Partido Comunista Português
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Declaração de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, sobre a reunião do Comité Central do PCP
Comité Central do PCP
Domingo, 22 Novembro 2009
Reunião do Comité Central do PCP

Jerónimo de Sousa, na apresentação das principais conclusões da reunião do Comité Central, alertou para o facto de o Governo se estar a preparar para transferir para os trabalhadores e camadas mais desfavorecidas os custos da crise e manifestou preocupação com o avolumar incontrolado dos casos e práticas de corrupção na sociedade portuguesa e no Estado. O Secretário-Geral do PCP anunciou também a realização de uma grande Campanha Nacional de contacto e esclarecimento dos trabalhadores e da população, na defesa do emprego, do trabalho com direitos e no combate à precariedade. Comunicado do CC e Resolução «Avante!, Por um PCP mais forte»

O Comité Central do PCP, nesta sua reunião que se iniciou ontem, analisou desenvolvimentos recentes do novo quadro político, nomeadamente a formação e apresentação do Programa do Governo, bem como a situação económica e social do País. Debateu as principais prioridades da sua acção política e definiu as orientações com vista ao reforço do PCP e à concretização da acção «Avante! por um PCP mais forte» decidida pelo XVIII Congresso.

Em relação à evolução da situação política nacional, o Comité Central verifica que, ao contrário da mudança que se impunha na vida nacional face à gravidade e dimensão dos problemas do país, o PS e o seu governo persistem na concretização das mesmas opções e orientações políticas que não só estiveram na origem da actual crise económica e social, como conduziram à derrota da sua maioria absoluta.

De facto, da formação do novo Governo e do conteúdo do seu Programa emerge de novo, e com toda a clareza, a mesma política de direita que levou o país ao declínio económico e uma insustentável situação onde campeiam as mais elevadas taxas de desemprego, os baixos salários e pensões, as injustiças e a corrupção.

O Comité Central do PCP chama a atenção e denuncia a operação de vitimização e de inaceitável chantagem que o PS tem em curso. Encerrado na arrogância de uma maioria absoluta que já perdeu e incapaz de se adaptar à condição de um governo de maioria relativa, o PS procura agora, pela ameaça de uma eventual interrupção da legislatura, transferir para outros as suas próprias responsabilidades.

Como antecipadamente a declaração do Primeiro-Ministro sobre a intenção de manter o rumo da governação anterior deixava adivinhar, o debate do Programa do Governo mostrou e confirmou quanto ensaiada e mistificadora era a anunciada “disponibilidade e abertura” manifestada pelo PS para encontrar pontos de convergência com vista à alteração das políticas. O que se viu foi um Governo fechado no estrito reduto do seu Programa Eleitoral, confirmando o que foi sempre o seu objectivo: impor a outros o programa do PS, obtendo por essa via a maioria absoluta que lhe foi negada pela vontade expressa dos portugueses.

Na análise da evolução do novo quadro político chama-se a atenção para a deliberada ilusão que PS e seus apoiantes procuram construir à volta da ideia de uma governação de «geometria variável», alegadamente assente em acordos «à esquerda e à direita», conforme as matérias sociais e económicas e que tem o claro objectivo de ocultar a natureza de direita das suas opções fundamentais.

Na verdade, o que o Programa do Governo revela em toda a sua extensão é o inequívoco prosseguimento da política de direita, orientada no plano económico para a protecção dos lucros e privilégios dos grandes grupos económicos e financeiros e, no plano social, a manutenção da actual e desequilibrada estrutura de distribuição da riqueza nacional. É nossa convicção que a insistência nessa política conduzirá ao agravamento dos problemas e culminará com a própria derrota do PS e do seu Governo.

O Comité Central do PCP alerta para o facto de o Governo se estar a preparar para transferir para os trabalhadores e camadas mais desfavorecidas os custos da crise. É neste quadro que devem ser entendidos os sinais dados já pela actual Ministra do Trabalho, questionando o aumento expectável do Salário Mínimo Nacional em 2010 e o anunciado «pacto para o emprego», cujo verdadeiro objectivo é o de fragilizar ainda mais as relações de trabalho, aumentar a precariedade, desregulamentar os horários de trabalho, pôr em causa a contratação colectiva, favorecer a exploração e reduzir direitos.

Nas conclusões do debate realizado regista-se com profunda preocupação o avolumar incontrolado dos casos e práticas de corrupção na sociedade portuguesa e no Estado. Uma situação que é inseparável da crescente subordinação do poder político ao poder económico promovida pela política de direita em todos estes últimos anos, seja pela mão do PS, seja pela do PSD e CDS-PP.

As recentes decisões do Tribunal de Contas sobre processos de obras públicas, o processo «Face oculta», a par de inúmeros outros casos cujas investigações se arrastam sem fim à vista e com claros indícios de práticas de corrupção, exigem, tão rápido quanto possível, o apuramento de responsabilidades e a punição dos seus autores, sob pena de se alastrar e agravar a impunidade reinante entre os mais poderosos, ampliar a descredibilização da justiça e degradar o regime democrático.

