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Resolução Política aprovada no XVII Congresso do PCP |
Domingo, 28 Novembro 2004 |
RESOLUÇÃO POLÍTICA
(aprovada no XVII Congresso do PCP)
1. A SITUAÇÃO
INTERNACIONAL
1.0. Introdução
1.1. O capitalismo e a sua crise
1.2. A ofensiva do imperialismo
1.3. A resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos
1.4. A alternativa. Um outro mundo é possível, um mundo socialista
1.0. Introdução
O XVII Congresso do PCP
realiza-se no contexto de uma violenta e generalizada ofensiva do imperialismo. Simultaneamente, estão em curso importantes
processos de luta e de arrumação de forças. A instabilidade, a insegurança e a
incerteza dominam as relações internacionais. Vivem-se tempos de grandes recuos
e perigos de retrocesso histórico, mas também de forte resistência e
potencialidades revolucionárias.
Os últimos quatro anos
confirmaram as análises e previsões fundamentais do XVI Congresso. As trágicas
consequências da globalização capitalista estão à vista de todos. O mundo
tornou-se mais injusto, menos democrático, mais inseguro e perigoso. Aí está o
agravamento da exploração, o militarismo e a guerra, o ataque generalizado a
direitos, liberdades e garantias fundamentais, a tentativa de criminalizar a
resistência à opressão. Entretanto, afirma-se e diversifica-se a resistência e
a luta das forças progressistas, dos trabalhadores e dos povos. Intensifica-se
a luta da classe operária e dos trabalhadores. Os povos enfrentam com mais
determinação as agressões imperialistas. O «movimento antiglobalização», contra
o neoliberalismo e a guerra, apesar do seu carácter social e politicamente
heterogéneo, é expressão objectiva do estreitamento da base social de apoio do
capitalismo.
Os tempos em que vivemos e
lutamos são tempos muito difíceis, de resistência e acumulação de forças. Mas
em que, como a experiência está a mostrar, são possíveis heróicas afirmações de
resistência e soberania e inesperadas dinâmicas de progresso social. O
imperialismo, nomeadamente a potência hegemónica, os EUA, não tem as mãos
totalmente livres para realizar a sua política.
É possível resistir, contrariar
e finalmente derrotar o seu propósito de instaurar uma ditadura planetária do
grande capital, uma nova ordem mundial totalitária, contra os trabalhadores e
contra os povos.
Pelo reforço dos partidos
comunistas e revolucionários em cada país e o fortalecimento da sua cooperação
internacionalista, pela construção de uma frente de luta anti-imperialista cada
vez mais ampla, pela conjugação da acção das forças democráticas, progressistas
e de libertação nacional, é possível travar com êxito a batalha contra a
ideologia dominante, incutir nas massas uma maior confiança na sua luta e na
possibilidade de vitória, alcançar profundas transformações progressistas e
revolucionárias e, tendo em conta as lições da experiência, relançar o socialismo
como a alternativa viável e necessária ao capitalismo.
1.1. O capitalismo e a sua
crise
A violenta ofensiva
exploradora e agressiva do imperialismo constitui o traço mais marcante e
persistente da situação internacional nos últimos anos. Tal ofensiva, que
conheceu após os atentados de 11 de Setembro de 2001, um novo e perigoso
desenvolvimento, mergulha as suas raízes na própria natureza do capitalismo e
constitui a resposta dos círculos mais reaccionários do grande capital à crise
que o sistema capitalista atravessa.
A prática confirmou no
essencial a validade das análises e conclusões do XVI Congresso quanto aos principais
traços, tendências e contradições da fase actual do desenvolvimento económico
do capitalismo. Confirmou também os EUA como o principal factor de risco
para a economia mundial, num quadro de grande incerteza, arrastando consigo, em
graus diferenciados os outros pólos da «Tríade» (União Europeia e Japão) e o
resto da economia mundial.
O capitalismo continua a dispor
de enormes recursos, de sofisticados meios de concertação e gestão das crises a
nível mundial e regional e de possibilidades de aproveitamento e expansão de
mercados. Mas a situação da economia mundial apresenta-se cada vez mais
instável e continuam a ampliar-se as assimetrias e contradições do capitalismo.
Aumenta a terciarização das
economias capitalistas mais desenvolvidas e a sua progressiva
desindustrialização, com a crescente deslocalização para a periferia
capitalista das actividades de mão-de-obra intensiva. Aumentam as desigualdades
de rendimento e a pobreza, deixando milhões de seres humanos longe da
satisfação das suas necessidades básicas, empurrando-os para a emigração em
condições desumanas.
A crise económica de
2001-2003 é mais um
episódio de uma crise de sobreprodução latente e de uma crise estrutural mais
profunda do capitalismo. A «nova economia», ao contrário das expectativas dos
seus apologistas, não foi um ponto de viragem para um novo ciclo de
crescimento, sendo relevante que o esvaziar da bolha financeira se tenha
verificado sobretudo nas empresas ligadas às novas tecnologias da informação e
comunicação. Confirma-se o abrandamento das taxas de crescimento do produto
mundial, ainda mais visíveis ao nível do produto por habitante, principalmente
nos países capitalistas mais desenvolvidos, verificando-se em 2001 a redução
para metade do crescimento da economia mundial e, pela primeira vez, um
decréscimo do comércio mundial.
No plano económico e social a
ofensiva imperialista fica marcada pela aceleração da resposta neoliberal do
capitalismo à crise, assente nos objectivos traçados pelos chamados
«Consenso de Washington» e «Estratégia de Lisboa»: maior liberalização da
circulação de capitais e aplicação das mais-valias na esfera financeira e
especulativa; crescente intensificação e exploração do trabalho; pressão para a
redução da remuneração do trabalho e garantia de ganhos de produtividade para o
grande capital. Uma ofensiva caracterizada: pelo ataque ao sector público e aos
sistemas de segurança social em benefício dos grandes interesses privados; pelo
aproveitamento da expansão a novos mercados, como é exemplo a restauração do
capitalismo nos países do Leste da Europa e da ex-URSS ou o alargamento da UE;
pela liberalização do comércio e do investimento a nível mundial, com o
lançamento da ronda negocial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Doha,
apesar das rivalidades inter-imperialistas e das contradições entre o centro e
a periferia capitalista. Uma ofensiva que acelerou o processo de mercantilização
de todas as esferas da vida social, do produto do trabalho ao trabalhador,
passando pelo saber e até da própria vida.
Avoluma-se a contradição entre
os países capitalistas desenvolvidos - que concentram cada vez mais o consumo
de bens, matérias-primas e energia (nomeadamente os EUA, responsáveis por 30%
do consumo mundial de energia) - e outros países a braços com necessidades de
energia para o seu desenvolvimento, nomeadamente a China, a Índia, os novos
países industrializados do Sudeste Asiático e os países do Leste da Europa.
Contradição em que se destacam os EUA, responsáveis por 40% da poluição mundial
e 25% das emissões de CO2, expoente de um modelo de produção
predador e delapidador do ambiente.
Acentua-se ainda mais o grau de
financeirização do capital e a hipertrofia da esfera financeira face à
esfera produtiva. Os activos financeiros dos países mais desenvolvidos
representam em cada país cerca de 300% do respectivo Produto Interno Bruto
(PIB), e a capitalização bolsista ultrapassa o próprio PIB em países como os
EUA e a Grã-Bretanha. As dificuldades de obtenção de taxas de lucro
satisfatórias na esfera produtiva, que confirmam a lei sobre a baixa tendencial
da taxa de lucro, contribuem para o predomínio e desenvolvimento do capital
financeiro, com implicações directas negativas sobre o crescimento económico e
o emprego. Os elevados volumes de fluxos financeiros, nomeadamente de curto
prazo, assumem um papel crucial na crescente volatilidade e instabilidade dos
mercados financeiros internacionais. Enquanto a concorrência entre o capital se
agudiza a favor das grandes potências, os elevados graus de «financeirização»
da economia e de interdependência mundial da chamada «globalização» potenciam a
instabilidade do sistema e o surgimento de crises financeiras que, de 1975 a
1997 implicaram uma perda acumulada de cerca de 15% do produto mundial.
Reforça-se o poder da oligarquia financeira sobre a economia em geral.
Acumula-se o número de mega
falências fraudulentas. Grandes escândalos financeiros de expressão mundial
(Enron, Worldcom, Parmalat, entre outros) tiveram profundas repercussões
sócio-económicas nos países afectados (desemprego, segurança social, etc.),
mostrando os riscos do agravamento de dois traços do capitalismo actual: o
predomínio da financeirização do capital e da especulação e o crescente peso
das práticas criminosas na actividade económica. Aumentam os tráficos - de
armas, de drogas e de pessoas - e o branqueamento de capitais deles decorrente.
As práticas mafiosas e a corrupção que contaminam o poder capitalista tornam-se
parte integrante «normal» do funcionamento do sistema. A economia paralela não
pára de crescer.
Continua a acentuar-se o
processo de concentração e centralização do capital e o seu carácter
cada vez mais «regional» e «transcontinental». Na medida em que se acelera a
concorrência intercapitalista reforçam-se as tendências para a formação de
monopólios e oligopólios em praticamente todos os sectores da actividade
económica. As operações de fusão e aquisição de empresas representam hoje mais
de 12% do produto mundial e tiveram um amplo aumento durante a década de 90.
Reforça-se, por outro lado, a
centralização do capital nacional («de bandeira»), nomeadamente nos EUA, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido, Holanda. Aprofunda-se o papel subalterno do
capital nacional das economias mais débeis e a tendência para a sua eliminação
progressiva. Reforça-se, neste contexto, o peso das transnacionais, que
controlam 2/3 do comércio mundial, representando hoje, as maiores, um peso económico
superior a alguns Estados.
Favorecer os grandes grupos
económicos - abatendo fronteiras, instituindo a livre circulação de capitais,
liquidando ou submetendo as produções nacionais, forçando a abertura dos
mercados às suas actividades de rapina, pela guerra se necessário - tal é a
missão fundamental dos Estados e das Organizações Internacionais do
capitalismo.
Os processos de cooperação e
de crescente integração económica e política regional, decorrentes do desenvolvimento das
forças produtivas e da divisão internacional do trabalho, são também uma
consequência da crescente guerra económica entre blocos. Tais processos,
favorecendo embora a concentração capitalista, desempenham um papel
contraditório. Podem dificultar o avanço da hegemonia planetária das grandes
potências, como no caso do Mercado Comum Sul Americano (Mercosul) frente aos
EUA, ou facilitá-lo, como no caso da União Europeia, que surge como o exemplo
mais avançado de criação de um bloco económico, político e militar
imperialista. Por outro lado, multiplicam-se os espaços de concertação e
regulação capitalista a nível mundial, baseados em organizações como o Fundo
Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), Organização de Cooperação
e Desenvolvimento Económico (OCDE), a OMC ou em encontros «informais» como o
«Grupo dos 8» (G8), ou o Fórum de Davos, ou mesmo o «Grupo de Bilderberg» e a
«Trilateral».
A incerteza continua a
dominar as perspectivas da economia mundial. A prometida retoma não se confirmou em 2002. As previsões
económicas indicam que pode estar em curso uma retoma, encetada no segundo
semestre de 2003, liderada pelos EUA e nos países emergentes asiáticos. Mas
estas previsões continuam a ser prudentes e a apresentar diversos factores de
instabilidade decorrentes sobretudo dos fortes desequilíbrios estruturais da
economia norte-americana, devido aos seus elevados défices público e da balança
de transações correntes, que já ultrapassa os 5% do seu PIB. A desvalorização
do dólar, e consequente valorização do Euro, que tem vindo a bater recordes
históricos, cria fortes condicionalismos à retoma económica de vários países da
Zona Euro. Importa acompanhar o crescimento e impacto da economia chinesa no
plano mundial.
O endividamento dos EUA, equivalente a um quarto do seu PIB, levanta
o problema da sustentabilidade dos seus défices e do consumo privado e ameaça
com um ajustamento abrupto dos fluxos financeiros de dimensão mundial. Os
efeitos das políticas fiscais e monetárias expansionistas, assentes nas
despesas militares e nas baixas taxas de juro, vão começar a dissipar-se,
também no Japão, onde permanecem os efeitos deflacionistas após mais de uma
década de profunda recessão. Persistem elevados níveis de desemprego e pobreza
que, restringindo o acesso a bens essenciais, limitam o consumo privado. Por
outro lado, o crescimento do endividamento das famílias está a atingir os seus
limites. No mercado imobiliário, cujos preços têm vindo a subir a níveis
demasiado elevados, subsistem riscos de um ajustamento abrupto com consequências
de expressão mundial.
Num contexto de oscilações, o
forte aumento do preço de petróleo, devido às actividades especulativas, à
invasão e ocupação do Iraque e ao aumento da procura mundial, contribuiu para
esbater as pressões deflacionistas, mas condiciona a retoma económica e é um
factor de risco adicional. Este aumento tem uma natureza estrutural, que
decorre do aumento da procura mundial, mas deve-se também ao facto de estar a
aproximar-se (ou ter-se já verificado) o pico da produção mundial deste recurso
finito. Neste quadro, a gestão do controlo dos recursos petrolíferos e do gás
natural é um problema grave que põe em causa o «modelo» energético das
economias capitalistas e tende a tornar-se cada vez mais uma questão central de
disputa das potências imperialistas, como foi evidente na agressão ao Iraque e
ao Afeganistão ou na sua ingerência militar no Médio Oriente e no Cáucaso na
mira do controlo do gás natural, do petróleo e do traçado dos principais
oleodutos. Mas as dificuldades dos EUA em impor o seu controlo sobre o Iraque,
associadas à instabilidade e imprevisibilidade geradas em toda essa região,
tornaram-se noutro factor de peso para o agravamento do preço de petróleo e a
volatilidade dos mercados financeiros.
A restauração capitalista
nos países do Leste da Europa e ex-URSS, na diversidade de situações e diferença de ritmos que a
caracterizam, revela um quadro de subordinação aos interesses e estratégias do
grande capital e de intensificação da exploração capitalista, indissociável do
movimento de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e do
alargamento da UE. Estes processos, se por um lado traduzem crescentes
pretensões hegemónicas dos EUA e das grandes potências, por outro manifestam
também a competição interimperialista. É particularmente significativa, neste
contexto, a deslocação da máquina militar da NATO para junto das fronteiras
russas (europeia e asiática), aumentando objectivamente a pressão - e ameaças
sobre a Federação Russa - e convertendo os novos membros da aliança militar em
«linhas da frente» de um novo mapa geopolítico do continente.
Nos planos económico e social,
depois da grande recessão provocada pelas derrotas do socialismo e a
concomitante destruição dos aparelhos produtivos nacionais, os resultados desiguais
de crescimento dos indicadores económicos verificados nos anos mais recentes na
generalidade destes países atestam os elevadíssimos custos e as consequências
da chamada «transição capitalista», com destaque para a explosão da pobreza e
das desigualdades, a destruição dos sistemas de segurança social, de saúde e
educativo, a emergência do desemprego e da emigração em massa, a aplicação de
novos e mais regressivos códigos do trabalho, a acção criminosa na esfera
económica (incluindo tráfico de pessoas em larga escala) que se tornam
elementos estruturais do novo modelo económico, assente nas privatizações e na
submissão ao capital estrangeiro.
No plano político, num quadro
de grande fluidez na arrumação das forças políticas, multiplicam-se os sinais
de reforço de tendências securitárias e repressivas, a restrição de liberdades
e garantias, a par da emergência de fenómenos de nacionalismo, xenofobia, apartheid
social - como a discriminação extrema que afecta as comunidades eslavas, a quem
são recusados os direitos cívicos na Letónia e Estónia. Em alguns países
existem limitações constitucionais de carácter anticomunista e até a proibição
legal da existência de partidos comunistas (como nos Estados bálticos),
enquanto representantes do colaboracionismo nazifascista na II Guerra Mundial
são publicamente reabilitados.
O carácter explorador,
injusto e desumano do capitalismo é patente não apenas na sua incapacidade de resolver os problemas
da Humanidade, mas na tendência manifesta para o seu agravamento, sobretudo
onde pode manifestar-se mais livremente.
No plano da distribuição da
riqueza aprofunda-se o fosso entre uma enorme massa de seres humanos e uma
elite multimilionária. Ao mesmo tempo que: 1100 milhões de pessoas vivem com
menos de um dólar por dia; o número daqueles que vivem abaixo do limiar da
pobreza aumentou na maioria dos países em desenvolvimento; milhões de
trabalhadores são empurrados para o desemprego (só na OCDE os números reais
situam-se acima dos 50 milhões) - a riqueza combinada entre os 50 maiores
milionários do mundo equivale à soma do PIB de todos os países da África Sub
Saariana onde sobrevivem 688,4 milhões de pessoas.
Nas mais diversas áreas sociais
são extremamente dramáticas as consequências da polarização da riqueza,
registando-se claras situações de regressão civilizacional. No campo alimentar,
é a própria Organização das Nações Unidas (ONU) que reconhece já o bloqueio da
política de redução da fome no mundo com a inversão da tendência registada no
início dos anos 90, apontando agora o impressionante número de 36 milhões de
mortos por ano, ou seja, quase 70 seres humanos que sucumbem em média por
minuto à falta de alimentos.
Na área da saúde, ao mesmo
tempo que se conhecem autênticos crimes ligados ao negócio de medicamentos e
patentes, reaparecem doenças praticamente erradicadas num passado recente (como
o caso da tuberculose), e mais de 30 mil crianças morrem por dia devido a
causas evitáveis, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Em várias zonas do globo a
esperança média de vida decresceu, destacando-se a África Sub Saariana e os
territórios da ex-URSS. O alastramento do vírus do SIDA infecta em todo o mundo
mais de 60 milhões de pessoas, das quais 95% nos países em desenvolvimento.
A corrupção e o crime
organizado, características intrínsecas do sistema capitalista, constituem
factores acrescidos de exclusão e degradação humanas. Realidades
particularmente chocantes são as das crianças usadas nos negócios criminosos da
exploração sexual e trabalho infantil. Mais de 10% das crianças de todo o mundo
entre os 10 e os 14 anos são exploradas no trabalho infantil e cerca de 2
milhões de crianças são exploradas e violentadas na «indústria do sexo» a cada
ano que passa.
A guerra, a desigualdade
económica e o subdesenvolvimento do Terceiro Mundo estão inexoravelmente
ligados à sistemática degradação do planeta e das condições de vida dos povos
do mundo. As questões de natureza ambiental tornaram-se muito agudas. Fenómenos
como a destruição da camada de ozono e as alterações climáticas, a perda da
biodiversidade e a extinção das espécies, a desflorestação tropical e a
destruição das zonas húmidas, a erosão e desertificação dos solos e a poluição
dos mares e estuários que, representando uma séria degradação das bases
ecológicas da existência humana e das condições de vida na Terra, são
inseparáveis de causas sociais e históricas enraizadas nas relações de produção
capitalistas da dinâmica de crescimento ditadas pelas transnacionais e pela
lógica do lucro rápido que as caracteriza.
Aspecto particularmente grave
consiste na mercantilização e tentativa de submissão à propriedade privada de
factores básicos e essenciais para a existência da Humanidade, com implicações
ainda mais ameaçadoras ao nível da dominação de povos e Estados pelo poder de
grupos económicos transnacionais. Tal é o caso da água e produção de alimentos,
do patenteamento de códigos genéticos e programas informáticos (software), ou
da produção em larga escala ou sem a necessária avaliação dos riscos, de
organismos geneticamente modificados (OGM) - sem esquecer os crimes ligados com
o negócio dos medicamentos, questão que está a adquirir uma dimensão política
internacional muito séria.
A utilização pelo capitalismo
das conquistas da ciência e da técnica cerceia o seu potencial libertador,
constitui factor acrescido de exploração, opressão e guerra, é portadora de uma
lógica de desperdício e destruição que ameaça a própria vida humana.
O peso crescente do capital
financeiro especulativo e da «economia criminosa» que lhe está associada em
relação ao capital produtivo, assim como o papel do complexo militar-industrial
no funcionamento do capitalismo e com ele a corrida aos armamentos, a guerra
permanente e a chantagem nuclear, atestam bem a irracionalidade e perigosidade
do sistema.
Tudo isto põe em evidência a
contradição fundamental do capitalismo, ou seja, a contradição entre o
carácter social da produção e a apropriação privada dos meios de produção e a
exigência histórica de fazer corresponder ao impetuoso desenvolvimento das
forças produtivas novas relações de produção, de carácter socialista, capazes
de libertar todo o potencial emancipador das extraordinárias aquisições do
trabalho e do pensamento humano, colocá-las ao serviço da Humanidade e afastar
definitivamente o espectro da miséria, da guerra e da própria destruição do
planeta.
A abordagem
marxista-leninista da questão do poder é de decisiva importância na análise do capitalismo
contemporâneo. O carácter essencialmente coercivo e a natureza de classe do
Estado, os seus prolongamentos multi e transnacionais, a subordinação (e
crescente fusão) do poder político ao poder económico, o papel cada vez maior
do Estado e das estruturas supranacionais do capitalismo no sistema de
reprodução do capital e no processo de centralização e concentração do capital
e da riqueza, são questões que necessitam estudo atento já que, a conquista do
poder e a sua transformação classista permanecem como questões centrais da luta
emancipadora.
Ao contrário do que apregoam os
ideólogos do neoliberalismo, o poder não se dispersa, concentra-se; o Estado
não se dilui na chamada «sociedade civil», reforça-se nas suas vertentes de
classe imperialista; os «espaços» de liberdade e participação não se alargam,
restringem-se, crescentemente golpeados por medidas securitárias e crescentes
ataques a direitos, liberdades e garantias fundamentais; a soberania nacional
recua diante das exigências do poder das multinacionais, transformando governos
dos países periféricos em simples instrumentos da «boa governação» imperialista.
São cada vez maiores os ataques
à democracia mesmo na sua dimensão política formal. É evidente a crise do
sistema de representação liberal-burguês, subjugado pelo poder económico e
descredibilizado pelo sistema de alternância entre a direita e a social-democracia.
Direitos e conquistas
históricas estão a ser sistematicamente postos em causa. O revisionismo
histórico, encorajado pelas derrotas da construção do socialismo, branqueia os
mais monstruosos crimes do capitalismo, deforma e denigre a Revolução de
Outubro e o empreendimento de uma nova sociedade a que deu lugar, insiste na
tentativa de criminalizar o comunismo e os comunistas. Os meios de comunicação
social de massas e outros instrumentos ao serviço da manipulação ideológica da
grande burguesia promovem os valores mais reaccionários e banalizam a violência
e as facetas mais perversas do capitalismo: desde a miséria extrema à
utilização de armas nucleares, desde a violação da soberania dos povos à
tortura, desde as detenções arbitrárias e ilegais ao recurso permanente à
guerra, desde o «choque de civilizações» à acção de subversão e ingerência da
CIA e outros serviços secretos; um retrocesso no plano cultural que promove o
obscurantismo, a ignorância, ideias anticientíficas e místicas, o egoísmo e a
intolerância racial e cultural, a degradação de valores e do ser humano. Cresce
a ameaça do populismo, do racismo e da extrema-direita.
Como bem mostra o comportamento
de governos como o dos EUA ou de Israel, e a montanha de ilegalidades, crimes e
práticas terroristas contra povos como o palestiniano e o iraquiano, estão em
acelerado processo de desenvolvimento tendências autoritárias, repressivas e
fascizantes. A tentativa de instaurar uma nova ordem totalitária, hegemonizada
pelos EUA, contra os trabalhadores e contra os povos, encerra os maiores
perigos para toda a humanidade.
1.2. A ofensiva do
imperialismo
A ofensiva global do
imperialismo, e em particular do imperialismo norte-americano, pela hegemonia
mundial foi repetidamente prevista e fundamentada pelo PCP nos seus Congressos
realizados após 1991. Esta ofensiva tem a sua causa próxima na alteração
radical da correlação de forças no plano internacional, resultante da
desagregação da URSS e das derrotas do socialismo no Leste da Europa e do enfraquecimento
das forças do progresso social no plano mundial.
