O Congresso está a chegar ao fim.
Aprovámos documentos, definimos orientações, tomámos
decisões. Agora é tempo de um novo arranque, é tempo de
trabalhar para reforçar a influência do Partido, é tempo
de se avançar, com energia renovada para a dinamização
da iniciativa e da intervenção política.
Aqui esteve presente a voz dos que querem o bem-estar do povo, um maior progresso
para o país, o aprofundamento da democracia e o socialismo.
Aqui esteve presente, com a sua generosidade, um colectivo que se bate por
causas e valores, um colectivo que não dá tréguas tanto
aos vendedores de ilusões como aos que pregam o fatalismo e a resignação,
um colectivo que não dá tréguas às políticas
de direita.
Aqui esteve presente um colectivo que com a sua militância, intervenção
e determinação trabalhará para um Partido mais forte e
mais coeso ao serviço dos portugueses, das portuguesas e de Portugal.
Aqui estiveram presentes os delegados de um Partido que consciente de debilidades
e atrasos analisa, estuda, trabalha e luta por uma sociedade mais justa, mais
fraterna, liberta da exploração do homem pelo homem, onde o livre
desenvolvimento de cada um seja a condição do livre desenvolvimento
de todos.
Aqui esteve presente um Partido que culminou um intenso trabalho indicando
direcções de trabalho e de luta tendo apontado também a
urgência de aprofundar temas de grande importância a que ainda não
se conseguiu dar resposta para que a nossa intervenção se faça
mais informada e sobre uma realidade melhor conhecida.
Aqui esteve um colectivo que expressou claramente a necessidade do reforço
do PCP para a construção de uma alternativa de esquerda concebendo-a
como um processo complexo e exigente. Processo que não comporta os simplismos
de quem julga ter ali à esquina a resolução do problema
ou pela evidência de que o Governo está em perda acelerada ou pelo
facto de ser uma urgente necessidade nacional, mas tendo a consciência
que para uma mudança efectiva de política é necessário
que se mantenha uma firme critica e denúncia pelo PCP da política
de direita seguida pelo PS; uma forte pressão social e, como condição
decisiva, o reforço do PCP no plano social, político e eleitoral.
Somos e seremos comunistas homens, mulheres e jovens que se orgulham
da sua história, mas por isso mesmo não voltados para o passado,
mas para o pulsar da vida, para a evolução social, para as novas
realidades, com os olhos postos no futuro.
Somos e seremos comunistas, afirmando e confirmando a nossa identidade
de Partido Comunista, mas por isso mesmo com a flexibilidade táctica
necessária para obter todos os ganhos possíveis para os trabalhadores,
para o povo e para o país.
Somos e seremos comunistas, solidamente empenhados em manter e reforçar
a unidade e os laços de fraternidade no nosso colectivo partidário
e o seu empenho comum na concretização das orientações
deste Congresso e nas tarefas do Partido, mas por isso mesmo, sempre valorizando
dentro das regras do nosso funcionamento, a contribuição de cada
militante, sempre procurando fortalecer a democracia interna, sempre defendendo
como uma insubstituível riqueza, a diversidade de percursos, de origem
sociais, de experiências e de opiniões e sempre as vendo como uma
seiva indispensável da nossa acção colectiva.
Somos e seremos comunistas, por vontade do colectivo partidário,
de um Partido com as suas fortes raízes populares, mas por isso mesmo
com a força bastante para ultrapassarmos crispações e incompreensões,
respondermos à violenta ofensiva a que estivemos sujeitos nos últimos
meses e com vontade, determinação e confiança não
apenas para resistir, mas para avançar e conquistar novos espaços
de progresso e de justiça social.
Este foi um Congresso onde quem nos ouviu e viu sem preconceitos terá
de dizer: aqui esteve um Partido profundamente ligado aos trabalhadores e ao
povo, um Partido que com seriedade procura soluções para os problemas,
um Partido patriota e internacionalista, um Partido que se confirma como um
Partido necessário e insubstituível, Partido da classe operária
e de todos os trabalhadores, o Partido Comunista Português!
