Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Sessão Evocativa do Centenário do nascimento de Pedro Soares

Pedro Soares, destacado dirigente comunista e resistente antifascista

Em nome do Partido Comunista Português quero saudar todos os presentes e, particularmente, agradecer a todos os que contribuíram com o seu trabalho e a sua arte para dar um maior relevo e significado a esta sessão evocativa do centenário do nascimento de Pedro Soares, destacado dirigente comunista e resistente antifascista, intelectual de profundas e firmes convicções, homem de acção e coragem que desde muito jovem tomou o partido da luta pela emancipação dos trabalhadores e pela libertação do nosso povo.

Afirmava Álvaro Cunhal, ao fazer o balanço da vida do intrépido revolucionário que foi Pedro Soares, perante a heroicidade da sua conduta de combatente e da sua companheira de sempre e de todas as lutas, Maria Luísa Costa Dias, e igualmente alto exemplo de dignidade e coragem, ambos vítimas mortais num fatídico acidente em Maio de 1975, feliz o Partido que pode criar tais lutadores e hoje reforçamos tal afirmação dizendo feliz o Partido que é honrado com tais exemplos.

A exposição que aqui está patente mostra a caminhada exaltante de resistente e revolucionário comunista, uma vida de entrega incondicional à luta. Uma vida marcada pelas difíceis condições da vida clandestina.

Pedro Soares que aqui hoje evocamos e prestamos a nossa homenagem foi, na realidade, um homem de uma coragem invulgar que resistiu e enfrentou as mais brutais atrocidades no percurso do longo caminho que nos haveria de conduzir à libertação do nosso povo do jugo fascista.

Preso cinco vezes, passou doze anos nas cadeias fascistas, das quais se evadiu duas vezes, sete anos dos quais passados no Campo de Concentração do Tarrafal. Barbaramente torturado, sempre suportou estoicamente as provas por que passou, com a dignidade e a verticalidade dos homens que assumem convictamente a justeza da grande causa que abraçou – a causa do comunismo!

Alentejano, nascido e criado na aldeia de Trigaches, concelho de Beja, no seio de uma família de fortes sentimentos democráticos e antifascistas – o seu pai seria preso e deportado em 1931 – Pedro Soares com apenas 16 anos, intervém já como colaborador na imprensa regional e nas páginas da “República” - na altura um dos principais jornais legais de orientação democrática – onde manifestava as suas preocupações literárias, culturais e políticas, e uma decidida opção antifascista na vida e nos problemas da sua comunidade e da sua região.

Uma região profundamente marcada pelos contrastes sociais, pela brutal exploração dos assalariados pelos grandes agrários e pelo espírito reivindicativo de um combativo proletariado rural.

Por isso conheceu de perto a miséria dos que trabalhavam a terra do nascer ao pôr-do-sol e a sentiu como sua, mas também a coragem e o heroísmo dos que lutavam pelo pão e por uma vida digna, para si e para os seus, e que não aceitando a servidão, a exploração e a tirania dos latifundiários sofriam as consequências da brutal repressão fascista.

Foi neste ambiente que cresceu em Pedro Soares, um forte sentimento de exigência de justiça e alimentou o sonho e a luta que o haviam de orientar toda a vida pela concretização de uma sociedade mais justa, onde fossem banidos o desemprego, a fome, a miséria, a exploração do homem pelo homem.

Esse sonho e essa luta que transportará consigo e o acompanharão na sua vida e que haveria de determinar a sua opção ideológica com a adesão à Federação da Juventudes Comunistas em 1933 com 18 anos, já em Lisboa onde agora dá continuidade aos seus estudos liceais e, posteriormente, ao Partido Comunista Português.

Pedro Soares vive em Lisboa num tempo de duros combates e perigos imensos para as forças progressistas e democráticas. Um tempo marcado pelo avanço do processo de fascização do Estado e da criação de um poderoso aparelho repressivo que tinha como alvo preferencial e prioritário o PCP e os militantes comunistas, mas um tempo igualmente marcado por uma abnegada e corajosa intervenção revolucionária e de reorganização do Partido e das organizações de juventude que, sob o impulso da Conferência do PCP de Abril de 1929 e a direcção de Bento Gonçalves, Secretário-geral do PCP com quem chegou a trabalhar. Dava-se início a uma nova fase da luta do movimento operário, de novas formas e métodos de luta de massas, de aprendizagem, de fortalecimento orgânico, ideológico e político e, particularmente, como o Pedro Soares o afirma numa das suas obras que hoje estão reunidas nos Escritos Políticos – Bento Gonçalves organizador do Partido - que as edições Avante! agora reeditam e aqui se apresentaram, “forjar o Partido do proletariado”, esse Partido de “novo tipo” sem o qual, como realça, “não é possível pôr cobro à exploração capitalista, dirigir as lutas económicas e políticas pela conquista do poder, pela edificação do socialismo”.

