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Relatório Anual de Segurança Interna de 2006 - Intervenção de António Filipe na AR
Quinta, 24 Maio 2007

Relatório Anual de Segurança Interna de 2006

 

Sr. Presidente,
Sr. Ministro da Administração Interna,
Srs. Secretários de Estado,

Começo, naturalmente, por saudar o Sr. Ministro pela sua primeira presença na Assembleia da República nessa qualidade e por referir o que é uma evidência. O Sr. Ministro da Administração Interna vem aqui apresentar um relatório relativo a um tempo em que a responsabilidade governativa pertenceu a uma outra pessoa que, como se sabe, é agora candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Não será por isso, contudo, que transformarei esta intervenção num comício de campanha para as eleições autárquicas de Lisboa. Não o farei, até pelo facto de não estar cá o candidato para se poder defender. Vou ater-me, portanto, ao Relatório Anual de Segurança Interna que é hoje apresentado.

Começarei por lhe dizer que o PCP nunca alimentou sentimentos de alarmismo relativamente à criminalidade.

Entendemos, de facto, que em matéria de segurança e de tranquilidade dos cidadãos, transformar a preocupação da população, que é justa, em alarmismo não conduz a nada de bom. Nós não somos defensores de Estados policiais e, como tal, não alimentamos esse tipo de campanhas.

Temos, contudo, preocupações que este Relatório legitima e que devem ser aqui debatidas com toda a seriedade. Entendemos que o direito dos cidadãos à segurança é também um direito fundamental inseparável do direito à própria liberdade. Entendemos que a liberdade e a segurança são direitos inseparáveis.

Ora, este Relatório de Segurança Interna dá conta de um aumento global da criminalidade de 2%. Ontem, o Sr. Ministro do Trabalho, aqui neste Plenário, considerava que um crescimento da economia de 2% era um sucesso extraordinário e que esse valor de 2% era, de facto, muito significativo. Se eu quisesse seguir o mesmo raciocínio, diria que este aumento da criminalidade também seria espectacular.

Mas não é! Assim como o da economia, este aumento de 2% também não é espectacular. Não deixa, contudo, de suscitar alguma preocupação, tanto mais que em anos anteriores a criminalidade tinha diminuído.

Como tal, este Relatório dá conta de uma diferente tendência. Enquanto os dois Relatórios anteriores, o de 2004 e de 2005, apontavam para um decréscimo da criminalidade, este inverte essa tendência, voltando a criminalidade, pela primeira vez desde há três anos, a crescer.

Claro que há crimes cuja incidência diminuiu e outros cuja incidência aumentou, em alguns casos de forma muito significativa. Creio que é importante que nos centremos precisamente nos que registam uma evolução anormal para que possamos reflectir sobre o que isso significa e sobre que medidas é necessário tomar para que essa tendência seja invertida.

Verifiquemos, então, que tipos de crime registaram um aumento acima da média. Temos, desde logo, a violência doméstica, com um aumento de 30%, o furto de veículo, que aumentou 4,8%, o furto em residências, com um aumento de 6,7%, e a condução sem habilitação legal, que aumentou 22%.

Temos aqui dois tipos de crime, a violência doméstica e a condução sem habilitação, cujo aumento se deve, segundo o Relatório, a uma maior sensibilização para esta tipologia criminal e, no caso da condução sem habilitação, a uma maior fiscalização. Mas a verdade é que estes argumentos também dão a ideia de que existia a este respeito uma gigantesca cifra negra. De facto, se aumentamos a fiscalização sobre a condução sem habilitação legal e esse tipo de infracção aumenta 22% e se a maior sensibilização para a violência doméstica corresponde a um aumento de 30% na criminalidade registada, isto danos a ideia de que havia uma realidade que permanecia oculta, que começa agora a aparecer à luz do dia e que exige medidas muito significativas. Na verdade, estamos perante fenómenos que têm uma especial incidência, tendo de ser tomadas medidas para os combater.

Relativamente à criminalidade violenta, verificamos que o seu aumento é de 2%, correspondendo ao aumento de criminalidade global, e que o homicídio voluntário aumentou 20,5%, que o rapto e o sequestro

aumentaram 26,9%, que o roubo na via pública aumentou 13,5%, e que o roubo a motorista de transporte

público aumentou 51,7%. Este aumento superior a 50% é um aspecto que merece atenção. Nós

sabemos que este é um tipo de crime que não apresenta números absolutos muito elevados, mas este

aumento de 50% do roubo a motorista de transporte público dá-nos a ideia de estarmos perante o aparecimento

de um novo tipo de criminalidade e de um aumento muito significativo da sua incidência. Importa, portanto, saber que medidas específicas vão ser tomadas para debelar este tipo de crime e para o prevenir.

A distribuição geográfica da criminalidade dá conta de um aumento superior à média nacional nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal, o que significa que é nas áreas urbanas do litoral que este aumento se verifica. Tal, obviamente, não pode deixar de merecer reflexão, sobretudo no momento em que estão a ser reequacionadas e levadas à prática reestruturações territoriais em matéria de forças de segurança que incidem precisamente nestas áreas.

Por outro lado, já aqui foi referida a preocupação com a criminalidade global que, obviamente, regista um aumento significativo para o qual não podemos deixar de chamar a atenção. Há, portanto, suficientes elementos de reflexão relativamente ao que é necessário fazer.

Estas áreas geográficas em que aumentou a criminalidade são aquelas em que, do nosso ponto de vista, se exige um policiamento mais capaz em termos de proximidade. Há uns anos atrás, particularmente quando o Sr. Ministro foi Secretário de Estado da Administração Interna, o governo enfatizava muito a necessidade do policiamento de proximidade, particularmente nestas zonas. Esse discurso foi, contudo, largamente abandonado, como o foram os programas mais ou menos emblemáticos, que, tendo começado com a «Escola Segura», se estenderam aos idosos, aos comerciantes e às farmácias, completando uma colecção enorme. Aliás, se alguns destes programas foram muito escassamente dotados de meios, a sua avaliação ainda não foi feita. De facto, não basta dizer que se tem um programa dirigido para o comércio. É também necessário verificar se esse programa atingiu minimamente os seus objectivos, o que não foi feito.

Como tal, era importante que se verificasse que melhoramentos houve em termos de policiamento de proximidade e que se definisse o que vai ser feito para que este aumento da criminalidade acima da média nas áreas urbanas não se repita e não continue a agravar-se nos próximos anos.

Terminarei, Sr. Presidente, expressando a nossa preocupação com o facto de estar prevista uma concentração de poderes sem precedentes em matéria policial com a criação do Sistema Integrado de Segurança Interna. Parece-nos que este é um mau caminho. Não somos defensores de um Estado policial e preocupa-nos que haja tendências de excessiva concentração de poderes numa matéria tão sensível como esta que estamos a discutir.

 

 

 

 

 

 

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