Caros camaradas
Caros amigos
Estimados convidados nacionais e estrangeiros
Agradeço e saúdo a vossa presença solidária
assim como quero saudar fraternalmente todos os camaradas delegados e,
pelo vosso intermédio, saudar todo o generoso colectivo partidário
que é constituído por várias gerações
de comunistas que forjaram, implantaram e consolidaram este grande Partido,
o Partido Comunista Português.
Estando certo que interpreto o sentir dos delegados e do colectivo partidário,
quero daqui saudar calorosamente o camarada Álvaro Cunhal que,
por razões conhecidas, não pode estar neste Congresso, mas
que nos enviou uma saudação, bem como os camaradas delegados
Dias Lourenço, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Vitoriano,
Sérgio Vilarigues, e por seu intermédio todas as camaradas
e sublinho todas as camaradas e todos os camaradas que, vindos da luta
clandestina, estão felizmente connosco prosseguindo a nossa luta
comum.
Camaradas:
Chegamos ao Congresso após um amplo processo de preparação
que envolveu na sua participação muitos milhares de membros
do Partido, num ambiente de serenidade e de reflexão, mas também
de vivacidade e frontalidade, e que trouxeram para o debate as suas opiniões
e propostas escritas e orais.
Fizemo-lo sem deixar de dar resposta à situação
política. E num processo e numa metodologia de envolvimento e participação
dos militantes, pois ao contrário de outros partidos, o nosso Congresso,
com toda a sua importância e significado, é um ponto de chegada
e de apuramento final de um largo debate e também um momento de
prestação de contas e de testemunho da actividade das diversas
organizações e áreas de trabalho partidárias.
Um processo em que a análise sobre a evolução política
e a actividade partidária pode ser feita sem o embaraço
de ter que esconder posições e atitudes políticas
assumidas no passado recente e sem a necessidade de apagar um rasto de
incoerências para credibilizar a acção futura.
Um processo em que a definição da orientação
política é construída a partir da análise
aprofundada da situação e da contribuição
dada pela reflexão e opinião do colectivo partidário,
polarizada na procura das melhores respostas do partido à situação
e realidade políticas e às tarefas para lhe responder e
não na mera base de disputas pessoais ou de guerras de “personalidades”.
Um processo participado por membros do Partido iguais em direitos e deveres,
de que a resultante é a soma da contribuição de cada
um desses membros, na diversidade dos seus conhecimentos, experiência
de vida ou formação.
Um processo em que a construção das soluções
de direcção resulta de um largo exame colectivo de propostas,
de observações, de consultas a organismos e organizações
e de reflectida avaliação sobre cada quadro e não
de uma escolha ditada pela vontade de um único dirigente ou de
um chefe do partido, de acordo com o seu círculo de simpatias,
ambições ou interesses pessoais.
De uma coisa podem os delegados ao nosso Congresso, a comunicação
social e o país inteiro ficarem certos: há de facto coisas
que, por mais voltas que o mundo dê, não tencionamos mudar
nem copiar de outros partidos e, por isso, tal como aconteceu nos anteriores
dezasseis congressos do nosso Partido, também neste XVII Congresso,
não passará nenhum filme contando a vida desde pequenino
de qualquer dirigente do PCP e não será estreado nenhum
novo hino com hossanas e referências a qualquer dos seus dirigentes.
Camaradas:
O debate preparatório confirmou desde a sua primeira fase iniciada
em Fevereiro uma significativa vontade de contribuição para
a reflexão colectiva. As muitas opiniões, análises
e reflexões feitas chegar na primeira fase do debate preparatório
incorporadas no projecto de Resolução Política posto
à discussão e as propostas escritas de alteração
que daqui resultaram, revelam o interesse e envolvimento de milhares de
militantes do Partido. Mesmo da parte daqueles camaradas que, por razões
várias, não tiveram possibilidade ou não puderam
ler os documentos ou que, por diversas razões, não redigiram
textos de alteração, a verdade é que se obteve pela
sua participação, pelas opiniões que expressaram
e pela experiência pessoal que trouxeram, uma importante contribuição
ao debate e elementos de enriquecimento às análises e propostas
que a direcção do Partido adiantou para discussão.
Um debate que mobilizou todas as organizações, realizado
de Norte a Sul do continente, nas Regiões Autónomas e na
emigração, centrado na discussão colectiva em reuniões
e assembleias plenárias mas adicionada também pela contribuição
individual feita chegar através das páginas do Avante ou
do «sítio internet» do PCP. Um debate que na segunda
fase também se expressa nas mais de 1 100 propostas de emenda ao
projecto de Resolução Política e de alteração
aos Estatutos. Um debate que expressou ainda o esforço feito para
levar o mais longe possível a participação democrática
e a intervenção dos membros do PCP traduzidas nas mais de
1 200 reuniões e iniciativas realizadas para debate das Teses e
nas largas centenas de assembleias electivas no âmbito da preparação
do Congresso, a que se somaram muitas outras decorrentes da actividade
normal das nossas organizações e da sua resposta à
política do governo.
Com isto não queremos dizer que temos uma visão de perfeição
e de auto-satisfação, que não devemos examinar as
formas de envolver mais e mais militantes, de tornar mais acessível
e menos extenso o projecto de Teses a debater, de combatermos rotulações
e classificações em vez do debate de ideias ou qualquer
deriva de mando, de autoritarismo ou de imposição de ideias,
que por vezes ainda se manifestam. Também a questão do aprofundamento
da nossa democracia interna e do controlo do exercício do poder,
a todos os níveis, tem que estar sempre presente. Mas é
uma evidência que isto nada tem a ver com aqueles que se colocam
à margem das regras do funcionamento do Partido que aprovaram,
procurando através dos factos consumados ou da comunicação
social que a maioria se submeta às suas posições
que não fizeram vencimento. É de relembrar que o nosso Congresso
não se confina a um mero processo eleitoral e muito menos a um
processo eleitoral guiado pelos “medias”. E vale a pena também
reafirmar que os delegados ao XVII Congresso, democraticamente eleitos
pelos militantes do partido, com inteira liberdade de opinião e
de voto, exercerão a soberania de decisão que os Estatutos
em vigor e o Regulamento aprovado lhes conferem.
Por isso, quero daqui saudar todos os membros do Partido e todos os que
deram o seu contributo na preparação deste Congresso, por
mais modesto que tenha sido; todos os que defenderam os seus pontos de
vista, quer eles tenham sido de concordância ou de crítica
ao projecto de Resolução Política que esteve em debate
ou à actividade da Direcção; todos os que legitimamente
nos fizeram chegar a sua preocupação ou discordância
sobre tal ou tal questão ou solução em apreço;
todos os que exerceram plenamente os seus direitos e responsabilidades
de membros do Partido.
Desde que anunciamos a data e a preparação do Congresso,
sabíamos igualmente que se iriam intensificar as linhas de intoxicação,
que de fora para dentro do Partido sempre procuram a perturbação
e a divisão e que, com o anúncio de que deixaria as funções
de Secretário-geral neste Congresso, iríamos assistir ao
relançamento de intrigas e especulações e às
rotulações sobre os dirigentes do PCP. Na verdade, desde
que anunciamos a preparação de um Congresso, não
têm faltado os analistas encartados e sobretudo dos que mais se
têm distinguido no anticomunismo a manifestarem a sua preocupação
com o reforço do PCP, dando múltiplos conselhos e apontando
os caminhos radiosos que o PCP deveria seguir. Um tal desvelo, uma tal
preocupação, e sobretudo vindos de quem vêm, não
pode deixar de merecer da nossa parte os melhores agradecimentos designadamente
pela clareza com que revelam as suas intenções. E, como
é evidente, não estamos a falar em nenhuma “campanha”
contra o PCP e muito menos em qualquer famosa “cabala não
intencional” do não menos famoso ex-ministro dos Assuntos
Parlamentares. Estamos a falar, como se sabe, de gente preocupadíssima
com a saúde do PCP!...
Outros, sobre diversas formas, voltaram a repetir o velho e falso “dilema”
da morte anunciada do Partido! Se o PCP se renova fica igual aos outros.
E, como entre a cópia e o original, é sempre preferível
o original a sua sorte é o desaparecimento. Se o PCP se mantém
“puro e duro” inadaptado à mudança, fora da
“modernidade”, como eles dizem, a sua sorte é também
o desaparecimento, eventualmente de forma mais lenta, acrescentam...
Copiando-se uns aos outros numa magnífica originalidade, quem
o afirma são em muitos casos os que não querem aparecer
como anticomunistas primários. Mas o que eles estão a dizer
sem se darem conta ou sem o assumirem, é que o PCP faça
o que fizer não tem lugar na sociedade portuguesa. Está
condenado à morte, à morte rápida ou à morte
lenta! Com as derrotas do socialismo a Leste, o que estes querem inculcar
sem o assumirem é a velha tese de que não há lugar
para os partidos comunistas. Não são necessários.
E o que está subjacente a esta afirmação é
a concepção, também não assumida, de que não
há alternativa ao capitalismo. É a concepção
do capitalismo como fim da história. Como para estes não
há alternativa ao capitalismo, o PCP não é necessário.