Um trabalho de Pedro Soares que é, além de um hino à luta e à acção de um partido que renascia e se superava nas mais difíceis condições para servir os trabalhadores e o povo, um contributo inestimável para o conhecimento da história do Partido Comunista Português, da luta do movimento operário e do nosso povo nesse período dramático de liquidação das liberdades, de repressão, violência e morte.

É neste quadro, de um tempo assolado, também, pela violenta crise do capitalismo de 1929/33 que em Portugal se reflectiam numa aguda crise económica e social, atingindo de forma brutal e dramática os trabalhadores e as camadas populares, que Pedro Soares insere o seu contributo e a sua acção militante na luta do nosso povo contra o fascismo. Desde logo na frente estudantil e num momento em que na vida política do País os estudantes se tornavam, como ele próprio relata, uma força política activa, em luta contra a ditadura. Age através dos Grupos de Defesa Académica, uma organização de unidade dos estudantes, criados pelo Partido Comunista Português e pela Federação das Juventudes Comunistas, participando activamente nas greves desencadeadas pelos estudantes das Faculdades de Direito e de Medicina. A sua primeira prisão, data de Março de 1934, quando participa numa manifestação de estudantes, em Lisboa, contra a Acção Escolar de Vanguarda, uma organização fascizante que antecedeu a Mocidade Portuguesa.

Libertado dias depois, vamos encontrá-lo, nesse mesmo ano, imbuído dessa renovada disponibilidade e espírito combativo de levar o Partido e a luta a todo lado, próprio desse destacamento avançado na luta e da resistência ao fascismo que se afirmava nos princípios dos anos trinta em Portugal, desenvolvendo na região de Beja uma importante actividade política entre os trabalhadores rurais. Preso novamente nos finais desse ano de 1934, passa sucessivamente pelas prisões fascistas do Aljube, Peniche e Caxias e quando falta um dia para o cumprimento integral da pena a que tinha sido condenado pelo Tribunal Militar Especial, é forçado a embarcar para Cabo Verde em Outubro de 1936, com a primeira leva de 152 presos políticos destinados a inaugurar o campo de concentração do Tarrafal.

Com Pedro Soares iam alguns dos principais responsáveis do Partido, entretanto também presos, incluindo Bento Gonçalves. Tratava-se de um duro golpe que se iria reflectir na intervenção e na acção do Partido, agravado, em breve, pela evolução negativa da situação internacional, traduzida pela liquidação da República Espanhola e pelo início da Segunda Guerra Mundial.

Tempo de deportação que a sua obra «Tarrafal: Campo da Morte Lenta» retrata com o realismo de quem viveu e sentiu a experiência atroz desse autêntico campo de concentração, que agora igualmente se reedita para que as novas gerações conheçam e não esqueçam a brutalidade da tirania fascista.

Um texto dedicado aos seus companheiros de cativeiro que revela as dramáticas condições prisionais de um campo de degredo isolado numa zona sem água potável, flagelado por ventos fortes e calor intenso, com pântanos de onde irrompiam milhões de mosquitos, e com eles o paludismo, e no seio do qual impuseram cruéis e sádicas condições prisionais: água inquinada, falta de medicamentos, ausência de assistência médica, alimentação intragável, trabalhos forçados, castigos bárbaros, onde se incluíam os impostos nessa cela sufocante e fétida – a frigideira – que Pedro Soares conheceu. Ali esteve e sofreu os maus tratos por duas vezes, e por longos dias que o remeteram doente para um leito por muitas semanas.

Um campo concebido para liquidar física e psicologicamente os presos ali desterrados. Aqui encontraram a morte, friamente assassinados, 32 resistentes antifascistas, entre eles um elevado número de membros do Partido.

Pedro Soares é libertado em Junho de 1940. Regressa a Lisboa e retoma os estudos na Faculdade de Letras e a luta estudantil, ao mesmo tempo que prossegue, firme e inabalável nas suas convicções, a actividade partidária no PCP.

