Elevar a militância de
muitos membros do Partido




Em diversas organizações do Partido verifica-se actualmente alguma elevação da militância geral dos seus membros. É necessária uma grande atenção a este respeito pois elevar a militância é uma questão básica para o reforço de qualquer organização.

Como se sabe, como se tem discutido muita vez, a militância de grande parte dos membros do Partido foi diminuindo ao longo dos anos. Isso foi o produto de muitos factores em que terão tido papel muito especial quer a perda de conquistas políticas muito importantes e o recuo nas condições sociais sentido pelas massas trabalhadores e outras camadas antimonopolistas, quer as consequências dos acontecimentos internacionais que se traduziram numa grande derrota do socialismo na Europa, quer um condicionalismo mais difícil na vida profissional e familiar que é muito geral.

É muito sentido o facto de o actual nível de militância médio ser claramente diferente do que era em 74 e 75. E diz-se médio porque continua a existir o que se pode chamar um núcleo activo cujo nível de militância não se distingue do nível que existia há pouco mais de vinte anos. Mas é certo que, embora se note em diversas organizações uma melhor militância, existem percentagens elevadas de camaradas que não têm qualquer actividade, que, de facto, não militam.



Os plenários


Foi porque o nível de militância médio se tornou mais baixo e também porque não se elevou suficientemente o número de quadros capazes de dirigirem reuniões, de acompanharem mesmo que sejam pequenos organismos, que se passou a dar uma maior importância à realização de plenários das diversas organizações.

Sempre se fizeram plenários, muitas vezes para transmitir alguma nova informação ou direcção de trabalho a um grande conjunto de camaradas, apressando assim o seu conhecimento, mas também para permitir um contacto mais directo com membros do Partido que estão menos perto de organismos de direcção.

Mas agora a situação é diferente. Sem deixar de poder ter as funções que tinham antes, agora, em muitas organizações, os plenários tornaram-se uma forma principal, única, de fazer chegar a discussão política e, de certo modo, alguns aspectos da actividade do Partido a muitos dos seus membros.

Se, por ventura, as organizações são numerosas, pode tornar-se necessário dividi-las de acordo, tanto quanto possível, com realidades objectivas e realizar não um plenário mas vários para contemplar cada uma das partes de uma dada organização. Naturalmente que se a participação é reduzida não é preciso fazer qualquer divisão mas torna-se evidente que à maioria dos camaradas - os que não comparecem nos plenários - não chega qualquer informação política, a não ser através de documentos ou da imprensa do Partido, a cujo papel em muitas organizações não se liga grande importância.



Uma outra forma de organização


Uma organização numerosa com muito poucos quadros pode encaminhar-se para soluções que pouco têm a ver com uma organização do Partido.

A dificuldade que existe para manter contacto com os membros do Partido pode levar à ideia de que, ao menos, se recolham as quotas. Desse modo é possível, com um pequeno número de camaradas mais dedicados, contactar um número elevado de camaradas. Repare-se que, se um camarada pode pagar as suas quotas de um ano de uma só vez, a questão fica resolvida com um único contacto anual. Se é necessário fazer chegar documentos ou convocatórias a um grande número de camaradas, isso pode realizar-se, em muitos sítios, utilizando as caixas de correio. Há quadros do Partido que, além do seu trabalho profissional, chegam a contactar, deste modo, mais de uma centena de camaradas.

Um tal tipo de organização, que é um recurso ante uma situação particularmente difícil, um recurso que é melhor que não existir qualquer esquema orgânico, é uma solução que faz lembrar uma colectividade. É claro que uma organização do Partido tem outras exigências e, por isso, tem outras características.



Características de uma organização do Partido


Uma organização do Partido, à medida que se vai alargando, está sempre exigindo o aprofundamento da sua estrutura.

A estrutura é um conjunto de organismos, cada um deles voltado para um dado meio, sector, objectivo, que se relacionam hierarquicamente de uma forma adequada.