Para “melhorar” o capitalismo, para servir o capital financeiro
e as classes possidentes, quando a direita está desgastada, têm
o PS e a social-democracia, campeões das privatizações,
do neoliberalismo e que não põem em causa, antes pelo contrário,
a privatização de empresas básicas e estratégicas.
Para estes o rotativismo chega-lhes. A sua concepção de
“esquerda” fica por aqui: lutar em discurso por um capitalismo
bonzinho, mais “humano”, com os trabalhadores e os povos resignados
à concentração da riqueza, à dominação
e à exploração.
Não querem entender nem ver que, para o PCP a renovação,
não é a da capitulação ideológica ou
da adaptação e submissão face à ofensiva neoliberal
e à agressividade do imperialismo. Para o PCP, “renovar”
é uma exigência para quem quer transformar a sociedade: renovação
em oposição ao rotineirismo e às soluções
gastas, renovação nos métodos, nas análises,
nas respostas aos novos problemas, renovação dos seus quadros
e dirigentes.
Por mais que tomem os desejos pela realidade, este partido que luta pela
transformação social, que não se rende ao capitalismo,
que se bate pela satisfação das aspirações
populares mais prementes e reivindicações imediatas continua
a inscrever na sua luta, o socialismo como futuro de Portugal; este Partido
que enfrenta o grande capital e a política de concentração
de riqueza, que combate a política de direita, seja ela conduzida
pelos partidos de direita seja pelo PS, é um Partido necessário
e imprescindível à classe operária, aos trabalhadores
e ao país e com fortes e sólidas raízes populares.
O “dilema” que estes deviam explicitar é o dilema
alternativa ou alternância. Isto é, o dilema da social democracia
que veste a roupagem de esquerda no verbo quando está na oposição
e imita a direita e pratica o neoliberalismo quando chega ao poder. Razão
pela qual a alternância não tem passado no fundamental, de
uma mudança de caras, isto é, de um rotativismo sem alternativa.
Não haverá alternativa sem o PCP. O que não dizem
os sofistas do “dilema” é que o PCP é o grande
obstáculo à política de direita, a força que
nas lutas sociais e políticas combate com firmeza, coerência
e determinação o bloco central de interesses. O que não
dizem tais profetas do anticomunismo, resignados ou acomodados no sistema,
é que o PCP é a grande força política mobilizadora
de vontades, de energias e da luta. O que não dizem tais instalados
no rotativismo e no verbalismo tribunício é que nenhum outro
partido substitui o PCP e o seu papel na luta de massas em defesa dos
interesses dos trabalhadores, do povo e do país. O que não
dizem os “velhos do Restelo” é que o PCP ao contrário
de outros, não se limita à luta institucional nem anda atrás
do se que diz ser modernidade ou que pode ser mediático ou que
estreleja como os foguetes, porque para o PCP o que conta é a resolução
dos problemas concretos das populações e do povo e o que
é moderno e serve o povo não é a crescente subordinação
do poder político ao poder económico e designadamente ao
poder económico estrangeiro, mas sim a defesa da soberania nacional,
a defesa dos «centros de decisão nacionais» e o aprofundamento
da democracia em todas as suas vertentes. Digam o que disserem os teólogos
e os “Bin Laden’S” do «Pensamento único»
que sustentam a pretensa eternidade e superioridade do capitalismo, o
que é moderno e serve o povo é ter a coragem de lutar pela
emancipação dos trabalhadores. De lutar pela construção
de novas sociedade libertas da exploração do homem pelo
homem.
O que é moderno e tem futuro, não é a apropriação
dos recursos e riquezas, mundiais ou nacionais, por uma minoria de privilegiados,
não é a dominação dos interesses do grande
capital sobre os povos e países através de guerras preventivas,
processos neocoloniais e trocas desiguais à custa de trágicos
e incontáveis sofrimentos, humilhações e ofensas
à dignidade dos seres humanos, mas a coragem de proclamar o Homem,
os seus direitos, as suas aspirações, a sua dignidade e
a sua felicidade como eixo central da organização das sociedades
e de definição das respectivas políticas.
II
Um outro mundo é possível
Camaradas, o XVII Congresso do PCP, como se afirma no projecto da Resolução
Política realiza-se no contexto de uma violenta, agressiva e generalizada
ofensiva do imperialismo que conheceu após os atentados do 11 de
Setembro um novo e perigoso desenvolvimento.
Hoje sabe-se com mais clareza, que o 11 de Setembro deu um pretexto ideal
à Administração Bush e aos seus falcões para
estabelecer a doutrina da guerra preventiva, invadir o ocupar o Iraque
e com um cinismo notável tirar partido do traumatismo psicológico
na sociedade americana para aumentar o orçamento militar, avançar
com a repressão interna e a limitação de liberdades
através da aprovação do “Patriot Act”
e outras leis criando uma situação de suspeição
generalizada.
Hoje sabe-se com mais clareza, que antes do 11 de Setembro a Administração
Bush já planeava ocupar o Iraque, para deitar mão ao petróleo
e controlar aquela importante área estratégica.
Hoje sabe-se também com mais clareza que a guerra de ocupação
foi feita sob a mentira, pois os dois argumentos invocados eram falsos.
Não havia no Iraque armas de destruição massiva,
nem se provaram as ligações de Saddam a Bin Laden.
Mas foi na base da mentira e de provas e relatórios forjados para
vender a guerra à opinião pública que o imperialismo
americano e os seus vassalos, entre os quais se conta o governo do PSD/CDS-PP,
invadiram e ocuparam o Iraque depois de intensos bombardeamentos com a
morte de milhares de civis e a destruição das infraestruturas
do país.
A instilação do medo, a hipocrisia e a mentira foram a
base para declarar a guerra e são a base da doutrina oficial do
imperialismo para novas agressões.
A mentira dos relatórios falsificados, a mentira das ridículas
provas de Colin Powell apresentadas no Conselho de Segurança, classificadas
por Hans Blix como falsificação grosseira, a mentira de
que Saddam estava a matar prisioneiros a sangue frio como jurou esse grande
vulto da esquerda renovadora e moderna, que dá pelo nome de Tony
Blair. Até a libertação heróica da soldado
Jessica Linch foi uma inqualificável encenação.
E como se viu também, mesmo logo a seguir à invasão
e à ocupação, ao contrário do que vaticinava
o cínico Donald Rumsfield, não houve nem deserções
em massa do exército iraquiano, nem levantamentos populares contra
o regime, nem o exército da coligação foi recebido
com flores e aplausos. Não tardou sim em ser recebido à
bomba e a ter de se enclausurar nos quartéis. Desde que Bush declarou
a guerra como acabada, não cessaram os atentados, os bombardeamentos,
as destruições em massa.
As sevícias físicas e sexuais, os tratamentos sádicos
infligidos a vários prisioneiros em Abou Ghraib, e também
em Guantamano e nas prisões secretas no Afeganistão põem
a nú a hipocrisia americana da construção no Iraque
de uma democracia fundada sobre o respeito dos direitos humanos. Fundada
à bomba, como se vê em Falluja numa política de terra
queimada e destruição, com o silêncio da chamada comunidade
internacional que só acordou agora com as cenas de horror das imagens
dos disparos sobre um iraquiano ferido e desarmado!
Ao contrário do que dizia Bush, não há nem estabilidade,
nem democracia no Iraque, nem estabilização do mercado petrolífero
– o barril atingiu valores elevadíssimos–, nem o mundo
está melhor e mais seguro, como é reconhecido em vários
quadrantes políticos.
O império com toda a arrogância prossegue a guerra no Iraque,
ameaça outros Estados, acentua as ingerências e o bloqueio
a Cuba, multiplica as ingerências na Venezuela e deu carta branca
a Sharon para continuar a construção do muro na Cisjordânia
e para continuar com os massacres dos palestinianos. E agora, EUA e Israel,
que já não têm sequer o pretexto do dirigente histórico
do povo da Palestina, Yasser Arafat, a quem prestamos homenagem, dizem
cinicamente que vão relançar o “Roteiro para a Paz”!
Nós, daqui deste nosso XVII Congresso, saudamos o povo palestiniano
e exigimos o fim da ocupação da Palestina, dos colonatos,
do muro do appartheid e o relançamento do diálogo, que se
concretize numa solução justa para o Estado da Palestina
e a vivência em paz e segurança dos povos israelita e palestiniano.
Nós, daqui deste nosso XVII Congresso, saudamos igualmente todos
os povos em luta, todos os povos vítimas do imperialismo e manifestamo-lhes
a nossa activa solidariedade.
É também com base na mentira continuada e na esfarrapada
desculpa da farsa das eleições em Janeiro, que o governo
de Santana/Portas decidiu prolongar a missão da GNR no Iraque.
Como se vê, para prolongar e reforçar as missões militares
no Iraque, no Afeganistão, ou no Kosovo, já não há
falta de dinheiro!
Com a derrota das experiências de construção do socialismo
a leste, o imperialismo, nomeadamente a potência hegemónica,
os EUA, ficaram com as mãos mais livres. O seu sonho é o
domínio planetário. Mas não têm as mãos
totalmente livres. Têm pela frente o combate, a resistência,
a intervenção e a luta das forças progressistas,
dos trabalhadores e dos povos. As grandes manifestações
concertadas a nível mundial pela paz, contra a guerra, por exemplo,
constituíram um facto novo e mostraram as potencialidades de resistência
e de luta.
