Os jovens comunistas no Distrito de Setúbal

Uma realidade indispensável
à acção do Partido

Por Carlos Humberto
Membro do Secretariado da Direcção da
Organização Regional de Setúbal




O mundo sofreu e continua a sofrer profundas mutações. Mutações que atingem toda a sociedade e que se reflectem particularnente nas camadas mais jovens. Os novos fenómenos sociais, as novas tendências, os novos interesses e motivações, são assumidos com mais facilidade pelos jovens.

As mutações entre as camadas jovens são mais rápidas, mais profundas. O que hoje está adquirido, amanhã pode ser posto em causa.

A sociedade é cada vez mais complexa, exige mais dos seres humanos, em particular dos mais jovens.

Os problemas, os novos e os velhos, o emprego/desemprego, as condições sociais, a habitação, a ocupação dos tempos livres, o confronto com uma sociedade violenta e angustiada, são situações que marcam e traumatizam as novas gerações. A instabilidade e a revolta juvenil são uma realidade.

A juventude continua, nos nossos dias, e de forma ainda mais acentuada, a ter um papel social de grande importância. Importância como força social que é, com intervenção e influência que realmente tem, como condicionadora da evolução futura da sociedade e do Partido.

Cresceu a marginalidade juvenil, particularmente a ligada ao mercado das drogas, cujo consumo se alargou. O consumo de bebidas alcoólicas aumentou significativamente e a tendência não é para a sua diminuição.

A escolaridade obrigatória alarga-se. São mais os jovens a estudar. As maiores concentrações de jovens são as escolas. O acesso ao ensino superior público é cada vez mais difícil. Não atende às necessidades do país e aos anseios dos jovens.

O ensino e a escola não motivam os jovens. Muitos são os jovens que não se sentem empenhados, interessados em participar na escola. O ensino continua a ser elitista e desligado da realidade. Não está voltado para a formação humana, cultural, não prepara para os problemas do quotidiano, nem para a vida activa. Para muitos a escola é uma frustração.

Os jovens entram mais tarde no mercado de trabalho, estudam durante mais anos. É nos jovens que os índices de desemprego e precarização são mais elevados.

Os jovens, quando entram no mundo do trabalho, “aceitam” sem preocupações de maior o “desenrasca” da “formação profissional”, dos contratos, do trabalho sem garantia. Estão mais “habituados” à instabilidade e insegurança, encaram-na com certa naturalidade.

O número de jovens trabalhadores em valor absoluto e em percentagem aumentou significativamente. Existe no Distrito um importante conjunto de empresas com centenas de jovens (Auto-Europa, Delph Remi, Ford Electrónica, etc.), muitos deles em situação de precaridade.

Os jovens saem de casa e atingem a independência mais tarde.

A sexualidade entre os jovens começa mais cedo.

O desporto, a música e o convívio talvez sejam os maiores pólos de atracção juvenil. Outros interesses mobilizam amplos sectores juvenis (ambiente, solidariedade, comunicação social, formas diversificadas de acção e intervenção cultural, etc.). A noite e as suas actividades atraem amplas massas juvenis.

A sociedade “obriga”, “empurra” os jovens para o individualismo, para o consumismo, para a agressividade, mas os jovens são, naturalmente, solidários, amigos, vivem em grupo, em colectivo, são radicais, são participativos, gostam do convívio. Isto favorece o nosso trabalho, a penetração das nossas ideias.



A JCP no Distrito


Desde 1991 a JCP (com altos e baixos, como é natural) tem vindo a reforçar e diversificar a sua acção e intervenção, a dar importantes contributos para o esclarecimento e mobilização dos jovens, para o reforço e rejuvenescimento do Partido.

De uma débil organização, com dificuldades de quadros, com pouca e irregular actividade, com insuficiente intervenção social, passou a uma organização ampla, que tem estado presente e dirige muitas das lutas da juventude do Distrito, particularmente a dos estudantes do secundário (PGA, provas globais), com importante presença na rua, com vários quadros a destacarem-se, com uma intervenção dinâmica e criativa, com a realização de centenas de iniciativas e reuniões (no âmbito da participação no V Congresso da JCP realizaram-se mais de seis dezenas de iniciativas e reuniões, com a participação de cerca de 1700 jovens; este ano já se realizaram mais de 200 reuniões e iniciativas com mais de 1300 participantes).

