Abril de 1974
A
existência de um amplo movimento que abrange centenas de oficiais do
quadro permanente dos três ramos das forças armadas, assim como a
eclosão da sublevação de 16 de Março – afirma-se num dos dois
manifestos de Março da Comissão Executiva do PCP - «exprimem a
crescente oposição das forças armadas às guerras coloniais e à política
do governo de M. Caetano.»
Na «conversa» de 28-3 M. Caetano procurou aparecer «descontraído» numa
tentativa de serenar as suas perturbadas hostes e minimizar o
significado da sublevação militar que atribui à « irreflexão e talvez
ingenuidade de alguns oficiais...» Afirmou que « nada do que de
verdadeiro se passa e que ao público interesse, deixa de ser trazido ao
conhecimento dele». Mas escondeu o facto de que na madrugada de 16 de
Março ele teve o cuidado de se refugiar no reduto de Monsanto,
juntamente com A. Tomaz e outros mais das suas respectivas camarilhas;
escondeu que a coluna militar saída das Caldas da Rainha confraternizou
com outras forças ao passar por Santarém ou quando se encontrou com
outras unidades enviadas para a conter; escondeu que forças da Aviação
se recusaram a bombardear a coluna militar, a qual só foi contida às
portas de Lisboa e não em Alverca; escondeu que dias antes da
sublevação tinham sido presos vários oficiais, entre eles o Ten-Coronel
Almeida Bruno (condecorado há menos de um ano com a Torre e Espada), o
major Monge, os capitães Vitor Alves, Vasco Lourenço, Pinto Soares e
que outros oficiais foram deportados ou transferidos para os Açores,
Madeira e Trás-os-Montes.
O movimento de oficiais, a sublevação de 16 de Março, a prisão,
deportação ou transferência de duas centenas de soldados e oficiais,
assim como as demissões dos generais Costa Gomes, António Spínola,
Amaro Romão e contra-almirante António Bagulho – tudo isto é o
resultado da luta popular e do acentuado aprofundamento da crise do
regime, crise que se estendeu às forças armadas.
A
oposição à guerra e à política do governo de M. Caetano penetrou nos
vários escalões das forças armadas, e o regime já não pode hoje contar
com o seu apoio incondicional.
Num documento emanado do «movimento dos oficiais» sublinha-se:
«Entendemos necessários, como condição primeira de solução do problema
africano, da crise das Forças Armadas e da crise geral do País, que o
poder político detenha o máximo de legitimidade, que as suas
instituições sejam efectivamente representativas do Povo. Por outras
palavras: sem democratização do País não é possível pensar em qualquer
solução válida para os gravíssimos que se abatem sobre nós.»
Desta conclusão decorre a
importante e urgente tarefa de incorporar e associar à luta
antifascista do povo português os soldados e marinheiros, os sargentos
e oficiais honestos, todos os verdadeiros patriotas das forças armadas
(incluindo os homens honestos de PSP, GNR e GF), formando um poderoso
exército político que porá fim às guerras coloniais, derrubará a
ditadura fascista e conquistará as liberdades democráticas.
A formação de mais e mais comités unitários antifascistas, em todos os
quartéis e barcos, no país e nas colónias, comités de soldados e
marinheiros, de sargentos, de oficiais do quadro e milicianos, é uma
importante tarefa que se coloca a todos os comunistas e democratas.
A luta pelo fim das guerras coloniais e o regresso das forças armadas
ao país, a luta pelas liberdades democráticas, pela libertação imediata
de todos os presos, pela Amnistia, pela cessação das torturas e a
dissolução da Pide-DGS, a luta por melhores condições de vida e contra
o poder dos monopólios e a submissão ao imperialismo, são tarefas que
se colocam a todo o povo e a todos os homens honestos das forças
armadas.
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