A nível mais profundo, a
ofensiva global do imperialismo é resultado da própria dinâmica do sistema
capitalista, cuja natureza exploradora e agressiva não se alterou nas suas
características fundamentais. Uma ofensiva que é determinada pelas exigências
de reprodução do capital e a corrida ao máximo lucro; pela necessidade de
intensificar a exploração dos trabalhadores, tanto nos países periféricos como
nos centros do poder imperialista, a fim de satisfazer as exigências da
acumulação capitalista e enfrentar a baixa tendencial da taxa de lucro,
reduzindo o preço da força de trabalho e enfraquecendo a capacidade
reivindicativa de quem trabalha; pela necessidade de alargar o seu domínio a
novos mercados, abolindo as restrições à circulação do capital financeiro e à
pilhagem por parte das empresas transnacionais; pela necessidade de dominar
novas fontes de matérias-primas baratas, com destaque para as energéticas, cujo
controlo é decisivo para impor a sua hegemonia; pela vontade de esmagar formas
autónomas de produção, comercialização e consumo, não integradas nos circuitos
controlados pelas grandes empresas dos centros do imperialismo, quer sejam de
natureza familiar, pública ou mesmo capitalista.
É neste contexto que se assiste
a violentas ofensivas para liquidar avanços históricos e direitos dos
trabalhadores, à regressão social e ao agravamento das injustiças e
desigualdades, à privatização de serviços sociais e do sector público
empresarial, transferindo para o domínio do capital privado sectores e funções
cruciais para um desenvolvimento social mais justo (saúde, educação e cultura,
segurança social, transportes e comunicações, habitação, água e electricidade).
O esvaziamento das funções
sociais do Estado que foram conquistadas pela luta do movimento operário
(sobretudo na correlação de forças favorável após a II Guerra Mundial), é um
traço relevante da actual situação internacional. O capitalismo sente-se mais
livre para funcionar sem condicionamentos nem concessões, e procura privilegiar
e sofisticar as tradicionais funções repressivas do Estado enquanto instrumento
de dominação de classe.
Além do desemprego e da
precariedade das relações laborais que invadem o mundo do trabalho, o
imperialismo fomenta uma cultura de insegurança e medo como factor de
desmobilização da luta e manutenção do seu poder.
São expressões particularmente
graves desta ofensiva do imperialismo: o militarismo e o recurso à guerra e o
afrontamento sistemático do Direito Internacional; a inquietante generalização
de ataques a direitos, liberdades e garantias com a criminalização e mesmo a
tentativa de identificação com o terrorismo da resistência à opressão; com o
reforço em quase todos os países de legislação e de mecanismos repressivos
(Patriot Act nos EUA), as detenções arbitrárias e sem qualquer respeito pelas
Convenções internacionais, e o sistemático recurso à tortura; a utilização
implacável de estruturas supranacionais como o FMI, BM, BCE, OMC, OCDE, para a
imposição de políticas favoráveis ao grande capital; o regresso de formas
clássicas de dominação colonial, através dos «protectorados» (Bósnia, Kosovo),
ou da ocupação militar directa (Afeganistão, Iraque); a tentativa de subverter
e destruir a ONU e o seu sistema de agências internacionais, cuja função
original de garante da paz e de promotor do desenvolvimento se pretende
substituir por um papel de «legitimador» e de «almofada» das agressões
imperialistas; o reforço da NATO e de outras alianças militares agressivas (como
o Tratado nipo-norte-americano), com a adopção de novos conceitos estratégicos
abertamente ofensivos e «preventivos», ao mesmo tempo que se desenvolvem
processos de remilitarização da Alemanha e do Japão e de militarização da UE e
se intensifica o intervencionismo militar para controlar e influenciar países
soberanos (R. D. Congo, Costa do Marfim, Sudão, etc.).
O que está em curso é uma
resposta de força imperialista às dramáticas e explosivas contradições do mundo
contemporâneo. E com ela a tentativa de desmantelar a ordem jurídica e
institucional, fundamentalmente pacífica e democrática, resultante da derrota
do nazifascismo e a sua substituição por uma nova ordem mundial totalitária
contra os trabalhadores e contra os povos, hegemonizada pelos EUA, ao serviço
do grande capital e do imperialismo. Uma tal tentativa tem exacerbado e
agravado todas as contradições, injustiças e desigualdades, incluindo no
próprio campo do imperialismo.
Concertação e rivalidade
interimperialista são
duas facetas inseparáveis da dinâmica do sistema capitalista, às quais é
necessário prestar grande atenção, analisando em cada momento o que predomina e
o quadro concreto de arrumação de forças. Do petróleo aos sistemas de
comunicação, da produção e comércio de armamento ao sistema de espionagem
Echelon, são inúmeros os agudos conflitos de interesse. Prossegue a disputa
pelo controlo económico, político e militar de vastas regiões como o Leste da
Europa, o Médio Oriente, a Ásia Central, a África e muitas outras.
A tendência conjuntural é para
o compromisso em nome dos interesses de classe mais gerais do grande capital e
para o sistemático recuo das outras grandes potências da «Tríade» diante das
pretensões hegemónicas dos EUA. É o que se tem verificado nomeadamente no
quadro da NATO, nas vergonhosas posições da UE em relação a Cuba ou à
Palestina, e o que expressa a inquietante resolução 1546 do Conselho de
Segurança da ONU sobre o Iraque. Entretanto, tal como o desencadeamento pelos
EUA da guerra do Iraque e o processo de militarização da UE revelam, tais
arranjos de interesses coexistem com a luta por esferas de influência e
domínio, que a arrogância do imperialismo norte-americano tende a agudizar.
Os quatro anos decorridos desde
o XVI Congresso ficaram marcados pelo reforço das rivalidades entre os
vários pólos do imperialismo. Estas rivalidades, assentam em bases
objectivas, ligadas ao grau diverso de poder económico, político e militar dos
vários pólos e à sua evolução a ritmos desiguais. Uma evolução que quebra
anteriores equilíbrios e cria novas correlações de força, cuja resolução levou
no passado, por mais de uma vez, a grandes enfrentamentos militares.
O grande capital
norte-americano,
confrontado com um gradual enfraquecimento económico relativo, no decurso das
últimas décadas, e um crescimento dos pólos europeu e asiáticos, aproveitou a
alteração da correlação de forças para passar à ofensiva no plano mundial e
procurar reforçar a sua posição hegemónica no seio do capitalismo mundial
através dos meios nos quais dispõe ainda de uma clara superioridade
qualitativa: o controlo dos mercados financeiros, o papel da sua moeda, a
informação, a produção e propaganda ideológicas, mas sobretudo o poderio
militar.
Respondendo a interesses das
classes dominantes e situando-se claramente numa linha de continuidade do
governo Clinton e outros, esta estratégia conheceu um salto qualitativo com o
reforço no poder dos sectores mais reaccionários do grande capital, ligados de
forma particular às indústrias militar e petrolífera, de que o governo Bush é
um fiel representante e com as quais está particularmente comprometido.
A pretexto dos atentados
terroristas de 11 de Setembro de 2001 (cujos contornos não estão ainda
completamente apurados) o imperialismo norte-americano conduz uma ofensiva onde
são de destacar: duas guerras de agressão de grandes proporções (Afeganistão e
Iraque), ou intervenções militares de menor envergadura (Haiti); um salto
qualitativo no processo de subversão da ordem internacional, da Carta da ONU e
do Direito Internacional, com a revogação formal de Tratados e Acordos
existentes (Tratado ABM), a recusa em assinar Acordos como o das Armas
Biológicas ou o Protocolo Ambiental de Quioto; admissão da utilização de armas
nucleares e o financiamento de programas para o seu desenvolvimento; a
militarização do espaço com o programa da «guerra das estrelas»; o
estabelecimento de novas bases militares dos EUA, e da NATO, nomeadamente em
território dos antigos países socialistas, sendo de realçar o prosseguimento de
um cerco à Rússia e à China, encaradas como potenciais rivais; o aumento
significativo das despesas militares, que rondam actualmente os 450 mil milhões
de dólares no Orçamento dos EUA, cerca de metade dos gastos militares do
planeta; a insistência na criação de novos mecanismos agressivos, tais como o
Plano Colômbia ou a força militar de intervenção rápida propostos na recente
Cimeira dos G8; recurso às mais violentas formas de terrorismo de Estado, como
os terríveis crimes do governo israelita contra o povo palestiniano, e
bombardeamentos de populações e instalações civis, frequentemente com recurso a
armas não convencionais; a violação sistemática de acordos e garantias visando
a protecção de cidadãos, tais como o princípio do habeas corpus ou a
Convenção de Genebra sobre o Tratamento de Prisioneiros de Guerra; o recurso
sistemático às mais descaradas mentiras e falsificações como forma de procurar
legitimar a política de agressão e os crimes perpetrados; a agressão e a guerra
como meio de gerar em curto prazo fabulosos lucros para o grande capital, quer
pelo controlo de recursos e empresas dos países agredidos, quer pelas
encomendas de armas e equipamento militar, quer através dos negócios de
«reconstrução» das destruições provocadas pela guerra.
Três anos passados sobre o 11
de Setembro tornou-se uma evidência que a chamada guerra ao terrorismo
constitui, no essencial, cobertura política e ideológica para os objectivos
estratégicos de domínio mundial do imperialismo. O terrorismo, historicamente
contrário aos interesses dos trabalhadores e dos povos, é um problema real que
precisa de ser firmemente combatido. Mas a «guerra ao terrorismo» conduzida
pelos EUA e seus aliados, com métodos de autêntico terrorismo de Estado, em
lugar de o reduzir e isolar, alimenta-o e amplia-o. O combate ao terrorismo
faz-se fundamentalmente lutando contra as suas raízes sócio-económicas e
ideológicas - exploração, miséria, aprofundamento das injustiças e
desigualdades sociais, pilhagem e opressão nacional, perseguição cultural e
religiosa - e não com o afrontamento do Direito Internacional, o ataque
sistemático a direitos, liberdades e garantias, o racismo e a guerra que a seu
pretexto promovem.
A ofensiva do imperialismo
norte-americano entrou numa fase de grandes dificuldades durante a primeira
metade de 2004 devido, em primeiro lugar, à resistência do povo iraquiano à
invasão do seu país pelos EUA e seus aliados. A ocupação militar directa
saldou-se por um estrondoso fracasso político e uma forte resistência armada.
A consciência, no seio dos centros
do imperialismo, dos perigos de uma clara derrota da aventura iraquiana dos EUA
para a sua estratégia de dominação planetária está a conduzir a rearrumações
de forças no campo do imperialismo e à procura de estratégias de recuo que
preservem o fundamental do sistema de dominação imperialista, quer no Iraque
quer no plano mais geral.
Trata-se de um processo que se
encontra em desenvolvimento, passível de surpresas e sobressaltos, tendo em
conta a importância das questões em jogo e a natureza objectiva das
contradições: a relação de forças entre os vários centros do imperialismo e
entre as respectivas moedas, o controlo dos limitados recursos energéticos
fósseis (em particular do petróleo) do planeta, a distribuição das concessões
necessárias para sair da crise e para a solução dos enormes problemas
económicos dos EUA e do capitalismo mundial, a repartição dos recursos e
mercados.
O novo mandato de Bush à frente
do governo dos EUA confirma e reforça a opção de sectores importantes do grande
capital norte-americano pela estratégia de confrontação e agressão a nível
mundial. Essa opção encerra os maiores perigos para a Humanidade.
É tarefa das forças
progressistas e revolucionárias lutar para impedir que as dificuldades da ofensiva imperialista a
nível mundial se saldem quer por uma escalada aventureirista de desfechos
trágicos, quer por acordos e soluções que salvem a essência da política de
dominação, exploração e guerra do imperialismo. Pelo contrário, é necessário
incrementar a resistência generalizada dos trabalhadores e dos povos às
políticas que conduziram o mundo a uma crise de grandes proporções, a fim de
criar as condições para transformações revolucionárias que possam erradicar a
causa de fundo dessa crise: o capitalismo.
Neste contexto, e independentemente
das contradições que prosseguem com os outros pólos da «Tríade», são de
combater as ilusões de que uma União Europeia sob o comando do grande capital
possa representar uma alternativa ao imperialismo norte-americano e devem ser
combatidas as actuais tendências para o reforço do militarismo e do federalismo
no seio da União Europeia.
A derrota do imperialismo
será obra da luta dos trabalhadores e dos povos, e resultará da nova correlação
de forças mundial que essa luta venha a criar.
1.3. A resistência e a luta
dos trabalhadores e dos povos
A ofensiva do imperialismo é
global e particularmente violenta. Procura arrebatar conquistas alcançadas por
muitas décadas de duras lutas, destruir até aos alicerces as realizações do
socialismo e perverter a sua memória, semear entre as massas o derrotismo, o
conformismo e a desesperança. Tudo isto cria sérios problemas e dificuldades à
acção dos comunistas e outras forças progressistas e revolucionárias.
Mas os povos não se submetem. O
imperialismo encontra crescente resistência. Por toda a parte prossegue a luta
libertadora dos trabalhadores e dos povos.
A resistência do povo iraquiano
à guerra de ocupação do Iraque reveste-se de uma grande importância e
significado político, mostrando que, mesmo na ausência de uma força nacional
aglutinadora e de uma clara perspectiva revolucionária (que fizeram a força da
resistência, por exemplo no Vietname), é possível enfrentar os exércitos mais
poderosos, confirmando que a defesa da soberania e da independência nacional
permanece um factor da mais alta importância na luta pelo progresso social.
A luta contra o imperialismo, e em primeiro lugar contra o
imperialismo norte-americano e a sua política de agressão e de guerra, é de
crucial importância. É necessário prestar-lhe ainda mais atenção e intensificar
por todas as formas possíveis a solidariedade anti-imperialista para com os
povos vítimas da ingerência e agressão dos EUA e de outras grandes potências.
No Iraque, na Palestina, em Cuba e na Venezuela, assim como na Colômbia, nos
Balcãs, no Afeganistão, na R. D. P. da Coreia, em Chipre e noutros países
travam-se batalhas de primeira linha cujo resultado terá grandes repercussões e
consequências para o futuro da humanidade. As grandes mobilizações mundiais
pela paz e contra a guerra no Iraque revestem-se por isso de uma excepcional
importância, sendo necessário promover a sua continuação, organização e
carácter anti-imperialista.
É de sublinhar também o
significado da crescente resistência às ruinosas políticas do FMI, BM ou OMC
e ao domínio avassalador das transnacionais. A ampla luta popular contra a
privatização de serviços e empresas públicas, nomeadamente na Europa e América
Latina onde, como na Bolívia, assumiu formas insurreccionais; a luta contra o
Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), projecto recolonizador da América
Latina pelos EUA; a emergência na Cimeira de Cancun do «Grupo dos 20» integrado
por importantes países que resistem às imposições económicas do imperialismo -
são acontecimentos relevantes que importa valorizar.
A contradição antagónica
entre o capital e o trabalho continua no centro da luta de classes e pela superação
revolucionária do capitalismo. Tanto no centro como na periferia do mundo
capitalista tiveram lugar importantes lutas da classe operária e dos
trabalhadores assalariados, e o movimento sindical onde continua a luta em
defesa do seu carácter de classe, confirmou-se como o mais estável, massivo e
influente movimento social.
O ascenso da luta de massas, embora irregular, foi o traço mais
significativo da luta dos trabalhadores desde o último Congresso. O movimento
grevista, incluindo greves gerais e nacionais de grande impacto político, teve
forte expressão em numerosos países de todos os continentes, envolvendo a
classe operária e restantes trabalhadores de grandes empresas públicas ou
privadas e de sectores e ramos de actividade muito diversos. Grandes jornadas
de luta, manifestações, mobilizando em diversos países da América Latina, da
Europa e da Ásia centenas de milhar e mesmo milhões de manifestantes,
associaram frequentemente reivindicações económicas a reclamações directamente
políticas, de carácter democrático e progressista. A resistência à ofensiva
exploradora do capital e destruidora de direitos e conquistas históricas dos trabalhadores,
de que é exemplo a luta contra as privatizações, em defesa dos postos de
trabalho e contra o desemprego, em defesa dos serviços públicos, do direito à
educação, da segurança social, das reformas e pensões, contra a precariedade e
a desregulação das relações laborais, pela valorização dos salários e a redução
do horário de trabalho, a luta pelos direitos das mulheres, dos jovens
trabalhadores e dos estudantes, contra a exploração do trabalho infantil e em
defesa do meio ambiente, contribuiu para limitar o alcance dos objectivos do
grande capital.
A problemática da imigração
tornou-se em muitos países (Portugal incluído) uma questão incontornável, não
apenas de carácter sócio-económico, mas de classe e de internacionalismo. É
necessário intensificar a luta para que os trabalhadores imigrantes usufruam os
mesmos direitos e regalias dos outros trabalhadores. A construção da unidade
internacional dos trabalhadores e da aliança da classe operária dos países
capitalistas desenvolvidos com os povos oprimidos dos países do «Terceiro
Mundo» passa também por aqui.
Defender o movimento sindical
da violenta ofensiva do capital, aumentar a sindicalização, libertar os
sindicatos da influência reformista e de colaboração de classes que o domina em
muitos países, nomeadamente na Europa, é da maior importância para o avanço da
resistência e da luta contra a ofensiva do grande capital e do imperialismo.
À centralização e concentração
do capital e ao domínio das relações económicas internacionais por um punhado
de transnacionais corresponde a acelerada proletarização das camadas sociais
intermédias e o alargamento do campo das forças antimonopolistas. Esta
realidade coloca a necessidade do reforço do internacionalismo e da unidade da
classe operária e dos trabalhadores em todo o mundo.
As lutas das massas camponesas,
proletariado agrícola e produtores independentes, pela terra, pela soberania
alimentar e o direito de produzir, contra as imposições da OMC e das
multinacionais da indústria e comércio agro-alimentar, por preços compensadores
à produção, envolvem centenas de milhões de pessoas por todo o mundo e que, em
muitos casos, como na Índia ou no Brasil, estão fortemente organizadas em
experientes movimentos de classe. Lutas que, contra a demagogia
assistencialista, colocam por toda a parte a exigência da Reforma Agrária, de
profundas transformações da estrutura e da propriedade da terra e do comércio
agro-alimentar, assim como os direitos das comunidades indígenas e a defesa do
meio ambiente contra as brutais agressões das transnacionais.
A luta das massas camponesas
continuou no primeiro plano em numerosos países apesar da sua quase nula
visibilidade mediática salvo quando, como no Equador, no Peru ou na Bolívia,
explodiu em poderosos movimentos de massas de carácter insurreccional com
grande expressão no plano político, ou como em Bombaim, onde os sindicatos e
organizações camponesas contribuíram decisivamente para o carácter popular
combativo do 3.º Fórum Social Mundial.
Devem também ser valorizadas:
as lutas da pequena e mesmo média burguesia urbana, nomeadamente dos micro,
pequenos e médios empresários; as lutas dos intelectuais e quadros técnicos,
uma camada cada vez mais proletarizada e numerosa; as lutas das mulheres, cujos
movimentos pela promoção dos seus direitos e pela efectiva igualdade nos planos
económico, político, social e cultural têm uma importância cada vez maior na
sociedade; as lutas dos jovens e estudantes, cujo peso social aumenta em muitos
países, com grandes lutas pelo emprego, pela escola pública e a democratização
do ensino, por um futuro melhor, sendo justo valorizar a acção da Federação
Mundial da Juventude e dos Estudantes (FMJD) e o movimento dos festivais
mundiais da juventude e dos estudantes, com o seu carácter de massas e conteúdo
anti-imperialista.
Com o brusco agravamento da
política agressiva do imperialismo norte-americano o movimento pela paz
conheceu grande desenvolvimento, aglutinando em grandes acções de massas de
dimensão mundial um amplo leque de organizações unitárias, movimentos sociais e
forças políticas. Perante o anúncio do ataque ao Iraque, dezenas de milhões de
pessoas saíram à rua para tentar impedir a agressão e protestar contra a sua
concretização, apontando o governo norte-americano como o principal inimigo da
paz. As poderosas mobilizações de 15 de Fevereiro e 20 de Março de 2003 contra
a guerra no Iraque, realizadas simultaneamente em numerosos países, constituem
um facto novo de grande relevo na luta dos trabalhadores e dos povos, contra o
imperialismo e contra a guerra.
Embora com graus e aspectos
diferenciados, deve ser valorizado na resistência à nova ordem imperialista, o
papel dos países que definem como orientação e objectivo a construção de uma
sociedade socialista - Cuba, China, Vietname, Laos, R. D. P. da Coreia.
Para além de apresentarem profundas diferenças entre si, estes países
constituem importantes realidades da vida internacional, cujas experiências é
necessário acompanhar, conhecer e avaliar, independentemente das diferenças que
existem em relação à nossa concepção programática de sociedade socialista a que
aspiramos para Portugal, e de inquietações e discordâncias, por vezes profundas
e de princípio, que nos suscitam.
Não é por acaso que, combinando
pressões de ordem política, económica e militar, que vão do bloqueio económico
à ameaça de agressão armada, o imperialismo tem estes países como alvo
permanente das suas campanhas de desestabilização e agressão. Isto acontece
tanto para tentar destruir a força do exemplo revolucionário e patriótico, como
no caso de Cuba e da sua revolução socialista, vítima de um bloqueio criminoso
e ilegal, como para conter e se possível subverter a poderosa realidade
geostratégica que a China representa. É do interesse das forças do progresso
social e da paz que fracassem tais objectivos do imperialismo e que os povos
destes países, como todos os povos do mundo, possam decidir sem pressões e
ingerências externas a sua própria via de desenvolvimento.
O alargamento da frente social
de luta contra o capital e o agravamento dos problemas das massas populares
conduziram nos últimos tempos a uma explosão de reivindicações, causas
específicas e movimentos do mais variado tipo. Valorizando o que de positivo
esta realidade contém como vontade de participação cívica e intervenção democrática,
é necessário contrariar a atomização e dispersão do movimento social e pressões
para a sua despolitização e recuperação reformista.
A luta pela convergência de
todas as classes e camadas antimonopolistas numa vasta frente de luta
anticapitalista e anti-imperialista é uma tarefa fundamental no momento actual.
A erupção do chamado «movimento
antiglobalização» (nas suas diferentes expressões, desde acções de massas
de contestação da política das organizações internacionais do imperialismo, aos
Fóruns Sociais Mundiais ou Regionais) constitui uma nova e importante realidade
da vida internacional. Representa a entrada na luta de camadas sociais
duramente atingidas nos seus interesses e aspirações pelo rolo compressor do
neoliberalismo. Significa uma brecha profunda aberta na teoria do «pensamento
único» que prega o conformismo e a impotência. Expressa o estreitamento da base
social de apoio do capitalismo na sua forma actual e tem uma forte componente
anticapitalista e anti-imperialista que importa acentuar.
Em torno do conteúdo e
significado do «movimento antiglobalização» trava-se uma intensa luta política
e ideológica. Entre aqueles que o situam no terreno concreto da luta de classes
e do combate anti-imperialista, e os que dele fazem uma abstracção em conformidade
com as suas teorizações especulativas. Entre os que procuram salvaguardar e
acentuar o seu carácter anticapitalista e os que, pretendendo apenas
«humanizar» a globalização capitalista, se empenham na sua recuperação e
institucionalização reformista. Entre os que defendem a necessidade do partido
revolucionário e do sindicalismo de classe e aqueles que a negam e combatem,
reduzindo a acção transformadora a um movimentismo anarquizante inconsequente.
Entre os que consideram incontornável e determinante o marco nacional de luta
necessariamente articulado com a solidariedade internacionalista, e os que o
consideram ultrapassado e defendem um «novo internacionalismo» sem raiz de
classe e conteúdo anticapitalista. Entre os que vêem nos Fórum Social Mundial e
Europeu um ponto de encontro e convergência na acção de organizações, partidos
e movimentos diversificados, e aqueles que procuram criar estruturas e redes
supranacionais e impor a partir «de fora e de cima» agendas políticas, que não
só não têm correspondência com a dinâmica real da luta de classes em cada país,
como tendem a alienar as lutas populares.
