No período que se
seguiu ao XIV Congresso, e na concretização das suas orientações,
foi feito um grande esforço para melhorar o trabalho do Partido
junto dos intelectuais e a intervenção dos intelectuais no
trabalho do Partido.
Apesar deste esforço no balanço que vos trazemos é
necessário continuar a registar insuficiências, lacunas e
descontinuidades, especialmente no que se refere à coordenação
entre sectores e ao trabalho nacional, quase sempre motivadas
pela sobrecarga dos quadros responsáveis com outras tarefas.
De qualquer maneira, houve sensíveis melhorias a nível dos
sectores
regionais, com destaque para as Assembleias dos sectores
intelectuais de Lisboa e Porto, os assinaláveis progressos na
organização de jovens intelectuais e quadros, especialmente em
Lisboa, a publicação das revistas «Cadernos Vermelhos», em
Lisboa, e «Diagonal», no Porto.
No plano da coordenação nacional, deram-se os primeiros
passos, embora irregulares e descontínuos, para o funcionamento
de uma área da cultura literária e artística. Noutras áreas
— educação, ciência e tecnologia, saúde —
consolidaram-se as estruturas e o importante nível de
intervenção que vinha de trás e verificaram-se notáveis
iniciativas e múltiplos encontros que têm contribuído para a
definição das orientações do Partido.
Merece um especial relevo a concretização do Encontro
Nacional do PCP sobre os intelectuais correspondendo a uma
perspectiva de trabalho apontada desde o XII Congresso.
Incluindo na sua preparação uma Comissão para as questões
dos Intelectuais, várias reuniões nacionais, um encontro de
sectores e diversas circulares dinamizadoras do debate, o
Encontro Nacional realizado sob o lema «Os intelectuais e a
sociedade/ o Partido e os intelectuais», marca um significativo
avanço do nosso trabalho, no essencial condensado na Declaração
aprovada.
Após o Encontro, o Partido ficou a conhecer melhor a
condição social dos intelectuais, uma camada em rápido
crescimento numérico, que aumentou, em números absolutos, 4,5
vezes desde 1974, passando de 4,2 por cento para 16,3 por cento
da população activa, com um peso relativamente grande de
jovens, altas taxas de assalariamento (mais de 70 por cento) e grandes
pólos de concentração, na saúde, no ensino, noutros serviços públicos
e nas maiores empresas e que, pela sua posição na sociedade e repercussões
do seu trabalho, tem uma influência económica, social, cultural
e política bastante superior ao seu peso relativo.
É também, como se salienta nas Teses, uma camada social
heterogénea do ponto de vista de classe e com estatutos
hierárquicos e remuneratórios diferenciados e até
contraditórios, mas onde se fazem sentir crescentemente,
para uma grande parte dela, o endurecimento das condições de
trabalho e de exploração, as dificuldades de emprego e o
desemprego, O que a aproxima
da situação dos demais trabalhadores e torna possível, cada
vez com maior frequência, grandes movimentações e lutas de
trabalhadores intelectuais e a sua convergência com a luta da
classe operária e outros trabalhadores.
É esta real convergência de interesses que dá fundamento
objectivo à aliança da classe operária com os intelectuais e
outras camadas intermédias, que o PCP define no seu Programa
como uma das alianças básicas da classe operária para a
transformação democrática da sociedade portuguesa.
Não reside apenas nesta circunstância a atenção que o
nosso Partido dedica ao trabalho com os intelectuais, pois, ela
decorre também do papel dos intelectuais revolucionários no
movimento operário, que sempre soube integrá-los, e da
continuada e destacada militância de intelectuais comunista,
incluindo dos maiores vultos da cultura nacional, nas fileiras do nosso
Partido.
A influencia do PCP nos intelectuais tem. aliás, uma
relação dialéctica com a sua influência nos demais
trabalhadores.
Além disso, como se salienta na Declaração do Encontro
Nacional: «os trabalhadores intelectuais têm um papel, não
exclusivo, mas imprescindível na elaboração respostas, de
caminhos, de um projecto alternativo para o desenvolvimento do
país, no sentido de uma democracia política, económica. social
e cultural.»
A sua actividade criadora nos diferentes domínios tem sido e
é, também, uma contribuição indispensável para a salvaguarda
da identidade cultural do nosso país, quando no comando da
política nacional se acentuam as abdicações em matéria de
soberania e a obediência às modas cosmopolitas do «pensamento
único».
As lutas dos intelectuais neste período, especialmente as
grandes movimentações de professores, médicos e enfermeiros
contribuíram para o afastamento da direita do poder e para o
desmascaramento da política de direita do Governo PS. Estas
lutas que realçam o papel da organização sindical nos sectores
profissionais referidos chamam a atenção para a grande
fragilidade da sindicalização nas demais profissões
intelectuais onde o nível de organização sindical tem
regredido.
A par do reforço da organização partidária entre os
intelectuais, compreendendo mais adesões, melhor estruturação
e maior disponibilidade dos quadros de direcção afectados as
suas organizações, o reforço da sindicalização (com o estudo
de formas mais adequadas) é indispensável para o
desenvolvimento da acção reivindicativa por objectivos
concretos relacionados com a sua situação profissional e condições
de trabalho e por políticas democráticas para os respectivos sectores
de actividade.
O Projecto de Resolução Política aponta outras direcções
de trabalho que me dispenso de repetir.
Insisto, sim, na necessidade de se valorizar o papel da
cultura na solução dos problemas do país e em apelar à
contribuição dos intelectuais para a elaboração de uma
estratégia de desenvolvimento nacional que, atenuando as
consequências dos constrangimentos da integração, dê mais
força à nova política que defendemos para Portugal.