Queremos saudar todos aqueles que foram obreiros deste Congresso e como o Partido
saudou o Congresso creio que é justo que o Congresso saúde todo
o colectivo partidário, todos os militantes e todos os simpatizantes.
Queremos saudar também todos aqueles e aquelas camaradas que nas mais
diversas tarefas, nos transportes, nos trabalhos de processamento de texto,
na reprografia, no apoio, na segurança, nos refeitórios, na limpeza,
modesta e silenciosamente contribuíram para o êxito do nosso Congresso.
Camaradas, neste magnífico espaço, neste Congresso, não
escondemos dificuldades, nem disfarçámos debilidades, mas também
prontos com determinação de trabalhar para não deixar perder
as possibilidades e potencialidades para o nosso aumento de influência
para responder com êxito aos desafios que a vida nos vai colocar.
No nosso Congresso houve vivacidade e contraste de opiniões, mas não
houve certamente a luta fratricida sem fronteiras e sem princípios que
alguns e tinham anunciado durante semanas inteiras.
Mas não é preciso ser adivinho para, antes mesmo do nosso Congresso
ter terminado, se poder prever com grande grau de certeza o que sobre ele vai
ser dito por muitos dos que, de fora, tem escrito e falado sobre o PCP.
Para alguns grelhas de leitura, interpretação e comentário
há muito que estão fixadas. A preferência pelas rígidas
dicotomias servidas pelos rótulos e etiquetas que bem conhecemos há
muito que foi manifestada. O total desinteresse por qualquer consideração
concreta, rigorosa e intelectualmente séria das verdadeiras orientações
e propostas ao Congresso. E a sentença definitiva e sem recurso sobre
um alegado "retrocesso político e ideológico" (dada
até por aqueles que não leram as Teses mas comodamente "ouviram
dizer") há muito que, sem demonstração nem argumentos,
foi proferida.
Deveremos portanto contar com mais uma boa dose de caricaturas, de dramatizações
em torno do sangue político supostamente aqui vertido, tudo ainda e sempre
em deliberada desproporção com a situação e problemas
que frontalmente aqui evocámos, tudo ainda e sempre conduzindo à
desfiguração do que realmente somos, queremos e fazemos enquanto
grande Partido democrático e nacional e enquanto homens e mulheres, diversos
na sua origem social, percursos e reflexões, mas unidos por valores,
por ideais e por um projecto que não se rendem nem estão à
venda.
Não temos grande esperança de abrir alguma fresta de sensatez
e realismo no pensamento e palavras de quem se tenha deixado aprisionar no dogmatismo,
no preconceito e no desonesto truque de torcer a realidade e rasurar a verdade
sobre o PCP até que ela se encaixe à força nos esquemas
previamente adoptados.
Mas temos uma forte esperança e convicção de que outra
será a atitude e o juízo não apenas dos portugueses que
em nós confiam e muitos outros que justamente desconfiam do asfixiante
e monolítico "pensamento único" veiculados por alguns
sobre o PCP e que não prescindem de pensar pela sua própria cabeça.
Ou seja, que muitos e muitos portugueses e portuguesas compreenderão
que este não é o Congresso de um PCP inadaptado à democracia
e fixado em regras do tempo do seu heróico combate à ditadura
fascista, mas o Congresso de um PCP que é fundador do regime democrático-constitucional
e o seu intransigente e consequente defensor; de um PCP que, como o seu Programa
aprovado há 10 anos claramente consagra, sustenta que "no regime
de liberdade que o PCP propõe ao povo português, as eleições
são fundamento directo do poder político e da legitimidade de
constituição dos seus órgãos";proclama que
"a democracia política, embora intimamente articulada com a democracia
económica, social e cultural, tem um valor intrínseco, pelo que
é necessário salvaguardá-la e assegurá-la como um
elemento integrante e inalienável da sociedade portuguesa"; e afirma
que "no Portugal do limiar do século XXI, o caminho do socialismo
é o do aprofundamento da democracia".