O PCP tem participado e
continuará a participar activamente nas principais acções do «movimento
antiglobalização»: valorizando uma realidade que é expressão da crescente
resistência ao imperialismo; com a afirmação das suas posições e identidade
própria; coordenando a sua intervenção com a de outros partidos comunistas e
revolucionários de modo a conseguir, a par da mais ampla unidade contra o
neoliberalismo e a guerra, a projecção dos valores e do projecto comunista. A
participação do PCP nesse «movimento» é necessária para que, como noutras
ocasiões históricas, se não frustre o crescente descontentamento, contestação e
radicalização, principalmente da juventude, e se reforcem as forças
consequentemente anticapitalistas e revolucionárias.
A frente anti-imperialista, muito ampla e diversificada, apresenta
um grau de dispersão de objectivos e formas de intervenção que é importante
superar. É necessário precisar os grandes eixos de acção comum ou convergente
que ajudem a unificar e a dar maior eficácia à luta. Como contribuição para
este objectivo, o PCP destaca nomeadamente: a luta contra o militarismo e a
guerra e o recurso à força nas relações internacionais; pela dissolução da NATO
e de outras alianças militares agressivas; contra o processo de transformação
da União Europeia num bloco político-militar imperialista; pelo desarmamento,
pela abolição de todas as armas de destruição massiva e pela proibição das
armas e da chantagem nucleares; pelo respeito da Carta das Nações Unidas e do
Direito Internacional, pela democratização da ONU e o reforço do seu papel,
incluindo das suas Agências especializadas, na promoção da paz e do
desenvolvimento; por relações económicas internacionais mais equitativas e mais
justas, contra as políticas do FMI, BM, OMC e outras organizações
internacionais ao serviço do capital financeiro e das transnacionais, pela
anulação da Dívida Externa dos países do chamado Terceiro Mundo; pela taxação
do capital especulativo; contra as políticas neoliberais de desmantelamento de
conquistas e direitos dos trabalhadores, em defesa dos serviços e sector
públicos e contra a mercantilização de todas as esferas da vida social, pelo
pleno emprego e estabilidade das relações laborais; contra a destruição
ecológica do planeta; solidariedade com todos os povos vítimas da ingerência
imperialista e que lutam pela sua soberania, a começar pelos povos da
Palestina, do Iraque, do Afeganistão, de Cuba, do Saara Ocidental.
A resistência à violenta
ofensiva do imperialismo manifesta-se sob formas muito diversas e nem sempre é
fácil identificar, caracterizar e arrumar, de um ponto de vista de classe, as
suas várias componentes sociais e políticas. Pode entretanto afirmar-se que os
partidos comunistas e outros partidos revolucionários, o movimento operário e
sindical de classe, os Estados de orientação socialista e anti-imperialista, os
povos que lutam pela sua libertação nacional e desenvolvimento independente, o
movimento contra as guerras imperialistas e pela paz, constituem as grandes
forças progressistas de transformação social cuja aliança é necessária para
conter e derrotar o imperialismo.
O PCP tem isso presente na sua
política de relações internacionais, agindo para que se reforce a sua
cooperação e amizade, combatendo as tentativas, tanto do imperialismo como de
sectores oportunistas, de semear a divisão e a desconfiança no campo das forças
do progresso social e da paz.
A evolução da situação
internacional coloca com toda a evidência a exigência de fortalecimento dos
partidos comunistas, do reforço da sua cooperação e solidariedade
internacionalista, da afirmação convicta e confiante do seu projecto de
edificação de uma sociedade socialista, do combate a velhas e novas linhas de
ataque aos fundamentos ideológicos e organizativos do partido revolucionário.
Vencer as grandes debilidades actuais e construir fortes partidos comunistas é
indispensável para o êxito da luta.
Os problemas e dificuldades que
se erguem no caminho do relançamento do movimento comunista e revolucionário
internacional são muito grandes e de diversa natureza e a sua superação
exige firmeza de princípios, resposta criativa às novas realidades, tenacidade
revolucionária. Entre eles salienta-se: a ofensiva global do imperialismo com
os violentos ataques a direitos, liberdades e garantias democráticas e
criminalização das forças que lhe resistem; a desestruturação e instabilidade
das relações sociais com profundas incidências na composição e arrumação das
forças de classe e na formação da consciência de classe; e ainda as
repercussões no plano objectivo e subjectivo da desagregação da URSS e das
derrotas do socialismo na Europa.
Existem partidos comunistas com
forte influência de massas e mesmo institucional. Entretanto, o enfraquecimento
do movimento comunista deixou campo livre ao relançamento de concepções e
práticas de raiz pequeno-burguesa, radical-reformista, anarquizante e
anticomunista. Continuam a manifestar-se em importantes partidos fortes
tendências para a descaracterização e para o abandono de elementos
constituintes de um partido comunista (teoria revolucionária, natureza de
classe, forma de organização, objectivo do socialismo) e sua diluição em
ambíguos projectos de «esquerda».
A complexa luta pelo reforço
dos partidos comunistas e a sua afirmação como instrumento insubstituível da
resistência e da alternativa passam pela sua capacidade para se ligarem à
classe operária, aos trabalhadores e ao povo, encabeçar as suas lutas, formular
uma clara perspectiva transformadora e revolucionária. Implica simultaneamente
a crítica sistemática de concepções oportunistas e capitulacionistas, e em
particular de teorizações utópicas pré-marxistas ou neobernsteinianas que
ignoram, negam e combatem a luta de classes e as aquisições históricas do
pensamento e da prática marxista-leninista. E implica também a crítica a
posições sectárias e dogmáticas. Não basta a um partido afirmar-se comunista
para realmente o ser.
A agressividade do grande
capital e do imperialismo, a par do estreitamento da sua base social de apoio,
torna particularmente necessário o alargamento da cooperação e solidariedade
dos partidos comunistas e demais forças revolucionárias e de esquerda
anticapitalistas. É muito urgente vencer os atrasos existentes, sem o que o
descontentamento e a ampla contestação das políticas neoliberais e de guerra
poderão frustrar-se ou serem recuperados por uma qualquer variante de
reformismo estruturalmente comprometido com a reprodução do sistema de
exploração capitalista, como é o caso da social-democracia.
Mas para avançar com eficácia e
segurança é necessário pôr de lado preconceitos ideológicos, valorizar o que
une reconhecendo e respeitando as profundas diferenças existentes (de situação,
de perfil político-ideológico, de projecto, de organização, de influência)
entre as forças que se propõem cooperar, pôr o acento na unidade na acção e
para a acção em torno dos problemas e aspirações mais sentidos pelas massas. É
indispensável a vinculação com os interesses dos trabalhadores e a clara
demarcação da social-democracia. É necessário respeitar os princípios
consagrados da igualdade de direitos, soberania, não ingerência nos assuntos
internos.
Partindo destes critérios
básicos, o PCP tem dado e continuará a dar o seu contributo para o
fortalecimento da cooperação e da solidariedade das forças de esquerda em todo
o mundo, nomeadamente na Europa, com a sua permanente abertura ao diálogo e a
sua participação activa e empenhada, tanto em acções conjuntas em torno de
problemas comuns, como em encontros, conferências, seminários, fóruns de
variado tipo.
Dando prioridade à acção comum
ou convergente por objectivos concretos e à organização de iniciativas
internacionais contra o neoliberalismo e a guerra, o PCP, ao mesmo tempo que
discorda de partidos supranacionais, defende há muito a necessidade de caminhar
para formas mais estáveis de articulação entre partidos comunistas e outros
partidos revolucionários.
Mas os atrasos neste domínio,
nomeadamente na Europa, não se resolvem precipitando soluções e com lógicas de
tipo federalista, com «maiorias» e «minorias», ignorando a grande diversidade
de situações existentes. São necessárias soluções unitárias, respeitadoras da
soberania e identidade de todos, que unam e não que possam criar dificuldades e
fracturas suplementares.
O «Partido da Esquerda Europeia»
que, na sua origem, na sua lógica federalista, no seu relacionamento com as
instituições da UE, no enquadramento político e ideológico que lhe é atribuído
por alguns dos seus principais protagonistas, está em contradição com as
concepções que temos defendido de cooperação, autonomia e soberania. Ao que
acresce o facto de ser concebido, por alguns, em contraposição com critérios
básicos que o PCP considera serem os que melhor servem a agregação de forças
progressistas e os de um partido revolucionário.
Nas circunstâncias actuais, de
tempestuosas mudanças e rearrumação de forças e de reflexão sobre experiências
positivas e negativas, o movimento comunista e revolucionário não é
inteiramente separável de um quadro mais amplo de cooperação de forças
progressistas, revolucionárias e anti-imperialistas. Mas isso não pode
significar perda de identidade ou diluição. As relações de amizade, cooperação
e solidariedade entre partidos comunistas, forças com afinidades de história,
ideologia e projecto, são indispensáveis para afirmar e relançar os valores e o
projecto do socialismo e do comunismo.
1.4. A alternativa. Um outro
mundo é possível, um mundo socialista
Face à desumana realidade do
capitalismo, o socialismo, uma sociedade nova, livre da exploração do
homem pelo homem, impõe-se como uma necessidade cada vez mais premente. É
necessário agir em cada país e no plano internacional para conquistar e
mobilizar as massas para essa necessidade.
O capitalismo não se revela
apenas incapaz de dar solução aos problemas dos trabalhadores e dos povos, está
a agravá-los numa escala sem precedentes. A agudização das suas contradições e
a crise sistémica em que se debate arrastam consigo uma crise global de
dimensão planetária e civilizacional.
Acentua-se a contradição entre
os extraordinários avanços científico-técnicos e o agravamento das chagas
sociais e dos problemas ambientais. A concentração da propriedade e da riqueza
atinge níveis inéditos enquanto os fossos entre o capital e o trabalho, entre
ricos e pobres, entre o «Norte» e o «Sul» não param de crescer.
A anarquia e a natureza
predadora do sistema de produção capitalista e a gula das transnacionais está a
esgotar recursos naturais, a esterilizar áreas imensas aptas para a produção
agro-pecuária e a ameaçar equilíbrios ecológicos e ambientais vitais.
A subversão do Direito
Internacional, a desestabilização das relações internacionais, a violência e a
guerra como instrumentos permanentes do domínio imperialista, a ameaça do
recurso à arma nuclear (todas elas praticadas a pretexto da defesa dos
«direitos humanos» e da «democracia»), configura uma terrível ameaça à
liberdade, à democracia, à soberania dos povos, à própria existência humana.
A luta para conter e inverter
tão perigoso rumo exige a convergência de todas as classes e camadas sociais
atingidas, a aglutinação unitária de forças, organizações e movimentos muito
diversificados - sindicais, democráticos, de direitos humanos, ecologistas,
juvenis, de mulheres, pela paz - no combate contra o neoliberalismo, o
imperialismo e a guerra. Exige simultaneamente uma clara perspectiva
anticapitalista e anti-imperialista que só fortes partidos comunistas e um
combativo movimento operário e sindical de classe podem assegurar.
Seria errado negar o valor da
luta por objectivos concretos e imediatos, de vitórias parciais ainda que
temporárias, de reformas democráticas mesmo quando não tocam a essência do
sistema de exploração capitalista. Nunca é indiferente a forma de poder e a
natureza do regime político. Mas a aliança da social-democracia com a direita
para assegurar a sobrevivência do capitalismo, o apoio da generalidade das
direcções dos partidos socialistas e social-democratas, particularmente
europeus, ao militarismo, ao «atlantismo» e à guerra, contrariando a vontade da
maioria da sua base de apoio, ilustra bem os limites e os perigos do
reformismo.
Para deter a corrida para o
abismo, pôr fim às guerras de agressão e à sistemática ingerência nos assuntos
internos dos povos, solucionar os mais importantes conflitos e problemas
internacionais e superar as mais gritantes injustiças e desigualdades sociais
são indispensáveis profundas transformações progressistas e revolucionárias
dirigidas contra o sistema de poder e de propriedade do grande capital, pondo
em causa os seus mecanismos de exploração e reprodução.
Tais transformações, que
respondem à exigência de resolver a contradição central do capitalismo entre o
carácter social da produção e a apropriação privada dos meios de produção,
estão há muito inscritas nas contradições e limites do sistema e na nova época
histórica que a Revolução de Outubro inaugurou. O grande problema é que o
amadurecimento das condições materiais objectivas não tem actualmente
correspondência no plano subjectivo.
As derrotas do socialismo
desequilibraram a correlação de forças em favor do imperialismo, possibilitaram
um novo fôlego ao capitalismo, repercutiram-se no enfraquecimento dos partidos
comunistas e de outras forças revolucionárias, influenciaram negativamente a
confiança e o ânimo combativo das massas. Dispondo de um imenso poder
económico, militar, ideológico, o imperialismo retomou temporariamente a
iniciativa e está na ofensiva apesar da crise que o corrói.
Os tempos são ainda de
resistência e acumulação de forças. Mas são também tempos de reais
possibilidades revolucionárias. As políticas de exploração, opressão e guerra
encontram por toda a parte a crescente resistência e luta e estão em curso
batalhas cujo resultado terá uma grande importância na correlação e arrumação
de forças no plano mundial. Como noutros períodos de transição histórica,
grandes dificuldades e perigos coexistem com grandes potencialidades para o
desenvolvimento da luta e o crescimento das forças revolucionárias.
É tão necessário rejeitar
ilusões de facilidade e estar preparado para combates duríssimos e eventuais
recuos e derrotas, como para desenvolvimentos positivos surpreendentes que só
forças e projectos profundamente enraizados na sociedade e nas massas poderão
acompanhar e dirigir.
Nas actuais circunstâncias de
grande instabilidade, só uma coisa é realmente certa quanto ao futuro: as
transformações progressistas e revolucionárias que a alternativa ao actual
estado de coisas reclama não serão fruto de esquemas e modelos pré-concebidos a
que a realidade tenha de conformar-se, antes resultarão necessariamente da
dialéctica da luta revolucionária nos planos nacional, regional e mundial,
irrompendo lá onde o feixe de contradições for mais denso e mais fortes as
forças revolucionárias, num processo irregular e acidentado em que, à
resistência da reacção e do imperialismo, será necessário opor cada vez mais a
força da solidariedade internacional e internacionalista.
Nada pode substituir a luta em
cada país. As teses que negligenciam ou mesmo consideram «esgotado» o marco
nacional como espaço de luta transformadora e revolucionária são tão erradas e
prejudiciais como as que subestimam a necessidade da solidariedade
internacionalista e a luta no plano internacional. A defesa da soberania
nacional e a afirmação por cada povo do seu direito a determinar o seu
próprio destino continua a ser um factor fundamental de resistência à
globalização imperialista e às tentativas dos EUA imporem a sua «nova ordem»
mundial. O enraizamento entre a classe operária, os trabalhadores e as massas
do seu próprio país é a primeira e incontornável tarefa dos comunistas e de
todos os revolucionários e condição indispensável para a necessária resposta no
plano internacional à ofensiva concertada do grande capital e das grandes
potências.
A caracterização das dramáticas
regressões e dos perigos que a situação internacional actual comporta em
resultado da política do imperialismo e dos seus sectores mais reaccionários e
terroristas não deve confundir-se com pessimismo. Para a eficácia da luta
libertadora é indispensável enfrentar a realidade tal e qual ela é. O
internacionalismo que o PCP defende e pratica é inseparável do patriotismo,
mergulha as suas raízes nos interesses universais do proletariado.
Há fortes razões de confiança
nos resultados da luta. Mostra-o a história do movimento operário e comunista
(que é cada vez mais necessário conhecer e valorizar e não esquecer e rejeitar
como se de um fardo se tratasse). Mas mostram-no sobretudo as grandes lutas da
classe operária e dos trabalhadores, o movimento pela paz e contra a
globalização capitalista, a persistência de vários países no caminho e
objectivo do socialismo, a heróica resistência do povo palestiniano e do povo
iraquiano, significativos sucessos de alguns influentes partidos comunistas, a
luta revolucionária na Colômbia ou a revolução bolivariana na Venezuela, as
vitórias das forças de esquerda no Brasil, África do Sul, Uruguai e outros
países, poderosas explosões de descontentamento e contestação populares, como
na Argentina, na Bolívia ou no Peru, mesmo quando derrotadas ou subvertidas
pela demagogia populista, e muitos outros exemplos.
De capital importância é a
confiança nos trabalhadores e nas massas populares, na sua organização e na sua
luta, rejeitando o elitismo e o culto da espontaneidade e o movimentismo
inconsequente de clássica raiz pequeno-burguesa, em que a impaciência, a busca
do sucesso imediato, a teorização especulativa separada da vida constituem
traços que é necessário contrariar pois tendem a frustrar grandes lutas e a
facilitar a recuperação reformista e capitalista de processos que conseguem
influenciar.
A firmeza de princípios e
convicções e a consciente inserção da luta por objectivos imediatos no projecto
por profundas transformações anticapitalistas, implicando permanente e firme
combate ao pragmatismo sem princípios e à adaptação oportunista à lógica do
sistema, são de capital importância para dar todo o sentido às potencialidades
revolucionárias que a perigosa situação actual comporta e para relançar o
socialismo como a alternativa ao capitalismo. Sim, um outro mundo é possível e
necessário, um mundo socialista!
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2. SITUAÇÃO NACIONAL
2.0. Introdução
2.1. Evolução da União
Europeia
2.2. Situação económica,
social, cultural e ambiental
2.3. A evolução política e o
regime democrático
2.4.
Situação na comunicação social
2.5. A política
necessária
2.0. Introdução
Os últimos quatro anos ficam
marcados pelo prosseguimento, com graus e aprofundamentos diversos, da política
de direita, pela derrota do governo PS e pela criação de um novo quadro
político determinado pela formação de governos de coligação PSD/CDS-PP dispondo
de uma maioria absoluta de deputados na Assembleia da República.
É um facto evidente que o êxito
eleitoral dos partidos de direita está indissociavelmente ligado à política
de direita levada a cabo pelos governos do PS e que o resultado obtido por
aqueles partidos, mais do que qualquer genuíno processo de adesão popular às
suas propostas, traduziu essencialmente uma capitalização do descontentamento
com essa política. Como já no XVI Congresso se assinalava, a persistência do PS
nos mesmos eixos e opções políticas dos anteriores governos do PSD -
privatizações, favorecimento dos grandes grupos económicos, ataque ao poder de
compra e direitos dos trabalhadores, desresponsabilização do papel do Estado,
subordinação do país às orientações da União Europeia e à estratégia agressiva
do imperialismo - não só contribuíam aceleradamente para consumir o capital de
expectativa como para o crescente sentimento de preocupação, desencanto e
frustração de largos sectores da população.
A derrota e termo do governo
do PS comprovam sem dúvida o fracasso da política de direita e de
subserviência em relação à União Europeia e ao grande capital transnacional e
testemunham que a persistência nessas mesmas políticas longe de responder aos
principais problemas que se colocam ao país, aos trabalhadores e ao povo
português os amplia e acentua. Como comprova que esse caminho não só anima e
serve a direita e os seus interesses políticos e económicos, como lhes abre
campo para novos e mais decididos avanços no ataque a direitos e conquistas
sociais, na regressão da democracia, no ataque às liberdades.
A formação e entrada em
actividade do governo PSD/CDS-PP representou uma evolução muito negativa na
vida política nacional, contra a qual o PCP preveniu e se bateu nas eleições de
2002, e que se traduz no agravar e acentuar da política de direita.
A política dos governos de
coligação PSD/CDS-PP traduz-se em novos e mais graves passos no sentido da
privatização do que resta do Sector Empresarial do Estado, dos sistemas
públicos de segurança social, da saúde, do ensino e de outros serviços
públicos, pela restrição e destruição de direitos fundamentais dos
trabalhadores e pela criação de condições para uma sua maior exploração e pela
ofensiva contra importantes componentes do regime democrático-constitucional.
A ofensiva política, económica
e social da direita e a acentuação do conteúdo de classe da sua política têm
sido acompanhadas e justificadas por uma não menos intensa ofensiva ideológica
- suportada na acção da comunicação social e na análise e comentário políticos,
com expressão também nos programas educativos - no sentido de atenuar a
resistência e ampliar o conformismo e a resignação perante o seu
desenvolvimento.
É neste quadro que se devem
compreender as ideias económicas dominantes para «vender» como inevitáveis as
políticas de contenção da despesa pública e de favorecimento dos grupos
económicos e interesses privados; a teoria do menos Estado para justificar a
redução das responsabilidades sociais e da garantia de direitos essenciais à
vida; a imposição do conceito de utilizador-pagador em áreas de prestação de
serviços básicos, convertendo-os em direitos de propriedade comerciáveis e
objecto de exploração lucrativa; a apresentação de direitos universais (direito
à reforma, ao subsídio de doença e desemprego ou a outras prestações de apoio
familiares) como benesses ou regalias indevidas que devem ser eliminadas para
melhor retribuir os pobres e necessitados; a contraposição do conceito de
trabalho ao de emprego considerando este, compreendido como estável, obsoleto e
inadequado às actuais exigências económicas; a invocação dos níveis de
produtividade para justificar os baixos salários e a falta de competitividade
da economia; o incentivo à contraposição entre os que têm emprego e os que o
não têm, entre os que têm vínculos e os que engrossam o contingente do trabalho
precário.
A crise política e
governativa criada com o abandono de funções pelo primeiro-ministro,
indissociável da estrondosa derrota eleitoral sofrida pela coligação PSD/CDS-PP
nas últimas eleições europeias e da luta travada contra a política do seu
governo, abriu fundadas expectativas sobre a possibilidade real de com ela vir
a interromper-se a desastrosa política deste governo e de se dar oportunidade,
através da convocação de eleições antecipadas, a que os portugueses se
pronunciassem por um novo governo, um novo rumo e uma nova política para o
país.
A decisão do Presidente da
República de permitir a indigitação de um novo primeiro-ministro e a
formação de um governo oriundo da desgastada coligação de direita não só não
corresponde aos sentimentos e aspirações dominantes da opinião pública, dos
trabalhadores e das forças democráticas e de esquerda, como constitui um sinal
de apoio a esta maioria, um incentivo à continuação de uma política comprovadamente
incapaz de responder aos problemas do país e um agravado factor de
instabilidade.
Num quadro em que a arrogância
e a ofensiva política desta maioria e do seu novo governo contra direitos,
conquistas e o próprio regime, conhecem perigosos desenvolvimentos, o PCP
reafirma que (ao contrário de outros que, como o PS e o BE, por calculismo
partidário ou subestimação o admitem) não se resignará a que o PSD e o CDS
prossigam a sua obra de destruição e retrocesso e que continuará a lutar para
lhes resistir e para pôr termo, tão cedo quanto possível, à prossecução dos
seus objectivos.
2.1. Evolução da União
Europeia
A evolução da União Europeia
após o XVI Congresso fica marcada pela acentuação das políticas neoliberais, o
avanço do federalismo sob o domínio das grandes potências e a sua acelerada
militarização.