O “movimento antiglobalização” contra o neoliberalismo
e a guerra, apesar do seu carácter social e politicamente diversificado,
tem mostrado, objectivamente uma orientação anti-imperialista
e anti-capitalista.
É cada vez maior a consciência entre as massas de que a
globalização neoliberal, isto é, que a globalização
capitalista, condena milhões de seres humanos a uma pobreza extrema,
à polarização da riqueza como nunca se viu, à
destruição ou submissão dos aparelhos produtivos
e industriais dos países de economias mais débeis, realizando
uma “pilhagem planetária”. Com a liberdade de circulação
de capitais, o grande capital passou a dispor de um elemento de domínio,
de liquidação de actividades produtivas nos países
com economias mais débeis e de chantagem através das deslocalizações
dos investimentos, dando-se ao luxo de pôr em disputa países
e escolher o que lhe dá mais condições e subsídios.
Simultaneamente impõe uma troca cada vez mais desigual e utiliza
o garrote da dívida externa.
Para essa pilhagem o imperialismo dispõe também de instituições
internacionais com os seus aparelho ideológicos, as suas redes
de influência e de pressão, com os seus meios e acções
próprias e que vão difundindo o “Pensamento único”
assente nos dogmas e na teologia do neoliberalismo, nos “dez mandamentos”
do consenso de Washington e na santificação dos mercados:
o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE)
e a Organização Mundial do Comércio (OMC). A ideologia
do neoliberalismo é também difundida pelo G8 – o clube
dos ricos e pelo Forúm de Davos – reproduzida e papagueada
nas universidades, nos meios da comunicação social e por
comentadores económicos. Estas instituições são
poderosos instrumentos de domínio ideológico, de submissão
e estrangulamento das economias. Já alguém disse que Mac
Namara matou mais seres humanos à frente do Banco Mundial do que
como secretário da Defesa dos EUA em relação aos
massacres do Vietname.
O G8 e designadamente os EUA dominam as instituições financeiras
internacionais, que constróem o quadro institucional da globalização
neoliberal tendo como um dos elementos fundamentais a OMC (Organização
Mundial do Comércio).
Todos vão martelando no tripé: estabilização,
liberalização, privatizações. Todos recitam
os “dez mandamentos do consenso de Washington” com a disciplina
fiscal, liberalização do comércio; privatizações;
desregulamentação e, último mandamento... direitos
de propriedade... Isto é, todos defendem o derrube dos diversos
obstáculos para que o peixe grande coma o pequeno e máximas
garantias para que o “peixe grande” possa regressar de onde
partiu mais gordo e anafado!
Face ao derrube de barreiras aduaneiras técnicas e fiscais e perante
a livre circulação de capitais, a competitividade é,
como já foi afirmado, erigida em “evangelho”. Para
sobreviver à concorrência, à guerra tecnológica,
industrial e comercial, dizem eles, há que baixar custos de trabalho,
e tudo fazer nas escolas, nos sindicatos, nas infraestruturas, nos impostos,
para que as empresas sejam competitivas à escala planetária.
Os evangelistas do “pensamento único” – alguns
economistas de renome, formatados nos EUA, Inglaterra, Japão, vão
codificando as ditas leis naturais da economia moderna...
Como é evidente, tudo isto é embrulhado com o objectivo
de promover o desenvolvimento e combater a fome no mundo.
Mas, como a vida nos mostra, há hoje cidadãos com património
e fortuna superior ao PIB de vários países. Nunca os ricos
estiveram tão ricos e os pobres tão pobres, apesar dos imensos
avanços científicos e tecnológicos, e da possível
criação de bens e serviços capazes de resolver os
problemas mais agudos da humanidade: uma pequena percentagem dos gastos
no armamento ou uma pequena percentagem sobre as operações
financeiras especulativas, ou uma pequena gota do que foge aos impostos
nos paraísos fiscais ou uma pequeníssima fracção
dos fabulosos lucros da droga e da economia criminosa resolveria esses
problemas. Tantos seminários, tantos congressos, tantas reuniões
da ONU, de governos, de igrejas, tantos votos pios. Se se quer garantir
os direitos humanos e resolver os problemas da fome e do subdesenvolvimento,
ataque-se onde se deve atacar. Veja-se o fosso colossal da sociedade de
informação em que 19% da população mundial
representa 91% dos utilizadores da internet a que se junta a fantástica
desigualdade de rendimentos – 25% da população dos
países ricos detêm 85% do rendimento mundial. E atente-se,
por exemplo, na recusa e boicote de propostas na declaração
final da Cimeira da ONU sobre a sociedade de informação
organizada pela União Internacional de Comunicações,
comparada por alguns com a Cimeira da Terra no Rio para o ambiente, em
que os países ricos e as grandes empresas recusaram financiar um
«Fundo de Solidariedade» para expandir as novas tecnologias
da informação nos países menos desenvolvidos. E quanto
a uma gestão multilateral da Internet, transparente e democrática
no seio de uma instância especializada das Nações
Unidas esta proposta foi recusada pelos EUA com o pretexto de que só
o sector privado garante que a Internet seja um instrumento de liberdade!
Precisamente em sentido contrário, a globalização
capitalista neoliberal continua a vender-se como a salvação
da humanidade e como os resultados não o demonstram, os teólogos
neoliberais vão repetindo os seus dogmas, dizendo que é
preciso mais, silenciando e perseguindo todos os heréticos, organizando
fóruns messiânicos, com os seus círculos de intelectuais
quimicamente puros, com as “trilaterais”, com os fiéis
promovidos a grandes sábios e catedráticos, pelas universidades
pertença dos grandes senhores do dinheiro.
Mas, como é evidente, não conseguem explicar a crescente
acentuação das desigualdades, as regressões democráticas
e sociais, os milhões de seres humanos condenados a uma vida miserável
ao lado da maior opulência, não conseguem explicar porque
é que o livre cambismo tem um sentido único, com os EUA
a serem o país mais proteccionista do mundo, nem porque se promove
o dumping social e ambiental, nem quais os direitos humanos dos milhões
de desempregados e dos civis mortos e estropiados da guerra preventiva
de Bush, nem dos “condenados da Terra” pelo sistema capitalista.
E como também é evidente em vez de combaterem o terrorismo
fomentam-no. Não se combate o terrorismo sem combater os seus mais
importantes factores, a fome, a acentuação das desigualdades,
o subdesenvolvimento, as injustiças sociais, a exploração
e a dominação.
Também não se combate o terrorismo com governos terroristas
que exercem cinicamente o terrorismo de estado, que determinam friamente
assassinatos selectivos como o fez o governo de Sharon.
Um intelectual americano disse recentemente que quem votou Bush, votou
no aumento do terrorismo sem o saber. Pensamos que é uma verdade,
sem esquecer que na maravilhosa democracia americana apenas 55% dos eleitores
exerceram o seu direito de voto.
Camaradas
O capitalismo não se libertou das suas crises, nem das suas taras,
nem da contradição antagónica entre o capital e o
trabalho, nem das políticas de exploração, opressão,
domínio, violência e guerra.
Como se afirma no projecto de Resolução Política,
a luta é o caminho. Nas actuais circunstâncias de grande
incerteza e instabilidade, as transformações progressistas
e revolucionárias que a alternativa ao actual estado de coisas
reclama, não serão fruto de esquemas e medidas preconcebidas,
nem de voluntarismos, mas das lutas de massas, das lutas das diversas
forças progressistas e revolucionárias de forma convergente
ou complementar, da dialéctica da luta revolucionária nos
planos nacional, regional e mundial.
III
Derrotar o governo PSD/CDS-PP
Camaradas e amigos:
Com diferenças que não se negam, mas sobretudo no mais
acessório, com graus e aprofundamentos diferentes, estes quatro
anos ficaram marcados nas questões mais essenciais e fundamentais
pela continuação das políticas de direita, quer com
o governo do PS quer depois com os governos do PSD/CDS-PP. Concentração
de riqueza, privatizações, submissão crescente do
poder político ao poder económico, aperto do cinto aos trabalhadores
e reformados, regressão e empobrecimento das diversas componentes
da democracia.
Como se afirma no projecto de Resolução Política,
o êxito eleitoral dos partidos de direita está indissociavelmente
ligado no essencial à política seguida pelos governos PS.
Num quadro de grande desencanto e descontentamento com a política
do governo PS e de uma ofensiva particularmente violenta contra o nosso
Partido, o PSD desenvolveu uma campanha populista, de promessas e mais
promessas que lhe deu a vitória.
Foi a promessa da baixa dos impostas, de melhoria dos salários,
do combate ao desemprego, do combate à fraude e à evasão
fiscal, foi a promessa de que, com o PSD, no governo, Portugal cresceria
dois pontos percentuais acima da média europeia acelerando a convergência
da nossa economia.
Depois tivemos o discurso de tanga. Corte cego na despesa pública.