Compreenderão que este não é o Congresso de um PCP que
nada tivesse aprendido e reflectido com o fracasso das experiências de
construção do socialismo no leste da Europa mas de um PCP que
há 10 anos, em pleno fragor dos acontecimentos examinou de forma corajosa,
critica e autocrítica as causas de tais fracassos em Congresso Extraordinário
(cujas conclusões, se lidas ou relidas agora; talvez nos poupassem a
ter de ouvir alguns ostensivos disparates); procedeu a análises e
definiu orientações que, em coerência com fortes marcas
da sua identidade e história nacional, representam uma firme demarcação
de todas as perversões, crimes, erros e deformações que
afrontaram os ideais comunistas e tanto ensombraram a sua capacidade de atracção;
mas também, é preciso dizê-lo, de um PCP que, ontem como
hoje, não consente que as conquistas e transformações sociais,
económicas e culturais internas e as grandes e positivas repercussões
internacionais induzidas pela Revolução de Outubro e por outras
dessas experiências sejam apagadas da história da humanidade e
da memória colectiva dos povos e que o trabalho, a coragem, o esforço,
a generosidade e as esperanças de milhões de homens e mulheres
comunistas de todo o mundo ao longo de décadas seja rasurado e enxovalhado
por causa dos dramáticos acontecimentos e mudanças do final da
década de 80. E este é também o Congresso de um PCP
que, ponto chave, incorpora e integra no seu projecto de socialismo para Portugal
o seu sólido e histórico compromisso com a causa da liberdade
e da democracia.
Confiamos que muitos portugueses compreenderão que este não é
o Congresso de um PCP ideologicamente petrificado e barricado atrás de
dogmas e escolásticas citações, mas de um PCP que concebe
o marxismo-leninismo como uma doutrina essencialmente dialéctica e que,
por isso acolhe e se enriquece com muitas outras contribuições
para além das contribuição fundadoras e fundamentais de
Marx, Engels e Lenine e é capaz de se renovar para melhor responder aos
desafios das mudanças da vida e do mundo.
Confiamos que muitos portugueses compreenderão que este não
é o Congresso de um PCP dominado por uma "psicologia de cerco"
ou reagindo com espirito de "fortaleza assediada", mas de um PCP que
sabe melhor do que ninguém que, tal como o seu passado reclamou e o seu
presente reclama, também o seu futuro reclamará imperativamente
o reforço dos seus laços com os interesses e aspirações
dos trabalhadores e de todos os portugueses que anseiam por novos horizontes
de realização e dignidade humanas e de justiça, progresso
e transformação sociais.
Confiamos que muitos e muitos portugueses compreenderão que este não
é o Congresso de um PCP visto como uma "contra sociedade" e
constituído por mulheres e homens vistos como os últimos moicanos
de uma causa perdida e naufragada, mas de mulheres e homens livres voluntariamente
associados em torno de um grande e honra projecto de liberdade, democracia e
socialismo e que, numa atitude de grandeza cívica e consciência
política, e sem quebra da sua própria individualidade, livremente
decidiram forjar o compromisso de acção colectiva que dá
força e eficácia aos valores e ideais em que acreditam.
Finalmente, confiamos que muitos e muitos portugueses compreenderão
que este não é o Congresso de um PCP que se enerva, assusta e
crispa só de ouvir falar de renovação, mas de um PCP que,
no caminho complexo e acidentado de todos os empreendimentos humanos, assume
a renovação como uma exigência da vida, que concebe a renovação
não como um código semântico para sinalizar o abandono da
sua identidade ou como um conjunto de frases sonantes, mas como um exigente
programa de trabalho, reflexão e acção para continuar a
ser um Partido Comunista e Português ainda mais útil aos trabalhadores
e ao povo, mais apetrechado para os combates que o esperam, mais influente e
prestigiado.
Pela classe operária, pelos trabalhadores, pelo povo, por Portugal,
pela democracia e o socialismo - um projecto para o século XXI.
Viva o XVI Congresso
Viva o Partido Comunista Português