A comprovar esta afirmação
encontram-se as principais decisões e processos que os órgãos da União Europeia
concretizaram nos últimos quatro anos, designadamente:
A realização de duas revisões
dos Tratados, a primeira em Nice (Tratado de Nice, 2000), abrindo caminho ao
reforço do poder das grandes potências face ao processo de alargamento, e a
segunda, de Junho passado, aprovando o projecto da dita «Constituição
europeia»;
O desenvolvimento do processo
de alargamento a mais dez países num quadro financeiro que põe em causa o
princípio da coesão económica e social (os insuficientes quadros financeiros
2000-2006 e provavelmente 2007-2013) e condições inaceitáveis tanto para os
novos aderentes como para os países membros menos desenvolvidos, como
Portugal. Processo que prossegue com a futura adesão da Bulgária e da Roménia,
e a abertura de negociações com a Turquia;
A concretização da União
Económica e Monetária, com o lançamento da moeda única em 2002, a aplicação do
Pacto de Estabilidade - o que levou, em 2001, à abertura de um procedimento de
défice excessivo contra Portugal por violação do limite dos 3% do défice - e da
política monetária do Banco Central Europeu;
A adopção da denominada
«Estratégia de Lisboa», credora do elogio das organizações do grande patronato
na Europa, durante a Presidência portuguesa da União Europeia em 2000,
apresentada como cimeira para o pleno emprego e a competitividade, mas que
constituiu de facto uma sistematização das prioridades actuais do capitalismo;
As reformas da Política
Agrícola Comum, em 2000 e 2003, com o aprofundamento da liberalização da
agricultura e das suas injustiças e desigualdades na distribuição das ajudas
entre produtores, produções e países; a reforma da Política Comum de Pescas,
com o avanço da liberalização do acesso à zona económica exclusiva portuguesa,
nomeadamente por parte da frota espanhola e a eliminação das ajudas à renovação
da frota;
O aprofundamento da
comunitarização da justiça e assuntos internos, com uma clara deriva
securitária, subtraindo competências inerentes à soberania dos Estados, e a
adopção de um amplo conjunto de medidas que, a pretexto da denominada «luta
contra o terrorismo», colocam em causa direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos;
A condução de uma política de
imigração que em simultâneo procura criminalizar os imigrantes e explorar a
força do seu trabalho segundo as necessidades do grande patronato na Europa;
A prossecução de uma política
nas relações comerciais bilaterais e na Organização Mundial do Comércio ditada
pelo objectivo da liberalização do comércio mundial e da criação de uma zona de
comércio livre paneuropeia-mediterrânica, privilegiando, apesar de
contradições, uma parceria estratégica com os EUA;
A militarização da União
Europeia, como pilar europeu da NATO, acentuada com a adopção em 2003 de uma
«Estratégia de Segurança da União Europeia» que faz seu o conceito de
«segurança» da NATO e avança na criação de capacidades militares propostas.
Releve-se o papel que as chamadas cooperações reforçadas em matéria militar
podem ter na consagração da direcção comunitária das políticas de defesa e
segurança por um número reduzido e seleccionado de países membros.
Decisões e processos que o PCP,
ao longo dos últimos quatro anos, caracterizou e denunciou, avançando com
propostas alternativas em inúmeras iniciativas e tomadas de posição.
No novo Tratado, dito
«Constituição europeia» ou «Tratado constitucional», a ser ainda objecto de
ratificação pelos Estados-membros, aprofundam-se as bases e eixos fundamentais
lançados no Tratado de Maastricht, e posteriormente consolidados pelos Tratados
de Amesterdão e Nice, no sentido de uma União Europeia federal sob o domínio
e condução das grandes potências europeias. Este projecto, realizado no
interesse do grande capital na Europa, tem também como objectivo a
transformação da UE num bloco político-militar imperialista que, apresentado
por uns para competir e rivalizar com os EUA e, por outros, como o pilar
europeu da NATO, tenderá a agir, de facto, como braço auxiliar do imperialismo
norte-americano. É particularmente relevante referir a relação inequívoca entre
federalismo e neoliberalismo no processo de integração comunitária, onde cada
avanço no rumo federal tem contribuído para o avanço das orientações
neoliberais.
Um projecto que desenvolve as
linhas mestras, complementares e indissociáveis entre si, que têm caracterizado
a União Europeia: o reforço da sua natureza federalista, institucionalizando-se
em simultâneo o directório das grandes potências no comando das políticas e do
futuro da União Europeia, e o primado da «Constituição europeia» sobre as
Constituições nacionais; a «constitucionalização» do neoliberalismo, através de
um articulado que ocupa 3/4 do projecto de tratado e onde se consagram as
estruturas, as políticas e as orientações económicas e sociais do capitalismo,
que hoje prevalecem na UE; o lançamento das bases institucionais da
militarização da UE e a sua transformação num bloco político-militar, com uma
política de defesa comum articulada com a NATO e a criação de uma Agência
Europeia de Armamento, de Investigação e de Capacidades Militares.
A chamada «Constituição
europeia» reforça, de facto, claramente a natureza federal das instituições
da União Europeia e o domínio do conjunto das grandes potências europeias nos
processos de tomada de decisão, nomeadamente através da valorização de
critérios demográficos em detrimento da representatividade dos Estados
soberanos e do princípio da igualdade entre Estados, da eliminação do princípio
das presidências semestrais rotativas do Conselho Europeu, da ampliação da
co-decisão e da adopção das decisões por maioria qualificada no Conselho em
prejuízo dos pequenos países e do seu poder de veto para salvaguardar
interesses fundamentais. É um projecto que viola, pela forma e pelo conteúdo,
as soberanias nacionais.
A União Europeia confirma-se
assim plenamente como o instrumento de classe (intervindo nas dimensões
económica, política, institucional, jurídica e militar) do capitalismo
transnacional e das grandes potências da Europa, bem evidente na coincidência
das decisões concretizadas pelos órgãos da União Europeia com as opiniões
defendidas pelos representantes do grande capital europeu (que se afirma como o
verdadeiro motor desta integração europeia) e bem visível nos poderes
reforçados que os grandes países passam a ter nos processos de decisão da União
Europeia.
A evolução verificada assente
nos três eixos estruturantes e indissociáveis - o federalismo, o
neoliberalismo e o militarismo - apresenta riscos, sociais e políticos, que
não devem ser subestimados. Evolução da UE que tem contado, em questões
centrais (Estratégia de Lisboa, «Constituição»), com o acordo dos sindicatos
reformistas filiados na CES. Para os trabalhadores, para os povos da Europa não
deixará de se traduzir na perda de direitos sociais e civilizacionais, na
agudização de fracturas e desigualdades sociais, na multiplicação de
assimetrias entre países e regiões da Europa, na multiplicação dos problemas
ambientais, e no reforço das dependências dos países, como o nosso, de menores
dimensões e desenvolvimento.
Para os povos do mundo só pode
ser motivo de preocupação o facto de, perante os desafios e as questões
cruciais a que o nosso tempo tem de responder - a paz, a cooperação e o
desenvolvimento de todos os povos, a independência e soberania dos Estados - ,
se estar a erguer uma potência económica, política e militar virada para o
confronto concorrencial, por mercados, matérias-primas e mão-de-obra, por
capital e domínio político, que integra articulações, alianças e acordos de
partilha com os EUA e o Japão.
Apesar dos importantes e graves
avanços verificados, o caminho encetado pelo grande capital transnacional e as
grandes potências da União Europeia não está isento de contradições,
antagonismos e resistências.
Contradições e resistências que
resultam do confronto do grande capital com a enorme massa dos assalariados, e
em particular dos sectores operários e outras camadas sociais profundamente
atingidas pelas políticas de direita, assim como contradições inerentes ao
choque de interesses políticos e económicos entre as grandes potências e as que
tenderão a desenvolver-se entre grandes, médios e pequenos países, e que
inevitavelmente crescerão à medida que esta União Europeia federal, neoliberal
e militar procure anular e violentar direitos de soberania, interesses
nacionais e identidades culturais profundamente enraizados.
Os obstáculos e dificuldades
que a evolução da União Europeia enfrenta têm conduzido ao reforço da ofensiva
ideológica «europeísta» destinada a justificar e a ocultar a origem das
dificuldades e contradições e a promover soluções, numa dinâmica de factos
consumados, que só poderão significar novas e perigosas fugas para a frente.
São expressão desta ofensiva as
teses dos «egoísmos nacionais», da «falta de líderes europeus com a dimensão
política dos fundadores», da União Europeia «anã política», do «método
comunitário versus federalismo», do federalismo como resposta
alternativa e diferente ao directório, ou ainda da falta de uma «base
constituinte na elaboração de uma Constituição europeia». Todas elas são
destinadas a iludir que a origem dos problemas é intrínseca às lógicas do
capital transnacional, com as suas consequências no desenvolvimento desigual do
espaço europeu e no agravar das fracturas sociais e à imposição pelas grandes
potências de uma relação de forças assimétrica nas instituições da União
Europeia.
Como se os «egoísmos nacionais»
não fossem um eufemismo para designar os interesses das grandes potências que
desde sempre conduziram a integração comunitária europeia. Como se os fundos
comunitários pudessem (e servissem para) colmatar as desigualdade regionais e
os problemas sociais que o capitalismo causa. Como se o alargamento da UE não
fosse um novo e decisivo passo para conquistar mercados, matéria-prima e
mão-de-obra qualificada e barata, e alargar o domínio e a influência económica
e política do grupo das grandes potências. Como se a Europa, no actual quadro
de relações de força no continente e no mundo, pudesse ser outra coisa que não
uma potência económica, política e militar destinada a promover e consolidar o
capitalismo neoliberal e o militarismo.
A ofensiva do grande capital e
do imperialismo encontrou pela frente, nos últimos quatro anos e nos diferentes
países da UE, uma importante mobilização e significativas lutas e
manifestações sociais em defesa das conquistas históricas dos trabalhadores e
da paz.
Esta significativa movimentação
social e política, pondo em evidência as potencialidades de luta contra as
políticas dominantes, revela igualmente que é necessário reforçar,
designadamente por parte das forças de esquerda vinculadas com os interesses
dos trabalhadores, e claramente demarcada da social democracia, a cooperação na
luta contra a ofensiva concertada do grande capital e por uma outra Europa.
Mais do que nunca se impõe procurar linhas de convergência e consenso de todos
quantos nos seus países se opõem à prática e ideologia do grande capital e
lutam, na base de objectivos de transformação social anticapitalista e
democrática, por um novo caminho para a Europa.
O caminho para uma outra Europa
não residirá na decisão daqueles que desde sempre dirigem a integração
neoliberal e federalista e militarista, nem no mero funcionamento de
instituições, como a Comissão, o Conselho e o Parlamento Europeu, afastadas dos
cidadãos e inteiramente determinadas pelas oligarquias do grande capital mas,
pelo contrário, na conjugação da luta de massas e da acção institucional,
explorando as contradições e obstáculos da actual integração europeia. Outra
Europa é possível pelas lutas dos trabalhadores e dos povos e pela convergência
das forças do progresso e da paz.
O PCP inscreve como sua
prioridade o prosseguimento e reforço da cooperação dos comunistas e de
outras forças de esquerda e progressistas na Europa, com respeito pelas
diferenças de situação, reflexão e proposta, colocando no primeiro plano a
acção comum ou convergente em torno das questões mais sentidas pelos sectores e
camadas sociais afectados pela actual integração europeia, e afirmando e
projectando à escala europeia acções e propostas comuns. Com a convicção de que
a necessária expressão europeia e internacional da luta adquirirá uma dimensão
e um significado tanto mais representativos quanto mais enraizada e organizada
ela for a nível de cada país, espaço decisivo de luta dos trabalhadores e dos
povos.
O PCP continuará profundamente
empenhado no desenvolvimento da cooperação e convergência dos partidos
comunistas, forças e partidos progressistas e de esquerda, nomeadamente: na
consolidação, forte intervenção e afirmação do carácter unitário e progressista
do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica do
Parlamento Europeu, designadamente pela concretização dos objectivos e
propostas contidos na «Plataforma Eleitoral Comum para as Eleições para o
Parlamento Europeu»; no desenvolvimento de iniciativas comuns de expressão
europeia; na dinamização e apoio à luta dos trabalhadores e outros sectores e
forças sociais pelas conquistas e direitos sociais, contra as políticas do
capitalismo transnacional, pela paz, contra o militarismo e a guerra, pela
democracia e soberania, contra o federalismo e o domínio das grandes potências.
Ao longo dos últimos 18 anos,
PSD, PS e PSD/CDS-PP, numa elucidativa e constante convergência de posições
mescladas aqui e ali por cambiantes tácticas destinadas a tentar iludir
responsabilidades, foram os responsáveis pela condução, e aprofundamento
sucessivo, da integração de Portugal na CEE/UE e participaram activamente na
definição de políticas e orientações da denominada «construção europeia».
Aquela convergência constitui contributo e consequência do papel desempenhado
pela aliança PPE/PSE (direita/social democracia) nessa construção.
Uma convergência responsável
pela alienação de componentes essenciais de soberania, pela falta de consulta
do povo português sobre questões fundamentais, pela submissão perante as
instituições da União Europeia e as grandes potências, pela aceitação de imposições
e medidas negativas para o país, pela entrega de sectores estratégicos da
economia nacional ao capital estrangeiro, pela ideia da inevitabilidade das
políticas da União Europeia; pela apresentação dos problemas e das dificuldades
do país como a moeda de troca «necessária» aos «benefícios» dos fundos
comunitários, pela permanente desresponsabilização face às políticas mais
gravosas para os interesses nacionais, procurando iludir o seu apoio aos
tratados e a sua participação na definição das políticas da União Europeia, e
pela não utilização da margem de manobra de que, apesar de tudo, Portugal
dispõe pela aplicação, entre outros, do princípio da subsidiariedade.
A pretendida diferenciação do
CDS-PP em relação ao PSD em matéria europeia ficou desmentida e denunciada pela
sua total solidariedade, na Assembleia da República e no governo, com as
orientações europeias do PSD, pela coligação eleitoral com o PSD nas eleições
para o Parlamento Europeu e pela sua recente readmissão no grupo do Partido
Popular Europeu.
O Bloco de Esquerda, que
acompanha, no essencial, as teses federalistas, revela-se favorável ao avanço
do carácter supranacional do quadro institucional da União Europeia,
desvalorizando e menosprezando a importância central da preservação da soberania
nacional como garante da democracia e alicerce incontornável do desenvolvimento
do país, ao mesmo tempo que procura semear a ilusão de que seria a nível
europeu que se obteria aquilo que em primeiro lugar se tem de conquistar com a
luta dos trabalhadores e do povo português a nível nacional.
A escolha de Durão Barroso para
Presidente da Comissão e o injustificado «orgulho nacional» invocado por alguns
não alteram, antes confirmam, a política neoliberal e o servilismo perante a UE
que têm caracterizado a postura dos partidários do «europeísmo».
Uma política externa de
diversificação das relações internacionais e de cooperação, paz e amizade com
todos os povos, a salvaguarda da soberania nacional e a promoção dos interesses
de Portugal e dos portugueses constituem para o PCP orientações fundamentais da
intervenção do país na União Europeia.
O PCP reafirma que a defesa
da soberania nacional constitui um valor fundamental e vector estratégico
para a defesa dos interesses nacionais, na construção de uma Europa de
cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos, aberta ao mundo, de
paz e solidariedade. É também um factor de salvaguarda da democracia e de
aproximação do processo de decisão política dos cidadãos. Nesse sentido, o PCP
considera que o estatuto de cada país deve ser ajustado à vontade do seu povo e
à sua real situação.
O respeito pela soberania e
pelos interesses, valores e especificidades de cada Estado devem constituir
elementos essenciais num projecto de cooperação na Europa, pelo que no plano
institucional se impõe a rejeição do federalismo e do domínio das grandes
potências na União Europeia e o firme combate ao tratado que os pretende
consagrar. Um tratado que afronta e viola a Constituição da República
Portuguesa, que os órgãos de soberania têm o dever imperativo de respeitar e
fazer respeitar, e que atinge gravemente a soberania e a independência
nacionais. O PCP continuará a impulsionar um vasto movimento de opinião,
esclarecimento e luta, que impeça a subordinação da nossa Constituição à dita
«Constituição europeia». Constitui um imperativo democrático a realização de um
referendo nacional, antes de uma indesejável vinculação de Portugal ao novo
Tratado, dito constitucional, em data e com pergunta(s) que permitam aos
portugueses pronunciar-se, antes da ratificação pela Assembleia da República,
de forma esclarecida sobre o que efectivamente está em causa.
A tentativa de impor a
denominação «Constituição europeia» (ou Tratado Constitucional) a um novo
Tratado da União Europeia - com o que o termo Constituição traduz enquanto
marco jurídico e político inerente à organização de um Estado - está
incontornavelmente associada, qualquer que seja o seu conteúdo, ao objectivo de
construção de um Estado supranacional: o superestado União Europeia dotado de
uma Constituição que prevaleceria sobre as constituições dos Estados nacionais,
com personalidade jurídica própria e que teria todos os poderes e símbolos de
um Estado, com excepção da área fiscal.
Para alguns, face às sucessivas
etapas que a «construção» da União Europeia vai consumando, o PCP deveria,
contrariando os seus objectivos e convicções, render-se à inevitabilidade e
irreversibilidade desses processos, ou seja, ficar condenado à política do
«realismo» como a arte do possível, a uma prática política reduzida a um
pragmatismo oportunista, sem valores nem princípios, a uma resignada opção pelo
menor dos males.
A presente construção europeia
não é um processo inócuo, neutro, de passos positivos e negativos. É a
consolidação de um processo de classe que se faz, sem prejuízo de contradições,
avanços e recuos, conforme os interesses do capital e das potências europeias.
É a expressão política da reprodução e expansão do capital transnacional
sediado na Europa e de um processo onde se sacrificam os interesses dos
trabalhadores e dos povos, e em particular dos pequenos Estados como Portugal.
Não é possível tingir de
«esquerda» este processo e cada um dos seus avanços. É possível condicioná-los,
travá-los e até derrotá-los, em condições particulares de confluência da
agudização dos seus conflitos internos com a luta dos trabalhadores e dos
povos.
Cada nova etapa e avanço deste
processo consolida um poder político económico e institucional favorável ao
grande capital europeu e às grandes potências e fortalece o seu «Estado
Comunitário» para melhor exploração dos trabalhadores e dos povos, nas suas
relações de concorrência e convergência, económicas e políticas com os outros
dois pólos da «Tríade» da globalização capitalista.
Para o PCP, a oposição a esses
avanços não impede, antes pelo contrário, que, franqueada uma etapa, defina com
autonomia política e no quadro dos seus objectivos e ideais a estratégia
adequada para desenvolver a luta em defesa dos interesses nacionais, da paz e
da justiça social na Europa e as iniciativas necessárias para responder às
novas situações, com uma intervenção política que, sem negar a realidade, não
se adapta nem se submete, antes procura criar as condições para a transformar.
Outra Europa é necessária. Uma
Europa como livre união de Estados soberanos, iguais em direitos, empenhados na
convergência económica e no progresso social, na promoção da paz e de uma
cooperação exemplar com todos os povos do mundo.
Uma Europa que favoreça o
desenvolvimento assente numa relação sustentável entre a natureza e a
sociedade, defenda os interesses dos trabalhadores, respeite a identidade
cultural, a soberania e a independência de Portugal e de todos os países
europeus.
2.2. Situação económica,
social, cultural e ambiental
A inserção de Portugal na
economia mundial é hoje um processo profundamente articulado com o seu
posicionamento no quadro da integração do país no espaço económico europeu, e
em particular na zona euro, e do papel crescente e autónomo da própria União
Europeia enquanto bloco económico e político no quadro da globalização
capitalista.
Todas as relações económicas
externas do país - fluxos de capitais, bens e serviços, posições nas estruturas
de regulação económica mundial (Organização Mundial do Comércio, Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial,...) - estão condicionadas pela integração
comunitária. Mas tais condicionamentos foram e são reforçados pela colaboração
activa de sucessivos governos do PSD e PS numa evolução da União Europeia que
conflitua com o necessário desenvolvimento do país, pela completa submissão às
orientações económicas comunitárias, pela total abdicação e ausência de
afirmação de uma estratégia de defesa dos interesses e soberania nacionais.
A concretização da União
Económica e Monetária (UEM) com a entrada em funcionamento do euro, a
institucionalização dos critérios de convergência nominal no Pacto de
Estabilidade, a estrita política monetarista levada a cabo pelo Banco Central
Europeu (BCE), a aprovação da Estratégia de Lisboa, a negociação da agenda
liberalizadora da OMC e de vários tratados comerciais bilaterais pela União
Europeia e, em geral, as orientações políticas e económicas da União Europeia,
nomeadamente as respeitantes às reformas da Política Agrícola Comum (PAC) e
Política Comum das Pescas (PCP), ampliaram os problemas e fragilidades da
economia nacional e acentuaram a sua dependência e défices estruturais.
O crescente federalismo das
instituições reforça o domínio das grandes potências (Alemanha, França, Reino
Unido, Itália e Espanha) no comando das políticas económicas da União Europeia
e reduz a capacidade para os influir ou contrariar por parte dos pequenos
países como Portugal.
Esta evolução, a par do
processo de alargamento realizado em condições inaceitáveis, agrava e condiciona
de uma forma extrema todas as vulnerabilidades referidas, e sobretudo tenderá a
contrariar a condução da política económica nacional conforme os interesses dos
portugueses.
Assume um crescente impacto na
economia do país a divisão do trabalho no mundo que, sob o comando do capital
transnacional, e tendo como principal instrumento a livre circulação de
capitais, reorganiza a produção capitalista em função das vantagens que cada
país oferece.
A deslocalização de empresas do
sector produtivo, acompanhada crescentemente pela deslocalização de serviços,
causam não só graves problemas sociais (desemprego, encargos para a segurança
social), como tem contribuído para a perda de unidades produtivas. Um processo
que se adiciona e converge, em termos de consequências, com uma divisão do
trabalho no espaço europeu altamente desvantajosa para o país.
O processo de alargamento da
União Europeia a países com uma mão-de-obra mais barata e mais qualificada
veio reforçar a falência da estratégia de sucessivos governos de fazer de
Portugal localização privilegiada de unidades de trabalho intensivo e baixos
salários.
Esta análise do enquadramento
internacional, e em particular na União Europeia, da economia portuguesa não
pretende negar o processo objectivo da intensificação das relações e
interpenetração das economias nacionais, mas sim assinalar as consequências
negativas da condução desses processos para Portugal segundo os interesses do
grande capital transnacional, dominantes nas instituições internacionais e na
União Europeia e a ausência de negociação e defesa da especificidade de
Portugal em recursos naturais e adquiridos.
E sublinha, em particular, a
necessidade de o país procurar salvaguardar os instrumentos económicos para a
condução soberana das suas políticas económicas, conforme os interesses
nacionais, concretizando uma estratégia capaz de garantir ao país o
desenvolvimento na base de uma relação sustentável entre a natureza e a
sociedade.
Trinta anos depois das
transformações revolucionárias de Abril um importante conjunto de grupos
económicos, resultantes da política de recuperação capitalista e
monopolista conduzida pelos governos do PS, PSD e CDS-PP, assumem novamente um
papel dominante e determinante no quadro das relações de produção capitalista
da sociedade portuguesa. A omnipresença, influência e acção desses grupos são
hoje um facto incontornável, quer na dinâmica das conjunturas económicas e no
desenvolvimento das relações sociais quer na condução e opções do poder
político e na expansão e reprodução das ideologias dominantes.
Estruturados e representados
por grupos familiares velhos conhecidos (que suportaram e apoiaram a ditadura
fascista) ou que despontaram após o 25 de Abril (Mello, Espírito Santo, Belmiro
de Azevedo, Amorim, Jerónimo Martins) ou pela associação do nome de um banco ou
unidade empresarial ao nome do presidente do Conselho de Administração da
estrutura societária (holding) que define a estratégia e assegura o domínio do
grupo (BCP/Jardim Gonçalves, CIMPOR/Teixeira Duarte, etc.), entretecem entre si
e com o capital estrangeiro uma densa rede de ligações económicas e
financeiras, sociais e políticas, constituindo uma poderosa oligarquia
económica que, com outros sectores da grande burguesia portuguesa e
estrangeira, procura assegurar a continuidade e reprodução do seu poder
económico, político e ideológico na sociedade portuguesa.
Os principais grupos económicos
repartem-se hoje em torno de algumas actividades - sector bancário e segurador,
grande distribuição, imobiliário, e em particular imobiliário comercial - e
pelos ramos da actividade industrial e de serviços do Sector Empresarial do
Estado que foram privatizados - cimentos, celulose e pasta de papel, alguns
segmentos da alimentação e bebidas, energia, auto-estradas, telecomunicações,
media, turismo, transportes. E estão particularmente activos nas operações que
a política de direita enseja de privatização do que resta do Sector Empresarial
do Estado, do sector da água e dos portos e no alargamento da sua actividade
aos «negócios» da saúde, do ensino, da segurança social e dos serviços de
registo e notariado, no quadro da liberalização e privatização desses sectores.
