Artigo de José Casanova

«No mínimo»

Recapitulando: o governo dos EUA, na exclusiva defesa dos seus interesses e enquanto líder assumido da "nova ordem mundial", ordenou, a dado momento, o bombardeamento da Jugoslávia. O pretexto invocado foi o habitual: defesa da "democracia", da "liberdade", dos "direitos humanos" e a NATO foi encarregada de proceder à operação - com o acordo e o apoio servis dos governos da Grã-Bretanha, da Espanha, da Itália, da França, de Portugal...

A operação, por si só, constituiu um acto de frontal desrespeito pelo direito internacional mas o facto de nela terem sido utilizadas bombas de urânio empobrecido confere-lhe a dimensão criminosa dos mais bárbaros actos de terrorismo.

A utilização dessas bombas foi silenciada pela generalidade da comunicação social: o "Avante!" ficou praticamente sozinho na denúncia da barbaridade cometida (como já acontecera aquando da matança do Golfo).

Agora, as mortes de militares que estiveram na zona atingida por essas bombas sucedem-se, os casos de leucemia detectados multiplicam-se e a verdade começa a emergir.Apesar disso, o Governo português vem assumindo uma posição que se situa ao nível da que tomou quando decidiu enviar soldados portugueses para uma guerra em defesa dos interesses dos EUA: o Primeiro Ministro debate-se com a cruel dúvida sobre se sim ou não o estado de saúde dos quatro soldados portugueses (um dos quais já faleceu) tem alguma relação com o facto de terem estado na zona em que caiu a maior parte das bombas de urânio empobrecido. Guterres precisa de provas científicas de que há uma relação directa entre os casos de leucemia detectados nos soldados portugueses (e em mais cinco dezenas de soldados de outros países) e o facto de todos eles terem estado nessa zona... E decidiu que, enquanto as provas não chegam, os soldados portugueses devem continuar no Kosovo e, em finais deste mês, mais 400 para lá seguirão!

Os bombardeamentos da NATO sobre a Jugoslávia constituem um crime agravado com o facto de se ter tratado de uma guerra química. A situação das vítimas directas dessa acção criminosa - os militares portugueses e de outros países e as populações da região (das quais quase ninguém tem falado) - impõe que o Governo, enquanto espera pelas provas científicas, mande regressar todos os militares portugueses e cancele a partida dos 400 anunciados; decida a saída de Portugal da NATO e exija a dissolução dessa organização; e proponha a punição dos principais responsáveis pelos crimes cometidos. No mínimo.

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