Intervenção de João Ramos na Assembleia de República

«No SNS não pode haver profissionais de primeira e profissionais de segunda»

Sr. Presidente,
Srs. deputados,

Os cortes feitos por PSD e CDS no pagamento das horas de qualidade foram sentidos pelos profissionais da saúde como uma desconsideração pelo seu trabalho, apesar do seu empenhamento na prestação de cuidados de saúde no SNS. Esta opção do anterior Governo desmotivou os trabalhadores e desqualificou, desvalorizou o trabalho prestado.

Esta e outras opções semelhantes do Governo PSD/CDS em matéria de política de saúde, determinaram uma onda de emigração de profissionais de saúde sem precedente e a saída de profissionais com mais experiência, com maior qualificação, o que levou a problemas, desde logo, na perda de capacidade de resposta na formação de profissionais no SNS.

Os adversários do SNS em sucessivos governos, particularmente no último, têm utilizado a política de recursos humanos como uma forma de o destruir. As substituições do vínculo público, o fim das carreiras, o congelamento dos salários, são medidas que levam à desmotivação e à saída de profissionais para o exterior e para os privados.

A situação insustentável que foi criada e o seu impacto no funcionamento dos serviços estão bem patentes no adiamento de cirurgias, nos tempos de espera para realização de exames complementares de diagnóstico, na demora na realização de consultas e no atendimento nas urgências.

A valorização destes trabalhadores e a reposição do pagamento do trabalho extraordinário tem de ser para todos sob pena de gerar desigualdades entre trabalhadores. A esmagadora maioria dos profissionais de saúde fazem trabalho extraordinário e suplementar e por isso não faz sentido pagar a uns e não pagar a outros. No SNS não pode haver profissionais de primeira e profissionais de segunda, até porque o seu funcionamento depende de todos.

O Governo do PS tem a obrigação de resolver este e outros problemas laborais sob pena de não resolver os problemas do SNS e de frustrar as legítimas expectativas dos trabalhadores. Por iniciativa e com o contributo do PCP foram inscritos no Orçamento do Estado para 2017 instrumentos para a resolução desta questão. O que é agora necessário é a sua concretização pelo Governo. Não há desculpa para que este problema não seja resolvido, na saúde e em todos os outros sectores da Administração Pública, repondo aos trabalhadores os direitos que lhes foram cortados pelo anterior Governo PSD/CDS.

O sector da saúde tem em Portugal um instrumento de especial relevância – o Serviço Nacional de Saúde – que colocou o nosso país ao mais alto nível em termos mundiais, em respostas e indicadores de saúde. Não obstante os ataques a que o Serviço Nacional de Saúde tem sido submetido, quer por subfinanciamento, quer por ataque aos direitos dos trabalhadores, quer ainda pela privatização de unidades, conseguiu manter, de modo global, respostas de qualidade às necessidades de saúde dos cidadãos. O PCP considera que para tais resultados muito contribuíram todos os trabalhadores da saúde.

O PCP pauta a sua intervenção por uma defesa intransigente do Serviço Nacional de Saúde, conquista da Revolução de Abril e parte fundamental e fundacional do regime democrático, que ela permitiu. E por isso, o PCP defende o SNS na sua formulação constitucional original, isto é, um serviço geral, universal e gratuito. Na defesa do Serviço Nacional de Saúde, sempre assumiu a defesa dos trabalhadores, na valorização profissional, salarial e da sua função social, para além da melhoria das condições de trabalho e sempre se posicionou ao lado da valorização do SNS.

As dificuldades a que o SNS está sujeito são da responsabilidade de sucessivos governos, mas tiveram um agravamento aprofundado com o anterior governo PSD/CDS. Paralelamente à acção destruidora e desestabilizadora no SNS, aprofundaram-se as transferências de cuidados, de meios, de respostas e de apoios para estruturas privadas que fazem da saúde um negócio - um grande negócio diga-se - como ilustra o modelo de parcerias público-privadas aplicadas à saúde.

Nos dias de hoje são várias as profissões que estão a desenvolver lutas para exigir a valorização da sua actividade profissional e das suas carreiras. A gigantesca greve dos assistentes operacionais ou as greves já realizadas e novamente marcada, dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, dos enfermeiros e a ameaça de greve dos médicos, demonstram que existem muitos sectores e profissionais descontentes e disponível para a luta. Os trabalhadores mantiveram-se em luta quando o anterior governo lhe aplicou cortes salariais, os obrigou a trabalhar gratuitamente ao aumentar o tempo de trabalho semanal de 35 para 40 horas, ao cortar-lhes as horas de qualidade e reduzir-lhe o pagamento das horas extraordinárias. Sofrendo ainda dos ataques do anterior governo PSD/CDS, os trabalhadores têm legítimas expectativas relativamente a resolução dos problemas e à justa valorização e reconhecimento da sua actividade profissional.

Saudamos os profissionais em luta. A luta é elemento fundamental para a inversão de políticas que se deseja e que é indispensável a um melhor SNS.

Sr. Presidente,
Srs. Deputados,

A valorização dos trabalhadores é elemento fundamental para o reforço do Serviço Nacional e Saúde. Os trabalhadores da saúde, mas também o Governo do PS, sabem que podem contar com a acção e a intervenção do PCP para todas as medidas necessárias à valorização dos trabalhadores, das suas carreiras e das suas profissões. É importante não desperdiçar cada uma das oportunidades abertas pela nova correlação de forças na Assembleia da República. O PCP cá está para o máximo aproveitamento dessas oportunidades, a favor dos trabalhadores, da Administração Pública e do Serviço Nacional de Saúde.

Disse.

  • Saúde
  • Trabalhadores
  • Assembleia da República
  • Intervenções
  • Serviço Nacional de Saúde
  • SNS