Estes grupos assumem, em muitos
sectores e subsectores de actividade, uma clara natureza monopolista que,
dentro da lógica capitalista, procuram reforçar, quer pela destruição e
absorção de concorrentes nacionais, quer por associações em que cruzam
participações e/ou repartição de mercados e concertação de preços, quer pela
aliança privilegiada com poderosas transnacionais.
A extraordinária dimensão e
poder económico actual destes grupos capitalistas e monopolistas concretiza-se
e desenvolve-se em permanente articulação, cumplicidade e promiscuidade com o
poder político e os partidos que o exercem desde 1976.
É a influência crescente deste
tipo de poder económico (nacional e transnacional) que explica a ampla produção
legislativa e regulamentadora da Assembleia da República e dos governos
destinada a consagrar opções e medidas favoráveis a esses interesses de classe,
designadamente através do desequilíbrio, a favor do grande patronato, das
relações laborais e níveis salariais, da condução das políticas orçamental e
fiscal, do favorecimento dos mecanismos de transferência de rendimento e
mercados dos micro, pequenos e médios empresários para esses grupos, e da
apropriação de património e mercados públicos, com as privatizações e
liberalizações feitas à medida das capacidades de encaixe desses grupos.
Este ilegítimo poder ostentado
e exercido pelos grandes grupos económicos e financeiros assumindo, além da
dimensão económica, efectivas dimensões política, social e ideológica,
constitui uma total subversão do princípio constitucional de subordinação do
poder económico ao poder político, põe em causa a concretização dos objectivos
económicos, sociais, culturais e ambientais consagrados na Constituição da
República, e fere valores e princípios essenciais do regime democrático.
A política de direita procurou
apresentar a reconstituição dos Grupos Económicos Privados como um instrumento
central para «a modernização, aumento da eficiência e competitividade» da
economia portuguesa.
Na lapidar expressão do então
secretário-geral do PS e primeiro-ministro do governo PS (1995/99) António
Guterres, os grupos económicos privados seriam «os elementos racionalizadores
das transformações económicas do país, da modernização e de um novo modelo de
especialização». Foi essa a justificação substantiva para a política de
privatizações e o seu papel nuclear na reconstituição dos grupos.
Os resultados económicos
desta política são esclarecedores: avultado défice da balança externa de
bens e serviços; uma estrutura económica de perfil de especialização
desvalorizado; perda de mercados interno e externo; transferência para o
estrangeiro de importantes centros de decisão económica; elevados diferenciais
face às médias comunitárias da produtividade e competitividade nacionais. O que
foi inteiramente corroborado pelo insuspeito Parecer do Conselho Económico e
Social a propósito das Grandes Opções do Plano para 2001: «Os grandes grupos
económicos portugueses também não mostraram ainda apetência ou capacidade para
produzir a revolução de que o sector industrial precisa (...)». Os grupos que
iam «modernizar» a economia portuguesa concentraram-se nas actividades abrigadas
da concorrência estrangeira e preferiram à indústria e outros sectores
produtivos a banca, os seguros, o imobiliário, a grande distribuição e a
especulação bolsista.
O investimento directo
estrangeiro (IDE) continua a ser, para a política de direita, estratégico
na criação de emprego e a resposta a alguns défices da estrutura económica do
país. A avaliação do IDE em termos de interesse nacional não pode deixar de ter
em consideração os seus impactos e características. O exame do IDE realizado
mostra que os aspectos positivos que lhe estão associados - introdução no país
de novas capacidades técnicas e novas tecnologias, novas e mais avançadas
formas de gestão, reestruturação do tecido económico nacional e formação de
quadros - são a excepção.
Em geral, as consequências do
IDE são outras, particularmente nos casos de investimento estrangeiro dirigido
ao exclusivo aproveitamento de mão-de-obra barata e dos incentivos nacionais e
comunitários, sempre pronto a deslocalizar-se; nos casos de investimentos em
sectores estratégicos e de alta tecnologia sem uma inserção profunda no tecido
económico do país; nos casos em que, não conduzindo à instalação de uma nova
actividade, se limita à aquisição de activos já existentes (privados ou
públicos), potenciando não só a possibilidade de redução ou extinção de
actividades nacionais e a sua substituição por produção estrangeira, como
constituindo uma efectiva transferência de centros de decisão nacionais para
outros países; ou nos casos em que mais não significa do que o estabelecimento
de redes de subcontratação e dependência de empresas nacionais ou de simples
conquista do mercado interno, fragilizando ainda mais a estrutura económica do
país.
Os grandes grupos económicos
nacionais privados têm sido um veículo privilegiado para a desnacionalização de
sectores estratégicos e para a transferência dos centros de decisão para o
exterior, através da sua intermediação entre unidades privatizadas do Sector
Empresarial do Estado e o capital estrangeiro. Confirma-se a tese de que só a
propriedade pública garante a manutenção dos centros de decisão no país.
O desenvolvimento do país exige
o acrescentamento da cadeia de valor nacional, a defesa dos sectores produtivos
e a garantia das alavancas económicas em mãos nacionais (e a experiência
demonstra só se concretizar através do sector público), que o IDE, em geral,
não promove e, em muitos casos, nega. Por outro lado, o peso crescente do
número de sectores e a qualidade estratégica de áreas abrangidas pelo capital
estrangeiro e redes do capital transnacional são um evidente risco para a
condução autónoma das políticas económicas nacionais e uma evidente ameaça à
soberania nacional.
O investimento directo
português no estrangeiro, que tem atingido nos últimos anos valores
elevadíssimos, corresponde a uma nova orientação estratégica dos grupos
nacionais e tem contado com vultuosos apoios de fundos nacionais e
comunitários, ditos incentivos à internacionalização da economia, autêntico
estímulo à deslocalização de empresas portuguesas. Dirigido em grande parte
para actividades financeiras e imobiliárias e, em menor medida, para estruturas
de comercialização que diversificassem e aprofundassem a penetração nos
mercados externos da produção nacional, traduzem-se numa exportação de capital
de que o país é carente para investimento em território nacional, e contribuem
para o desequilíbrio da Balança de Transacções Correntes, o crescimento da
dívida externa e, por vezes, na apresentação de grandes prejuízos financeiros
(como acontece com os investimentos da PT no Brasil).
O tecido económico português,
constituído por uma presença esmagadora de micro, pequenas e médias empresas
qualquer que seja o sector económico considerado (primário, industrial ou de
serviços), encontra-se particularmente fragilizado.
A sujeição das políticas
transversais de enquadramento da actividade económica (regulação comercial,
crédito e seguros, energia, telecomunicações, fiscalidade, investimento
público, transportes) à lógica e aos interesses dos grandes grupos tem-se
traduzido em custos diferenciados e mais elevados para as micro, pequenas e
médias empresas.
A gestão dos fundos
comunitários foi privilegiadamente dirigida para o grande capital e as
empresas dos grandes grupos económicos, para lá da sua utilização fraudulenta ou
por compadrio político-partidário. A depredação económica realizada pelos
grupos bancários, através das taxas de juro efectivas e comissões bancárias, e
pela grande distribuição, através das condições leoninas impostas aos
fornecedores e da concorrência desleal com o pequeno comércio (violação de
regras comerciais, horários de abertura), desempenha um papel particularmente
nocivo para o desenvolvimento económico das micro, pequenas e médias empresas.
A política de direita (onde se
incluem as opções em matéria de integração europeia), em particular nas suas
vertentes económica, ambiental, do território e da administração pública, é
responsável pela manutenção e/ou agravamento das assimetrias regionais e
intra-regionais, pelo crescente desordenamento do território, pelas profundas
agressões ambientais e pela degradação dos recursos naturais patrimoniais do
país.
A completa subordinação da
actividade económica aos interesses dos grupos económicos capitalistas e à sua
inexorável lógica de acumulação e expansão do capital e maximização dos lucros
tende a acentuar a sua desigual localização no território, com resultados
desastrosos.
As teses e práticas
neoliberais do Estado mínimo e do mercado como princípio único de regulação
económica, um Orçamento do Estado sujeito aos constrangimentos do Pacto de
Estabilidade, um forte impulso à especulação imobiliária têm-se traduzido na
liquidação de instrumentos económicos e administrativos públicos essenciais e
na redução dos meios (afectando o investimento público) para intervir no
ordenamento do território, para promover o desenvolvimento equilibrado das
regiões e para corrigir e compensar vulnerabilidades históricas e naturais.
As privatizações e
liberalizações de unidades empresariais de abastecimento ou fornecimento de
bens e serviços essenciais organizados em rede e, portanto, com efeitos
estruturantes no território - de que são exemplo a CP, EDP, CTT, PT, as
empresas detentoras de gás natural - substituindo os objectivos de serviço
público pelo objectivo único do lucro privado, têm-se traduzido em processos de
reestruturação com profundas e negativas implicações no território e para as
populações.
As políticas de investimento
público, mas muito particularmente a realizada em apoio e incentivo a projectos
privados, com forte participação dos fundos comunitários, foram reproduzindo em
escala ampliada as dicotomias entre uma faixa litoral de Viana do Castelo a
Setúbal e do Algarve, com um povoamento relativamente denso, desordenado e, em
muitas situações, urbanamente congestionado e extensas áreas do interior em
crescente desertificação humana e económica. Mesmo a construção de novas
infra-estruturas rodoviárias acaba por ter impactos negativos dado o diferente
e inferior ritmo de construção de IC face aos IP e do seu insuficiente
acompanhamento pela extensão das redes regionais e locais. A que se acrescentam
as repercussões estruturais que têm algumas políticas comunitárias, como a PAC
e a Política Comum de Pescas, sobre a ocupação do território e o domínio
marítimo com as inerentes consequências no redesenhar dos espaços económicos
regionais e no agravar das assimetrias na localização económica e urbana.
A sobreposição dos critérios da
eficiência financeira e do lucro aos do ordenamento, regulamentação e
fiscalização das actividades económicas traduz-se em graves consequências para
o ambiente e os recursos naturais, agudizadas pela «mercantilização» dos custos
ambientais e da atribuição do direito a poluir a quem o puder pagar. A
preservação inadiável dos ecossistemas e recursos naturais e a garantia de
sustentabilidade das actividades humanas no espaço do território reclamam
outros critérios económicos e sociais que não os do capitalismo monopolista.
A política de direita tem
violado de forma sistemática a organização económica configurada pela
Constituição da República, nomeadamente quanto ao papel e funções do Estado e
de alguns dos seus princípios fundamentais e das suas incumbências prioritárias
como os da subordinação do poder económico ao poder político, de coexistência
do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de
propriedade dos meios de produção, do planeamento democrático do
desenvolvimento económico e social, da orientação das políticas económicas para
os objectivos de promoção de bem-estar social e económico, de justiça social e
correcção das desigualdades, do contrariar as formas de organização
monopolista, e de salvaguarda da independência nacional.
O Estado continua a ocupar um
papel central no sistema socioeconómico capitalista e monopolista português em
profunda articulação com as instituições da União Europeia e outros organismos
internacionais, e com o capital transnacional.
O Estado tem-se assumido
crescentemente como instrumento ao serviço dos interesses de classe do grande
capital nacional e transnacional, e em especial na recomposição de grandes
grupos económicos privados.
Adoptando e adaptando o Estado
às teses neoliberais do grande capital - o menos Estado, a maior eficiência da
gestão privada em relação à pública, o Estado regulador e não produtor - e
apoiada nas orientações e decisões comunitárias, a política de direita promove
a desregulamentação do mercado de trabalho, leva a cabo as privatizações do
Sector Empresarial do Estado, a liberalização e desregulamentação dos mercados
públicos, colocando como principal objectivo do Estado a criação do ambiente
favorável à iniciativa privada, atribuindo-se a este uma acção supletiva das
chamadas «imperfeições» ou «disfuncionamentos» do mercado.
De grande significado, pelos
seus impactos negativos na qualidade de vida dos cidadãos, no desenvolvimento
equilibrado do território nacional e para a soberania e independência nacionais
são os processos de privatização e liberalização dos serviços públicos ou de
bens essenciais, como a saúde, a educação, a segurança social, as energias, a
água, as telecomunicações e os transportes.
As chamadas «entidades
reguladoras», constituídas por grupos de peritos/personalidades nomeados pelo
governo, pretensamente independentes e isentos, para arbitrar e harmonizar
interesses contraditórios entre consumidores e produtores, entre utentes e
prestadores de serviços, vão sendo multiplicadas por áreas e sectores de bens e
serviços de relevante interesse público. De facto, significam o afastamento do
Estado da direcção e regulação económica dessas mesmas funções e uma operação
política e uma mistificação ideológica, visando desresponsabilizar o poder
político, e os partidos que o exercem, pelas decisões dessas entidades, que
podem atingir gravemente a maioria da população e os agentes económicos mais
frágeis.
A identidade da política
económica de direita, levada a cabo durante os últimos vinte e oito anos por
sucessivos governos de diversas composições partidárias envolvendo, sozinhos ou
acompanhados, PS, PSD, CDS-PP, e apoiada por correspondentes maiorias na
Assembleia da República, assenta na semelhança dos princípios estruturantes,
dos eixos essenciais, das lógicas e objectivos estratégicos das políticas
económicas.
Uma identidade que resulta de
opções políticas e ideológicas, ainda que com nuances, assentes nas teses do
capitalismo neoliberal, na promoção dos interesses do capital monopolista e na
defesa das políticas da União Europeia, traduzidas nas mesmas bases de partida
para a definição e estabelecimento das políticas económicas: os grupos
económicos monopolistas como células estratégicas da estrutura e funcionamento
do tecido económico; o papel instrumental do Estado numa reforçada ligação
entre o poder político e o poder económico, ao serviço do financiamento e
favorecimento públicos da acumulação acelerada do capital privado; a atribuição
ao capital estrangeiro de um lugar estratégico na economia nacional, anunciando
esse capital como factor de modernização e revalorização do papel produtivo do
país; o crescimento económico centrado numa dinâmica exportadora assente numa
produção de baixo valor acrescentado, baixos salários e mão-de-obra precária; a
consideração da posição geostratégica de Portugal como elo e plataforma dos
interesses dos grupos transnacionais.
Desta identidade profunda
resultam políticas sectoriais e horizontais que, apresentando variações na sua
aplicação e no modo como avaliam e procuram compensar as suas consequências
sociais negativas, se igualam nos resultados bem evidentes na situação
conjuntural e estrutural da economia portuguesa.
Os principais resultados
económicos e sociais da política de direita traduzem-se na consolidação de um
perfil produtivo de baixo valor acrescentado e de um modelo assente na
exploração dos baixos custos do trabalho e dos recursos naturais.
Uma estrutura económica
produtiva onde domina um tecido industrial constituído em grande parte por
empresas tecnologicamente atrasadas e métodos de gestão ultrapassados, e por
uma significativa presença da chamada economia paralela ou informal (de vão de
escada ou de garagem), em que foram liquidados ou seriamente abalados sectores
e ramos inteiros: química, siderurgia e metalurgias diversas, metalomecânica
pesada, reparação e construção navais, etc.. A presença significativa da
indústria automóvel e de alguns outros subsectores, e os seus efeitos indutores
na indústria de componentes, não tem sido, nem podia ser, suficiente para
compensar os aspectos negativos assinalados.
Um sector primário -
agricultura, pescas, indústria extractiva - profundamente afectado na sua
capacidade produtiva, limitado nas suas potencialidades de expansão e a braços
com profundas crises económicas e sociais, como por exemplo da diminuição e
envelhecimento dos seus activos e liquidação de explorações agrícolas e redução
da frota pesqueira.
Os primeiros e principais
défices do país são o do aproveitamento dos recursos naturais e o da
produção de bens materiais, particularmente pelo défice e pela dependência
alimentares que geram. O enorme défice da balança comercial, dos mais elevados
do mundo e dos maiores da história económica portuguesa, em termos relativos, é
expressivo de tal facto, estando na origem do recurso cada vez mais intenso a
créditos externos para financiar a balança de bens e serviços, resultando daí
um enorme e perigoso endividamento externo, privado e público.
A economia apresenta um baixo
nível da produtividade e competitividade da maioria das empresas quando
comparadas com as dos países mais desenvolvidos da UE. Os diferenciais de produtividade
e competitividade face às médias da União Europeia têm sido usados pela
política de direita e pelo grande patronato como argumentos para alterar a
legislação laboral e direitos sociais, como o subsídio de doença e de
desemprego.
Para lá da enorme mistificação
ideológica em torno dos conceitos de produtividade e de competitividade que,
aliás, frequentemente se confundem de forma não inocente, procura-se
estabelecer uma sequência lógica salário (trabalhador) - produtividade -
competitividade, como se houvesse uma simples relação causa/efeito na esfera
tão complexa da produção económica. Fundamentalmente, procura-se ocultar as
responsabilidades pela baixa qualidade da mão-de-obra, inclusive dos gestores,
principal condicionante do factor trabalho para a produtividade, pela reduzida
incorporação de investigação científica e desenvolvimento tecnológico na
produção, pela pouca atenção às formas de gestão e organização das cadeias de
produção e unidades empresariais.
A que deve acrescentar-se que a
baixa «produtividade» média da economia portuguesa resulta, no fundamental, de
um perfil de especialização com um peso determinante das indústrias de
mão-de-obra intensiva e baixo valor acrescentado, igualmente da
responsabilidade das políticas dos governos PSD e PS, que liquidaram
importantes ramos e fileiras industriais - química, farmacêutica,
metalomecânica pesada - e que não impulsionaram a alteração desse perfil
produtivo.
Também na avaliação do nível de
competitividade da economia portuguesa, que se procura reduzir ao factor preço
do produto/produtividade, se esquece a ausência de políticas de defesa do
mercado interno como faz a generalidade dos outros Estados, a adopção da moeda
única euro (perda de competitividade de 2% ao ano devida à taxa de câmbio efectiva),
o reduzido apoio às micro, pequenas e médias empresas, as inúmeras carências e
custos agravados das redes de energia, telecomunicações, transportes e
logística.
Mantém-se sem alterações
relevantes um elevado défice energético que a forte dependência do
petróleo e outros combustíveis fósseis explica, mas não justifica. Um défice
que resulta da ausência de medidas de racionalização do uso da energia, e em
particular na política de transportes, que conduziu ao crescimento da
intensidade energética do PIB no país, ao arrepio da evolução nos outros
membros da União Europeia, e do insuficiente investimento na produção das
energias endógenas, renováveis e limpas.
Um crescente défice científico
e tecnológico em resultado do insuficiente investimento público em Investigação
e Desenvolvimento (I&D) (estrangulamento financeiro sistemático das
instituições públicas de I&D - Laboratórios e Universidades -, não
renovação dos quadros). A isto somam-se o mais baixo nível de investimento da
União Europeia em I&D das unidades empresariais privadas, o desaparecimento
da I&D de empresas públicas destruídas, os reduzidos níveis de formação
científica e técnica dos sistemas de ensino e formação profissional, a
liquidação de múltiplas actividades produtivas, algumas das quais de sectores
de tecnologia avançada, e o baixo nível, em geral, de integração do
conhecimento científico na actividade económica.
E, por fim, um défice da
estrutura de transportes e logística, resultado de políticas e medidas
sujeitas ao objectivo de total privatização e liberalização do sector e total
subordinação aos interesses do grande capital, nomeadamente: o desmembramento
de muitas empresas; a redução de serviços e da função social dos transportes
(aumento dos preços dos bilhetes e passes sociais); a ausência de planeamento e
financiamento de um verdadeiro sistema nacional de transportes, integrado, com
complementaridade entre os vários modos; a dependência de decisões comunitárias
em matéria de financiamento e localização, que se tem traduzido em
protelamentos e indefinições; os atrasos na criação das Autoridades
Metropolitanas de Transportes, que surgem agora sob total controlo do governo.
Problemas que têm atingido os transportes terrestres (rodoviários -
nomeadamente a rede viária, o domínio do Grupo Barraqueiro e a asfixia do
Sector dos Táxis) e ferroviários - nomeadamente a rede de alta velocidade e a
sua articulação com a modernização da rede convencional), os transportes aéreos
(nomeadamente com o projecto de segmentação e privatização da companhia de
bandeira, a TAP), nos transportes marítimos e estruturas portuárias. E,
igualmente, no desenvolvimento de plataformas com zonas de actividade
logística, que só o Estado tem capacidade e vocação para hierarquizar e ordenar
a respectiva localização.
A política fiscal sofre também
de um profundo e verdadeiro défice estrutural pela sua persistência, dimensão e
natureza. Uma política fiscal injusta, de agravamento da carga fiscal dos
rendimentos do trabalho (taxas e escalões do IRS praticamente inalteráveis), de
aumento da tributação indirecta (IVA, ISP, ...) e de benefícios fiscais para o
grande capital, em particular do sector financeiro (taxas efectivas de IRC
bastante abaixo das taxas nominais, vultuosas isenções e prémios fiscais,
privilégios fiscais nos offshores e zonas francas). Uma política fiscal
ineficiente e cúmplice da fraude e evasão fiscais. O resultado, para lá da
injustiça social, é o enorme défice nas receitas fiscais do Estado, com
inevitáveis repercussões no equilíbrio das contas públicas e no não cumprimento
das suas funções de redistribuição do rendimento nacional (combate às
desigualdades sociais e assimetrias regionais) e de dinamização do
desenvolvimento do país (fortalecimento das funções sociais, construção das
infra-estruturas necessárias, impulso ao crescimento económico).
Para o PCP, o
desenvolvimento económico e social do país exige uma ruptura com as políticas
económicas de direita, prosseguidas por PS, PSD e CDS-PP nas últimas
décadas: uma organização económica onde prevaleça o interesse público e o
interesse nacional; um forte e modernizado sector público e serviços públicos,
a par do sector privado, com um importante contingente de dinâmicas micro,
pequenas e médias empresas e da economia social e cooperativa; a defesa, valorização
e desenvolvimento da produção nacional, promovendo a sua complexidade
tecnológica e valor acrescentado; a valorização do trabalho e a qualificação do
emprego.
O que torna necessária e
decisiva a intervenção do Estado na efectiva regulação da actividade económica
e como agente económico, conforme o ordenamento constitucional, sem deixar de
ter em conta o papel real do mercado no quadro de uma economia mista, não
dominada pelos monopólios, com sectores de propriedade diversificada e com as
suas dinâmicas próprias e complementares, respeitadas e apoiadas pelo Estado;
uma política fiscal justa e eficiente que dote o Estado dos meios financeiros
necessários às suas funções e obrigações constitucionais; a reconsideração das
políticas económicas comuns europeias e a atribuição de fundos, no quadro do
objectivo comunitário da coesão económica e social, em função das debilidades e
especificidades da economia portuguesa; a defesa da produção e do mercado
nacionais; a elevação do nível e perfil de escolaridade da população activa.
Considerando a evolução da
situação no plano social, os últimos anos testemunham no nosso país que a
imposição das políticas e teses que em nome e no interesse do grande capital
têm presidido à acção governativa foram acompanhadas por um processo de
mutilação e destruição de importantes conquistas e direitos sociais e por um
acentuado agravamento da situação social no país.
A acção do governo PSD/CDS-PP,
na linha da continuada ofensiva contra o denso acervo de conquistas de Abril,
deu novos e mais graves passos no ataque aos direitos dos trabalhadores, ao
Sistema de Segurança Social, ao Sistema Educativo e ao Serviço Nacional de
Saúde.
A ofensiva do capital e dos
governos ao seu serviço para anular direitos e conquistas dos trabalhadores,
que percorre toda a história do capitalismo, assume-se hoje como global e
universal. E testemunha de modo inequívoco que não há conquistas e direitos
irreversíveis, que o capital em nenhum momento se conforma com a redução dos
níveis de exploração indispensáveis à acumulação do lucro, que cada direito dos
trabalhadores se conquista ou se perde no permanente confronto entre o trabalho
e o capital.
