Intervenção de Ilda Figueiredo, Candidata à Presidência da Câmara Municipal do Porto, Apresentação da Candidatura da CDU aos Órgãos Municipais do Porto

«O Porto precisa da CDU, do seu olhar insubmisso, da sua vontade de não se confinar aos muros da complacência ou aos palcos da exibição»

«O Porto precisa da CDU, do seu olhar insubmisso, da sua vontade de não se confinar aos muros da complacência ou aos palcos da exibição»

Estimados Amigos e camaradas

As minhas primeiras palavras são para vos dizer quanto me honra esta possibilidade de voltar a ser candidata pela CDU à presidência da Câmara Municipal do Porto, agradecendo ao meu partido de sempre, o PCP, bem como aos parceiros da coligação CDU (PEV e ID) esta confiança que em mim depositaram, 20 anos depois da última vez em que isto aconteceu, também com Rui Sá como primeiro candidato à Assembleia Municipal.

Em seguida, vai o meu agradecimento a todas e todos, amigos e camaradas, que quiseram partilhar connosco este momento da apresentação da candidatura da CDU neste belo espaço do edifício da Câmara Municipal do Porto, onde, de acordo com a Constituição de Abril, os eleitos pelos cidadãos do Porto gerem o município.

E fazemo-lo num dia particularmente simbólico – 3 de Fevereiro – dado que foi há 90 anos, em 3 de Fevereiro de 1927, que aqui, no Porto, se iniciou a primeira tentativa revolucionária contra a ditadura militar. Tal como tinha sido aqui, no Porto, que, em 31 de Janeiro de 1891, se registou a primeira revolta militar de gente do povo e da cultura, antecipando em 19 anos a revolução republicana de 1910.

É, pois, com estes pergaminhos das gentes do Porto e inspirada nas palavras do poeta Eugénio de Andrade, quando afirmava “O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a insurreição do olhar”, que aqui vos garanto todo o empenhamento em trazer até esta casa as palavras, os problemas, os sonhos e as esperanças das gentes do Porto, que pretendem que resolvam os seus pequenos e grandes problemas, defendendo uma gestão municipal mais atenta às desigualdades e uma cidade mais inclusiva.

O Porto precisa da CDU, do seu olhar insubmisso, da sua vontade de não se confinar aos muros da complacência ou aos palcos da exibição.

O Porto precisa de quem dialogue com as suas gentes, ouça os seus queixumes, meta pés ao caminho e percorra com o mesmo interesse as alamedas floridas de Serralves ou as travessas esburacadas de ilhas ou bairros esquecidos em Campanhã, Bonfim, centro histórico, Cedofeita, Ramalde ou Paranhos.

O Porto precisa de quem considere que uma cidade cosmopolita e aberta ao mundo não pode ignorar aqueles que construíram o seu rico património material e imaterial, as pessoas, os portuenses, que lhe deram vida, saber e sabor tão peculiar que ainda é património da humanidade.

O Porto precisa de quem conheça o valor da persistência na luta pela igualdade de acesso à habitação condigna, aos transportes públicos sempre que necessários, a espaços agradáveis de lazer e convívio, à educação pública de qualidade, ao desporto e à cultura onde o todo seja maior que a soma das partes por se ter incluído a inovação e criatividade que se desenvolvem com projectos plurais, suficientemente abrangentes e solidários, inclusivos.

O Porto precisa de quem não desista de dar voz aos moradores e comerciantes que resistem a viver no coração da cidade ou na zona ribeirinha onde o ruído noturno campeia, a limpeza e o estacionamento deixam muito a desejar, a vida do quotidiano fica cada vez mais insuportável, sentindo todos os dias que são um estorvo para os poderes políticos.

O Porto precisa de quem seja capaz de continuar a defender a sua identidade, de exigir que se pare com a expulsão dos moradores e com a instalação indiscriminada de bares e outros espaços do género, que não se conforme com a destruição ou mutilação do seu património, de que a estação de S. Bento é apenas um exemplo, mas muito significativo, de quem lute para que não se repitam situações como a da escola secundária Alexandre Herculano, ou que se arrastem por mais de 20 anos, como a reabilitação do Bolhão.

A CDU tem um património singular de empenhamento dos seus eleitos e activistas na luta pela defesa dos direitos dos moradores, do pequeno comércio tradicional, dos artesãos e dos serviços de proximidade de apoio às famílias, contra as rendas que se estão a tornar insustentáveis, pela reabilitação das casas, equipamentos e património, em primeiro lugar para os seus habitantes, evitando a migração e expulsão da cidade, seja da zona ribeirinha do Porto, seja do centro ou de outras zonas mais periféricas.

A CDU tem tornado claro que não queremos um Porto onde dos portuenses e das suas tradições culturais haja apenas memória e vestígios arqueológicos, algum património cultural e reconstrução de eventos com mais ou menos holofotes.

