Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

"O país está melhor para os mais ricos que continuam a ganhar com o empobrecimento do povo português"

Debate da interpelação sobre a grave situação económica e social do País e a política alternativa necessária para solução dos problemas nacionais
(interpelação n.º 14/XII/3.ª)

Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados:
Os senhores vão repetindo à exaustão essa verdade oficial da direita que diz que o País está muito melhor.
Os senhores falam e governam, de facto, a pensar nos mais ricos e poderosos, que continuam a ganhar com o empobrecimento do povo português. Para esses, talvez seja verdade que o País esteja melhor, talvez até eles digam que isto nunca esteve tão bom, mas vão perguntar aos trabalhadores, aos reformados, aos micro e pequenos empresários, aos agricultores, aos pescadores deste País! Perguntem aos reformados se estão melhor com estes cortes nas pensões ou aos trabalhadores do sector público, confrontados com um esbulho nos salários ainda maior do que antes e a pagarem, cada vez mais, por bens e serviços essenciais.
Desde 2011, quando os senhores tomaram posse, aumentaram cinco vezes os preços dos transportes. Já vai em 26% de aumento em três anos, fora o efeito da extinção dos passes para estudantes 14_18 e sub23 ou dos passes para reformados.
As tarifas da eletricidade, pelo sétimo ano consecutivo, voltaram a aumentar acima da inflação. Para muitas famílias e para pequenas empresas, os aumentos não foram os 2,9% anunciados, foram antes de 8, ou 9%, ou mais! O aumento acumulado é de 14% em sete anos, mas com o aumento do IVA, que os senhores aprovaram — passou de 5 para 23% —, então, o agravamento do preço final foi muito maior.
Nos bancos, a situação é infame, com as pessoas e as pequenas empresas a serem esmagadas. A comissão média para uma conta de 250 euros terá aumentado mais de 40% em seis anos. Para as MPME, (micro, pequenas e médias empresas), há uma quebra continuada do financiamento. A banca vai espremendo a nossa economia, apesar dos milhões que encaixou do Orçamento do Estado, como voltou a acontecer, recentemente, com mais 510 milhões de euros que o Governo deu para cobrir as operações de lixo tóxico do BPN.
Quando os Srs. Membros do Governo e os Srs. Deputados fazem esse discurso é certamente a pensar nestes banqueiros ou nos patrões da grande distribuição, que sobem no campeonato dos milionários com os milhões que «amassaram» dos seus trabalhadores, dos pequenos e médios produtores, dos contribuintes. Para esses milionários, o País está certamente muito melhor.
Estará melhor o País de quem enriquece na Bolsa de Valores, onde as ações dos CTT, privatizados em dezembro, já valorizaram mais de 31% e onde os lucros aumentaram 70%, para 61 milhões de euros, sendo que desses 60 são distribuídos em dividendos.
Entretanto, no Vale da Amoreira, esta terça-feira, quem fosse levantar a sua pensão, a sua reforma, saía dos correios com «as mãos a abanar» porque não havia dinheiro. De facto, para o Deutsche Bank e para o Goldman Sachs, Portugal estará muito melhor, mas para os utentes dos CTT, para os trabalhadores e para o povo a realidade é outra.
Por isso, reafirmamos que o País são as pessoas que aqui vivem, mais as pessoas que daqui saem, porque os senhores as expulsam, porque o País é feito por quem trabalha, por quem trabalhou uma vida inteira, por quem quer trabalhar mas não tem emprego, por quem estuda e vê o futuro adiado.
Os senhores dizem que o País está melhor porque pensam que o País se habitua à pobreza, à emigração, ao abandono. Estão enganados! O País há de ficar muito melhor, sim, porque os senhores e a vossa política serão derrotados pela luta de quem se recusa «a comer e a calar».

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