Este é também o momento de libertação de um conjunto de destacados militantes comunistas que tomou em mãos a imediata tarefa de reorganização do Partido, com o objectivo de superar o revés imposto pelos ataques repressivos que o haviam atingido.

Pedro Soares está entre eles.

O trabalho desenvolvido não tarda a mostrar os seus resultados na luta e na afirmação do PCP no seio do nosso povo. O processo da reorganização de 40/41, o vasto conjunto de medidas tomadas, vai transformar o PCP num grande partido nacional, da classe operária, dos trabalhadores, da resistência e da unidade antifascista.

A grande acção desenvolvida e o reforço do Partido não podia passar despercebido ao regime e às suas forças repressivas. Pedro Soares e outros dirigentes do Partido, são presos mais uma vez. Pedro Soares é de novo enviado para o Tarrafal.

Na carta que deixa ao Partido, e que o Avante! havia de reproduzir, e aqui foi lida, revela-se a sua grandeza de carácter, o espírito de luta e de sacrifício e a confiança nos seus camaradas e no projecto libertador do seu Partido, e no ideal comunista. Uma carta que é acima de tudo uma reafirmação nesse momento de partir, talvez para a morte, de que a luta vale a pena e de que nada nem ninguém o demoverá de seguir o caminho que escolheu de servir o Partido, os trabalhadores e o seu povo.

Uma carta que não resisto em sublinhar: “Parto convencido de que nada impossibilitará que o fim do caminho para a vitória será alcançado, argamassado com o sangue dos que morrem com coragem e pelo sacrifício e energia dos que não param de lutar. A certeza do triunfo, mesmo que não tenha a felicidade de o viver, dá-me coragem para não vacilar e combater com coragem até ao fim”.

Pedro Soares mais uma vez resistirá e regressará, em 1946, de Cabo Verde com a mesma força, a mesma convicção alicerçada no ideal que abraçara, com a mesma vontade de retomar o caminho da luta que nos haveria de conduzir a Abril. Foi preso mais duas vezes e duas vezes fugiu. Primeiro da prisão do Porto, depois da Fortaleza de Peniche na heróica e espectacular fuga de Janeiro de 1960 com uma dezena de camaradas, sempre e sempre para retomar o seu posto de combate nas muitas e mais diversificadas e exigentes tarefas que o Partido lhe incumbiu.

Estará três anos em Moçambique, acompanhado da mulher Maria Luísa no desempenho de tarefas de organização partidária e a trabalhar no aprofundamento das ligações e relações com patriotas moçambicanos.

Passa à clandestinidade no início dos anos cinquenta, nestes anos será responsável pelo trabalho do Partido nos distritos de Aveiro, Coimbra e Viseu, entre prisões, fugas e regressos ao trabalho clandestino, tomará em mãos a responsabilidade do Avante!, já membro do Comité Central para o qual foi chamado em 1953.

Com a fuga de Peniche que restitui à liberdade destacados dirigentes, incluindo Álvaro Cunhal que viria assumir o cargo de Secretário-geral, o Partido ganha uma nova dinâmica. Rectificam-se orientações. Apontam-se novos caminhos. Reactiva-se a luta de massas. Novos passos são dados na aproximação e cooperação entre sectores antifascistas. Entretanto, aprofundam-se as contradições no seio do regime fascista que enfrenta crescentes dificuldades internas que o início da guerra colonial agrava. Em Portugal e no estrangeiro desenvolvem-se importantes acções visando o isolamento do regime, a denúncia dos seus crimes e pela libertação dos presos políticos. Tomam-se medidas para ampliar o combate ideológico e levar junto das massas a orientação do PCP. Põe-se de pé a Rádio Portugal Livre, instalada em Bucareste e a cuja implantação está ligado Pedro Soares, o seu primeiro director, inaugurando o início de uma intensa actividade no estrangeiro, levando a cabo inúmeras tarefas partidárias.

Novas e exigentes tarefas são colocadas ao Partido e aos seus quadros numa situação que anuncia uma crise geral do regime.

Pedro Soares permanecerá um ano na Roménia, mas não tarda vai assumir importantes tarefas na organização e desenvolvimento do movimento de unidade antifascista. Uma batalha em que se envolveu desde sempre e para a qual revelava condições excepcionais. Vimo-lo em todos os momentos envolvido na batalha pela unidade da classe operária e das massas trabalhadoras contra exploração capitalista. Pela união de todas as classes e camadas antimonopolistas interessadas no derrube do fascismo. Pela unidade das forças populares e democráticas e pela sua ligação ao movimento popular de massas. Vimo-lo empenhado na defesa da unidade dos estudantes pela defesa das suas reivindicações concretas e pelo direito à educação e à cultura da juventude portuguesa. Um empenhamento unitário que tinha nas relações entre comunistas e católicos uma expressão e uma atenção muito particular em Pedro Soares.

