplos sectores da nossa
sociedade), ou então, se têm possibilidades, passam o tempo a
passear ou em férias prolongadas.
Com um destes camaradas sabemos que se passou uma conversa
interessante. Tratava-se de um membro do Partido que tinha sido
activo e capaz. Depois de reformado deixou de aparecer. A
explicação deu-a na base de trabalho arranjado, de terreno a
tratar e de neto a cuidar, mas a ideologia, essa,
mantém-se. Quando lhe foi dito que a nossa ideologia
tem uma prática, ficou a pensar e percebeu. E, embora
continuando mais ou menos com os mesmos afazeres e, por isso, com
muitas limitações, começou a aparecer e a colaborar.
Se, em relação a membros do Partido reformados, sucedem estas
questões, também aqueles que não estão reformados dizem,
muitas vezes, que não têm tempo para qualquer actividade.
Todos conhecemos que há quem tenha horários de trabalho mais
que extensos, apesar de se estar a conquistar o horário das 40
horas e se pensar que, dentro de muito pouco tempo, se tem de
conseguir o das 35 horas. Não se pode dizer a tais camaradas
para deixarem o emprego e arranjarem outro. Mas a verdade é que
há membros do Partido com empregos muito absorventes e outros,
que são empresários e que dirigem uma ou mais empresas, que,
apesar disso, conseguem ter algum tempo para, de vez em quando,
com maior ou menor frequência, participarem em reuniões onde se
dabatem questões políticas e onde se dá conta da actividade
diária, junto dos companheiros de trabalho, das pessoas com quem
se convive, dos amigos e conhecidos.
A experiência é muito rica a este respeito. Se existe uma
compreenção clara de que um membro do Partido tem o dever
fundamental de ter alguma actividade política, há possibilidade
de criar condições para cumprir tal dever.
O fortalecimento do Partido exige a militância dos seus membros
A militância caracteriza e distingue os comunistas. E a
militância, como se colocou no último número de O
Militante, pode ser, simplesmente e concretamente, uma
preocupação em influenciar as pessoas com quem nos damos. Esta
simples militância é o contributo de cada um de nós para
esclarecer os outros, os que não são comunistas.
No documento do Comité Central de Fevereiro passado, com razão
se aponta a importância de conhecer o tipo de relacionamento que
os comunistas têm com os companheiros de trabalho, com os
vizinhos, com as populações, em qualquer outro meio onde
convivem. É que esse relacionamento pode ter muito diferentes
expressões. Para os comunistas esse relacionamento tem de ser
cordato, respeitador do que os outros pensam, mas também esclarecedor
do que se passa no País e no Mundo, do que se passa no local de
trabalho, no local onde se vive e outras áreas.
É essa preocupação de esclarecer, que é tanto mais eficaz
quanto cada um de nós faz um esforço para conhecer bem as
questões e, nas reuniões do Partido, procura ganhar
experiência com as experiências dos outros, é essa
preocupação de esclarecer, repete-se, que pode elevar a nossa
influência e contribuir para o fortalecimento do Partido.
Uma organização do Partido cujos membros não militam não
desempenha qualquer papel positivo no sentido de influenciar os
trabalhadores e as populações. É uma organização que se
demite do seu papel de esclarecimento, de mobilização, de
acção em defesa dos interesses dos trabalhadores e das
populações.
A elevação da militância de um grande número de membros
do Partido é indispensável para melhorarmos a sua influência,
a sua intervenção e a sua afirmação política.