Na verdade, só com uma estrutura orgânica assente em organismos que não podem ter grande número de membros é possível aprofundar o debate sobre os assuntos a tratar, ouvir as opiniões dos diversos membros do organismo, discutir e decidir as tarefas de cada um, analisar o seu cumprimento e prosseguir um tal caminho nas sucessivas reuniões.

Este tipo de organização não só cria e reforça a unidade de acção prática dos membros do Partido como os educa e forma.

É um tipo de organização que esclarece o que é a militância e a desenvolve.

Compreende-se que hoje se coloca muito a necessidade de dar uma volta às situações orgânicas existentes em muitas organizações, porque é preciso fortalecer o Partido e, portanto, a sua organização, e porque, apesar de todas as dificuldades com que o Partido e os trabalhadores em geral se debatem, existem algumas condições objectivas (e também subjectivas em muitos lados) que podem animar esse trabalho.

Mas não se pense que se transforma uma organização de tipo colectividade numa verdadeira organização do Partido com qualquer arte mágica.

Pode realizar-se uma tal transformação na base de uma preocupação fundamental: elevar o nível de militância de um conjunto, maior ou menor consoante as condições de cada organização, de membros do Partido.



Elevar a militância de muitos membros do Partido


Quando numa dada organização se conseguem desenvolver movimentos reivindicativos cria-se, naturalmente, uma motivação que em geral é suficiente para manter uma aguerrida militância. Importa, então, que se saibam aproveitar tais condições para criar ou reforçar os organismos, para habituar os camaradas à necessidade de reunir para, colectivamente, tirar lições do que se fez e analisar a forma de continuar as acções.

A experiência mostra também que, muitas vezes, é possível sentir-se uma maior militância porque se obteve uma pequena ou grande vitória, numa luta, numa iniciativa, numa eleição. O exemplo do que se passou em Marco de Canaveses (descrito em artigo na pág. 7) liga-se inicialmente a um simples recrutamento, que, nas condições que se viviam na organização, não só foi uma vitória, como arrastou uma série de vitórias que passaram a motivar e a mobilizar uma organização que tinha uma militância muito reduzida.

É natural que, para pocurar ganhar um dado camarada para uma maior militância, seja útil conversar com ele mostrando-lhe a importância da sua actividade, para o Partido e também para ele próprio. Pode ser um bom incentivo a escolha de uma tarefa que lhe agrade. Mas pode-se simplesmente colocar ao camarada a participação regular numa reunião mais ou menos restrita, onde se debatam problemas da situação política e da situação no meio onde trabalha ou vive, até colocando a questão que não é para ficar com uma tarefa, a não ser a chamada tarefa básica de um comunista que é a de dialogar com os companheiros de trabalho ou os seus amigos com o objectivo de os esclarecer e influenciar positivamente. A participação regular de um camarada em reuniões partidárias é um factor muito importante para a elevação da sua militância.

Outro factor importante é a leitura regular da imprensa e dos documentos do Partido, a cuja divulgação é indispensável dar uma muito maior atenção.

A realização de iniciativas de diverso tipo (passeios, almoços, convívios, debates e outros) também pode ajudar a elevar a militância particularmente se se verifica que tais iniciativas vão mobilizando cada vez mais camaradas.

Também a participação em palestras e cursos representa uma ajuda a uma melhor compreensão sobre a militância e a necessidade de um comunista ser militante, pois, como dizem os Estatutos, é um dever fundamental dos membros do PCP «a militância numa das suas organizações».

Juntando as conversas mesmo individuais, as variadas iniciativas, a leitura dos materiais do Partido, os plenários, as palestras e os cursos, as acções reivindicativas e as reuniões regulares mais ou menos restritas, é possível elevar a militância de muitos membros do Partido. Trata-se de uma tarefa fundamental para o fortalecimento da organização do Partido, para o reforço de toda a sua actividade.


«O Militante» Nº 229 de Julho/Agosto de 1997