O código do trabalho e a
sua regulamentação constituem uma verdadeira subversão das conquistas e
direitos alcançados pelos trabalhadores com a Revolução de Abril, uma operação
contra a Constituição e os direitos laborais nela consagrados, um novo e grave
retrocesso social e democrático, um instrumento destinado a criar dificuldades
à organização e à luta dos trabalhadores, a enfraquecer a sua capacidade de
resistência e a favorecer uma mais acentuada exploração.
O código do trabalho, objecto
de luta e resistência dos trabalhadores no quadro das quais se realizou a greve
geral de 2002, tem como eixos e objectivos a limitação do direito à segurança
no emprego e à greve, o ataque à contratação colectiva, a intolerável restrição
à liberdade de associação e organização dos trabalhadores.
Com o código do trabalho e a
sua regulamentação, governo e patronato, com o apoio da UGT, construíram um
instrumento destinado a legitimar um modelo assente nos baixos salários, na
desqualificação do trabalho e na precariedade e a facilitar e incentivar os
despedimentos, o encerramento e a deslocalização de empresas. Em articulação com
esta ofensiva o governo desencadeou um ataque brutal contra os trabalhadores da
Administração Pública no plano dos salários, da contratação e da destruição do
vínculo de emprego público.
A precariedade, que atinge
cerca de 1 milhão de trabalhadores, afirma-se como elemento desestruturante da
vida de centenas de milhar de famílias e ganha hoje novos contornos com a
proliferação das empresas de trabalho temporário. Com o recurso a este meio, do
qual os jovens são as principais vítimas, o capital livra-se dos encargos
inerentes com os trabalhadores efectivos, mina a unidade dos trabalhadores e
garante bolsas de recrutamento de pessoal sem os direitos consagrados na
contratação colectiva.
O nível de vida, já hoje
manifestamente baixo quando comparado com outros países europeus,
designadamente em matéria de rendimentos, valor de salários e protecção social,
conhece novas restrições e agravamentos.
O aumento do desemprego
verificado nos últimos dois anos, que ascende segundo dados recentes a mais de
meio milhão, e o alargamento do número de desempregados de longa duração
atingem particularmente os jovens, incluindo com formação superior, e as
mulheres.
O endividamento das famílias
portuguesas, estimulado pelos interesses das instituições financeiras, pela
especulação bolsista, pela ausência de uma política de habitação alternativa à
aquisição de habitação própria e pelo fomento irresponsável a um consumo com
recurso a dinheiro fácil, atinge níveis preocupantes, hipotecando em muitos
casos o futuro e a estabilidade financeira de centenas de milhar de famílias.
Mantém-se e acentua-se, em nome
da competitividade e do combate ao défice orçamental, uma deliberada política
de contenção salarial que, estimulada a partir do governo, como o
testemunha a imposição de aumentos abaixo da taxa de inflação ou o congelamento
dos salários, em dois anos consecutivos, dos trabalhadores da Administração
Pública, tem contribuído para a perda de poder de compra dos trabalhadores e
para afastar o valor do salário nacional da média europeia.
Centenas de milhar de pensionistas
e reformados continuam a receber pensões de miséria, sujeitas a
actualizações insuficientes para fazer face ao crescimento dos custos com a
saúde e os medicamentos, e a verem-se obrigados a recorrer à ajuda familiar para
poderem sobreviver, pondo em causa a dignidade humana a que têm direito.
A defesa e promoção de uma
política de emprego com direitos, estável e justamente remunerado são
determinantes para garantir, não apenas um nível e qualidade de vida que são
devidos a quem trabalha no presente, mas para assegurar valores mais elevados
das prestações sociais de desemprego, doença ou invalidez e montantes dignos no
futuro das respectivas pensões de reforma.
O crescimento das desigualdades
sociais, expressão visível da natureza de classe da política de direita,
traduz-se na progressiva e escandalosa concentração da riqueza num número
reduzido de famílias em oposição à cada vez mais larga parcela da população
vivendo no limiar da pobreza. Acentua-se a desigualdade na divisão e
distribuição do rendimento nacional entre o trabalho e o capital.
A expressão da pobreza e o seu
crescimento estão directamente associados ao baixo nível de rendimentos em
resultado dos baixos valores dos salários, ao aumento do desemprego e aos baixos
valores das pensões.
Mais de um milhão de reformados
vive com pensões de valor inferior a 208 euros, num quadro em que as
actualizações da grande maioria das reformas e pensões são manifestamente
insuficientes para fazer face aos brutais aumentos dos preços de bens e
serviços essenciais, e em que se reduzem os apoios sociais do Estado às
necessidades específicas dos idosos, designadamente os apoios domiciliários, os
centros de dia com refeições, os lares, etc..
Mais de dois milhões de
portugueses não conseguem um rendimento mensal superior a 60% do rendimento
médio nacional, ao mesmo tempo que aumenta o número dos que recorrem à ajuda
alimentar. Um número crescente de trabalhadores e de famílias enfrenta
condições de vida particularmente difíceis face a um orçamento familiar
insuficiente para fazer face aos elevados custos da alimentação, habitação,
despesas com educação dos filhos e com a saúde. Esta realidade repercute-se no
dia a dia das crianças e jovens, muitos dos quais não têm acesso a creches,
jardins de infância e ATL a preços acessíveis e de qualidade, o que se
repercute nos níveis de insucesso, abandono escolar e no ciclo de pobreza que
tende a marcar as suas vidas no futuro.
Destacam-se, ainda, o acelerado
processo de fomento de políticas sociais a partir da acção do Estado centradas
na gestão da pobreza e assentes numa visão assistencialista e as dificuldades
em garantir uma eficaz intervenção junto de grupos sociais mais vulneráveis,
designadamente junto de crianças e jovens em risco, dos cidadãos sem abrigo,
das vítimas de exploração sexual e prostituição, em resultado do fraco
investimento em meios financeiros e técnicos disponibilizados pelos governos.
As mulheres continuam a
ser especialmente atingidas por esta política de desigualdades, constituindo a
parcela dos trabalhadores pior remunerados, as mais fortemente penalizadas pela
precariedade, as menos promovidas, as que têm pensões e reformas mais baixas e
as que mais recorrem ao magro subsídio de inserção social.
Um quadro de desigualdades
engrossado pelos muitos milhares de imigrantes, muitos deles com a sua
situação por regularizar, vivendo em condições degradantes, sem direitos e
sujeitos à chantagem das mafias e à exploração do patronato sem escrúpulos, que
com o desenvolvimento de tendências racistas e xenófobas estimuladas pela
política do governo pode vir a constituir um factor preocupante de tensões
sociais.
A política de direita tem
assentado no plano ideológico num farisaico discurso moralista e pretensamente
humanizador e, no plano das políticas, na intensificação da exploração com
restrição de direitos; na estratificação das condições de imigrante, mesmo
quanto à origem, numa lógica de dividir para reinar; na acentuação do pendor
policial como via de tratamento de um problema eminentemente social.
Na verdade, Portugal viu
aumentar significativamente nestes últimos quatro anos o número de imigrantes,
com um contributo relevante para o desenvolvimento nacional, que estudos
recentes estimam em 5% da riqueza produzida anualmente.
A questão da imigração é tão
mais de assinalar quanto Portugal continua a ser marcado pelo peso da sua comunidade
emigrante. Um fenómeno que continua a ver-se ampliado pelo crescimento
recente da mobilidade emigrante, seja pelos trabalhadores temporários e
sazonais, a maioria dos quais com contratos de curta duração e em condições de
grande precariedade e de enorme exploração.
As políticas de direita
desenvolvidas ao longo dos anos caracterizam-se, no essencial, por um discurso
demagógico que não resiste ao confronto com a prática e que se afastam cada vez
mais das aspirações e necessidades das comunidades portuguesas. Aumenta assim a
degradação da rede consular e das condições de exercício profissional dos seus
trabalhadores, do ensino e divulgação da língua e cultura portuguesas, ao mesmo
tempo que se acentuam as tentativas de instrumentalização dos órgãos próprios
da diáspora.
Os problemas de habitação,
sem solução no quadro da lógica de mercado e sujeitos a uma deliberada opção de
favorecimento do capital financeiro, continuam a constituir um grave problema
social. A progressiva desresponsabilização do Estado no investimento e na
promoção de políticas públicas, a ausência de uma política de solos e a não
assunção da função urbanística com natureza eminentemente pública têm
contribuído para a especulação imobiliária e para o agravamento dos problemas
do sector.
O regime de arrendamento urbano
proposto pelo governo - que representa um novo e agravado factor de
instabilidade e de precariedade do direito à habitação, com consequências
sociais imprevisíveis para a larga maioria dos 750 mil arrendatários existentes
- e a legislação sobre reabilitação destinada a favorecer a entrada do capital
financeiro no negócio da reabilitação dos centros históricos das cidades,
revelam o sentido de classe do actual governo.
A acção do governo PSD/CDS-PP
nas áreas e políticas sociais está indelevelmente marcada pela
desresponsabilização do Estado associada a uma orientação de mercantilização da
saúde, da segurança social e da educação.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) constitui
um alvo privilegiado da política de direita e das suas orientações neoliberais.
No seguimento da situação criada pelos governos do PS - subfinanciamento, falta
de investimento com a consequente progressiva degradação dos cuidados de saúde
- , o governo PSD/CDS-PP desencadeou o mais forte ataque de sempre ao SNS,
visando a sua destruição e privatização. A não adopção pelos sucessivos
governos de orientações políticas para a defesa do SNS, designadamente
promovendo programas com objectivos definidos de investimento, renovação e
melhoria de qualidade, têm facilitado a transformação da saúde num sector com
predominância privada, acentuando a promiscuidade existente entre o sector
público e o privado, com o Estado remetido a um papel residual, o que constitui
uma forte regressão social e a negação do direito constitucional à saúde.
Procurando esconder as
potencialidades do SNS, considerado pela OMS o 12.º melhor a nível mundial, bem
patente nos indicadores de saúde da população portuguesa - como a esperança
média de vida, que passou de 68 anos em 1970 para 76,2 anos em 2003, ou a
mortalidade infantil, que em 1970 era de 58,6 por cada mil nascimentos passando
para 5 por cada mil nascimentos em 2002 - o governo apostou na progressiva
diminuição da prestação de cuidados de saúde aos cidadãos pelos serviços
públicos; limitou o financiamento e o investimento nos hospitais e centros de
saúde; introduziu o primado da gestão economicista, acentuando a centralização
e burocratização das decisões, pressionando as unidades de saúde para a
diminuição de despesas e para a crescente obtenção de receitas próprias, à
custa da qualidade dos serviços; atacou os direitos dos trabalhadores da saúde
e agravou a carência de recursos humanos; interferiu na definição de
competências profissionais, visando impor critérios de desqualificação técnica
e científica e promover a conflitualidade no sector; desprezou as políticas de
prevenção da doença e promoção da saúde; acentuou a dificuldade no acesso aos
cuidados de saúde, bem patente nas crescentes listas de espera para cirurgias,
tratamentos e consultas de especialidade ou na falta de médicos de família;
aumentou os custos para a população, através das taxas moderadoras, do preço
dos medicamentos ou da crescente necessidade de recurso a serviços privados.
O governo PSD/CDS-PP agravou o
problema das listas de espera cirúrgicas, apesar de prometer o seu fim,
aplicando um programa (PECLEC) que redundou na criação de uma nova lista de
espera com mais utentes que a inicial e lançando agora um novo sistema que
favorece ainda mais o sector privado através da criação do chamado «cheque
cirurgia» o que, a par da degradação do funcionamento dos serviços de saúde, se
traduzirá na transferência, nas especialidades com potencial lucrativo, dos
utentes para instituições privadas.
A política dos governos PS e
PSD/CDS-PP agravou a escassez dos recursos humanos da saúde, estando Portugal
na «cauda» da Europa no que diz respeito a número de profissionais de saúde por
mil habitantes. Aumentou o número de utentes sem médico de família, sendo
recorrentemente adiada a criação do enfermeiro de família. Acentua-se a
dificuldade em aceder a consultas e tratamentos de diversas especialidades,
como acontece com os cuidados de saúde oral, especialmente em centros de saúde,
ou com a área da saúde materna e infantil, onde a falta de especialistas,
designadamente médicos e enfermeiros, tem colocado em risco de rotura
maternidades centrais e levado à ameaça ou mesmo ao encerramento, valências de
maternidade em todo o país, dificultando cada vez mais a acessibilidade da
população a estes cuidados. Acentua-se em simultâneo o ataque aos direitos dos
trabalhadores da saúde, aumentando a precariedade e a instabilidade laboral, desvalorizando
e desrespeitando o seu trabalho e as suas competências científicas e
profissionais e promovendo a desmotivação profissional.
O acesso a cuidados de saúde é
cada vez mais caro e por isso mais difícil para a generalidade da população. O
aumento das taxas moderadoras revelou-se particularmente danoso para as classes
mais desfavorecidas, não só devido ao aumento do seu valor, mas também do
número de actos a serem taxados. Aumentaram para muitos milhares de utentes os
gastos com medicamentos, em virtude da aplicação do sistema de preço de
referência (mais 6,4 milhões de euros). Cada vez mais a falta de resposta dos
serviços públicos, em consequência da deliberada falta de aproveitamento dos
recursos humanos e materiais instalados nos serviços públicos, empurra a
população para o recurso ao sector privado.
Incluída na estratégia de
desresponsabilização do Estado e da crescente transferência de custos para a
população, a recente hipótese de diferenciar o pagamento de serviços de saúde,
com base na informação do sistema fiscal, para além de ser inconstitucional,
reproduziria na saúde a injustiça fiscal daquele sistema, que tributa
fundamentalmente os trabalhadores por conta de outrém; agravaria as já
deficitárias condições de acesso de muitos cidadãos à saúde; discriminaria
negativamente os mais doentes, que por isso têm de recorrer mais aos serviços
de saúde; não afectaria os mais ricos, quer porque têm sempre a possibilidade
de recorrer aos serviços privados, quer porque o peso destes pagamentos é diminuto
face aos seus rendimentos.
O governo PSD/CDS-PP acentuou a
linha privatizadora. Transformou 36 hospitais em 31 hospitais sociedades
anónimas e prevê empresarializar mais 30 unidades de saúde até 2006. Celebrou
novo e vantajoso contrato para o Grupo Mello no Hospital Amadora-Sintra.
Avançou com as chamadas parcerias público-privadas, iniciadas pelo PS, para
entrega a privados dos novos hospitais a construir, num negócio sem paralelo
noutros países e que constitui na prática a entrega durante décadas destas
unidades hospitalares a grupos económicos privados, em condições de lucro
garantido e ausência de risco, assente num financiamento público de mais de 7
400 milhões de euros - que onerará o Orçamento do Estado até 2037, em montantes
superiores ao que seria a despesa pública se estes hospitais fossem construídos
e geridos pelo Estado - bem como na já anunciada aplicação do princípio do
utilizador-pagador nestas unidades. Prepara-se para entregar a gestão dos
centros de saúde aos hospitais privatizados e a grupos privados, arredando para
segundo plano a função primordial dos cuidados de saúde primários que é a
promoção da saúde e a prevenção da doença e para alienar ao chamado sector
social, (nomeadamente às misericórdias), em geral comprometido com interesses
económicos privados, a rede de cuidados continuados.
A criação da Entidade
Reguladora da Saúde (ERS), exigida pelo Presidente da República como condição
para a promulgação das peças legislativas do governo PSD/CDS-PP, é mais um
avanço na desconfiguração do SNS. A criação da ERS, equivale a transferir as
funções reguladoras do Estado para uma estrutura sem autonomia de intervenção e
em boa parte dependente do financiamento de entidades privadas, para além do
financiamento do Orçamento do Estado. A criação da ERS traduz a crescente
desresponsabilização do Estado na condução das políticas de saúde, a sujeição
do sector da saúde à estrita lógica da concorrência e do mercado, sendo um
instrumento na política de privatização do SNS.
A ofensiva contra o SNS, como parte
da ofensiva mais generalizada contra os serviços públicos, reflecte-se
negativamente em outras áreas de intervenção no domínio da saúde pública como
as da toxicodependência e na despistagem e tratamento do SIDA e de
outras doenças de crescente prevalência.
Os critérios economicistas, a
progressiva desresponsabilização do Estado e a governamentalização e, mesmo,
partidarização da estrutura de direcção do organismo responsável pela
dinamização das medidas no sector (IDT) têm conduzido à paralisia dos serviços
e das acções de prevenção, e tratamento da toxicodependência, a exemplo do que
se verifica ao nível dos programas e organismos responsáveis pelo combate ao
alcoolismo.
A acção política e ideológica
do governo em matéria de direitos sexuais e reprodutivos, em claro
confronto e ruptura com o carácter democrático e progressista presente na
legislação portuguesa, assume na questão do aborto e da sua expressão enquanto
flagelo social particular relevância.
O crescente número de casos de
aborto levados a tribunal com o cortejo de sofrimento e humilhação para as
mulheres envolvidas, a par da deliberada desvalorização das acções de
planeamento familiar e educação sexual em meio escolar, impõe um vigoroso
combate às concepções da maioria PSD/CDS-PP que aposta na criminalização e
estigmatização das mulheres que têm de recorrer à interrupção voluntária da
gravidez.
Num quadro em que se impõe que
sejam abandonadas, por um lado, falsas respostas institucionais como as que o
BE alimentou com a petição para um referendo, e por outro, preconceitos e
hesitações no campo das forças que se afirmam favoráveis à despenalização do
aborto, nomeadamente no PS, o PCP continua a agir activamente para que, a par
de um urgente combate aos recuos em curso em matéria de educação sexual,
planeamento familiar e do conjunto dos direitos sexuais e reprodutivos, se
prossiga a luta para que a Assembleia da República aprove uma lei de
despenalização do aborto, a pedido da mulher, até às 12 semanas, superando
assim este grave problema social e de saúde pública.
Particularmente forte tem sido
o ataque contra o sistema público de segurança social, instrumento que
se pretendia insubstituível de solidariedade, de justiça social, de integração
e participação na vida da sociedade, ao garantir protecção, nos termos
constitucionais, na velhice, invalidez, viuvez, orfandade, doença, infância,
bem como no desemprego e demais situações de falta ou diminuição de meios de
subsistência ou de capacidade para o trabalho.
O sistema público de segurança
social, conquista de Abril, tem estado no centro de uma forte ofensiva com
consequências visíveis no baixo nível de protecção social de Portugal
relativamente à generalidade dos países da União Europeia.
A Lei aprovada pela maioria
PSD/CDS-PP e a sua posterior regulamentação, constitui, numa clara opção pelos
interesses dominantes, um duro golpe no direito à protecção social. Esta lei -
que determina que a segurança social passe a ser constituída por três sistemas:
público, complementar e Acção Social - visa a privatização das suas partes mais
rentáveis, a redução e/ou isenção das obrigações do patronato para com a
segurança social e a transformação do sistema público num sistema residual.
As alterações verificadas no
subsídio de doença e nas prestações familiares (abono de família) e as que são
anunciadas para o subsídio de desemprego e de introdução de tectos
contributivos para efeitos de reforma, visam a destruição da universalidade dos
direitos, a manutenção de baixos valores das prestações sociais, em que se
destacam as pensões e as reformas. A criação do Rendimento Mínimo Garantido a
partir de 1996 (e proposto pelo PCP em 1993) veio a consagrar um importante
direito social para as famílias e indivíduos em situação de carência. A sua
substituição pelo Rendimento Social de Inserção (RSI), por parte do PSD/CDS-PP,
visou diminuir o acesso de muitos que se encontram numa situação de carência
económica e reduzir as despesas do Estado com esta prestação social.
A evasão e as dívidas à
segurança social têm tido com o governo do PSD/CDS-PP uma acentuado
crescimento. Somadas à perda real de receitas que decorrem do fecho de
empresas, dos despedimentos e da precariedade de trabalho são utilizadas para
fundamentar a velha e falsa tese da insustentabilidade financeira do Sistema
Público.
A autonomização do Sistema de
Acção Social, prevista na actual lei de bases de segurança social, desligada do
Sistema Público de Segurança Social insere-se numa lógica de destruição de
importantes mecanismos de protecção social baseada em direitos, de redução do
papel do Estado ao mero controlo institucional das situações de carência
através de medidas assistencialistas e de transferência desta responsabilidade
para a iniciativa dos cidadãos, das autarquias e da chamada economia social (IPSS,
Misericórdias, cooperativas, fundações, associações).
Os últimos quatro anos foram
marcados, também na área da educação, pelas políticas neoliberais que
visam a criação do mercado da educação.
Contra qualquer lógica de
valorização da educação como um sector estratégico determinante para o
desenvolvimento do país, numa atitude não apenas autista e prepotente, mas
também de afrontamento à Constituição, a maioria de direita, numa clara opção
de classe, impôs na Assembleia da República uma nova Lei de Bases da Educação,
que acabou por ser vetada, como o PCP reclamava, pelo Presidente da República.
Na proposta da maioria, agora
vetada, que reflecte política e ideologicamente as suas opções para a área da
educação, são inequívocas duas orientações centrais: privatizar o ensino, o que
é evidente na substituição do conceito de escola pública por serviço público, e
satisfazer o mercado de trabalho de acordo com um modelo de desenvolvimento
assente na mão-de-obra desqualificada e nos baixos salários. Só a intensificação
da luta poderá impedir a reposição pelo governo, já na próxima sessão
legislativa, desta proposta.
Num país com uma taxa de
abandono e insucesso que atinge 45% dos estudantes do ensino secundário onde,
de acordo com os Censos de 2001, 32,5% da população empregada continua a
possuir no máximo o 1.º ciclo do ensino básico completo, somente 28,8% possui o
ensino secundário completo e apenas 7,8% uma licenciatura completa, ao Estado
cabe assegurar a democratização da oferta educativa, a igualdade de condições
no acesso e sucesso educativos, ao contrário da opção elitista que tem vindo a
ser implementada e que a intenção do governo de reduzir de nove para seis anos
o tronco comum da formação reforça. É fundamental desenvolver a educação para
adultos, a chamada educação de 2.ª oportunidade, nomeadamente através do
alargamento da rede de escolas públicas com oferta diversificada de ensino
recorrente, designadamente no ensino nocturno, que facilite a sua frequência.
A educação pré-escolar
conseguiu no final dos anos 90 uma visibilidade significativa resultante de uma
crescente tomada de consciência colectiva sobre o importante contributo que
esta dá ao nível do desenvolvimento integral do indivíduo e como primeira etapa
de uma educação básica. Com o governo PSD/CDS-PP este sector educativo sofreu
uma forte regressão no processo de expansão que vinha tendo desde a publicação
da Lei Quadro da Educação Pré-Escolar, deixando por cumprir o papel estratégico
do Estado na criação de uma rede pública que garanta a universalidade da
oferta. A educação pré-escolar vê agora ameaçado o seu carácter público e
gratuito ao mesmo tempo que se abandona o objectivo de generalizar esta
resposta educativa a todas as crianças dos três aos cinco anos, assumindo o
Estado a prioridade de apenas a promover para as crianças de cinco anos.
Num país de significativas
assimetrias regionais, os problemas causados por um parque escolar
caracterizado pela falta de conforto e de recursos em equipamentos educativos e
material didáctico, a necessária colocação de mais professores e da dotação do
número adequado de auxiliares de acção educativa e outro pessoal não docente,
um financiamento público restritivo que não tem em consideração as
desigualdades de acesso às novas competências curriculares de muitos alunos que
vivem em regiões isoladas e desfavorecidas, a falta de apoios eficazes nas
refeições e na organização dos tempos livres, o elevado número de alunos por
turma, são alguns dos muitos problemas que subsistem no 1.º ciclo do ensino
básico.
A Lei de Bases em vigor acentua
a importância do desenvolvimento global do aluno (nas vertentes cognitivas,
sócio-afectivas, da criatividade e capacidade crítica), objectivos que não
serão atingidos sem que se tomem as medidas necessárias para melhorar as condições
de trabalho dos professores e alunos e se promova uma «Nova Escola do 1.º Ciclo
do Ensino Básico».