E esta é outra dimensão da sua acção como membro do Partido. Pedro Soares compreendeu sempre a necessidade da união e da cooperação entre comunistas e não comunistas, entre comunistas e católicos progressistas e empenhou-se profundamente no aprofundamento dessa relação de cooperação. A sua atenção, a sua natural dedicação e importância que sempre reservou ao aprofundamento dessa relação, está bem patente nesse expressivo discurso, como membro do Comité Central do PCP na homenagem ao Padre Abel Varzim em Cristelos (Barcelos), em Agosto de 1974.

Dizia então: “Encontramo-nos com o Padre Abel Varzim nesse mesmo caminho da resistência à opressão onde os homens aprendem mais facilmente a estimar-se, a amar-se e a respeitar-se, caldeando no mesmo cadinho os seus melhores sentimentos e aprendendo a compreender que os homens se não podem separar uns dos outros por motivos de crenças, por razões de fé ou de falta de convicções religiosas, mas, pelo contrário, são essas condições de sofrimento, são os actos de injustiça, de desigualdade, de carência de pão, de liberdade, de paz, que geram os verdadeiros sentimentos de solidariedade entre os homens, e lhes permitem construir juntos um novo mundo de justiça.

Conheci o Padre Abel Varzim em condições de extremo perigo para ambos. Não foram relações acidentais. Foram relações entre dois homens que não professando as mesmas ideias, souberam respeitar-se e estimar-se e não tiveram dificuldade em entender-se”.

Pedro Soares era um militante preparado e capaz de realizar o trabalho unitário que sempre foi necessário à luta do nosso povo e no qual o PCP sempre esteve empenhado. Qualidades reconhecidas pelo Partido que o vai nomear como seu representante e seu delegado na Frente Patriótica de Libertação Nacional, criada em 1962 e com sede em Argel. Pedro Soares realiza aí, no âmbito das novas tarefas um incansável trabalho a favor da unidade do movimento antifascista e pela preservação da coesão e da unidade na Frente Nacional. Um trabalho empenhado que alarga e desenvolve visando também o estreitamento de relações entre os antifascistas portugueses e o movimento nacional de libertação, nomeadamente das colónias portuguesas. Pedro Soares enfrentou e deu um firme combate não apenas ao oportunismo reformista, mas igualmente ao aventureiro esquerdista, que em nada contribui para a unidade das forças democráticas, antes para a sua divisão, incluindo no seio da própria FPLN com o assalto golpista que promoveu aos seus recursos, instrumentos e património.

Numa altura em que o esquerdismo assumia o carácter de perigo principal em relação à unidade das forças democráticas e ao desenvolvimento da luta de massas organizada, Pedro Soares dá também uma importante contribuição na batalha ideológica que a obra Herdeiros e Continuadores do Anarquismo inserta nos Escritos Políticos agora publicados, é um exemplo bem significativo, entre outros que produziu. Um texto que merece ser revisitado pela profundidade e qualidade da análise e pelos ensinamentos que comporta.

Pedro Soares desenvolveu uma intensa actividade partidária em vários países europeus e participa em nome do PCP em importantes conferências internacionais. Esteve na Conferência de Roma, em 1970, de apoio internacional aos povos de Angola, Guiné e Moçambique, na Conferência dos Países Comunistas dos Países Capitalistas da Europa, em Bruxelas, em Janeiro de 1974, entre outras.

Abril chega com Pedro Soares em Itália com importantes tarefas ao nível da direcção do Partido. Regressa ao País, agora para viver e trabalhar intensamente na defesa e consolidação da Revolução com que sonhava desde muito jovem e na concretização da qual tudo deu. Essa Revolução que abria no horizonte a radiosa perspectiva de uma vida digna para o nosso povo e com a luta corajosa das gentes da terra que o viu nascer essa tão antiga aspiração do direito à terra, do direito ao trabalho e ao pão que os assalariados agrícolas do Alentejo vão iniciar com a realização da Reforma Agrária. Essa grande conquista que tanto Pedro Soares queria ver realizada e pela qual continuou a lutar, acompanhando de perto e intervindo até ao fim da sua vida. Foi curta a sua vida depois do 25 de Abril, mas esse curto espaço de tempo foi o de uma vida cheia e enérgica. Participou de forma sistemática nas grandes acções de mobilização e esclarecimento do Partido e numa intensa actividade pela unidade dos democratas. Integrou a redacção do Avante!, foi colaborador da Seara Nova, cabeça de lista e eleito deputado pelo distrito de Santarém à Assembleia Constituinte, entre muitas outras actividades.

