Intervenção de Paula Santos na Assembleia de República

"Precisamos de desenvolver uma verdadeira política de defesa da natureza"

No debate em torno das alterações climáticas realizado hoje na Assembleia da República, Paula Santos afirmou na sua intervenção que "defendemos o reforço dos meios do Estado, para desenvolver uma verdadeira política de defesa da natureza."

Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados:
No momento em que fazemos este debate, e nós consideramos que neste debate é necessário olhar para todas as dimensões das questões que se colocam no que diz respeito à matéria do ambiente e às alterações climáticas, entendemos que ele não deve somente ser feito em torno de objetivos e de proclamações. É preciso ver, analisar e refletir sobre as ações e as medidas concretas que estão em cima da mesa para se alcançar estes mesmos objetivos. Se há acordo quanto à necessidade de intervir e de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, é preciso olhar e ver que mecanismos e instrumentos estão a ser adotados ou estão em cima da mesa para alcançar esses mesmos objetivos. E, se os objetivos são comuns, os mecanismos e os instrumentos que lhes estão associados já não são os mesmos, não se podendo afirmar que há consenso em torno destes mecanismos. Falamos de mecanismos e instrumentos que estão assentes na perspetiva de mercantilização e financeirização do ambiente e que estão, inclusivamente, associados e amarrados aos interesses do grande capital. Aliás, em todo o conjunto de medidas que estão associadas a esta matéria vemos que, mais uma vez, o capital olha para o ambiente como mais uma oportunidade de negócio, e não estamos a olhar para as questões do ambiente como havendo uma necessidade de intervir numa perspetiva da sua salvaguarda e da sua proteção. São disto exemplo o mercado de carbono, o esquema europeu de transações e os sumidouros de carbono, que, neste momento, estão a ser utilizados como uma forma de ingerência e de dominação por interesses de países desenvolvidos e grandes multinacionais em países em desenvolvimento. Consideramos que é necessário romper com essa perspetiva e com esse caminho. Por isso, o PCP trouxe a este debate um projeto de resolução que reconhece que a emissão de gases com efeito de estufa é um problema em relação ao qual é preciso intervir. Como tal, defendemos o reforço dos meios do Estado para desenvolver uma verdadeira política de defesa da natureza; defendemos que é necessário pôr fim à tributação fiscal, que só penaliza as camadas mais empobrecidas; defendemos o reforço de medidas que aumentem a eficiência energética, que desenvolvam alternativas energéticas de domínio público e que não ponham em causa a segurança alimentar das populações; defendemos o reforço do investimento no transporte público; defendemos que se desenvolvam medidas que protejam a produção local e uma justa distribuição dos esforços de limitação da produção de gases com efeito de estufa. Esse é mais um elemento que, na nossa opinião, não é positivo, pois coloca ao mesmo nível países desenvolvidos e países em desenvolvimento, quando uns — muitos! — já contribuíram para a emissão de gases com efeito de estufa.

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