A JCP está mais dinâmica, mais reforçada organicamente, tem ligação a todos os 13 concelhos do Distrito. Influencia muitas associações de estudantes, tem intervenção, ainda que insuficiente, no movimento associativo de base local, deu pequenos passos na organização dos estudantes comunistas do superior e dos jovens trabalhadores comunistas. A JCP tem aproximadamente 3 000 inscritos e 60 organismos que, com regularidade diversa, vão coordenando a intervenção da JCP e dos jovens comunistas.

Os jovens eleitos nas listas da CDU nas autarquias do Distrito ultrapassam a centena. A intervenção junto da Comunicação Social melhorou.

Pela dimensão e regularidade, é de referir duas iniciativas distritais que a JCP ou a Juventude CDU realizam actualmente: os encontros distritais que contam com a presença de centenas de activistas e o acampamento, onde participam largas dezenas de jovens (o de 1996 contou com a participação de mais de 150 jovens).

As estruturas de direcção/coordenação do trabalho da JCP ao nível do Distrito têm vindo, paulatinamente, a reforçar a sua capacidade de reflexão e de ligação aos concelhos e a novas áreas de intervenção, bem como a sua capacidade realizadora e de iniciativa política. No entanto, as insuficiências de trabalho a este nível são reconhecidamente grandes.

Essas estruturas são:

. Comissão Distrital de Trabalho - organismo de direcção e coordenação que acompanha o trabalho geral da JCP e faz a ligação aos jovens comunistas e às suas estruturas locais.

. Coordenadora Distrital do Ensino Secundário - organismo fundamentalmente de coordenação dos estudantes comunistas do ensino secundário.

. Executivo Distrital do Secundário - tenta acompanhar do ponto de vista executivo a actividade do secundário.

. Direcção da Organização do Ensino Superior - organismo de direcção que pretende ligar-se às escolas do ensino superior de Setúbal (ESE, EST, ESCE, FCT, Moderna, Piaget).

. Coordenação Distrital - assume a coordenação dos vários sectores da JCP e na prática tem um papel de órgão executivo.

. Comissão para as questões dos jovens trabalhadores - aprofunda a discussão sobre as formas de participação dos jovens trabalhadores comunistas no movimento sindical, no Partido e na JCP, e coordena a acção destas estruturas para e com os jovens. Integram esta comissão camaradas dos Organismos Executivos da DORS, da Coordenação Distrital da JCP e do Movimento Sindical.



O Partido, a JCP e a juventude


A Vida tem vindo a confirmar que a acção dos comunistas para e com os jovens é melhor concretizada com a existência de uma estrutura juvenil do Partido (no caso presente a JCP) e que quanto mais forte, mais capaz, mais interventiva for essa estrutura, mais longe irá a nossa influência entre a juventude.

Também quanto maior for a ajuda do Partido, do ponto de vista político, de direcção, financeiro, de quadros, de acompanhamento, etc., mais forte é a JCP e melhores são os resultados para o trabalho dos comunistas (Partido e JCP).

Um permanente espírito de interajuda, de cooperação, de coordenação, de respeito pelos campos de acção dos quadros e dos organismos do Partido e da JCP é indispensável a um salutar desenvolvimento dos jovens comunistas.

A formação política e ideológica dos jovens, mas também cultural e social, tem que ser uma preocupação e uma tarefa do Partido. É indispensável ter permanentemente presente, e transmitir aos jovens, que a política de juventude que defendemos aponta para a formação humana, despertando os jovens para os valores da democracia, da justiça social, do progresso, da solidariedade. As políticas de juventude que defendemos visam a formação de indivíduos capazes de exercer a cidadania e participarem de forma responsável na construção da sociedade e na luta pelo socialismo e o comunismo.