Pedro Soares era um homem culto e estudioso, apaixonado pela história e pela filosofia, particularmente a história de Portugal, a história do movimento operário português e do Partido Comunista Português. Um intelectual, licenciado pela Faculdade de Letras de Lisboa que abraçou e entregou todo o seu saber à causa da classe operária, dos trabalhadores, do seu povo. Os textos que agora se reeditam são parte de uma actividade de investigação e de ensaio político e filosófico. Uma actividade muito condicionada pela clandestinidade e pelo tipo de tarefas que o impediram de desenvolver projectos sobre os quais gostaria de escrever. Deixou-nos, ainda entre outros, os estudos de 1951 «A conquista de Ceuta e as Forças que a Determinaram». Em 1952 o trabalho “O panorama colonial Português e as tarefas imediatas do Partido, que apresentou à IV Assembleia plenária do Comité Central. As notas sobre o cinquentenário do Partido intituladas «Os percursores do Partido da Classe Operária», «A teoria da Revolução Portuguesa ou A estratégia da Grande Aventura», que não seriam publicados, e “Notas filosóficas sobre o valor objectivo das ideias”.

Neste momento de evocação da vida e do exemplo de Pedro Soares, jamais poderíamos esquecer a valorosa revolucionária, nossa camarada dedicadíssima Maria Luísa Costa Dias sua mulher de sempre como já o afirmámos, católica e comunista, que viveu 22 anos na clandestinidade.

Uma referência que aqui se impõe não por ter sido a mulher que o acompanhou numa grande parte da sua vida e da sua luta e já era muito, mas pelo que ela própria foi, uma das mais dignas representantes das mulheres antifascistas portuguesas.

Maria Luísa Costa Dias foi abnegada defensora em Portugal na defesa dos direitos políticos das mulheres.

Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática. Presa em 1953, em Palmela, foi enviada para o Forte de Caxias e foi libertada no final de 1954. Novamente presa com o marido em 1958, foi torturada, saindo da prisão em 1962, depois duma campanha nacional e internacional a favor da sua libertação, por se encontrar muito doente. Pesava então pouco mais de 30 quilos. Maria Luísa revelou uma coragem, uma força de vontade e uma dignidade que nem a polícia, nem os tribunais fascistas foram capazes de vencer. Maria Luísa, era uma mulher inteligente e activa, com uma grande experiência política que lhe permitiu realizar com extrema eficiência, em Portugal e no estrangeiro, importantíssimas tarefas.

Depois de libertada esteve em Argel ligada à FPLP participou em reuniões do Conselho Mundial da Paz. Desenvolveu uma intensa actividade, em vários países, na denúncia do regime fascista e de apelo à luta pela libertação dos presos políticos em Portugal. Foi representante do Movimento Democrático de Mulheres na Federação Democrática Internacional de Mulheres. Integrou, depois do 25 de Abril de 1974, a delegação portuguesa à Assembleia Geral da ONU.

Pedro Soares e Maria Luísa deixaram-nos quando ainda tinham muito para dar. Foi uma grande perda para o Partido e para luta dos trabalhadores e do nosso povo.

Uma perda profundamente sentida por todo o Partido e pelo povo trabalhador. O funeral de Pedro Soares e de Maria Luísa foi uma impressionante manifestação popular e de solidariedade política com o PCP e a Revolução Portuguesa de Abril.

A vida de Pedro Soares e de Maria Luísa são exemplos de dedicação, de coragem, de entrega à causa dos trabalhadores e do povo que nos honram e que queremos guardar para sempre como património da nossa luta colectiva.

Exemplos que nos dão força à nossa luta de hoje. À luta pela retoma dos caminhos de Abril e das suas conquistas que celebramos como uma das mais belas realizações do nosso povo.

Uma luta norteada pelos seus valores de liberdade, democracia, emancipação social, desenvolvimento e independência nacional e pelo porvir de uma nova sociedade mais justa, mais solidária e mais fraterna, pela realização do socialismo e do comunismo.

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