Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Pensar»

Se o julgamento do problema da guerra dependesse de elementar bom senso, o mundo poderia estar mais descansado.

Ouvir George W. Bush justificar desígnios belicistas com argumentos inteiramente paralelos aos de Ben Laden («Deus ordena-me que faça a guerra!») seria inconcebível, não fora ser obscenamente hipócrita. Os suicidas palestinianos talvez necessitem de tal argumento para compensarem já nada terem para defender porque de tudo foram despojados: George W. Bush recorre a uma abstracção divina para cobrir a violenta materialidade dos interesses imperiais para cuja defesa convoca a guerra. Até os seus inquietantes correligionários confessionais protestam contra tão abjecta instrumentalização de crenças religiosas.

Clamar pela «defesa dos americanos» contra o «armamento» de Bagdad quando se impõe a destruição de mísseis cujo alcance ultrapassa em alguns quilómetros a fronteira iraquiana é puramente idiota.

Não é novo na História do homem. O que está em causa não é apenas o futuro ao nível dos conflitos e das armas: há um conflito entre a inteligência que construiu a humanidade e a bronca estupidez contra a qual ela se construiu. Se esta agora ganhar, somos todos os que perdemos.

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