O salto dado no trabalho de juventude no Distrito, não se desliga (ainda que o fundamental seja fruto das condições objectivas e dos quadros jovens que surgiram) do empenhamento, acompanhamento e atenção que a Direcção da Organização Regional de Setúbal, no seu conjunto, passou a disponibilizar às questões de juventude.

Esta atenção, esta sensibilização, foi-se generalizando às organizações e quadros do Partido e hoje pode afirmar-se que o relacionamento entre os quadros do Partido, jovens e menos jovens, é bom e que a compreensão sobre a importância que é necessário dar à nossa intervenção junto dos jovens generalizou-se a todos os organismos.

A disponibilização de meios e a tomada de algumas medidas têm permitido alcançar, já, alguns resultados na estrutura e acção do Partido. No Distrito de Setúbal o Partido tem vindo a rejuvenescer-se!

Com a consciência da limitação dos passos dados e da necessidade de continuarmos a tomar medidas, referimos alguns resultados alcançados: nos últimos meses entraram para os quadros de funcionários do Partido, com estatuto diferenciado, 8 jovens camaradas; assiste-se ao rejuvenescimento dos organismos executivos da direcção regional (na Comissão Executiva Distrital encontram-se 3 camaradas que há cerca de 2/3 anos ainda estavam na JCP; praticamente para todas as Comissões Concelhias e seus Executivos foram eleitos jovens que assumem, com responsabilidade, importantes tarefas; dos novos militantes, recrutados entre 1 de Janeiro de 96 e 6 de Março de 97, 49% têm menos de 30 anos e 21% têm menos de 20 anos; a participação dos jovens na acção geral do Partido aumentou, particularmente nas grandes iniciativas de massas; também no movimento sindical e nas ORT começa a ser visível um rejuvenescimento dos quadros.



Acção futura


Há cerca de um ano a Comissão Executiva Distrital fez uma abordagem global sobre as questões de juventude, a JCP e o Partido. Dessa abordagem e com vista ao trabalho futuro referenciamos algumas conclusões, que se mantêm actuais.



Trabalho do Partido para e com a Juventude - O Partido deve assumir como grande prioridade o trabalho de juventude. É necessário tomar medidas para que na nossa vida e na acção colectiva isto se verifique. São necessárias medidas para que os organismos e organizações:

. cooperem com a JCP com o objectivo desta reforçar a sua acção entre os jovens. Acompanhem e ajudem os quadros e activistas da JCP;

. dêem mais atenção, discutam os problemas da juventude, intervenham e acompanhem politicamente as questões da juventude;

. destaquem quadros com características e disponibilidade para esta tarefa;

. disponibilizem meios e tenham acção para, com e entre a juventude, realizar debates e formação político-ideológica;

. articulem, coordenem, acompanhem politicamente os quadros que intervêm em várias estruturas com acção na juventude, particularmente nos sindicatos, movimento associativo, autarquias e nas escolas;

. promovam o recrutamento regular de jovens;

. enquadrem os jovens comunistas (que não estejam ou que terminaram a sua acção na JCP) em organismos do Partido.



Cooperação PCP/JCP - Consideramos que o Partido e os seus organismos, particularmente os organismos de direcção, têm que dar uma maior e mais intensa atenção ao trabalho para com e com a juventude. Devemos continuar a considerar a JCP como o principal “instrumento” de intervenção do Partido entre os jovens, com a sua autonomia e responsabilidades próprias. O Partido deve cooperar com a Direcção da JCP e os seus organismos executivos para que esta se assuma, cada vez mais, como a direcção dos jovens comunistas, ajudá-la a encontrar os meios para intervir mais intensamente na sociedade e alargar a influência da JCP e do Partido entre os jovens.

Aos vários níveis de direcção devemos intensificar a cooperação entre o Partido e a JCP com os objectivos descritos.

Responsabilizar nos executivos/secretariados das comissões concelhias um camarada pela frente de trabalho da juventude.

Formar uma comissão de juventude da DORS.

Constituir uma Coordenadora distrital do PCP para a juventude, a reunir de forma espaçada, com participação dos responsáveis concelhios por esta área, de camaradas de algumas frentes (ensino, autarquias, sindicatos, associativismo) e camaradas da JCP.