Recessão. Desemprego. Encerramento e deslocalização
de empresas. Negociata das privatizações. Desresponsabilização
crescente do Estado das suas funções sociais. Escândalos
com diversos ministros que levaram às demissões de Isaltino
de Morais, Pedro Lince e Martins da Cruz.
A política do governo PSD/PP é a responsável pela
recessão do país e pelo seu aprofundamento e prolongamento.
A economia portuguesa em vez de convergir continua a afastar-se da média
europeia. Agravou-se a situação social.
O cartão vermelho dado à política governamental
nas eleições para o Parlamento Europeu, a crise que se seguiu
com o abandono do governo por Durão Barroso, a política
desastrosa que tinha sido levada a cabo exigia que a palavra fosse dada
ao povo.
O que se passou é conhecido. Contrariando-se um profundo sentimento
que se expressava na sociedade portuguesa, em nome de uma pseudo estabilidade,
decidiu-se indigitar Santana Lopes para o cargo de Primeiro-Ministro e
empossar um governo de involução na continuidade.
A estabilidade aí está, no aumento do desemprego, no agravamento
das dificuldades para milhares e milhares de famílias, na colocação
dos professores, na nomeação dos boys, na política
clientelar, na política orçamental, no continuado encerramento
de empresas e nas deslocalizações.
A estabilidade aí está nas demissões de secretários
de Estado e na remodelação ministerial que no dizer de Santana
Lopes não é uma remodelação, mas apenas, uma
reestruturação, um “re-arranjo”.
A estabilidade aí está, na situação de segurança
das populações principalmente nas áreas urbanas em
que tem aumentado a criminalidade e a criminalidade violenta e grupal,
com o silêncio comprometido de Paulo Portas. A estabilidade aí
está, na acentuação das desigualdades, no agravamento
da situação social, na dependência económica,
na venda ao desbarato de empresas públicas, no controlo crescente
da comunicação social e na desfiguração do
regime democrático!
Os casos da demissão do Director do Diário de Notícias,
da Direcção de Informação da RTP, o caso da
TVI – Marcelo, as ameaças directas e indirectas por membros
do governo a diversos órgãos de informação
e à Alta Autoridade para a Comunicação Social, as
preocupações com os acessores para a imprensa e a imagem
do Primeiro-Ministro pagos a peso de ouro, a luminosa central de informação
agora vetada pelo Presidente da República, são alguns exemplos
da política do governo de Santana Lopes no marketing político
e no controlo da Comunicação Social.
A grande tarefa do Ministro Morais Sarmento, tanto no governo de Durão
Barroso, como no de Santana Lopes, tem sido de facto o controlo dos órgãos
de comunicação social do Estado e de estabelecer através
dos favores, dos “acordos de cavalheiros” com os principais
patrões da comunicação social privada, a concretização,
no plano prático, de uma rede de comunicação que
promova a imagem do chefe e do governo. E isto, num quadro em que quatro
ou cinco grandes grupos detêm a grande maioria dos meios de informação.
É uma situação inaceitável.
Por isso, afirmamos que assume uma grande importância o apoio e
o estímulo à luta dos jornalistas e outros profissionais
de informação contra a precarização laboral
e pela afirmação dos seus direitos de autonomia e isenção,
a luta por uma informação pluralista vinculada ao interesse
público bem como a luta por soluções legislativas
que enfrentem corajosamente a questão da crescente concentração
da propriedade.
Para alguns nunca houve austeridade
Camaradas:
O Primeiro-Ministro afirmou no recente Congresso do PSD que o tempo da
austeridade terminou!
Para alguns, isto é, para a clientela do PSD, para os que recebem
os favores do Estado; para os assessores do Primeiro-Ministro e de Paulo
Portas; para os boys e girls dos famosos jobs; para os reformados de luxo
e para o capital financeiro, para os 200 bilionários que a revista
Fortuna publica anualmente, a austeridade, como já afirmámos,
não acabou pela simples razão de que nunca começou.
Pelo contrário, foram tempos de abastança e de acumulação...
A austeridade também não terminou com a magnífica
descida do IRS para os trabalhadores por conta de outrém decidida
por Bagão Félix. Descida da taxa que no essencial só
se fará sentir em 2006 e que por mero acaso é ano de eleições.
No final do ano passado, Durão Barroso também afirmou solenemente
perante o país que «o pior já passou», depois
de o ter andado a repetir durante todo o ano. Foi o que se viu! Santana
Lopes substitui o “o pior já passou” de Durão
Barroso, pelo “fim da austeridade”, isto é, muda as
palavras e repete o mesmo truque.
Para os portugueses cujos rendimentos e condições de vida
foram fortemente atingidos pela escalada dos aumentos de preços
muito acima das taxas oficiais da inflação e estas acima
das estabelecidas no Orçamento, o pior não passou, tal como
a chamada austeridade não vai acabar em 2004. Não vai acabar
também para os 500 mil desempregados, nem para milhares de reformados,
nem para os trabalhadores da Sorefame, ou da Cometna e de outras empresas,
nem para os pequenos e médios agricultores do Douro, nem para os
trabalhadores em geral. O pior ainda está para vir, pois os seus
direitos e regalias, duramente conquistados, vão ser laminados
pelo intolerável e retrógrado código do trabalho.
O fim da austeridade não se resolve com marketing político,
nem com discursos populistas, mas com factos, medidas e propostas concretas.
Na Assembleia da República, Santana Lopes foi obrigado a dar o
dito pelo não dito e a afirmar que de facto a austeridade não
acabou para muitos que vivem em dificuldade e, com a maior desfaçatez,
acrescentou que no entanto era necessário um discurso optimista.
Tudo se resolve para este governo ao nível do discurso e da propaganda!
Por isso, sr. Primeiro-Ministro se nada podemos fazer sobre os pesadelos
que povoam os seus sonhos, pois isso é de outro foro, o que lhe
sugerimos é que fique com os pesadelos para si em vez de os atirar
para cima dos portugueses. Por favor não os revele publicamente,
como fez no Congresso do seu Partido dizendo que sonha em ficar dez anos
no governo... Nada menos do que Cavaco!
Em tempos natalícios, não assuste o país e meta
antes uma prenda no sapatinho dos portugueses. Demita-se, vá para
férias e deixe os portugueses aliviados e permita que estes se
pronunciem.
Se não o fizer, pela nossa parte tudo faremos para que não
chegue até Agosto para que vá repousar o mais depressa possível.
Pela nossa parte, não nos resignamos como outros a que prossiga
com Paulo Portas na grande agência de publicidade “Santana
Lopes-Portas S.A.” até 2006, com as sistemáticas malfeitorias
e com a obra de destruição do aparelho produtivo e regressão
social e democrática.
E, por isso lhe dizemos, pode contar com a nossa luta firme e determinada.
A luta continua!
A chamada Constituição Europeia
Camaradas:
A chamada Constituição Europeia é um texto inaceitável.
Baptizada de Constituição sem qualquer processo constituinte,
elaborado na “liturgia giscardiana” da opacidade, do segredo,
dos factos consumados e com os fiéis ditos europeístas,
este novo Tratado é uma perfeita impostura consagrando o modelo
neoliberal e o seus postulados ideológicos.
“Constitucionaliza” o primado da “livre concorrência”
sobre toda e qualquer outra norma; a subordinação dos serviços
públicos às regras comunitárias, afirma que o livre
cambismo corresponde ao «interesse comum» proibindo, como
não poderia deixar de ser, qualquer restrição à
circulação de capitais e fixa a “independência”
do BCE, órgão não eleito, nem sujeito a controlo
e que tem poderes exorbitantes.
É a consagração e endeusamento do mercado, a generalização
da concorrência com o ataque aos serviços públicos,
o estímulo ao prolongamento da duração dos horários
de trabalho e à sua flexibilização.
É também um significativo avanço para o federalismo,
isto é, a federalização dos pequenos estados tutelados
através do processo de decisão/votação dominado
pelo Directório das grandes potências.
A denominação de Constituição Europeia ao
que é apenas um tratado, não é inocente. Visa impôr
a cultura federalista e tornar aceitável pelos factos consumados
a prevalência das normas da dita constituição sobre
as legislações e constituições dos Estados
membros.
A prevalência da lógica do peso da população
sobre a igualdade entre Estados soberanos permitiu a dominação
das grandes potências.
Inaceitável igualmente o facto de se lançar neste tratado
as bases institucionais da militarização da União
Europeia, com a subordinação de facto, da União Europeia
à Nato!
Inaceitável é ainda o facto de se ter avançado para
o alargamento com praticamente o mesmo Orçamento o que contraria
frontalmente a concretização do princípio da coesão
económica e social.
O projecto de Orçamento para 2005 ficou uma vez mais abaixo de
1% do PNB comunitário e ainda por cima com uma progressiva mudança
das prioridades orçamentais para a Justiça, políticas
securitárias, política exterior e de segurança comum
em detrimento de prioridades como o emprego, apoio social e a cooperação
com países menos desenvolvidos.
Inaceitável foi também a revisão constitucional
para introduzir a submissão da Constituição da República
Portuguesa à Constituição Europeia e ao direito comunitário,
precisamente na celebração do 30.º aniversário
da Revolução de Abril, que devolveu a soberania ao povo
português!