O Comité Central do PCP considera que o combate decidido à grande criminalidade no nosso País reclama a concretização não só de meios acrescidos ao serviço da investigação e o reforço e autonomia dos magistrados do Ministério Público, mas também de medidas urgentes, no plano legislativo, designadamente o levantamento do sigilo bancário e a criminalização do enriquecimento ilícito.

Em relação à evolução da situação económica e social, a realidade demonstra, ao contrário do que afirma a propaganda, que não está em curso nenhum processo de «recuperação económica» e muito menos de «saída da crise». Isso está bem patente, nomeadamente nos elevados valores do desemprego, no quadro de recessão económica que se mantém e com uma quebra significativa do PIB pelo segundo ano consecutivo, no perigoso endividamento do País, bem como no um ritmo vertiginoso dos encerramentos, das falências e das deslocalizações de empresas, dando continuidade ao desastroso processo de destruição da produção nacional.

Apesar de ainda não se conhecer a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, as medidas já anunciadas pelo Governo revelam a mesma insensibilidade social de sempre, nomeadamente: contenção salarial; recusa de alargamento dos critérios de acesso ao subsídio de desemprego; aumentos irrisórios das pensões e reformas; congelamento de todas as prestações sociais, desde o subsídio de desemprego ao abono de família.

Uma governação que ensaia já novas justificações para a imposição de mais sacrifícios aos trabalhadores e ao povo em geral designadamente, a necessidade de controlar o «défice das contas públicas» à custa da redução dos salários e direitos dos trabalhadores da Administração Pública, cortes nas prestações sociais, encerramento de serviços e novas privatizações.

Em contraste, diariamente são divulgados os números chocantes dos lucros dos principais grupos económicos nacionais. A situação na banca é um escândalo. Beneficiando de garantias do Estado, os cinco principais bancos tiveram, nos primeiros nove meses deste ano, lucros superiores a 5 milhões de euros por dia.

Lucros colossais que, no conjunto de algumas das principais empresas estratégicas do País – banca, EDP, REN, GALP, PT, Brisa –, alcançaram mais de 3 000 milhões de euros de lucros neste período que evidenciam. Uma situação que dá conta da dimensão crescentemente parasitária, especulativa e lesiva dos interesses nacionais, da actuação do grande capital.

O Comité Central reafirma a necessidade de uma resposta urgente para os problemas que atingem milhares de pessoas e que resultam de políticas erradas, designadamente do processo de avaliação dos professores e do conjunto dos trabalhadores da Administração Pública, da situação de estrangulamento financeiro do ensino superior, da falta de meios e de condições de trabalho das forças de segurança e da degradação do Serviço Nacional de Saúde, entre outros.

Sem desvalorizar as manobras do Governo para procurar obter a base política de apoio para prosseguir uma política contrária aos interesses dos trabalhadores e do povo, o Comité Central do PCP sublinha o papel essencial e acrescido que a luta de massas assume no actual quadro, para condicionar e influenciar o processo político, limitar novas ofensivas e ataques a direitos, corrigir injustiças.

Assumindo-se como uma força portadora de um claro projecto de ruptura e mudança, o PCP respondendo às exigências que a situação do País comporta, inscreve como objectivos centrais para a sua intervenção política a luta pela valorização dos salários, incluindo pelo aumento do Salário Mínimo Nacional, o aumento das pensões de reforma, a defesa do emprego e do trabalho com direitos, a revogação das normas mais gravosas do Código do Trabalho e da legislação laboral da administração pública, o combate à precariedade.

Tal como coloca como um imperativo da sua acção, entre outros, a exigência da defesa da produção nacional, associada a um elevado nível de investimento público reprodutivo, a defesa de uma política fiscal que promova as suas funções redistributivas e de justiça social, bem como a defesa da escola pública, gratuita e de qualidade, a valorização do Serviço Nacional de Saúde, o acesso à Justiça e o direito à segurança dos cidadãos.

O Comité Central aprovou uma Resolução visando o reforço da organização partidária, dando corpo aos objectivos do seu reforço apontados pelo XVIII Congresso do PCP e sob a consigna «Avante! por um PCP mais forte».

Decidiu para o primeiro trimestre de 2010 uma grande Campanha Nacional, envolvendo toda a estrutura partidária, de contacto e esclarecimento dos trabalhadores e da população, enquadrada na defesa do emprego, do trabalho com direitos e no combate à precariedade.

Realçou a importância da realização IX Congresso da JCP, marcado para os próximos dias 22 e 23 de Maio, sob o lema «Com a luta da Juventude: construir o Futuro!» e apela a todas as organizações e membros do Partido para que se empenhem no seu êxito.

Foi ainda decidida a realização da 34ª edição da Festa do Avante! nos dias 3, 4 e 5 de Setembro de 2010 e chama desde já a atenção para a necessidade da preparação do calendário de iniciativas do próximo ano, nomeadamente a evocação dos 120 anos do 1º de Maio, que constituirá uma oportunidade para afirmar os direitos dos trabalhadores como uma conquista civilizacional construída por gerações de operários e todos os trabalhadores de todo o mundo.