Alentejo... Eleições...
A luta continua
José Soeiro
Membro da Comissão Política
A vitória da CDU em 27 das 47 Câmaras
alentejanas contra 17 do PS e 3 do PSD e os 119 405 votos obtidos
contra 116 331 do PS, 48 696 do PSD e 7 194 do CDS/PP, nas
eleições autárquicas de 14 de Dezembro de 1997, voltaram a
confirmar os comunistas e outros democratas da CDU como os
principais protagonistas no poder local da região.
Os resultados de 14 de Dezembro deitaram por terra as desmedidas
e repetidamente proclamadas ambições do PS de passar a ser a
força maioritária nos distritos de Beja e Évora e a primeira
força autárquica da região e fizeram do PSD o grande derrotado
das eleições no Alentejo ao perder 4 das 7 Câmaras onde era
maioritário.
Com os resultados alcançados os comunistas e outros democratas
da CDU assumirão naturalmente a Presidência do Conselho da
Região bem como as Presidências das Associações de
Municípios dos Distritos de Beja e Évora, do Litoral
Alentejano, da Margem Esquerda do Guadiana e da AMCAV
(Cuba-Alvito-Vidigueira-Portel-Viana).
O fracasso dos prognósticos
Os que, na base dos resultados eleitorais de Outubro de 1995, em
que o Partido Socialista ganhou as eleições em 41 dos 47
concelhos alentejanos, prediziam a inevitável derrocada dos
comunistas no Alentejo e a consequente perca da maioria das suas
posições nas autarquias, não podem deixar de admitir duas
verdades incontornáveis: uma é o fracasso dos seus
prognósticos e outra que a CDU foi a força política que mais
Câmaras ganhou no Alentejo - mais de 57% do total - e que mais
votos obteve no conjunto da região.
Quer isto dizer que estamos satisfeitos com os resultados obtidos
ou que os consideramos positivos? De maneira nenhuma. Não só
não estamos satisfeitos como consideramos ... que o
resultado global alcançado pela CDU na região é um resultado
insatisfatório pois a conquista das Câmaras de Moura e Monforte
ao PS e Vila Viçosa ao PSD, a passagem de maiorias relativas a
absolutas na maioria dos concelhos bem como os bons resultados
alcançados no distrito de Portalegre onde a CDU sobe em votos,
em mandatos e passa de 3ª para 2ª força no distrito, não
podem fazer esquecer a perda das Câmaras de Odemira, Cuba,
Portel e Crato para o PS e cujo objectivo era manter e
reforçar. (Organismo Inter-Regional do Alentejo - OIRA
18/12/97).
Sobre a justeza dos objectivos
E aqui importa colocar uma primeira interrogação. Terá sido
justo e correcto colocar como objectivo não perder qualquer
Câmara e ganhar novas Câmaras ao PS e ao PSD no Alentejo? Terá
a organização do Partido feito uma avaliação justa da
situação? Os resultados verificados poderiam levar à
tentação fácil de dizer que não mas corresponderia esta
atitude a uma correcta avaliação da situação? Pode a frieza
dos números/resultados dar por si só uma resposta adequada e
permitir concluir correctamente sobre a justeza dos objectivos
traçados sabendo-se que estes assentam em premissas cuja
dinâmica envolve variáveis tão complexas como o comportamento
do ser humano?
E se a avaliação então feita nos colocasse perante a
perspectiva de não ganhar qualquer das Câmaras que ganhámos e
de correr o risco de perder alguma das Câmaras como viemos a
perder? Deveria o Partido assumir antecipadamente um tal
resultado? Seria uma tal postura correcta sob o ponto de vista
político?
Naturalmente importa clarificar desde já que tal não foi o caso
e que era com toda a convicção que pensávamos não só manter
e reforçar as posições que tínhamos como conseguir ganhar em
concelhos de maioria PS e PSD. Tal convicção não resultava de
qualquer postura voluntarista ou de uma avaliação menos cuidada
mas sim da consciência do trabalho realizado, da validade e
realismo das propostas avançadas, bem como da qualidade das
listas apresentadas.
É um facto que, no que diz respeito a ganhar novas Câmaras ao
PS e ao PSD, a vitória da CDU em Moura e Monforte, de maioria
PS, e em Vila Viçosa, de maioria PSD, confirmam por si a justeza
da avaliação e dos objectivos traçados e dispensam portanto
mais comentários.
É entretanto necessário dizer que esperávamos ganhar
igualmente Ponte de Sôr e, ainda que admitindo ser mais
difícil, Ferreira do Alentejo, ambas de maioria PS. E isto
porque, tal como em Moura e Vila Viçosa, também nestes
concelhos há muita obra feita mas, a obra feita é aquela que a
CDU realizou quando esteve em maioria nos mesmos.
Sublinhe-se, no entanto, que subimos em votos e em percentagem
nestes dois concelhos e que em Ponte de Sôr ficámos apenas a
111 votos da Presidência da Câmara tendo mesmo ficado em
maioria na Assembleia Municipal. Não fossem muitos dos votos
perdidos, pelo PSD (- 826 votos que em 1993) e PP que desta vez
não concorreu (- 294 votos), terem ido para o PS e a CDU teria
claramente ganho a Câmara de Ponte de Sôr. Também Ourique, de
maioria PSD, chegou a estar entre os nossos objectivos mas...
oportunismo e demagogia têm ainda, em demasiadas situações,
mais força que o trabalho, a honestidade e a competência.