A articulação entre os diversos
níveis de ensino é condição essencial para a qualidade da formação e para o
sucesso escolar, para se alcançar uma elevada taxa de permanência e de sucesso
na escolaridade obrigatória. Também nos 2.º e 3.º ciclos é indispensável o real
investimento na escola pública, bem como a coordenação dos «currículos», o
reforço e a diversificação dos apoios, a criação de condições para a
diferenciação pedagógica e a redução do número de estudantes por turma e do
número de turmas e de níveis por professor, em várias disciplinas.
No ensino secundário, e tal
como aconteceu com o governo anterior, também as políticas aqui introduzidas
pelo governo PSD/CDS-PP, nomeadamente com a revisão curricular, têm vindo a
empobrecer os conteúdos programáticos que se encontram cada vez mais desligados
das necessidades sociais e da realidade que vivemos.
Com a revisão curricular que
entra em vigor no início do ano lectivo 2004/2005, não só não se resolve a
crise que se vive neste nível de ensino, como se acentuará o carácter de classe
da selectividade nas opções entre o ensino geral e as variantes técnica,
artística e vocacional. À saída da escola secundária serão cada vez mais os
filhos dos estratos sociais superiores que se encontram em vantagem para se
tornarem os futuros quadros dirigentes, reproduzindo desta forma a
estratificação social existente.
Portugal continua a ser, no
contexto da União Europeia, o país com menor percentagem de população activa
com habilitações a nível superior. É reconhecida a importância fundamental das
qualificações e da elevação cultural dos povos em todas as esferas e em todas
as funções do exercício das actividades sociais, económicas e políticas. O
ensino superior é portanto um bem público e não um privilégio de classe nem
apenas um investimento pessoal, e como tal compete ao Estado garantir o seu
funcionamento em condições de equidade quanto ao acesso e à frequência deste
grau de ensino. Deve pois ser de frequência gratuita e ser acompanhado de
medidas de acção social escolar que facultem os apoios de que carece a maioria
da população escolar, como os relativos à deslocação dos estudantes bem como à
atenuação de quaisquer formas de discriminação social.
O Ensino Superior Público é
hoje alvo de feroz ataque do capitalismo internacional. O «Processo de Bolonha»
tem dois objectivos: a elitização económica do ensino superior, condicionando-o
assim aos interesses do grande capital financeiro, e a privatização progressiva
do ensino superior público. No nosso país, as orientações governamentais no
âmbito do «Processo de Bolonha» visam, essencialmente, a desresponsabilização
do Estado no financiamento do Ensino Superior Público e a sua uniformização e
segmentação em ciclos com uma orientação classista. A fragmentação do ensino
superior em ciclos com previsíveis custos acrescidos das propinas de cada ciclo
possibilitará uma maior coincidência entre as elites intelectuais e as elites económicas.
O acesso ao conhecimento será ainda mais um privilégio dos ricos. Àqueles cujos
escassos recursos económicos não permitam a passagem ao 2º ciclo será negada a
formação integral que lhes poderia conferir as capacidades necessárias para
assumir uma posição consciente no controlo da economia e, ao mesmo tempo, as
capacidades profissionais para as tarefas do desenvolvimento. Por outro lado,
através da estratificação do ensino superior em ciclos pretende-se acelerar o
processo da sua privatização e abertura à sua transnacionalização. Com efeito,
quanto mais os cursos forem estratificados, mais fácil se tornará a «produção»
de tais pacotes pelo sector privado da educação. A ajudar ao processo está a
inviabilização financeira das universidades por subfinanciamento.
Qualquer reforma do ensino
superior deverá realizar-se no devido respeito pela sua autonomia científica e
pedagógica, ser partilhada com os corpos docente e discente (associações de
estudantes, associações profissionais e científicas) que as integram e ter como
finalidade o seu controlo democrático e o cumprimento das reais necessidades do
povo português. Tendo em conta que o «Processo de Bolonha» é um instrumento de
contra reforma neoliberal, o PCP alerta para os perigos e graves consequências da
sua implementação e apela ao seu firme combate.
No Ensino Superior Público o
Estado deve assumir os custos da formação integral dos seus estudantes em todos
os ciclos de ensino. O Ensino Superior Público deve reivindicar os
financiamentos a que tem direito como serviço público que é, ao mesmo tempo que
encontra formas complementares de autofinanciamento através dos serviços à
sociedade que as suas estruturas intelectuais e produtivas podem prestar. Deve
pugnar, em qualquer ciclo de ensino, por programas curriculares estruturantes
que preparem os seus formandos, não só para a vida produtiva, mas também para
uma intervenção consciente na sociedade. Deve-se portanto lutar por uma
profunda reconfiguração do ensino público português que habilite os estudantes a
serem criadores de um país avançado, consciente, democrático. Para tal, será
fundamental um ensino ligado à vida, que ensina a questionar e a duvidar.
O financiamento do sistema de
ensino superior é um instrumento fundamental de política. Ao contrário da
desestruturante orientação e da prática verificadas nos últimos vinte anos, em
que o quadro de financiamento da rede pública vem sofrendo gravosas alterações
e sucessivos incumprimentos, o financiamento público deverá ser estável e
suficiente para garantir condições de trabalho favoráveis à orientação, ao
acompanhamento e ao aproveitamento escolar, assim elevando a taxa de sucesso e
a adequação e pertinência das aprendizagens. Sem esquecer também a importância
do financiamento bastante para realizar formação avançada, a favor quer da
consolidação dos estabelecimentos de ensino superior em todos os domínios do
saber quer para a disponibilização de quadros altamente qualificados e de
investigadores para a generalidade do tecido produtivo e administrativo do país.
Rejeitamos a intenção expressa de interesses económicos nacionais e
transnacionais em transformar a educação e a formação em mercadoria e objecto
de sector de negócios e, com isso, negamos a legitimidade de o Estado reduzir o
seu apoio expresso e substancial à rede pública para conferir facilidades
legais e apoios financeiros a estabelecimentos de ensino privado. Deve sim o
Estado oferecer estímulos positivos e correcções regionais e temáticas, que
consolidem a rede pública e permitam aproximá-la das aspirações e necessidades
dos cidadãos e dos imperativos de desenvolvimento do país.
A educação e a cultura, bases
privilegiadas de sustentabilidade do regime democrático, factores essenciais a
uma estratégia para o desenvolvimento do nosso país assente num modelo de
repartição mais justo da riqueza produzida, onde pontifique mão de obra
qualificada e bem remunerada, exigem que o Estado garanta o direito
constitucional à educação e assegure um ensino público, gratuito e de qualidade
para todos.
A investigação científica e o
desenvolvimento experimental são parte integrante da vida cultural e económica.
A produção autónoma de conhecimento, a sua assimilação e a sua transmissão são
vitais à identidade e ao dinamismo intelectual e material do país. As instituições
de ensino superior e os laboratórios do Estado, para além de estruturas
empresariais de pesquisa científica ou tecnológica, são o contexto adequado
para alimentar essa produção científica e técnica, a sua difusão no tecido
nacional e o cumprimento de missões técnicas de interesse colectivo que cabe à
administração pública assegurar nos âmbitos mais variados. Compete ao Estado
financiar parte irredutível desse esforço de investigação, no ensino superior e
nos laboratórios do Estado, garantir condições de trabalho e de carreira aos
investigadores e técnicos especializados, fixar um quadro favorável ao efectivo
investimento empresarial na investigação para fins produtivos.
A evolução da situação
cultural caracterizou-se, no plano das políticas governamentais, pela
subalternização e secundarização, pelo prosseguimento da transferência de
encargos e responsabilidades para os municípios, pelas restrições e pela fraca
execução orçamental. Começou a acentuar-se claramente uma orientação de
privatização de bens culturais públicos. Por outro lado, e sobretudo na área
das artes, a pretexto de uma política de «internacionalização» promovida pelo
Instituto das Artes (IA), manifesta-se uma linha de imposição de valores de
cunho cosmopolita que configura, também nesta área, um processo de integração
subalterna nos circuitos internacionais de mercantilização capitalista dos
objectos culturais. Em contrapartida, deve destacar-se um valioso esforço de
criadores, e em particular de jovens, no sentido de encontrar formas de afirmação
e difusão não subordinadas a este processo.
Os cortes e restrições
orçamentais impostos (contrariamente às promessas e desmentidos governamentais)
condenaram praticamente à inacção importantes instituições ou áreas de trabalho
de que são exemplo a Biblioteca Nacional ou o Instituto do Cinema, Audiovisual
e Multimédia, o Instituto Camões e a extinção do Observatório das Actividades
Culturais. O financiamento público das actividades culturais assenta em
percentagem cada vez maior nos municípios, para os quais o Governo pretende
transferir novos encargos na atribuição local e regional de apoios, na base de
um modelo que conduziria a uma ainda maior fragilização das iniciativas
descentralizadas, e a um cerceamento da diversidade cultural.
O património cultural e natural
debate-se numa luta pela sobrevivência sem precedentes, estando em causa o
futuro das instituições, das capacidades humanas forjadas ao longo de gerações,
dos bens móveis e imóveis, reservas e sítios, corpóreo e incorpóreo. A drástica
redução dos apoios à descentralização e criação, traduzida na liquidação das
iniciativas descentralizadas e independentes, é coerente com a tentativa de
impor uma orientação cerceadora da diversidade cultural. A democraticidade
cultural básica não existe, procurando-se iludir a sua ausência com o recurso
ao mercado cultural nas suas facetas mais destrutivas da identidade nacional. A
actividade cientifica, na frente da investigação, do ensino ou no domínio da
divulgação, fundamental para o desenvolvimento da sociedade portuguesa e do seu
progresso económico assistiu nestes anos a uma grave recessão, em que se
mascaram contratos comerciais como «ciência aplicada», se ignora a diferença
entre investigação e tecnologia, se disfarça o ensino cientifico, técnico e tecnológico
com o manto diáfano da informática, tantas vezes mal projectada e
frequentemente usada para fins muito diferentes das suas reais capacidades.
Mantém-se por cumprir acordos internacionais, culturais e científicos, a que
Portugal se obrigou e que põem em causa a nossa permanência nas respectivas
instâncias internacionais.
A política cultural que o país
precisa exige o aumento e não a redução do papel do Estado na defesa,
valorização e preservação do património cultural; no estímulo e apoio à
investigação e criação contemporânea, respeitando a sua diversidade estética,
formal e estilística; na valorização de um desenvolvimento regional
equilibrado; no apoio à profissionalização dos criadores e à formação de
públicos; na promoção do diálogo e abertura às culturas de outras comunidades e
povos.
A desigualdade de oportunidades
e a elitização das políticas estendem-se também ao desporto. Do ponto de vista
desportivo, prosseguiu um política de promoção de grandes eventos, de que o
Euro 2004 (gigantesco negócio privado traduzido num enorme endividamento
público) é exemplo, para esconder a ausência de uma política de promoção activa
do desporto ao serviço de toda a população.
Contrariando toda a lógica e as
recomendações de organizações internacionais, os sucessivos governos do PS e do
PSD abandonaram a Educação Física no 1.º Ciclo de Ensino Básico, pondo em causa
aspectos essenciais do desenvolvimento motor e intelectual das crianças, com
impacto no sucesso escolar; mantiveram o Desporto Escolar em níveis baixíssimos
de prática; não têm apoiado os clubes e o desporto popular; a alta competição e
o Movimento Olímpico e Paralímpico não têm sido dotados de recursos necessários
ao seu desenvolvimento; não houve investimento na promoção de estilos de vida
activa e no desenvolvimento desportivo nacional; as federações e os clubes
estão sem meios nem recursos financeiros.
As autarquias locais,
reconhecidamente um suporte de toda a acção desportiva nacional, quer no que
respeita a infra-estruturas quer no que respeita a actividades e apoio ao
movimento associativo, conheceram neste período, em contraste com o apoio dado
ao desporto profissional, novas e mais profundas limitações financeiras com
repercussões na sua actividade também nesta área, ao mesmo tempo que sintomaticamente
a proibição de acesso ao crédito que lhes foi imposta pelos últimos governos
ter como única excepção o acesso ao crédito para a construção dos estádios
destinados ao Euro 2004.
A nova Lei de Bases do
Desporto, cuja aprovação a maioria impôs contra todos os outros partidos e
todos os pareceres das entidades que se puderam pronunciar - porque define a
intervenção dos poderes públicos como «complementar e subsidiária» contrariando
o texto constitucional, direcciona inaceitáveis competências para as autarquias,
acentua uma intromissão do Estado no associativismo desportivo, constituindo um
repertório de abordagens gerais de temas desarticulados entre si, não
perspectiva uma lógica de democratização e generalização da prática desportiva
a toda a população em que o Estado deverá ter um papel central - representa um
grave retrocesso conceptual e legislativo e constituirá um factor mais no
progressivo afastamento de Portugal dos padrões médios europeus.
Quer ao nível da intervenção
política e institucional quer ao nível do movimento associativo desportivo, do
movimento popular, dos agentes do sistema educativo, dos profissionais do
desporto e das respectivas associações é indispensável uma acção mais
estruturada, mais organizada e coordenada no combate à política de direita para
o desporto.
A política ambiental, nos seus
conteúdos e omissões, tem-se caracterizado por uma deliberada redução de
recursos e meios postos à disposição da implementação de políticas coerentes de
defesa e preservação da natureza e da sua compatibilização com os interesses da
população e o desenvolvimento do país e pela opção estratégica de favorecimento
da apropriação privada de recursos naturais, no quadro de uma lógica de
subordinação da natureza às leis económicas do mercado incapazes, de assegurar
uma comunidade humana sustentável.
Nos últimos anos tem-se mantido
uma política de delapidação dos recursos actuais incapaz de os valorizar ou
sequer monitorizar os recursos naturais e muito menos evitar a sua utilização
abusiva; de esvaziamento dos principais serviços e entidades responsáveis pela
valorização dos recursos naturais, de que é exemplo o Instituto de Conservação
da Natureza, ou o estrangulamento financeiro de entidades independentes como é
exemplo o Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; do
protelamento da aprovação dos instrumentos de planeamento há muito decididos
como sucede com a quase totalidade das áreas protegidas e parques naturais; de
confrangedora inconsistência na implementação de políticas de redução e
tratamento de resíduos hospitalares e industriais, e em particular dos resíduos
perigosos; da ausência de medidas correspondentes aos objectivos e metas
definidas para a redução de emissões de gases com efeito de estufa; da
aprovação de legislação orientada para promover lógicas de mercado e a
exploração pelo capital da natureza e dos seus recursos.
A assunção de uma política
ambiental consequente por parte dos comunistas implica que o seu trabalho e a
acção no terreno seja exemplar, não só no âmbito do saneamento básico, mas
também no domínio da Conservação da Natureza. Exemplar na recusa de cedências
fáceis às políticas do betão, na luta pela manutenção da biodiversidade e
contra os lobbies do turismo desenfreado e outros que atentam contra os
valores ecológicos, na defesa intransigente de uma Rede Nacional de Áreas
Protegidas, de uma Rede Natura 2000, de uma Reserva Ecológica Nacional, de uma
Rede de Corredores Ecológicos eficientes e eficazes, de uma Rede Nacional de
Áreas Marinhas de Protecção Especial, de defesa intransigente das recomendações
da Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento do Rio de
Janeiro, de defesa das directivas comunitárias e mundiais para a conservação da
Natureza, da Convenção de Washington, da Convenção de Ramsar, da Convenção de
Berna, da Convenção de Bona, do Protocolo de Quioto.
Os recentes desenvolvimentos na
estratégia de privatização da água - há mais de uma década ensaiada com a
criação dos chamados sistemas multimunicipais e a inerente expropriação das
competências às autarquias que eles corporizam - verificados quer com a
aprovação do Plano Nacional da Água em 2002 quer com a anunciada privatização
de 49% do capital da empresa Águas de Portugal, assumem particular gravidade. A
que há que somar outros e não menos preocupantes desenvolvimentos: o Plano
Estratégico de Abastecimento Águas e Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR) de
2000, a política sequente de pressões sobre as autarquias e a cedência de
muitas, concentraram o controlo dos serviços de água à larga maioria da
população no grupo Águas de Portugal SA; algumas câmaras têm vindo a privatizar
directamente a água, na maior parte dos casos a subsidiárias das grandes
transnacionais do sector; o propósito de transformar em negócio privado, lucrativo
e imediatista, todos os outros usos da água e dos terrenos envolventes,
explícito no Plano, e retomado no abortado projecto de lei quadro da água que o
governo ensaiou, assume-se como única linha condutora da administração da água,
particularmente notória e lesiva nas estratégias relativas aos serviços de
água, à produção hidroeléctrica e aos empreendimentos de fins múltiplos,
especialmente o do Alqueva.
A opção por uma lógica de
mercado na utilização da água, correspondendo à reivindicação dos grandes
grupos económicos do sector de se apoderarem do controlo de abastecimento de
água, quer em «alta» quer em «baixa», traduzir-se-á numa séria restrição do
direito da população a um bem essencial à vida, na alienação da intervenção e
controlo público e na irremediável entrega nas mãos de capital estrangeiro
deste sector. Opção tão mais grave e irresponsável quanto é reconhecido que as
políticas de água e saneamento constituem, mais que uma política sectorial, uma
questão de democracia e de soberania, de segurança ambiental, de protecção da
natureza e de desenvolvimento.
2.3. A evolução política e o
regime democrático
A evolução da situação
política nacional,
desde o XVI Congresso, foi marcada e determinada por quatro traços
fundamentais: o fracasso da política do governo do PS e do seu afastamento do
governo; a formação dos governos de direita, com base no PSD/CDS-PP, resultante
das eleições legislativas antecipadas e da demissão de Durão Barroso e sua
substituição por Santana Lopes; a alteração qualitativa na ofensiva contra o
regime democrático desencadeado pela coligação de direita e, finalmente, o
envolvimento e a submissão de Portugal, primeiro pelo governo PS e depois pelo
governo PSD/CDS-PP, à estratégia imperialista. Evolução que encontra na luta dos
trabalhadores e do povo importante factor de combate e resistência a essa
política.
A demissão do
primeiro-ministro António Guterres, após a pesada derrota do PS nas
eleições autárquicas em Dezembro de 2001, teve como causa primeira a erosão e o
descrédito político, social e eleitoral do PS em consequência das políticas
realizadas pelo seu governo contra os interesses da grande massa dos
portugueses.
O balanço da governação PS,
nas questões marcantes, traduziu-se numa política de baixos salários e pensões;
no aumento de preços de bens e serviços essenciais; nos salários em atraso; no
desemprego; na fúria privatizadora; nos benefícios para o grande capital; na
destruição do aparelho produtivo; no acentuar das assimetrias regionais. Foi
ainda o governo PS que lançou as bases das chamadas Reformas da Administração
Pública e do Sistema Político e vinculou o país aos critérios do Pacto de
Estabilidade. O nepotismo, o assalto ao aparelho do Estado para satisfazer o
clientelismo partidário, os «jobs for the boys», os sucessivos escândalos
envolvendo membros do governo, a utilização do aparelho do Estado para fins
eleitorais, atingiram proporções escandalosas.
A interrupção do governo do PS
culmina um período marcado por uma mais acentuada viragem à direita da sua política,
traduzida nalguns casos em recuos e revisões de medidas mais positivas que, por
pressão e iniciativa do PCP, haviam sido aprovadas, de que é exemplo a reforma
fiscal.
A realização de eleições
legislativas antecipadas tornou-se uma inevitabilidade política por três
ordens de razões: a primeira, pelo facto de o PS, confrontado com a demissão de
Guterres, ter renunciado a formar governo com outra personalidade, tendo optado
pela dissolução da AR e por eleições antecipadas ainda antes de qualquer consulta
do PR aos partidos; a segunda, porque o PS, apesar da possibilidade teórica de
outra solução institucional, dado existir na altura uma maioria de deputados do
PS e do PCP na AR, sempre governou em aliança ou com acordos ora com o PSD, ora
com o CDS-PP, ora com ambos, e nunca revelou qualquer disponibilidade para
proceder a uma séria alteração das suas orientações e rumo político; a
terceira, porque o governo do PS, em resultado da sua política, se encontrava
profundamente enfraquecido e desgastado.
A estratégia do PS de procurar
com o então novo líder, Ferro Rodrigues, branquear a política realizada pelos
governos de António Guterres e explorar as preocupações com o eventual perigo
do regresso da direita ao poder não triunfou.
Explorando demagogicamente as
consequências desastrosas da política do governo PS e uma certa aspiração
difusa e errónea de «mudança», muito favorecida também pela «dinâmica de
vitória» que chamou a si explorando os resultados das autárquicas de 2001, o
PSD, conseguindo iludir o eleitorado quanto à sua corresponsabilização com a
política realizada pelo anterior governo do PS, obteve, ainda que por fraca
margem, um resultado eleitoral que lhe permitiu formar governo.
Com a sua chegada ao governo,
PSD e CDS-PP colocaram como objectivo estratégico fundamental prosseguir
e intensificar a ofensiva desencadeada por sucessivos governos contra o regime
democrático, pela restauração do capitalismo monopolista e o respectivo
controlo do poder político. Dando um carácter global a esta ofensiva, desenvolvendo-a
simultaneamente no plano político, económico, social e cultural, a acção e
objectivos inscritos pela coligação governamental de direita ameaça gravemente,
em aspectos fundamentais com a colaboração do PS, vertentes essenciais do
regime democrático-constitucional e o Estado de Direito Democrático.
No plano político
acentuaram-se as políticas de governamentalização da vida pública;
enfraqueceram-se os mecanismos de fiscalização e controlo da actividade
governativa; tornou-se prática corrente a partidarização e submissão a
interesses privados do aparelho do Estado, transformado em coutada para
satisfação de clientelismos; limitaram-se gravemente direitos democráticos.
No plano económico não
só prosseguiu a privatização de sectores estratégicos, como se imprimiu um novo
e qualitativo impulso à privatização em áreas como a saúde, o ensino, as águas
e outros serviços públicos essenciais.
No plano social
afirmou-se a política de classe a favor do grande capital, com a política de
baixos salários e pensões, o aumento do desemprego, a redução e mesmo
liquidação de apoios sociais, os ataques à Segurança Social e ao Serviço
Nacional de Saúde.
No plano cultural, as
políticas de mercantilização e de elitização dos bens culturais, a privatização
e elitização do sistema de ensino, a redução substancial de apoios às
actividades culturais atingindo particularmente as zonas do interior, forte
ressurgimento de propaganda e difusão de concepções e ideologias reaccionárias
em várias áreas da vida nacional.
O regime democrático
sofreu importantes e negativas alterações, com o reforço do domínio do poder
político pelo poder económico, com o assalto das multinacionais e de grupos
económico-financeiros nacionais e internacionais a bens e serviços públicos,
com a desvalorização do papel e dos meios da Administração Pública, com as
práticas e as políticas que afastam e impedem a participação na vida política e
cívica e na resolução dos problemas do país.
A «fusão» destes grupos e
interesses económicos com órgãos de decisão política assumiu um carácter mais
aberto e descarado com traços de capitalismo monopolista de Estado quando, a
par da rotação de quadros e dirigentes dos partidos do governo entre altas
funções do Estado e os Conselhos de Administração dos grandes grupos económicos
e financeiros já anteriormente verificada, se acrescentou agora a entrega de
pastas ministeriais de acordo com os interesses concretos desses grupos, de que
são exemplo a Saúde entregue ao Grupo Melo ou a Segurança Social ao lobby
das seguradoras e dos fundos de pensões. Ou ainda a participação directa ou
indirecta dos Grupos, em particular através das grandes confederações
patronais, em órgãos institucionais como a «comissão de concertação social» e
conselhos consultivos do aparelho do Estado.
Expressão do desfiguramento do
regime democrático é igualmente a proliferação de estruturas «informais», sem
controlo democrático, mas que gozam de enormes privilégios, poder e influência.