Estas estruturas têm como objectivo coordenar e dinamizar a acção junto da juventude, promover a acção em áreas em que o Partido está em melhores condições de intervir e fomentar a cooperação do Partido com a JCP.



Rejuvenescimento do Partido - Os organismos executivos da DORS, os executivos e secretariados das Comissões Concelhias, em colaboração e com o acordo da JCP, devem concretizar a passagem de membros da JCP a organismos do Partido, com o objectivo de a curto prazo rejuvenescermos a estrutura do Partido.

Aos vários níveis deve haver uma rápida integração e responsabilização de jovens vindos da JCP.

Uma parte substancial dos jovens comunistas desliga-se da JCP e não chega a ser integrada no Partido. Para colmatar estas situações precisamos, entre outras medidas, de avançar para:


. um mais regular recrutamento para o Partido;

. a passagem de forma paulatina ao Partido de activistas da JCP (ponderando as consequências para a sua capacidade de intervenção);

. a criação, com carácter mais ou menos permanente, de grupos de trabalho, comissões, etc., que promovam e facilitem o contacto e a integração de jovens recém-licenciados, nos vários organismos partidários, contribuindo para a sua renovação e reforço;

. a realização de reuniões de jovens trabalhadores da JCP com camaradas do Partido (das células de empresa e da estrutura sindical) com o objectivo de dinamizar a sua intervenção nesta área, a sua participação na organização partidária para os trabalhadores (células de empresas, estruturas unitárias) e a sua preparação como futuros quadros. Estes jovens devem manter a actividade organizada na JCP;

. a atribuição de responsabilidades aos jovens que tenha em conta as suas motivações e estimulem a sua capacidade e interesses na participação e intervenção na vida partidária.



Jovens trabalhadores - É necessário uma maior iniciativa e uma mais estrita colaboração entre a JCP e o PCP. A JCP intensificando a intervenção junto dos jovens trabalhadores (denunciando os problemas, promovendo a luta, incentivando a sua organização) deve:

. acompanhar os jovens das estruturas da Interjovem e outras estruturas juvenis nos Sindicatos;

. organizar jovens trabalhadores para promover iniciativas, reuniões e contactos com o objectivo de estimular a sua luta e organização, de trazer mais jovens trabalhadores à JCP e ao PCP;

. incentivar os contactos de jovens trabalhadores comunistas com os organismos do Partido com vista à sua participação no reforço e renovação de estruturas partidárias por local de trabalho, sem que por isso abandonem a JCP.



Recrutamento - Incentivar o trabalho permanente e organizado de recrutamento e alargar a influência da JCP e do Partido.



Ligação ao movimento juvenil - A ligação dos jovens comunistas ao movimento da juventude em geral é uma questão central da sua intervenção. A sua participação activa e combativa na dinamização das várias expressões do movimento juvenil é fundamental.



Formação político-ideológica - Paralelamente à componente de convívio é necessário uma mais forte e organizada componente de discussão política e ideológica. Muitos são os jovens comunistas que sentem esta necessidade e estão motivados para este debate.

A JCP e o Partido devem promover diversificadas iniciativas com vista ao debate e à formação política e ideológica.

Há importantes sectores juvenis abertos, interessados neste debate.



Linha de propaganda e afirmação ideológica - A JCP e o Partido devem ter em permanência uma linha de propaganda, intervenção, afirmação política e ideológica para a juventude. A utilização de formas e meios actuais, apelativos, de uma linguagem e imagem juvenil, associada aos nossos valores político-ideológicos e a afirmação de revolução, socialismo, comunismo, sociedade alternativa, liberdade.

Há possibilidades de a juventude se aproximar mais de nós. Para isso temos que tomar medidas. Arejar, inovar, rejuvenescer, “jogar” mais na imagem. Mudar a forma mantendo o essencial do conteúdo. Assumir uma “linguagem” mais ideológica, mais radical, de ruptura, de socialismo.


«O Militante» Nº 229 de Julho/Agosto de 1997