Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Petróleo»

O conflito que se desenvolve em Moscovo pode ter significados e implicações mais profundas do que ajustes de contas na actual classe dirigente russa.

O facto de a prisão de Mikhail Khodorkovsky ter desencadeado a crise levou a qualificá-la como mais um episódio do esforço de Vladimir Putin para se desembaraçar dos oligarcas da época Ieltsin, e a figura de Khodorkovsky autoriza a interpretação.

Dirigente do Komsomol em 87, foi com fundos partidários que criou nesse ano a sua primeira empresa de vendas de matérias-primas, que evoluiria logo no ano seguinte para a constituição do banco Menatep que, por sua vez, compraria, em 1995, a companhia petrolífera Iukos por 150 milhões de dólares, «derrotando» uma oferta concorrente de... 350 milhões! A Iukos era, oito meses após, avaliada em 6,2 biliões de dólares.

Em 98, Khodorkovsky tentou a fusão com outra petrolífera também privatizada, a Sibneft, dominada por B. Berezovsky e A. Abramovich, mas a operação falhou por oposição do Kremlin. Em Maio deste ano foi novamente anunciada, desta vez recebendo autorização oficial em Agosto. Situação contraditória, uma vez que um mês antes os escritórios da Iukos haviam sido objecto de uma busca pelas autoridades económicas. A 3 de Outubro foi anunciada a concretização, o negócio de 45 biliões de dólares que deu origem à maior petrolífera russa. Anúncio feito por Khodorkovsky, em Moscovo, acompanhado por dirigentes do maior potentado mundial do petróleo, a americana Exxon-Mobil! Enquanto se avolumavam rumores que a Exxon iria comprar 40 a 50% da nova empresa, uma semana mais tarde Khodorkovsky estava em Washington, onde pronunciou uma conferência sobre as suas actividades. Regressado à Rússia, foi preso há uma semana e as operações financeiras da Iukos congeladas.

O cheiro a petróleo habitual...

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