Marcelo também é de esquerda...




Segundo o D.N. (30/12/97), Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, actual líder do PSD, escreveu um artigo para a revista V, que iniciou a sua publicação em Janeiro passado.
É uma espécie de auto-biografia que pretende dar uma coloração de esquerda ao seu autor.
E começa logo cedo. Cresceu e foi educado “num clima de valores tidos por indiscutíveis - o culto de Deus, o amor à Pátria, a visão da família ampla, o valor do trabalho e a desconfiança perante a mitificação do lucro, o apelo à igualdade e da justiça social.” Cá temos nós a “profunda preocupação social” que, segundo Guterres, marca a esquerda...
Tendo em conta que Marcelo era filho de um destacado dirigente da Mocidade Portuguesa, que, em 1974, era ministro do Ultramar, percebe-se o ambiente de “esquerda” em que cresceu. Aliás, segundo o próprio, entre os 13 e os 17 anos, a sua geração “devorou tudo o que se publicava ou reeditava” dos próceres da extrema direita, portugueses e franceses.
Mas é no final dos anos 60 que, escreveu Marcelo, “o percurso iniciado na direita e convertido com inspiração social-cristã ganha matizes ainda mais à esquerda”.
Não há dúvida nenhuma que tudo é relativo...

Não nos podemos assim admirar que Alberto João Jardim dê umas dicas para a estratégia do partido que, segundo o D.N. (20/1I2), já teriam sido aceites - “uma viragem para as questões sociais e abertura à sociedade civil», em busca dos votos do centro e da esquerda.
Jardim já antes teria dito que o PSD deveria desenterrar o discurso da solidariedade e meter na gaveta as posições ultraliberais e tecnocratas.


«O Militante» Nº 233 - Março / Abril - 1998