Inicio
Intervenções e Artigos
Posições Políticas sobre IVG
PCP na AR sobre IVG
Tempos de Antena do PCP
Fotos da Campanha
Apelo do Comité Central do PCP
Questões Legais sobre Referendo
 Folheto IVG -2ª Fase
Folheto em PDF
Depoimentos em video



Início arrow PCP na AR sobre IVG
Regime jurídico do arrendamento urbano
Intervenção de Odete Santos
Quinta, 18 Novembro 2004

Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo:

Penso que, de facto, a história do caminho da proposta de lei em causa ficará em letras muito negras, porque é inadmissível que se discutam matérias respeitantes a oito diplomas desta maneira, sob a forma de uma autorização legislativa. Isto é inadmissível! A Assembleia da República já discutiu diplomas com muitos mais artigos sob a forma de proposta de lei material, e fê-lo em não muito tempo!

O Sr. Ministro estava apressado, mas, como diz o povo, «cadelas apressadas parem cães cegos».

Assim, há alíneas na proposta de lei de autorização legislativa que não têm definida exactamente a extensão, conforme a Constituição da República impõe.

Se tivesse mais tempo dizia-lhe, Sr. Ministro!

Uma delas foi a Comissão Nacional de Protecção de Dados que apontou.

Mas há mais!

Há mais, e tenho-as aqui apontadas! Portanto, essas alíneas sofrem de inconstitucionalidade formal.

Mais: este regime que os senhores criaram e que corresponde, na verdade, às teses neoliberais,…

(...)

Não é «ah!», é assim! Não é «ah!» nem «uh!»! Corresponde às teses neoliberais!

Os Srs. Deputados riem-se com a angústia das pessoas!

(...)

De quais?! Muitas!

Sr. Ministro, sabe que a maioria das entidades e das associações ouvidas em comissão, entre as quais a Ordem dos Advogados, se manifestaram contra a proposta de lei? Sim, Sr. Ministro, praticamente só a associação dos fundos imobiliários esteve a favor da proposta de lei!

Sr. Ministro, não faça essas caras, porque não está na sua vez de falar, e ouça, uma vez que o diálogo não pressupõe interrupção!

(...)

Sr. Presidente, não são apartes o que o Sr. Ministro tem estado a fazer!

Sr. Ministro, devo dizer-lhe que, de facto, esta proposta de lei tem dois aspectos monstruosos. Um

deles é colocar a prazo todos os inquilinos, o que é claramente inconstitucional, porque viola o princípio

da confiança no Estado de direito democrático!

Arrendamentos pretéritos, arrendamentos com longos anos que se renovam automaticamente, e o Estado, sem mais nem menos, diz «agora, com um pré-aviso de três anos, podem ir para a rua»! Isto é uma grosseiríssima inconstitucionalidade! Daqui fazemos um apelo ao Sr. Presidente da República para que submeta o diploma à apreciação preventiva da constitucionalidade.

Os senhores vêm citar exemplos estrangeiros. Então, Sr. Ministro, veja o que se passou na Inglaterra, em que estabeleceram regimes diferentes consoante os momentos em que os contratos foram celebrados.

E vieram dizer-nos que era mais barato arrendar um apartamento em Nova Iorque do que aqui.

Em Nova Iorque há rendas tabeladas, não há o que senhores querem fazer, ou seja, um mercado selvagem, para privilegiar a especulação imobiliária.

É isso o que o Sr. Ministro e o seu Governo querem fazer, querem pôr os inquilinos na rua , nomeadamente os dos centros das cidades, para que os bancos e os fundos imobiliários tomem conta dos centros. E dá graça, Sr. Ministro, ouvir falar das preocupações sociais da proposta de lei!

O Sr. Ministro gastou dinheiros do Estado a fazer publicidade em jornais, e era publicidade enganosa!

Hoje, as pessoas já sabem o que diz a proposta de lei. O Sr. Ministro gastou dinheiro para dizer que as rendas estiveram congeladas até 1990. Mentira! Vem no seu regime de transição e está na Internet, é só ler!

O Sr. Ministro gastou dinheiro para dizer que, coitados dos comerciantes, tinha de se preservar o estabelecimento porque era uma reforma que tinham.

Está na Internet! E o que é que o senhor fez? Espoliou-os do direito ao estabelecimento!

Vai espoliá-los, mesmo com as propostas que têm, do direito ao estabelecimento!

É isso o que, de facto, reserva a sua proposta de lei, Sr. Ministro, é tratar o direito à habitação como uma mercadoria, é não ter em conta os problemas sociais, a situação que Portugal vive, a pobreza e a xclusão social, é não se importar com isso e manter para os arrendamentos habitacionais a renda livre e negociada!

Sr. Ministro, a sua proposta de lei devia merecer da sua parte e da parte da maioria, que está com sorrisos nos lábios, um outro comportamento, para saberem o que vão atingir, o que reservam para o povo português!

 

Jornal «Avante!»
«O Militante»
Edições «Avante!»
Comunic, a rádio do PCP na Internet