Perguntas e Respostas

9. Porque defendem a moeda única os governos de direita e da social democracia,
a maioria do grande capital Europeu, do capital transnacional?


Não é certamente para facilitar a viagem de turismo do Sr. Silva e família a Paris e a Roma, ou facilitar a vida ao emigrante Sr. Santos, embora seja um facto que a moeda única elimina os custos (comissões) do câmbio de moedas. Mas diga-se, custos que têm tendência a reduzir-se graças ao desenvolvimento tecnológico.

A questão central é que as consequências da moeda única para o País poderão determinar que alguns dos poucos Srs. Silva que fazem turismo no estrangeiro deixem de viajar (desemprego/redução de salários), e que muitos dos Srs. Santos que transferem e cambiam os seus marcos, francos, do seu trabalho de emigrantes, o deixem de fazer (porque o farão?), a não ser que os bancos portugueses lhes ofereçam uma taxa de juro mais alta!!!

Mas o grande capital nacional e transnacional tem fundadas razões para apostar na moeda única. Vai facilitar a mobilidade dos capitais, e suas aplicações em títulos, acções, fundos de investimento e pensões, etc., sem qualquer risco de esses valores serem depreciados (desvalorizados) por uma qualquer alteração repentina dos câmbios, decorrente de uma tempestade monetária ou instabilidade política!

A moeda única vai abrir novas portas à concentração e centralização de capital por via dos negócios, oleados pelo Euro, de compra, fusão, troca de participações, etc., de empresas; a uma nova divisão e organização do trabalho (subcontratação de pequena se médias empresas, recurso a mão-de-obra barata, etc.), conforme os interesses dos pólos dominantes do capital multinacional, no quadro da mundialização económica; ao desenvolvimento de actividades especulativas e ao reforço do papel das principais praças financeiras da Europa, dando uma voz única e (que se quer) grossa à União Europeia na guerra económica com os EUA e o Japão. (Guerra que devasta o Terceiro Mundo, promove o desemprego, a liquidação de direitos sociais e a pobreza na Europa, nos EUA, etc.,...).

Por outro lado, as forças e sectores políticos que (temporária ou tacticamente) recuaram nas suas intenções e projecto federalista para a União Europeia (que pretendiam consolidar na CIG/revisão do Tratado de Maastricht) ao darem conta da crescente oposição dos cidadãos e dos povos Europeus, descobriram que podem realizar o mesmo objectivo por outros caminhos. A moeda única e a UEM (que a CIG não vai discutir) vão permitir de forma sub-reptícia dar passos seguros na direcção do federalismo. A moeda única vai obrigar, mais cedo do que tarde, e para lá da federalização/comunitarização das políticas monetária, cambial, orçamental, que ela própria significa, à federalização de outras decisões políticas até hoje pertença da soberania dos Estados nacionais.

E é certo e seguro que, socialistas, sociais democratas e outros federalistas mais ou menos encapotados, perante as consequências económicas e sociais da moeda única, vão aparecer a clamar: o mal não é da moeda única! É dos atrasos na organização institucional e política da União Europeia! A solução é o Estado Federal Europeu! Como quem diz que a solução não é procurar um caminho diferente do que conduz ao abismo, mas... dar um passo em frente!

 

«Em primeiro lugar, graças às inovações tecnológicas, pode-se esperar que os custos das operações de câmbio — hoje estimados entre 0,3% e 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia — continuem a baixar para não representar, segundo a Comissão Europeia, mais que 0,017% do PIB dos países mais avançados. Em segundo lugar, as economias feitas nos custos de transacção de moedas, só acontecerão nas operações entre países aderentes à UEM. Os câmbios com o resto do mundo continuarão a gerar custos de transacção. Ora, numerosos bens alimentares e matérias-primas, como o petróleo e metais, comercializam-se em dólares.»

Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa — 13 de Dezembro de 1996

«Que importância pode ter o Euro para os emigrantes e respectivas remessas?

Já tem a de, na correria do governo para estar entre "os primeiros", se observar uma valorização mais ou menos artificial do escudo para se apresentar como uma moeda forte. Se ontem o franco francês valia 30$00 e amanhã valer só 27$00 porque o escudo se valorizou, o emigrante português em França, por cada 100 mil francos franceses das suas poupanças, tinha, ontem, em Portugal, 3 mil contos, e amanhã só terá 2 700 contos.