O Porto contemporâneo, cosmopolita, aberto à região e ao mundo, tem de ser construído com as suas gentes, a sua identidade, o seu passado e o seu presente, pugnando por melhores condições de vida para quem cá vive e trabalha, pelo diálogo com as mais diversas instituições da cidade, desde as associações de moradores, de inquilinos, de comerciantes, de trabalhadores, de colectividades e associações diversas até à Universidade e às diversas instituições da educação, da saúde, da segurança e protecção social, da cultura, do desporto, dos transportes, da economia e do ambiente.

A CDU, os seus eleitos e activistas, ao longo dos anos, deram um contributo muito importante para aprofundar o funcionamento democrático dos órgãos autárquicos onde participam e lutar pela transparência da sua gestão, melhorar a atenção aos problemas quotidianos das populações, denunciar e, nalguns casos, travar processos de privatização de serviços e de agravamentos de taxas, preços e tarifas, de exigir o respeito pelos direitos dos trabalhadores das autarquias, designadamente o horário das 35 horas semanais, dar maior atenção ao movimento associativo, lutar contra a desresponsabilização da Administração Central, designadamente através da dita municipalização na educação e transportes, lutar pela defesa da melhoria das condições de vida das populações e pelo reforço da sua participação nas comunidades locais.

Por isso, no Porto, a CDU esteve contra a extinção de oito das 15 freguesias do Porto, contra a privatização da recolha do lixo, contra a entrega do sistema de parcómetros no estacionamento público a uma empresa privada, contra as negociatas que envolvem o bairro do Aleixo, contra qualquer tentativa de privatização da gestão do Pavilhão Rosa Mota ou de outros equipamentos municipais, contra a privatização do metro e da STCP. Tal como estamos contra a municipalização da STCP, embora consideremos uma vitória da luta que sempre fizemos ao lado dos trabalhadores e dos utentes, ter impedido a sua privatização, como pretendia o governo PSD/CDS com a acomodação da maioria municipal, a mesma que agora aceita a municipalização sem cuidar de ver como se acautela o futuro de uma empresa que opera em seis municípios, alguns dos quais com grandes debilidades financeiras.

Mas também queremos reafirmar que sempre que outras forças políticas, designadamente a actual maioria na Câmara Municipal do Porto, apresentam propostas que se pautam pelo reforço do poder local democrático, pela atenção prioritária aos problemas das populações nas diversas áreas da gestão municipal ou pela transparência e defesa dos serviços públicos de qualidade e pela melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e das populações, sabe que pode contar com o apoio da CDU. Só lamentamos que isso não aconteça com tanta frequência como desejamos.

Dando continuidade ao projecto da CDU para o Porto e aos princípios que norteiam a sua actividade, o vereador e os eleitos na Assembleia Municipal, tal como nas freguesias, com um estilo de trabalho propositivo e de contacto permanente com as populações e organizações sociais diversas, apresentaram muitas dezenas de propostas concretas, a maioria das quais foram aprovadas, mas muitas ficaram nas gavetas do esquecimento. No entanto, a CDU e os seus eleitos sempre foram a voz activa, construtiva, empenhada, em defesa dos interesses das populações.

Por isso se impõe o reforço da CDU para dar maior impulso a uma gestão municipal que faça da defesa e promoção dos valores de Abril a sua bandeira, na defesa da autonomia do poder local democrático, dos direitos de quem trabalha e de serviços públicos com envolvimento dos utentes e trabalhadores, de combate às privatizações; que pugne pela valorização das comunidades locais e pela promoção e aproveitamento sustentado dos diversos recursos regionais e locais em diálogo com os municípios vizinhos, designadamente no âmbito da Área Metropolitana do Porto, e com a Administração Central, exigindo também a concretização de investimentos públicos há muito anunciados e outros de que o Porto precisa, seja na área da mobilidade, com destaque para o desenvolvimento da rede do metro, seja da reabilitação urbana, da educação, da saúde, da cultura ou da segurança social. E uma maior dotação de verbas para as autarquias, designadamente provenientes de fundos comunitários.

Pela experiência, pelo trabalho desenvolvido, pelo contacto directo com a população e as mais diversas instituições e organizações sociais, as cidadãs e cidadãos do Porto podem contar com a CDU para pugnar pela recuperação do parque habitacional, pelo apoio ao cooperativismo e associativismo, pela defesa da habitação a preços e rendas verdadeiramente sociais, por um urbanismo centrado nas pessoas, com espaços públicos humanizados, onde haja respostas e valências diversas para os diferentes estratos das populações e pela sua participação no planeamento urbanístico, pugnando pela transparência em critérios e métodos, procurando que a gestão de espaços e equipamentos municipais se faça de forma aberta, equitativa e acessível a todos.

Pela capacidade de diálogo e de construção de pontes com os mais diversificados sectores da sociedade portuense, a candidatura da CDU é também uma garantia para assegurar que se desenvolverão todos os esforços para uma gestão municipal atenta à defesa e promoção do património material e imaterial do Porto, para o seu desenvolvimento equilibrado e inclusivo, com respeito pelos que aqui vivem e trabalham, ciosos dos seus pergaminhos de luta pela liberdade e pela democracia.

Por isso, permitam-me que desafie todas e todos os democratas portuenses que se revêm nestes princípios, a juntar-se a nós, a apoiar a candidatura da CDU.

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