Mais uma vez, tal como aconteceu na Lei dos Partidos e nas privatizações,
o PS fez o papel do costume: desencadeou o processo de revisão,
subscreveu a supremacia da dita Constituição Europeia sobre
a Constituição Portuguesa, e isto mesmo sem o Tratado, dito
Constituição, estar sequer aprovado.
É necessário continuar a denunciar e a combater estes processos.
Não se podendo referendar Tratados internacionais – por
disposição constitucional acordado entre o PSD e o PS com
a oposição reiterada do PCP – a pergunta aprovada,
mais uma vez na base de uma acordo entre PS, PSD e CDS-PP, embora posta
em causa agora pelo governo, confusa, extensa, não colocando questões
essenciais, se for para a frente indicia que estamos perante uma encenação
de referendo, para procurar legitimar um Tratado dito constitucional e
a respectiva submissão da Constituição Portuguesa.
Também até este momento ninguém esclareceu quais
as consequências deste referendo no caso do «Não»
sair vencedor. O truque de encontrar três perguntas numa só
com questões dignas do sr. de La Palisse, como a pergunta sobre
se concorda com a Carta dos Direitos Fundamentais, é uma paródia.
A Constituição da República consagra um conjunto
de direitos, liberdades e garantias superior ao da Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia, pelo que nada adianta, nem merece
oposição, mas mostra que estamos perante uma farsa para
obter um «sim» de qualquer maneira. Não terá
qualquer legitimidade tal referendo.
A nossa posição sobre tudo isto é clara e coerente
e sobre o Tratado também: a sua rejeição e combate.
Uma posição de combate e de ruptura com o neoliberalismo,
o federalismo e o militarismo. E esta é que é a questão.
Os portugueses e as portuguesas concordam com um novo Tratado que se quer
consagrar como Constituição, passando por cima das constituições
nacionais, fixando uma organização económica de matriz
neoliberal, uma via federalista e a sua militarização como
pilar europeu da NATO?
Como se diz no projecto de Resolução Política, face
às sucessivas etapas que a «construção»
da União Europeia vai consumando, o PCP para alguns, deveria, contrariando
os seus objectivos e convicções, render-se à inevitabilidade
desses processos, ou seja, ficar condenado à política do
«realismo» como a arte do possível, a uma prática
política reduzida a um pragmatismo oportunista, sem valores nem
princípios, a uma resignada opção pelo menor dos
males.
O PCP não se adapta nem se submete e reafirma que outra Europa
é necessária!
Uma Europa como livre união de Estados soberanos, iguais em direitos,
empenhados na convergência económica e no progresso social,
na promoção da paz e de uma cooperação exemplar
com todos os povos do mundo.
Uma Europa que favoreça o desenvolvimento assente numa relação
sustentável entre a natureza e a sociedade, defenda os interesses
dos trabalhadores, respeite a identidade cultural, a soberania e a independência
de Portugal.
As contra-reformas da direita
Camaradas:
Prosseguindo a política de direita este governo quer levar à
prática de forma acelerada a privatização de importantes
serviços públicos. Fala em reformas, mas o que concretiza
são contra-reformas ao serviço dos grande interesses.
Em relação ao sistema público de segurança
social, a Lei de Bases aprovada pela maioria PSD/CDS-PP e a sua posterior
regulamentação é um duro golpe à protecção
social e visa dar satisfação aos apetites das seguradoras
privadas com o plafonamento e a privatização das suas partes
mais rentáveis.
E neste Orçamento, mais uma vez, o governo não cumpre a
Lei que obriga a transferência de dois pontos percentuais das contribuições
dos trabalhadores para o Fundo de Estabilização Financeira
continuando a descapitalização da Segurança Social
para depois impor novas medidas gravosas.
Na saúde, o governo quer também concretizar o velho slogan
do PSD: “quem quer saúde que a pague!”, agora sob a
forma do “utilizador pagador”. Um princípio segundo
Santana Lopes para «beneficiar os pobres».
Tal como nos transportes, o Dr. Santana Lopes quer fazer justiça
social através da declaração do IRS que só
espelha com maior verdade os rendimentos para os trabalhadores por conta
de outrém. Quer reproduzir na saúde e nos transportes, como
já o é no ensino, a injustiça fiscal de tal sistema.
Está-se mesmo a ver os banqueiros, os gestores com cartão
laranja e os grandes senhores do dinheiro nas listas de espera e nas consultas
externas do SNS ou a correr para um transporte público para depois
viajar como sardinha em lata a passo de caracol!
Ora a verdade é que o aumento das taxas moderadoras atinge particularmente
os cidadãos mais desfavorecidos, não só em relação
ao aumento do seu valor, mas também ao número de actos a
serem taxados. Acresce que para muitos utentes também aumentou
a factura dos medicamentos em virtude da aplicação do preço
de referência.
A partir de 2005 o Orçamento de Estado e os doentes vão
pagar as ditas parcerias público-privadas para a construção
de 10 novos hospitais. Negócio magnífico e garantido para
os grupos económicos... Por alguma razão o Grupo Mello defende
e exige a imediata privatização para já, de metade
do SNS.
Ao mesmo tempo que acentua a linha privatizadora e celebra um novo e
vantajoso contrato para grupo Mello no Hospital Amadora-Sintra, o governo
PSD/CDS-PP agravou o problema das listas cirúrgicas, apesar de
prometer o seu fim, aplicando um programa (PECLEC) que redundou na criação
de uma nova lista de espera.
Problema grave no plano da saúde é também o do aborto
clandestino. Hipocritamente esta maioria continua a impedir que este se
resolva no plano legislativo, continuando a apostar na criminalização
e estigmatização das mulheres que têm que recorrer
à interrupção voluntária da gravidez. Esta
posição é também acompanhada de recuos em
matéria de educação sexual e planeamento familiar.
O crescente número de casos de aborto levados a Tribunal é
só por si uma acusação às posições
hipócritas e retrógradas da maioria. Não é
só a prisão que é uma humilhação para
as mulheres. O simples julgamento e a devassa da sua vida privada a que
são sujeitas é são por si uma humilhação
pública inaceitável.
Camaradas:
Como sabeis, reafirmando com toda a clareza que a resposta de fundo ao
problema do aborto clandestino passa de forma incontornável pela
aprovação de uma lei de despenalização do
aborto e reafirmando que prosseguiremos esse combate a que, desde há
22 anos, dedicamos um incomparável empenho, o nosso Partido acaba
de apresentar na Assembleia da República um projecto de lei que,
através de uma moratória legal, suspende as investigações,
processos e julgamentos de mulheres acusadas da prática de aborto
clandestino.
Esta nossa inciativa teve um considerável impacto, suscitou amplos
apoios e até parece ter causado novas fricções dentro
da maioria governamental.
Mas hoje e a este respeito, queremos sobretudo falar de algo de que ainda
ninguém falou e que tem a ver com o profundo significado que esta
nossa iniciativa encerra quanto à nossa forma de estar na vida
política e de intervir na sociedade portuguesa.
Na verdade, camaradas, esta nossa proposta visa pôr termo ou suspender
as investigações, os processos e os julgamentos de mulheres
que recorrem ao aborto apesar de sabermos que essas investigações,
processos e julgamentos são actualmente os momentos de maior incómodo,
aflição e isolamento político da direita e são
actualmente momentos de uma grande mediatização que confronta
o conjunto da sociedade portuguesa com uma face especialmente chocante
deste flagelo.
Pois bem, o que esta nossa iniciativa legislativa significa mais profundamente
é que nós, que tantas vezes somos acusados de frieza e calculismo
político e que tantas vezes somos acusados de praticar uma política
de “quanto pior melhor”, fomos capazes de colocar à
frente de quaisquer vantagens imediatas ou de tácticas políticas
os direitos e a dignidade de todas as mulheres que são humilhadas
e vêem a sua intimidade devassada por estas investigações,
processos e julgamentos que, além do mais, estão servindo
de estímulo a novas denúncias e de factor de agravamento
das condições da prática clandestina do aborto.
Pensamos que esta nossa decisão e opção dá
um forte testemunho da visão e dos valores humanistas pelos quais
o nosso Partido se guia e estamos convictos que, se este nosso projecto
fosse aprovado – o que infelizmente não acontecerá,
pois mais uma vez, o PSD voltou a declarar-se prisioneiro do reaccionarismo
extremo do CDS-PP – seria possível prosseguir combativamente
a luta pela indispensável despenalização do aborto,
como exigência elementar de humanidade e justiça e imperativo
essencial de valores de civilização.
Camaradas:
Também para beneficiar os pobrezinhos, no dizer do governo foi
apresentando na Assembleia da República uma autorização
legislativa para alterar a lei do arrendamento.
Uma lei dita para dinamizar o mercado do arrendamento e recuperar para
os inquilinos o parque urbano degradado.
Mas o que se vê é que esta lei vai levar ao aumento e aceleração
dos despejos, a entrega dos centros e dos centros históricos das
cidades à especulação imobiliária e à
instabilidade social dos inquilinos e dos lojistas arrendatários.
A renda negociada tal como é apresentada é a institucionalização
da instabilidade social dos inquilinos e dos lojistas arrendatários.