Depois, ainda, se vier a concretizar-se a adopção do Euro, o governo português ficará impossibilitado de proceder a ajustamentos do valor do escudo no sentido da desvalorização, o que só poderia beneficiar os emigrantes que enviam remessas. Assim, deixará de ser possível que, através de uma desvalorização do escudo de 10% — exemplo numérico —, o franco passe a valer 33$00, de onde resultaria que, por cada 100 mil francos, o emigrante poderia ter, em Portugal 3 300 contos.»

Sérgio Ribeiro, deputado do Parlamento Europeu — Não à Moeda únicaUm contributo

«A transparência acrescida das condições de concorrência deverá também facilitar (...) as fusões, aquisições e alianças ao nível da União e, mais geralmente, as estratégias de desenvolvimento das empresas.»

Argumentário Euro

«A introdução de uma moeda única gerida por um banco central Europeu é um projecto essencialmente político que conduzirá rapidamente a políticas económicas comuns e a concretizar uma Europa federal.»

Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa — 13 de Dezembro de 1996

«Os Relatores consideram que a concretização do Pacto de Estabilidade, tal como é proposto pela Comissão, confirma claramente, por sua vez, a evolução para o federalismo no caso de se realizar a UEM e, por outro lado, o importante papel que se apresta a desenvolver neste processo uma Comissão Europeia não democrática (...).

Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa — 13 de Dezembro de 1996

«Instituir a moeda única desagua, com implacável lógica, num processo federativo imparável. Desagua nos Estados Unidos da Europa. EUE em três línguas latinas. USE na inglesa, EVS na alemã, SUE na italiana.»

Rogério Martins, 5 de Novembro de 1995 — Público Magazine

«A chegada do Euro provocará uma revolução no mundo financeiro com repercussões fortes ao nível das bolsas, onde tudo vai mudar. Alves Monteiro, presidente da Bolsa de Derivados do Porto, pode deitar contas à vida e arranjar soluções para viabilizar a instituição que a revista britânica The Economist apelidou de excêntrica. Tudo porque a sua criação veio "contra a maré", pois a tendência das principais praças Europeias aponta para a fusão destas bolsas com as de acções e para a centralização dos negócios em mercados de maior dimensão, entre elas as inglesas, francesas e alemãs. Esta centralização estender-se-á à Banca de investimentos, motivo pelo qual Paulo Pinho prevê um futuro pouco risonho para todos os bancos de investimento portugueses que não estejam integrados em grupos financeiros.

A centralização do mercado de capitais tornar-se-á inevitável com a queda daquela que é a última barreira ao investimento transnacional — o risco cambial.»

João Paulo Vieira — revista Visão — 31 de Outubro de 1996

«A médio prazo, tendo em vista as alterações introduzidas pela UEM na envolvente competitiva, é provável que voltem a justificar-se operações de concentração, que se deverão consubstanciar em alianças e fusões, em vez de aquisições.»

Jardim Gonçalves, presidente do Grupo BCP — Semanário — 1 de Março de 1997

«O Euro, enquanto instrumento decisivo da União Económica e Monetária, é um facto essencialmente político. Na realidade, como disse o antigo ministro das Finanças de Espanha, Pedro Solhes, "a criação da moeda única é um passo fundamental no projecto federal Europeu". Ele sabia do que falava. O Euro não é apenas o culminar da integração dos mercados, é também um pilar do novo edifício federal.»

Luís Marques — Expresso — 28 de Março de 1997

«Investimento atractivo e oportunidades financeiras serão oferecidas por um mais extenso mercado financeiro, sem riscos cambiais. Os investidores podem tirar proveito de um amplo crescimento da carteira.» (de acções)

«O Banco Central Europeu lutará por uma política monetária, que terá pelo menos uma orientação para a estabilidade idêntica à política monetária do Bundesbank.

Com uma única taxa de câmbio a União Europeia terá uma voz mais forte nas negociações internacionais.»

Associação para a União Monetária Europeia, (ver página 39)

«"A adopção da moeda única permitirá aos fundos portugueses investir em empresas estrangeiras, mais seguras, cotadas nas grandes bolsas da União."»

João Paulo Vieira — revista Visão — 31 de Outubro de 1996