Quanto ao objectivo de não perder nenhuma das Câmaras onde a
CDU era maioria ele não foi alcançado e, como sublinhou o OIRA
do PCP, é ... muito importante uma análise aprofundada
das causas que levaram à perda das Câmaras de Cuba, Portel e
Odemira pois trata-se de Câmaras onde a CDU vinha realizando um
trabalho notável ao serviço das populações, em que as
promessas feitas eram cumpridas e mesmo ultrapassadas e em que
nem as sondagens nem a dinâmica da campanha faziam prever os
maus resultados verificados. Quanto ao Crato não temos
dúvidas de que continuaria a ser de maioria CDU se não fosse o
grave problema de saúde de que foi vítima o camarada Manuel
Ferreira, Presidente da Câmara e candidato a novo mandato, no
início da campanha eleitoral. Socialistas houve que aproveitaram
tal situação para falsamente convencer eleitores de que a
situação do nosso candidato era irrecuperável.
É justo salientar que, em qualquer das Câmaras perdidas no
Alentejo, a CDU pode afirmar com orgulho: CDU É OBRA! Como é
justo, necessário e imperioso que se tire daqui uma lição
fundamental: é que não basta fazer uma boa obra para assegurar
um bom resultado eleitoral.
Factores principais que podem explicar os resultados
Que factores terão então pesado para os resultados alcançados?
Sem se ter a pretensão de
esgotar a avaliação em curso ou proceder a qualquer
hierarquização, podem desde já
considerar-se:
1 - A transferência de muitos votos do PSD e PP
para o PS sem os quais a CDU não só não teria perdido Cuba
como teria ganho seguramente Ponte de Sôr.
2 - A continuação do estado de graça do PS
que, apesar da má política praticada, conseguiu, de uma forma
geral, segurar alguns votos obtidos pela primeira vez em 1995.
3 - A pressão exercida sobre o eleitorado pelo
PS, PSD e PP em torno das enganadoras ideias de que os graves
problemas que se verificam na região, como o desemprego, a
desertificação, o envelhecimento e a estagnação económica,
resultam da existência de um poder local dirigido
maioritariamente por comunistas e outros democratas da CDU, poder
esse que afasta os investidores e dificulta as relações com o
Governo e uma postura mais positiva deste para com a região.
4 - As promessas demagógicas de resolução de
problemas tão graves como o desemprego estrutural que atinge
cerca de 40 mil trabalhadores na região e a melhoria dos
serviços de saúde como se tal fosse da competência das
autarquias e com a falsa ideia de que Câmaras da cor do Governo
estão em melhores condições para o fazer.
5 - Alterações no eleitorado resultantes de um
peso cada vez maior de eleitores sem vínculo ideológico e
partidário e da contínua sangria de trabalhadores para fora da
região e que constituem a principal base de apoio da CDU.
6 - Finalmente, e os últimos podem ser os
primeiros, deficiências na nossa forma de estar e de exercer o
poder. Deficiências sobretudo ligadas a dois aspectos essenciais
do nosso trabalho: a relação dos nossos eleitos e das nossas
organizações concelhias com a comunidade que representam e onde
se inserem e as dificuldades que em muitos casos revelamos na
resolução do que, correntemente chamamos, os pequenos problemas
das pessoas. Resolvemos e bem na generalidade dos casos o que é
estratégico para assegurar um elevado nível de qualidade de
vida, como o que temos hoje no Alentejo, mas esquecemos por vezes
o imediato, a pequena questão concreta que toca as pessoas e que
estas desejam ver resolvida.
Só tendo presente que nalguma coisa falhámos é que poderemos
detectar e aprender com os erros cometidos, condição para
assegurar uma intervenção que vise a sua efectiva correcção.
Não podemos ignorar que, num elevado número de concelhos onde
ganhámos, perdemos votos e isso não pode deixar de merecer uma
aprofundada reflexão por parte das nossas organizações.
Reflexão tanto mais urgente e necessária quanto é sabido que
noutros concelhos não só ganhámos como subimos em número de
votos.
Para concluir é necessário dizer que fizemos uma magnífica
campanha eleitoral. Uma campanha participada, alegre e cheia de
entusiasmo. Uma campanha marcada pela presença constante da
juventude.
É necessário dizer que as listas apresentadas às eleições de
14 de Dezembro foram listas em que o número de novos candidatos
e de candidatos novos aumentou substancialmente em relação a
eleições anteriores, em que aumentou significativamente, ainda
que de forma insuficiente, o número de candidatas.
É necessário dizer que depois das eleições de 14 de Dezembro
se inscreveram 15 jovens na JCP no concelho de Cuba e se fizeram
6 novos recrutamentos para o Partido neste mesmo concelho.
É necessário dizer que os candidatos da CDU fizeram em Faro do
Alentejo, concelho de Cuba, uma festa convívio em que esteve
presente a esmagadora maioria da população.
É necessário dizer que o Partido não baixou os braços nem
perdeu o ânimo.
É necessário dizer que, como a vida, a luta continua.