Partido Comunista Portugu�s
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Saudação a Xanana Gusmão - Intervenção de Carlos Carvalhas
Sexta, 01 Outubro 1999
Senhor Presidente do CNRT
Companheiro Xanana Gusmão

Em nome do Partido Comunista Português, em nome de uma força política que há 42 anos ligou a libertação do povo português da ditadura fascista à libertação dos povos submetidos ao colonialismo português, e que há 34 anos explicitamente inscreveu no seu Programa a luta pelo reconhecimento do direito à independência do povo de Timor-Leste, quero saudar a sua visita a Portugal e a sua presença na sede da representação nacional, e quero sobretudo, em sintonia com os generosos sentimentos solidários do povo português, saudar na sua figura todo o povo de Timor-Leste e o seu impressionante exemplo de coragem, determinação e confiança no futuro, pois como há pouco nos dizia no almoço oferecido pelo Senhor Presidente da República, ele é o herói de todo este combate.

E quero saudar também na sua figura de destacado combatente da causa do povo timorense, o movimento de resistência que dirige, as FALINTIL e todos os resistentes timorenses que, pelo seu povo e pelos seus sagrados direitos, enfrentaram a dor, a tortura, o sofrimento e a morte, e souberam assim, mesmo nos tempos de horizontes mais fechados e sombrios, rasgar as avenidas de esperança desenhadas pela força das suas convicções e da sua coragem.

E, nesta ocasião, quero assegurar-lhe que, como ao longo destes sofridos e martirizados últimos 24 anos, como ao longo deste trágico período posterior à derrota dos ocupantes no referendo e ao recomeço da violência assassina sobre o seu povo, tudo faremos para que a causa da paz, da liberdade e da independência de Timor-Leste continue a ser considerada uma grande causa nacional, e tudo faremos para prolongar e manter forte e activa a vibrante solidariedade do povo português para com o povo timorense.

Por isso, aqui juntamos a voz dos comunistas portugueses à voz de todos quantos reclamam e se batem por uma rápida, generosa e eficiente assistência humanitária ao povo timorense, pelo regresso rápido de todos os exilados e deslocados à força, pela manutenção de um alto nível de pressão sobre o regime indonésio que desencoraje novas manobras e crimes, por um amplo apoio à reconstrução da vida colectiva em Timor e por uma transição rápida, segura e pacífica em direcção à conquista plena da independência de Timor-Leste e à total concretização do direito do povo timorense a autogovernar-se e a decidir dos seus próprios destinos.

O povo de Timor-Leste e os responsáveis políticos em quem confia, têm, como todos sabemos, desafios imediatos, tarefas urgentes e preocupações instantes que, justa e imperativamente, se circunscrevem ao seu território e à sua Pátria, e que continuam a reclamar uma activa solidariedade internacional.

Mas pensamos que, com a sua heróica luta e com as vitórias que, embora por alto preço, já alcançou, o povo de Timor-Leste praticou também uma grande solidariedade com muitos outros povos e nações ainda hoje oprimidos, ao demonstrar, contra tantas sentenças derrotistas, contra tanta pedagogia da renúncia e da resignação, contra tantas pretensas fatalidades, que vale a pena lutar, que vale a pena ter causas, que vale a pena empunhar as bandeiras da esperança, da justiça e da liberdade.

A História registará sem dúvida, para o olhar talvez incrédulo dos vindouros, que - entre tantas outras tragédias e crimes - foi possível, no último quartel do século XX, e com uma chocante indiferença dos países mais poderosos, submeter todo um povo a 24 anos de uma ocupação totalmente ilegítima e sustentada por uma brutal, hedionda e premeditada série de crimes, violências e massivos assassinatos, da responsabilidade directa de uma ditadura que, logo ao emergir, massacrou e assassinou barbaramente centenas de milhar de democratas indonésios.

Mas confiamos que a História não deixará de registar, esperamos que com lúcida compreensão dos vindouros, e para seu proveito, que nenhuma ocupação, nenhuns crimes, nenhumas violências e nenhuns assassinatos massivos conseguiram aturdir, anestesiar ou esmagar nem o apego do povo timorense à sua identidade nacional, nem a sua firme, profunda e insubmissa vontade de viver livre e independente.

E é essa lição maior que nos dá a certeza de que Timor vencerá!