Aliás o governo nunca conseguiu explicar porque é que os
contratos a prazo introduzidos em 1985 não dinamizaram o mercado
nem impediram a degradação dos edifícios. Também
a existência de 544 000 fogos devolutos provam que não é
precarizando e liberalizando o mercado de arrendamento que se atingem
aqueles objectivos.
O PCP apoia e apoiará os que lutam contra as injustiças
desta lei.
Camaradas:
Na educação apesar dos discursos sobre a sua importância
para o desenvolvimento e a competitividade estes últimos anos têm
sido marcados por uma crescente elitização no acesso ao
ensino superior e pela desvalorização da escola pública.
Quando se olha para o agravamento da situação social de
tantas famílias para as atribuladas “reformas” do ensino
e quando se vê o caos e a trapalhada que foi a abertura deste novo
ano escolar percebe-se também porque é que Portugal é
um país com uma taxa de abandono e insucesso escolar que atinge
25% dos estudantes do ensino secundário.
Para o PCP, a educação é um sector estratégico
determinante para o desenvolvimento do país e o aprofundamento
da democracia. O Estado deve garantir o direito Constitucional à
educação, assegurando um ensino público gratuito
e de qualidade para todos. A defesa da escola pública, um ensino
ligado à vida e as saídas profissionais são questões
essenciais na definição de uma política educativa.
Na luta pelo ensino valorizado, na luta pela defesa da escola pública
de qualidade e gratuito, na luta pelas saídas profissionais e o
emprego, é justo destacar a luta da juventude e a luta empenhada
da JCP que daqui saudamos calorosamente.
No plano do desenvolvimento do país é necessário
também dar resposta ao crescente défice científico
e tecnológico. Temos um insuficiente investimento público,
o mais baixo investimento privado nas empresas, na investigação
e desenvolvimento da União Europeia e um baixo nível, em
geral de integração e conhecimento na actividade económica.
Mas se reconhecemos a máxima importância que a educação,
a formação e o desenvolvimento científico e tecnológico
têm para o desenvolvimento do país, também desmistificamos
a ideia que estes só por si determinam um desenvolvimento sustentado.
Se há desindustrialização, crescente subcontratação
e dependência da economia e a entrega de empresas básicas
e estratégicas ao estrangeiro, o investimento na educação
é sobretudo aproveitado pelas transnacionais e empresas estrangeiras
e não pela economia nacional. Não entrando na questão
da chamada “fuga de cérebros” há mão
de obra altamente qualificada que se vê obrigada a emigrar ou a
exercer actividades muito abaixo do seu perfil de aptidões. É
uma delapidação colossal de meios.
É necessário e urgente uma outra política
Camaradas:
É necessária uma outra política. Uma política
que valorize o trabalho e aproveite os recursos naturais e humanos. A
política de direita tem também violado de forma sistemática
a organização económica configurada pela Constituição
da República. As privatizações e liberalizações
com a inerente substituição de objectivos de serviço
público pelo objectivo único de lucro privado, falsamente
temperado por falsas entidades reguladoras – CP, EDP, CTT, Portugal
Telecom, têm-se traduzido em processos de reestruturação
com profundas e negativas implicações no território
e para as populações agravando as assimetrias regionais.
A política necessária que o PCP defende, implica a ruptura
com as políticas de direita, com o neoliberalismo e a concentração
de riqueza e a valorização do aparelho produtivo, um perfil
produtivo de maior e mais rico valor acrescentado, a centralidade e a
valorização do trabalho dos portugueses como questão
nuclear da economia, o combate aos principais défices – tecnológico,
energético, agroalimentar – a defesa da soberania e o interesse
nacional na União Europeia. Exige coragem e visão larga
que determine uma efectiva estratégia de desenvolvimento nacional
e não uma navegação à vista ao sabor dos ventos
de Bruxelas! Portugal não pode continuar a destruir e a desvalorizar
o seu aparelho produtivo e a entregar o pouco que resta às transnacionais.
Nos últimos anos foram liquidados, submetidos ou fortemente comprometidos
sectores e fileiras inteiras: química básica e fina (sector
farmacêutico) siderurgia e metalurgias diversas, metalomecânica
pesada. E também a agricultura e pescas se vêem limitadas
por políticas comunitárias inclusive, no necessário
aumento da produção. E temos uma indústria têxtil,
de vestuário e calçado ameaçado quer pela liberalização
ditada pelo OMC já a partir de 2005, quer pela valorização
do Euro!
A economia portuguesa tem que marchar nas duas pernas: actividade produtiva
e serviços aproveitando os recursos nacionais e desenvolver uma
estratégia de desenvolvimento assente simultaneamente no aumento
das exportações, no alargamento do mercado interno e na
produtividade. A “salvação da economia”, não
está nas mezinhas nem na diversão ideológica ao serviço
da concentração e centralização de capitais
– capitalismo neoliberal embrulhado nas tecnologias de informação
– a famosa nova economia ou no não menos famoso capitalismo
renano, ou na regulação «ética» do mercado
numa dita «economia de comunhão»! Comunhão para
alguns!
A ofensiva do grande capital e dos governos ao seu serviço para
anular direitos e conquistas tem-se traduzido numa regressão social,
mas também económica e democrática. O não
cumprimento de promessas, a não resposta aos problemas, os escândalos
de corrupção, a crise da justiça tem criado um terreno
propício ao descrédito da política, dos políticos,
dos partidos políticos como se todos fossem iguais.
Também a justiça como todos reconhecem atravessa uma grave
crise. Mantém-se extremamente lenta, cara e afastada do cidadão.
As políticas de direita dos vários governos, são
responsáveis pela degradação da justiça criminal
e por danos gravosos na credibilidade dos Tribunais, das magistraturas
e da polícia Judiciária e o que se tem passado com os casos
mais mediáticos como sejam o processo da «Casa Pia»
e «Apito Dourado» também não lhe tem trazido
maior prestígio. O que desejamos é que se faça justiça
e com celeridade. Paralelamente temos tido uma grande ofensiva contra
os direitos dos trabalhadores.
O código do trabalho é um instrumento laminador de direitos
e conquistas duramente alcançados e tem por objectivo enfraquecer
e criar dificuldades à organização e à luta
dos trabalhadores.
O desemprego, as desigualdades sociais, o endividamento das famílias,
a redução dos salários reais e as baixas reformas
alimentam as dificuldades sociais e a pobreza, um flagelo social que se
está a expandir na sociedade portuguesa. Particularmente atingidos
pela pobreza, pelo desemprego e pela precariedade são as mulheres.
Queremos daqui saudar deste nosso XVII Congresso as mulheres portuguesas
e a sua luta pelo emprego, pelos salários, pelos seus direitos,
pela sua intervenção em igualdade e saudar muito especialmente
o MDM, a Comissão Nacional de Mulheres da CGTP e a Organização
das Mulheres Comunistas em defesa dos direitos da mulher.
Esta situação e designadamente o quadro das desigualdades
é também ampliada pelos muitos milhares de imigrantes muitos
deles com uma situação irregular, sendo depois vítimas
de uma feroz exploração.
Como sempre dissemos o sistema de quotas, grande bandeira de Paulo Portas
e da direita, o que está a fomentar é a legião dos
imigrantes ilegais que depois ficam à mercê de empresários
sem escrúpulos aviltando na prática salários, horários
de trabalho e direitos criando um mal estar entre trabalhadores legalizados
e ilegalizados. Naturalmente que tudo isto não é do interesses
dos trabalhadores.
Um jornal diário dizia-nos em Setembro deste ano: «o sistema
de quotas só legalizou três pessoas... Um cidadãos
brasileiro, trabalhador agrícola; um cidadão moldavo, escriturário;
e um cidadão ucraniano, copeiro».
Para as 8 500 vagas para trabalhadores estrangeiros estipulados pelo
governo após “rigorosíssimo” estudo e diversos
discursos ministeriais apareceram 60 candidatos e desses apenas três
conseguiram o visto de trabalho.
Como é evidente os empresários portugueses continuam a
preferir recrutar ilegalmente imigrantes em vez de enveredarem pelo processo
oficial e legal. É uma retinta hipocrisia. Não nos esquecemos
do discurso contra os imigrantes que marcou no ano passado a rentrée
do CDS/PP. Mas como se vê o discurso xenófobo para a opinião
pública conservadora é depois traduzido na prática
pelo sacrifício dos direitos mais elementares dos cidadãos
imigrantes ao serviço de empresários sem escrúpulos!
A situação actual é marcada pela imposição
de um modelo económico e social de sobre-exploração
que atinge os trabalhadores portugueses e estrangeiros. Por isso, o nosso
Partido tem lançado a consigna “trabalhadores portugueses
e imigrantes a mesma luta” e eu creio que vós estais de acordo
com este nosso apelo à unidade na acção em torno
de reivindicações sociais mas também contra as políticas
de direita de «dividir para reinar», colocando trabalhadores
contra trabalhadores e imputando aos imigrantes a responsabilidade pelo
desemprego e pela degradação social.
