O Projecto de
Resolução Política em debate dedica, em relação a anteriores
congressos, muito menos palavras à imprensa partidária. Não porque
tenham desaparecido os problemas fundamentais com que a imprensa
comunista se depara, nem que a situação geral da comunicação que
enquadra o nosso esforço se tenha alterado. Com efeito, a comunicação
social, no nosso País, encontra-se de novo, no essencial, nas mãos
de um punhado de grupos económicos, ou pela mão do Estado, a caminho
de mãos privadas e ricas.
A imprensa partidária age num quadro de acentuada
desproporção de meios face à esmagadora pressão de uma
comunicação social manipuladora, e que contribui para a
alienação das consciências. A notícia já não é o facto que
interessa e a verdade que se comunica, mas o produto que se vende
e faz vender, a promoção espectacular de ideias que conduzam à
desmobilização e à descrença nas potencialidades de intervenção
na transformação do mundo.
Aumenta assim a importância do papel da imprensa dos
comunistas. Porém, ao mesmo tempo que crescem os meios à
disposição da comunicação social ao serviço do capital e da
ideologia que defende e quando tanto dinheiro é gasto na imagem
promocional em que tal produto é fornecido, mantêm-se, do nosso
lado, os sérios problemas assinalados no anterior Congresso
— dificuldades financeiras decorrentes dos altos custos de
produção e de distribuição; deficiências, dificuldades e subestimações
das organizações em relação à distribuição e promoção da nossa
imprensa.
É certo que conseguimos, neste quadro de dificuldades,
corresponder a algumas das linhas de actuação então apontadas
— melhorar o trabalho de informação para o «Avante!»,
por parte de algumas organizações do Partido, o que se
reflectiu positivamente na diversidade e qualidade do noticiário;
diversificar as colaborações para o «Avante!» e «O
Militante». Deu-se mais atenção às questões da juventude,
resultado de uma maior colaboração entre o órgão central do
Partido e a JCP, apesar de considerarmos que ficámos aquém das
possibilidades abertas neste domínio.
O número de palavras dedicadas à imprensa partidária não
significa menor importância dada a esta vertente do nosso
trabalho militante. Mais vale sermos modestos nos nossos
objectivos que prometer o que se afigura difícil de concretizar,
parecem dizer-nos as Teses. A pobre não prometas, como diz o
nosso povo. Não se deixa, entretanto, de pedir a todos um maior
esforço, e nesse esforço é necessário muito empenhamento e
alguma audácia.
Esforço para tornar mais atraente o conteúdo e a
apresentação gráfica do «Avante!» e de «O Militante»
— como referem as Teses —, embora, neste âmbito, sejam
de registar as melhorias introduzidas e de assinalar que não será
no fundamental por questões de aspecto que se poderá conseguir
um maior interesse por publicações tão diferentemente
colocadas no quadro geral da comunicação social. A
diversificação temática e um melhor trabalho a levar a cabo
nomeadamente pela Redacção, e o reforço das ligações da
nossa imprensa com as organizações do Partido e com a actividade
dos comunistas nos mais diversos aspectos da vida política, social
e cultural, são elementos fundamentais a considerar para o alargamento
da sua difusão. Necessário se torna também que a colaboração
de camaradas, ligados às várias frentes e sectores de actividade
do Partido, reflictam nas páginas da nossa imprensa a riqueza dos
conhecimentos e experiências de trabalho dos comunistas, o seu
saber e opinião.
Neste momento de dificuldades, é, contudo necessário
sublinhar a escassez dos meios humanos, técnicos e financeiros,
muito reduzidos face às necessidades.
O segredo para a resolução do que aparentemente se apresenta
como um círculo vicioso — melhorar para divulgar mais
para conseguir mais meios para melhorar — reside no
assumir, como responsabilidade de todo o Partido, a tarefa de
apoiar uma mais ampla difusão da nossa imprensa.
Neste ano de aniversários e neste Congresso, seria bom
recordar o papel que a nossa imprensa tem tido ao longo dos
tempos.
Aqui há meses, numa sessão comemorativa do «Avante!», em
Montemor, um velho camarada, que ainda se dedica à difusão do
órgão central do PCP, lembrou os tempos da ditadura fascista,
quando ainda era jovem e caminhava alguns quilómetros para ir
ouvir ler o «Avante!», nos campos, à luz de uma vela, e
tornava pelo mesmo caminho com alguns exemplares que depois
distribuía.
O que é que fazia este camarada palmilhar quilómetros?
Decerto o empenhamento em participar no trabalho partidário, em
militar na organização do Partido, em difundir a voz do Partido
junto dos outros trabalhadores. Mas também o vivo interesse em
ouvir, já que não sabia ler, as notícias verdadeiras, em
conhecer a orientação e as propostas do Partido. Nessa época,
o «Avante!» era o único jornal livre da censura fascista. E
por essa voz se fizeram sacrifícios e se deu a vida.
Hoje, nem sequer é necessário fazer de autocarro tantos
quilómetros a buscar a imprensa. Enterrado há muito o fascismo,
não deixa de haver entretanto novas, graves e numerosas ameaças
aos direitos e às próprias liberdades. De novo, e infelizmente,
o «Avante!» é o único jornal de esquerda de expansão
nacional. As nossas responsabilidades são acrescidas no domínio
da informação e na divulgação dela. À Redacção, sob a
orientação da Direcção do Partido, cabe trabalhar melhor. Às organizações,
cumpre assumir a responsabilidade de elevar a compreensão dos
militantes sobre o papel da imprensa partidária como «precioso instrumento
de formação e informação na luta das ideias», fomentando a sua
leitura, responsabilizando novos camaradas pela sua
distribuição, dinamizando por diversos modos a sua
divulgação.