Precisamos de uma alternativa
Chega de alternâncias
O país precisa na verdade e com urgência de uma outra política,
uma política alternativa à política de direita que
cíclica e continuamente tem vindo a ser concretizada tanto pelo
PS como pelo PSD sozinho ou acompanhado pelo CDS/PP.
Perante as malfeitorias deste governo, o PS até agora só
se comprometeu se for governo em revogar a lei das rendas, mantendo um
significativo silêncio em relação ao código
do trabalho, às alterações na saúde, às
privatizações.
A acentuação da sua deriva neoliberal não augura
nada de bom. Ainda recentemente em matéria de redução
de impostos sobre o trabalho, IRS, o PS colou-se numa posição
mais retrógrada do que Bagão Félix, o que convenhamos
não é proeza fácil.
Posto isto, não temos a mais pequena dúvida e antes temos
a maior das convicções de que a construção
de uma alternativa de esquerda – necessariamente baseada no quadro
actual e no acordo ou convergência das principais forças
de oposição ao governo da direita – é uma premente
necessidade nacional e corresponde a uma viva aspiração
de muitos e muitos portugueses.
E agimos sempre, e infatigavelmente, de acordo com esta convicção,
procurando a aproximação de pontos de vista, convergências
e acordos mais ou menos amplos entre forças democráticas.
Ao mesmo tempo, insistimos naturalmente que o nosso empenho e o nosso
compromisso é com a construção de uma alternativa
de esquerda que signifique necessariamente uma ruptura quer com as políticas
do governo da direita quer com muitas políticas e orientações
fundamentais de passados governos do PS.
Por aqui se pode ver que as responsabilidades pelas dificuldades da construção
duma alternativa não podem ser genericamente repartidas entre o
PCP e o PS, já que é o PS que, primeiro, recusa desde logo
a ideia da convergência democrática como base indispensável
da alternativa (e procura mesmo afirmar ambições e pretensões
arrogantemente hegemónicas) e, segundo, não se mostra disponível
para nenhum exame crítico das orientações e políticas
que tem realizado quando no governo.
Haverá certamente democratas que pensam que todas as dificuldades
se resolveriam com diálogo, chá e simpatia entre dirigentes
dos partidos à esquerda do actual governo.
Mas nós continuamos a pensar que os democratas, os homens e mulheres
de esquerda não podem ser meros espectadores, descrentes ou entusiasmados,
deste processo.
Nós continuamos a pensar que o caminho mais seguro para a conquista
de uma alternativa de esquerda é os democratas e homens e mulheres
de esquerda perceberem que são as suas aspirações,
a sua vontade de ganhar uma nova política (e não apenas
outro governo) e as suas escolhas (também eleitorais) que mais
podem assegurar um rumo positivo e esperançoso para os acontecimentos.
E, longe de qualquer arrogância ou exclusivismo, continuamos a
pensar que é também o reforço do apoio eleitoral
do PCP que mais pode aproximar, tornar viável e finalmente concretizar
em Portugal uma alternativa de esquerda verdadeiramente digna do nome.
As próximas eleições autárquicas
Camaradas:
Estamos a pouco mais de um ano de uma das mais importantes batalhas políticas
a que o partido será chamado a responder em 2005. Uma batalha que
exigirá um largo e forte empenhamento do conjunto das nossas organizações
e dos membros do partido para, lado a lado com os nossos parceiros de
coligação que daqui saudamos e os muitos milhares de independentes
que dão corpo á acção da CDU, a enfrentar
com êxito. Uma batalha que reclama uma atenta observação
das exigências que o novo calendário para a sua realização
coloca e uma cuidada programação das medidas e acções
com vista à sua preparação.
Partimos para ela certos das dificuldades mas também confiantes
nas nossas possibilidades, da força da acção organizada
do Partido e do reconhecido valor e prestigio do nosso trabalho autárquico.
E seguros também que pela nossa intervenção e presença
nesta batalha eleitoral, traduzidas no esforço de nos apresentarmos
ao maior número possível de órgãos, podemos
e devemos dar um contributo para levar mais longe a afirmação
do PCP e do seu insubstituível papel na defesa dos interesses das
populações. E justa e legitimamente aspirarmos a que delas
resultem a confirmação das nossas posições,
a conquista de novas autarquias e o alargamento da nossa presença
a outras.
O principal desafio que nos está colocado é o de ter presente
que está nas nossas mãos, e no nosso trabalho, agir para
influir positivamente o quadro geral em que decorrerão as próximas
eleições. E afirmar a CDU e o PCP como uma grande força
nacional autárquica, com um peso e uma influência correspondentes
ao valor do seu trabalho e do prestigio justamente conquistado pela sua
obra junto do nosso povo.
Um Partido diferente
Ao serviço do povo e de Portugal
Camaradas:
Desde o XVI Congresso enfrentando dificuldades e uma ofensiva –
que poucos aguentariam – particularmente agressiva, insidiosa e
prolongada, com a participação de ex-membros do Partido,
criando dificuldades ao reforço da nossa influência social,
política e eleitoral, o Partido desenvolveu uma intensa e permanente
intervenção e actividade em defesa dos interesses dos trabalhadores,
do povo e do país.
Milhares de militantes do partido assumiram de forma decisiva o esclarecimento,
a mobilização e a organização da luta da classe
operária, dos trabalhadores e de outras camadas sociais contra
a política governamental procurando a sua potenciação
dialéctica com a qualificada intervenção institucional
do Partido na Assembleia da República, nas autarquias e no Parlamento
Europeu.
Correndo o risco de omissão sublinhe-se entre outras a luta dos
trabalhadores vidreiros da Marinha Grande, da Bombardier, da metalurgia,
da química, da têxtil e calçado, na defesa dos seus
postos de trabalho, do aparelho produtivo e da produção
nacional, a defesa do sector público e dos serviços públicos,
onde se destacam a luta dos trabalhadores dos transportes, Carris, Metro,
Transtejo, do sector ferroviário, do sector aéreo, mas também
das OGMAS, da EDP, da GALP, da PT; a luta dos trabalhadores da Administração
Pública contra as privatizações dos serviços,
a desfiguração do Serviço Nacional de Saúde,
a defesa da escola pública e da Segurança Social, a luta
pela dignificação das carreiras e dos salários, a
luta das forças policiais, a luta dos trabalhadores contra a deslocalização
das empresas travadas no sector têxtil e calçado e na metalomecânica.
A luta de massas assumiu um ponto alto com a declaração
e realização da greve geral em Dezembro de 2002, convocada
pela CGTP-IN contra o pacote laboral, onde apesar da posição
da UGT participaram mais de 700 mil trabalhadores.
A ofensiva não terminou. Nem sempre os trabalhadores tiveram êxito
mas se a luta com o apoio do PCP não tivesse sido travada seria
outro e bem pior o Código do Trabalho, seriam socialmente mais
dolorosas as consequências da política de direita, outros
sectores e camadas sociais não se sentiriam animados a agir e a
lutar pelos seus direitos concretos. Valeu e vale a pena lutar.
Enfrentámos também as leis sobre os Partidos que têm
como alvo o PCP, numa ingerência inadmissível sobre a nossa
liberdade de auto-organização o que só por si diz
o suficiente das concepções democráticas de quem
as aprovou. São leis feitas a feitio para atingir o PCP, a sua
organização, o seu funcionamento, as suas iniciativas, em
particular a Festa do Avante! Como se afirma no projecto de Resolução
Política, são leis inaceitáveis contra as quais é
necessário lutar e cuja revogação vamos continuar
a exigir com determinação.
Neste Congresso estamos a discutir as alterações aos Estatutos.
Estatutos que correspondem às necessidades e exigências que
se colocam á intervenção do Partido.
As alterações que se propõem são as consideradas
estritamente necessárias em função da experiência
e da avaliação própria do Partido.
É necessário ter em conta que o reforço do nosso
Partido é uma questão decisiva para a luta dos trabalhadores
e do povo e para a defesa do interesse nacional. O aumento da influência
do PCP é uma questão que se coloca a todos os militantes
e organismos do Partido mas que é do interesse dos portugueses
e da democracia. O colectivo partidário e as suas organizações
desenvolveram uma actividade muitas vezes acima das suas forças,
só possível com uma grande generosidade, dedicação
e empenho dos militantes. E este esforço tem que continuar pois
é sobretudo ele que permitirá rasgar novos horizontes. O
que queremos é que nos avaliem pelo que somos, pelo que propomos,
pelo que realmente fazemos e defendemos, que nos julguem pelas grandes
causas que protagonizamos com singular coragem, coerência e seriedade.
Não queremos que andem connosco ao colo, queremos somente isenção
e que nos avaliem com severidade pela postura que mais nos orgulha enquanto
comunistas – o de protagonistas da transformação social,
do combate às injustiças e prepotências dos poderosos,
da defesa dos explorados, humilhados e esquecidos.
O fortalecimento do Partido tem de ser considerado em múltiplas
vertentes, mas é condição essencial o reforço
da sua organização, dos seus meios próprios, da sua
coesão baseada nos princípios de funcionamento do Partido.
No seguimento do XVI Congresso e da Conferência Nacional de 2002,
lançámos o movimento geral de reforço da organização
partidária. Desenvolveu-se a acção nacional de contacto
com os membros do Partido com importantes resultados já alcançados,
insistiu-se na linha de reforço da organização do
Partido nas empresas e locais de trabalho, avançou-se na responsabilização
de quadros, na renovação e no rejuvenescimento, verificou-se
uma significativa adesão ao Partido, perto de 6 mil novos militantes,
cerca de 40% dos quais com idades até aos 30 anos. Dinamizou-se
a intervenção junto da juventude com destaque para o importante
papel da JCP, com a sua luta, a sua intervenção, com o reforço
das suas fileiras, com a sua postura – o sonho tem Partido e esse
Partido é o PCP! –. Alargou-se a difusão da imprensa
partidária embora estejamos muito aquém das possibilidades.
Entre muitos outros aspectos, estes são elementos que mostram que,
para além de necessário, é possível um PCP
mais forte. E, é necessário e possível com o contributo
de todos e de cada um.
Temos um Partido com milhares de militantes activos que dão o
melhor de si próprios na concretização dos objectivos
transformadores do PCP, mas sabemos que persistem muitas insuficiências
e debilidades e que precisamos de um Partido mais forte.
Que precisamos de aproveitar melhor os quadros, de estimular a iniciativa
e a intervenção dos militantes e das organizações
sobre os problemas concretos.
Que precisamos de continuar com o recrutamento. Mas não basta
recrutar, pois a seguir é necessário organizar e enquadrar
os novos militantes e procurar aproveitar as suas disponibilidades.
Não conhecemos todos nós aquela frase deste e daquele cidadão:
«...inscrevi-me no Partido e ainda não me contactaram...».
É necessário libertar novas energias, aproveitar o sangue
novo e novas capacidades. Não trabalhamos para a estatística.
E é necessário continuar a lutar contra a rotina, contra
soluções, atitudes e métodos que não correspondem
às exigências actuais.
O Partido não sacraliza e transforma em questões de princípio
aquilo que não o é para depois utilizar a argumentação
das cedências para manter tudo como está, da mesma maneira
que não embarca em falsas modernidades descaracterizadoras e atentórias
da sua unidade e coesão só para ter o apreço ou o
favor dos “media”. E isto tanto no campo da organização
como no da teoria, pois não temos uma visão unilateral,
esquemática ou simplista do marxismo-leninismo, nem o reduzimos
a um slogan sem conteúdo e prática efectiva, nem transformamos
este poderoso e valioso instrumento de análise da realidade em
mudança e guia para a acção no seu contrário.
A dogmatização, conduz à estagnação
teórica e esta a erros graves e ao esvaziamento da própria
teoria. O marxismo-leninismo deve enriquecer-se incessantemente com o
estudo de novas situações, fenómenos, processos,
conhecimentos e experiências, o que pressupõe também
o estudo e o conhecimento da realidade onde queremos actuar, a abertura
à vida, ao diálogo e ao debate com os outros. Como já
foi afirmado, maus advogados da nossa teoria são aqueles que transformam
“os princípios teóricos em verdades eternas”,
isto é, que transformam o princípio teórico em dogma,
o dogma em lei objectiva e esperam que a sua suposta lei, porque é
objectiva transforme a realidade segundo o princípio arvorado em
dogma.
Sublinhamos as conhecidas palavras do Manifesto do Partido Comunista:
«as proposições teóricas dos comunistas de
modo nenhum repousam sobre ideias, sobre princípios, que foram
inventados por este ou aquele melhorador do mundo. Elas são apenas
expressões gerais das relações efectivas de uma luta
de classes existente, de um movimento histórico que se passa ante
os nossos olhos» e como interpelava Bertolt Brecht “... não
aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo
de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade
consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada
deve parecer impossível de mudar...”.
E para isso temos que cuidar deste valioso “instrumento”
de mudança que é o nosso Partido.
Na proposta de Resolução Política, no seguimento
dos resultados da acção nacional de contacto, avança-se
um conjunto de medidas a aplicar de forma integrada com o objectivo de
fortalecer o Partido, tendo em conta as forças que temos e as prioridades
que se vão definindo e que devem ser cumpridas.
No plano do trabalho de direcção, da responsabilização
de quadros, da estruturação, em particular da organização
e intervenção junto da classe operária e dos trabalhadores,
nas empresas e locais de trabalho e das organizações de
base em geral, do reforço dos organismos de direcção
intermédios, de uma maior integração e participação
dos membros do Partido. A atenção, acompanhamento e trabalho
junto das camadas e grupos sociais de grande importância, como os
intelectuais e quadros técnicos, outros sectores das camadas intermédias
urbanas, os pequenos e médios agricultores e a juventude. Medidas
de reforço do trabalho de informação, propaganda
e esclarecimento, da difusão da imprensa partidária. Particular
atenção também deve ser dada a um grande património
do nosso Partido: a acção unitária, o trabalho dos
comunistas nas organizações dos trabalhadores e da população,
a acção directa do Partido e o desenvolvimento do seu prestigiado
e qualificado trabalho nas instituições. Medidas orientadas
para a angariação dos meios financeiros indispensáveis,
tarefa política de primeira ordem, para a nossa actividade e para
uma acção internacional de acordo com os nossos objectivos.
Tais são questões fundamentais que se colocam ao Partido
para o reforço da sua organização, intervenção
e influência, para que cumpra o seu papel.
Camaradas:
Seríamos irremediavelmente distraídos e inconscientes se
não soubéssemos que a maré alta de caricaturas, grosserias,
insultos, deturpações e falsificações com
que, década após década, ano após ano e mês
após mês, se procura soterrar e cilindrar o que verdadeiramente
o PCP é, defende, propõe e faz, nos causam consideráveis
prejuízos e dificuldades à nossa intervenção,
à nossa influência e à capacidade de atracção
das nossas propostas e do nosso projecto político.
Mas saber isto e ter consciência disto é uma coisa e outra
muito diferente é alguém poder supor ou ter esperança
que os comunistas portugueses se rendam, ajoelhem ou se deixem afogar
em tal maré ou desistam de defender a sua honra e a sua dignidade
e a verdade sobre o que realmente são, realmente fazem e realmente
querem.
Com integral respeito pela liberdade de expressão e soberania
de decisão dos delegados ao Congresso, confiamos plenamente que
os trabalhos deste nosso XVII Congresso do PCP mostrarão:
- um Partido que, como nenhum outro em Portugal, é capaz de enunciar
e analisar criticamente as suas próprias deficiências, debilidades,
atrasos, erros e dificuldades;
- um Partido que, longe de se fechar sobre si próprio e perder
o contacto com a realidade e com as suas mais fortes interpelações,
quer ampliar, fortalecer e revigorar a sua intervenção na
sociedade portuguesa e estabelecer laços ainda mais profundos de
solidariedade e acção com todos os homens e mulheres que,
na diversidade das suas aspirações, opiniões e posicionamentos,
compartilham da comum vontade de conquistar um outro e melhor rumo para
Portugal;
- um Partido que não está disposto a diluir-se gostosamente
no pântano do espalhafato, superficialidade, troca-tintismo, demagogia
e irresponsabilidade que ameaça submergir a vida política
nacional e antes quer continuar a ter a coragem de, mesmo contra a corrente,
fazer valer o seu património de coerência, seriedade, dedicação,
consistência e sentido de responsabilidade;
- um Partido que não discute a importância das pessoas na
vida e na acção políticas mas que entende ser absolutamente
necessário revigorar a vida democrática do País,
não com mais fulanizações, mas com mais debate, mais
escolhas e mais opções em torno de ideias, de causas e de
projectos políticos;
- um Partido que quer conviver bem com a dúvida, com as interrogações
e com as incertezas do tempo que vivemos mas que, não só
não quer trocar por um prato de lentilhas as convicções
profundas e as grandes causas que dão sentido à sua existência
e á sua luta de 83 anos, como lhes quer dar reforçada e
renovada projecção, afirmação e vitalidade;
- um Partido e um colectivo de militantes e apoiantes que, por muito
que alguns finjam não ver e não perceber, são um
corpo vivo e actuante na democracia portuguesa e constituem uma incomparável
corrente de generosidade, de desinteresse pessoal, de consagração
ao serviço dos outros, de generosos compromissos de vida e de luta
que são um tocante e inesquecível património do Portugal
democrático;
- um Partido que, mais e melhor, quer animar, consolidar e dar esperança
e força ao amplo movimento de vontades e aspirações
que percorre a sociedade portuguesa no sentido de, tão cedo quanto
possível, libertar o país da desastrosa governação
da direita e conquistar uma verdadeira alternativa de esquerda que signifique,
não uma simples mudança de etiquetas e de caras, mas um
novo rumo e uma nova política ao serviço dos trabalhadores,
do povo e do país;
- um Partido que, longe de fatalismos e determinismos, reafirma no seu
pensamento, na sua orientação e na sua luta, a sua profunda
confiança na acção transformadora dos seres humanos,
a sua profunda convicção de que a história não
chegou ao fim e que a democracia e o socialismo continuam inscritos como
projectos indispensáveis para um Portugal com futuro e para um
mundo mais justo.
Viva o XVII Congresso
Viva a JCP
Viva o Partido Comunista Português