Importantes decisões e
orientações sobre a vida política, económica e social e mesmo respeitante à
soberania e defesa nacionais, são preparadas e tomadas nas chamadas estruturas
de «reflexão» das elites financeiras, nas múltiplas Fundações, organizações
maçónicas, Opus Dei ou em estruturas supranacionais, como os grupos Trilateral,
Bilderberg e Davos, nas quais têm assento regular destacados dirigentes do PS,
do PSD e do CDS-PP.
Esta «funcionalidade informal»,
pretensamente identificada com a chamada sociedade civil, constitui um pântano
de interesses ilegítimos, de tráfico de influências, de favorecimento de
clientelas, negócios escuros e corrupção.
O aparelho do Estado tornou-se
numa coutada para a satisfação de clientelismos partidários e dos grandes
interesses económicos, tendo os governos do PS e do PSD/CDS-PP feito milhares
de nomeações.
Em contraste com a progressiva
desresponsabilização do Estado nas áreas sociais e na prestação do serviço
público justificada a partir da ideia de uma pretensa necessidade de «menos
Estado», assiste-se à crescente acção do Estado no sentido de favorecer e se
constituir como uma poderosa alavanca ao serviço da apropriação e espoliação de
bens públicos, da concentração, centralização do capital e da redistribuição da
riqueza a favor dos mais ricos e poderosos.
A própria natureza do regime democrático
está posta em causa. O governo afronta abertamente princípios constitucionais.
Os sucessivos processos de revisão da Constituição, resultantes de acordos do
PS com o PSD e o CDS-PP, têm visado constitucionalizar a ofensiva contra as
conquistas de Abril, a limitação de direitos e a consagração de um regime do
«Bloco Central».
A última revisão da
Constituição aprovada em Abril de 2004, resultante de um novo acordo entre
os partidos da direita e o PS, que inicialmente garantia só admitir uma revisão
«cirúrgica» e mais uma vez negociada à margem do Parlamento, traduziu-se num
novo e grave retrocesso no regime democrático-constitucional.
A aprovação por estes partidos
de uma norma visando uma inaceitável submissão da Constituição Portuguesa, ao
direito comunitário constitui um grave atentado e limitação à soberania
nacional, componente inalienável do regime democrático saído da Revolução de
Abril.
Assinalam-se igualmente como
profundamente negativas a aprovação de uma norma que abre caminho a uma drástica
redução do número de Deputados na Assembleia Legislativa Regional da Madeira,
agravando problemas de proporcionalidade já existentes, e por contraste a
recusa de alterações à lei eleitoral para a Região Autónoma dos Açores tendo em
conta o risco de perversidade democrática que possibilita, decorrente do facto
de um partido menos votado poder vir a ter a maioria dos deputados eleitos; ou
ainda a rejeição da proposta de equiparação do regime de incompatibilidades dos
deputados das Assembleias Legislativas Regionais aos da Assembleia da República
permitindo a manutenção na Madeira de um regime favorável a promiscuidades
inaceitáveis.
A ofensiva ideológica de há
muito desenvolvida contra a Revolução de Abril, o seu significado e
natureza, conheceu em torno das comemorações do seu 30.º Aniversário uma nova e
significativa intensificação.
A operação para apresentar
Abril como uma mera «Evolução» do regime constituiu uma nova tentativa para um
ajuste de contas da direita, para uma reescrita da história destinada a
branquear o fascismo e para iludir o profundo significado da Revolução e do que
ela traduziu: um acto e um processo revolucionário que não apenas devolveu a
liberdade ao povo, como constituiu uma ruptura com o regime que dava suporte ao
fascismo, um momento de profundas transformações económicas e sociais, que
foram em si mesmas condições dessa ruptura.
A luta pela valorização e
aprofundamento das componentes essenciais do regime democrático-constitucional
- política, económica, social e cultural - continua a ser, apesar das
limitações e regressões que lhe têm sido impostas pela ofensiva da direita e
das suas políticas, um imperativo que se coloca aos trabalhadores, às massas
populares e às forças democráticas que se identificam com os valores e ideais de
Abril.
A chamada «Reforma do
Sistema Político», pela
natureza antidemocrática dos seus objectivos e confessadas ambições e pelas
leis já aprovadas - «Lei dos Partidos» e «Lei do Financiamento dos Partidos e
das Campanhas Eleitorais» - representa um enorme retrocesso no regime
democrático-constitucional.
A «reforma do sistema
político», marcada, quanto às concepções de fundo e quanto à iniciativa, pela
convergência e acordo entre o PS, PSD, CDS/PP, animada por apelos nesse sentido
feitos pelo Presidente da República, é antes de mais um exemplo do entendimento
do PS com os partidos de direita contra questões fundamentais para o regime
democrático.
Alimentada e teorizada a
pretexto da necessidade de combater o real descrédito e o progressivo
distanciamento das populações da vida política, ela constitui não apenas um
exercício de desresponsabilização política dos seus promotores, mas também, e
sobretudo, o argumento atrás da qual se esconde e sustenta a ofensiva para
impor novas limitações às liberdades e empobrecer o regime democrático.
Como a vida política bem
testemunha, é no incumprimento das promessas eleitorais, na utilização do
aparelho do Estado ao serviço do clientelismo partidário, na falta de
transparência e de combate à corrupção, na promoção de uma política espectáculo
que crescentemente afasta os cidadãos da participação na vida cívica e
política, que reside a razão primeira do progressivo descrédito da política e
das instituições democráticas em largos sectores da população.
A Lei dos Partidos, aprovada
na AR pelos votos do PS, PSD e CDS, tendo como objectivo criar um modelo único
de organização partidária, impondo por lei aquilo que deve caber à decisão
soberana dos membros de cada partido livremente associados, constitui um grave
e perigoso passo no sentido da consagração da ingerência do Estado na vida
interna dos partidos.
Dirigida contra o PCP, a sua
soberania, características e funcionamento democrático, esta lei ao consagrar o
princípio da judicialização da vida partidária constitui um sério e intolerável
atentado às liberdades e garantias democráticas.
A «Lei do Financiamento dos
Partidos e das Campanhas Eleitorais», aprovada a pretexto da necessidade de
se imprimir transparência e moralização na vida política e partidária, não só
não dá resposta àqueles problemas, como ainda os agrava ao procurar impor um
modelo de financiamento assente nos recursos do Estado, em claro benefício do
PS e do PSD. Ao limitar a intervenção própria de cada partido para, na base da
iniciativa dos seus membros e das suas organizações, como é o caso do PCP,
angariar os meios financeiros necessários à sua actividade, com esta legislação
procura-se confessadamente atingir a Festa do Avante!, uma das mais
significativas fontes de receita do Partido e a mais importante iniciativa
político-cultural realizada em Portugal.
O XVII Congresso, reafirmando a
profunda vinculação do PCP ao princípio democrático e constitucional segundo o
qual é nos militantes de um partido político, e só neles, que reside o poder
soberano de decisão sobre as suas formas de organização interna, e sublinhando
o carácter inadmissível das limitações de natureza financeira ao livre
desenvolvimento da acção partidária do PCP, declara a sua determinação em dar
combate e em lutar para a revogação destas leis antidemocráticas e
anticonstitucionais.
No quadro de conhecidos e
indisfarçáveis compromissos e do ciclo de alternância que tem permitido, ao PS
e ao PSD, a função de se revezarem na condução de políticas de direita, não
pode deixar de ser registado com preocupação o papel de algumas das propostas
inscritas no âmbito da chamada reforma do sistema político enquanto instrumento
de bipolarização. É o caso do anunciado propósito de PS e PSD em prosseguirem
no caminho da criação forçada de um sistema político bipolar, introduzindo
alterações de natureza antidemocrática nas leis eleitorais para as
autarquias locais e para a Assembleia da República.
Sobre o poder local
recaem igualmente as consequências de uma deliberada orientação para impor,
convergentemente com as políticas e opções macroeconómicas que têm presidido à
acção dos últimos governos, um conjunto de decisões que condicionam e limitam a
sua actividade.
O sentido geral da acção
governativa nos últimos anos tem tido como fio condutor uma política orientada
para a redução da despesa pública com a satisfação das funções sociais do
Estado, para a procura de receitas, que são negadas às autarquias, pelo Estado
no aumento dos preços de serviços por elas prestados, para a pressão no sentido
da entrega ao capital privado de funções públicas exercidas pela administração
local.
As restrições ao crédito pela
suspensão arbitrária da Lei de Finanças Locais em vigor desde 2001, a
transferência de um conjunto de competências administrativas sem os devidos
meios financeiros e o recente anúncio da intenção de revisão do regime
financeiro das autarquias são expressão das orientações e opções da política
governativa.
A defesa do poder local e das
condições para a sua afirmação, enquanto espaço de intervenção democrática e de
resolução de importantes problemas locais, é inseparável do combate às
políticas neoliberais, do rumo da política nacional e da luta pela construção
de uma política alternativa ao serviço do povo e do país. É inseparável também
do combate nas autarquias a todas as expressões de gestão não democrática, de
uso do poder para benefícios pessoais, de favorecimento do interesse privado e
particular sobre o interesse público e colectivo, de colaboração ou
cumplicidades com as políticas de direita dos governos.
O anúncio de uma nova tentativa
para alterar o sistema eleitoral para as autarquias locais, negociada
pelo PSD e o PS no âmbito da recente revisão constitucional, com o objectivo de
acabar com a eleição directa e proporcional das câmaras municipais e garantir o
controlo absoluto por parte da força maioritária, constituiria um muito grave
empobrecimento da vida democrática com inegáveis prejuízos na transparência da
acção das autarquias e nas condições de fiscalização e controlo da sua
actividade.
A recente legislação do
governo sobre entidades intermunicipais confirma a clara orientação de,
beneficiando do vazio deixado pela não criação das regiões administrativas em
1998, manter concentrados e centralizados os processos de decisão e controlo
das políticas de desenvolvimento regional.
Ao contrário do que o governo
procura difundir, as chamadas comunidades urbanas e áreas metropolitanas não
servem o poder local nem uma efectiva política de descentralização,
constituindo um factor de esvaziamento dos municípios e das suas atribuições e
competências.
Num quadro de comprovadas e
óbvias limitações para encontrar na fórmula de associações de municípios,
destinadas a exercer no essencial competências destes e sem os poderes
efectivos para assumir a condução de políticas regionais, resposta ao inadiável
processo de descentralização, o PCP reafirma a sua determinação em prosseguir a
luta pela criação e instituição das regiões administrativas, necessárias
e indispensáveis ao desenvolvimento regional, à racionalização administrativa e
à participação democrática.
No que respeita às Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira, considerando um avolumar de dificuldades,
resultantes de um contexto político marcado pela existência de maiorias
absolutas, e no novo quadro constitucional das autonomias, são muitas as razões
para as preocupantes perspectivas quanto à qualidade da vivência democrática.
Para o PCP importa defender e aprofundar a democracia nas Regiões Autónomas, o
que significa defender a autonomia e o desenvolvimento regionais e combater, no
quadro das liberdades e direitos conferidos pela Constituição e pelo Estatuto,
as tendências para o exercício absoluto e autoritário do poder pelos governos
regionais. Também cada vez mais se impõe o desenvolvimento de uma nova fase do
exercício da autonomia, visando valorizá-la e credibilizá-la em todas as suas
vertentes, tornando-a eficaz no cumprimento das suas funções de combater e
vencer as desigualdades sociais e as assimetrias locais, e de resolver os
problemas específicos das populações das Regiões Autónomas. Impõe-se ainda o
empenhamento do Estado Português, no quadro da União Europeia, com vista a
garantir, na base das desvantagens persistentes que a insularidade distante
provoca, a permanência de um enquadramento de apoio e de tratamento comunitário
próprios, desenvolvendo de forma adequada as regras previstas para as regiões
ultraperiféricas.
A prevista revisão das leis
eleitorais para as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, a realizar
em 2005, deverá, simultaneamente, melhorar a proporcionalidade e garantir a
possibilidade de representação plural naquelas Assembleias Legislativas.
A «reforma da Administração
Pública», apresentada pelo governo PSD/CDS-PP, como a «reforma das
reformas», prosseguindo e ampliando os projectos elaborados pelo governo PS,
tem como objectivo essencial adequar a estrutura e as funções da Administração
do Estado aos avanços do processo contra-revolucionário e preparar a
privatização de diferentes sectores e serviços.
As alterações orgânicas produzidas
em certos organismos públicos e as alterações do estatuto laboral dos
trabalhadores do sector, em particular o contrato individual de trabalho,
inserem-se numa estratégia de progressiva privatização da Administração
Pública, de abertura de novas áreas e funções do Estado à intervenção privada,
e de subordinação a uma lógica da empresarialização de praticamente todas as
áreas sociais (saúde, ensino, segurança social), importantes serviços públicos
(transportes, correios, água) e áreas essenciais do aparelho do Estado como
notariado, impostos, indústria de defesa, etc..
A pretexto da necessária
racionalização, eficácia e rentabilização de serviços públicos, e da
necessidade de se fazer «emagrecer» o aparelho do Estado e as áreas da sua
intervenção, desenvolve-se e estimula-se uma política de pilhagem de bens
públicos, apropriação privada de fundos estruturais e de redistribuição da
riqueza a favor do grande capital, num processo de intervenção do Estado a
favor da concentração e centralização do grande capital, da restauração dos
grandes grupos económicos e financeiros.
A implementação de uma «reforma
da Administração Pública» orientada para reforçar o domínio do poder económico
sobre o Estado, e limitar as funções do Estado a áreas residuais do capital
privado ou às que este considere necessárias à defesa e prossecução dos seus
objectivos, não pode deixar de suscitar a mais fundada inquietação.
A sua concretização
traduzir-se-á em graves consequências sociais para parte significativa da
população e atingirá os interesses e direitos dos trabalhadores da
Administração Pública. E contribuirá igualmente para o desfiguramento do regime
democrático e para a completa subversão dos princípios constitucionais que
estabelecem como obrigações do Estado a prossecução do interesse público como
função da Administração Pública, e a promoção da política económica, social e
cultural.
Na área da justiça
continuaram a acentuar-se traços de uma crise que há muito afecta o sistema
judicial, reflexo de uma crise social muito profunda, e cuja responsabilidade
cabe por inteiro aos sucessivos governos, à sua incapacidade e falta de vontade
política.
O acesso ao direito e aos
tribunais e à realização da justiça em condições de igualdade para todos os
cidadãos, apesar de consagrado como direito fundamental, continua por
efectivar, constituindo um factor de descredibilização da justiça.
Com a chegada ao poder da
coligação PSD/CDS-PP a situação na justiça não mudou e os problemas
agravaram-se. A morosidade da justiça e a prescrição de processos continuam; a
justiça tornou-se mais cara com a decisão deste governo de aumentar as custas e
taxas da justiça e alterar o regime de acesso ao apoio judiciário; continuam as
disfunções no sistema prisional, com a sobrelotação das prisões; acentuou-se a
deriva securitária, a pretexto do 11 de Setembro. Com a revisão da
Constituição, por acordo do PSD/CDS-PP com o PS, foram feridos princípios e
valores democráticos como a inviolabilidade do domicílio, a não aplicação de
prisão perpétua e a soberania do poder judicial.
A desresponsabilização do
Estado, numa linha privatizadora na área da justiça, conhece desenvolvimentos
preocupantes em áreas como as do notariado, acção executiva, acesso ao direito,
sistema prisional.
A acentuada degradação do
sistema prisional e das políticas de reinserção social é uma consequência do
populismo e da demagogia que caracterizaram a política do governo PSD/CDS-PP e
que inviabilizaram as medidas e as reformas imprescindíveis à dignificação,
modernização e humanização desta importante área de intervenção do Estado.
Ao contrário do que declarações
pomposas e gratuitas, produzidas a propósito dos recentes processos mediáticos,
procuram fazer crer o que a vida confirma é a persistência de uma justiça com
um marcado cunho de classe, favorável aos ricos e poderosos. Avolumam-se os
riscos de alterações de sentido negativo no sistema da justiça, com o objectivo
de a tornar mais vulnerável e, sobretudo, mais ineficaz no combate à grande
criminalidade.
Igualmente preocupantes são as
tendências recorrentes e os casos de interferência mais ou menos visível do
poder político com a independência do poder judicial, das magistraturas e dos
órgãos de polícia criminal, bem como os perigos que espreitam a autonomia do
Ministério Público e o princípio da legalidade na acção penal.
A Política de Segurança
Interna prosseguida nestes anos, quer nas formas de organização e
funcionamento quer no tipo de actuação das forças policiais, é parte integrante
da ofensiva contra o regime democrático e os seus fundamentos.
Desde a sua chegada ao poder, o
governo PSD/CDS-PP tem vindo a implementar um plano de reestruturação e
reorganização deste importante sector do Estado, pondo em causa a autonomia e o
quadro legal em que funcionam e intervêm as forças de segurança, o conteúdo
democrático e os imperativos constitucionais de separação entre política de
defesa e política de segurança interna, visando a concentração e militarização
das forças e serviços de segurança e o reforço da sua componente repressiva. São
expressão destas orientações as alterações à Lei de Segurança Interna, Lei de
Segurança Privada e a Lei da Criação das Polícias Municipais.
A aprovação de leis e a criação
de estruturas no quadro da UE ao nível das informações e de grupos
operacionais, permitindo completa liberdade e impunidade na vigilância e
perseguição policial contra o chamado inimigo interno, tornam-se
particularmente preocupantes para as liberdades e garantias dos cidadãos.
Esta situação é tanto mais
grave quanto se desenvolvem projectos de cariz securitário consubstanciando a
intervenção das Forças Armadas em missões de segurança interna, o envolvimento
das polícias na recolha de informações e vigilância de movimentos e
organizações sociais, a reestruturação e reorganização das Forças e Serviços de
Segurança com base num «novo modelo de policiamento» e em mais exigência de
«autoridade do Estado».
Os governos do PSD/CDS-PP têm
sido incapazes de implementar um sistema de Protecção Civil dotado de meios e
equipamentos, de eficácia e estrutura adequadas, insistindo numa concepção
governamentalizadora e militarista e numa orgânica pesada e desmobilizadora do
poder local, das populações e dos profissionais que intervêm na Protecção
Civil, fomentando e agravando situações conflituais.
A reestruturação em curso dos Serviços
de Informações - que mais uma vez conta com o acordo do PS - visa torná-los
num instrumento da estratégia e intervenção imperialistas da administração Bush
e acentuar a respectiva governamentalização, partidarização e opacidade,
facilitando o caminho a novas derivas de espionagem, escutas e infiltrações
ilegais e inconstitucionais contra o chamado «inimigo interno» e menorizando a
prevenção da criminalidade organizada e de ameaças emergentes contra o regime
democrático e a soberania nacional.
A política de Defesa
Nacional e Forças Armadas manteve, no essencial, os bloqueios nos planos
orçamental, legislativo e de pessoal.
Aprofundando as relações de
submissão e dependência face aos EUA, o governo PSD/CDS-PP recuperou, no plano
conceptual, a doutrina de segurança nacional, misturando os conceitos de
segurança interna com os de defesa nacional ao serviço dos seus próprios
objectivos político-ideológicos.
O crescente envolvimento
militar externo, incluindo em estruturas não tradicionais, bem como o papel de
Portugal junto dos países da CPLP, não no sentido do reforço da cooperação
técnico-militar mas no do incentivo à constituição de uma força militar de
intervenção, é determinado não pela condução de uma política autónoma de defesa
mas sim pelos objectivos e interesses da NATO.
Ao contrário do que a densa
cortina de propaganda que o governo PSD/CDS-PP promove para dar a imagem que a
despesa com a Defesa cresceu em correspondência com as necessidades nacionais,
a verdade é que os ramos das forças armadas se debatem com dificuldades
financeiras crescentes, traduzidas em atraso nos pagamentos aos militares e em
dívidas a fornecedores, e se mantêm e se agravam os problemas ligados à
satisfação de antigas e justas reivindicações dos militares seja no plano das
carreiras, do estatuto remuneratório, da formação e dos sistemas de saúde e
apoio social.
Ignorando a experiência
internacional, a legítima controvérsia que no plano nacional se manifestou e os
reais interesses nacionais, o governo optou, com a conivência do PS, pelo fim
do Serviço Militar Obrigatório e a consumação da profissionalização das Forças
Armadas.
As opções governamentais em
matéria de aquisição de material e equipamentos e os processos de privatização
e desmantelamento dos Estabelecimentos Fabris das Forças Armadas, estão a
amarrar Portugal não só a avultados compromissos que comprometem o futuro por
muitos anos, como a inviabilizar quaisquer outras soluções que se afigurem
necessárias à defesa nacional. Num quadro em que algumas destas opções, não só
não constituem uma prioridade como inviabilizam a concretização de programas de
maior e mais urgente prioridade para o interesse nacional.
A política externa tem
sido caracterizada por um crescente alinhamento com os círculos mais
reaccionários e belicistas do imperialismo, de que o envolvimento de Portugal
na invasão e ocupação do Iraque e a «cimeira da guerra» realizada na Base
Militar das Lajes são exemplo, por um afunilamento das relações internacionais
com os países da União Europeia e os Estados Unidos, no quadro de uma
indisfarçável orientação «atlantista» e por um marcado e prejudicial
preconceito neocolonial com os países africanos de expressão portuguesa.
2.4. Situação na comunicação
social
No período em análise, o sector
da comunicação social continuou, em termos globais, a ser marcado pelo
desenvolvimento de anteriores tendências de fundo, com inquietantes reflexos e
diversificadas consequências sobre a qualidade e o pluralismo da informação, os
direitos e autonomia dos profissionais da informação e a própria vida
democrática do país.
Neste âmbito, são de assinalar
de forma interligada e com profundas relações entre si:
a crescente concentração da
propriedade dos media num reduzido número de grandes grupos económicos
organizados numa estratégia multimédia, o que constitui hoje um problema
crucial da democracia portuguesa, sendo por de mais significativa a oposição
manifestada pela maioria PSD/CDS-PP à aprovação de legislação que condicionasse
e travasse esse processo de concentração;
a continuada degradação da
situação laboral da maioria dos jornalistas e outros profissionais de
informação e da comunicação, acarretando consideráveis pressões e
constrangimentos à sua independência, isenção profissional e ao exercício dos
seus direitos;
sem prejuízo da existência de
excepções e situações diferenciadas, o abaixamento da qualidade da informação e
da programação sob a influência de critérios comerciais e de luta pelas
audiências, com o predomínio da superficialidade e do sensacionalismo e
arrastando consigo situações limite de acentuada degradação cívica,
profissional e humana com importantes reflexos a nível ideológico e das
atitudes e valores sociais e políticos;
o prosseguimento da ofensiva
contra o sector público da comunicação social (designadamente na televisão e na
rádio), bem patente nas concepções inspiradoras da alegada «reestruturação»
imposta pelo governo PSD/CDS-PP na RTP e na RDP, que, sem prejuízo de melhorias
pontuais facilitadas pelo carácter absolutamente incompetente e desastroso da
gestão pelos governos PS deste dossier, visou sobretudo favorecer as estações
privadas (nomeadamente pela redução das receitas de publicidade na RTP e sua
exclusiva afectação ao serviço da dívida), esvaziar a produção própria da
empresa e preparar a retirada do 2.º canal da esfera da RTP como passo
preparatório da sua futura privatização, matéria em que entretanto o governo
foi obrigado a recuar;
a persistência de critérios e
práticas gravemente discriminatórios e ofensivos do pluralismo (que, em regra,
no plano político-partidário, atingem especialmente o PCP) num quadro em que se
acentua poderosamente o peso e a influência dos órgãos de comunicação social na
determinação da agenda, dos temas e do curso da vida política nacional e em que
se acentuam as pressões e interferências do governo PSD/CDS-PP sobre a
comunicação social.
Neste quadro geral, assume uma
importância decisiva o apoio e estímulo à luta dos jornalistas e outros
profissionais de informação contra a precarização laboral e pela afirmação dos
seus direitos, autonomia e isenção e por uma informação vinculada ao interesse
público; a defesa de soluções legislativas que enfrentem corajosamente a
questão da crescente concentração da propriedade; a defesa e renovação de um
sector público subordinado a critérios de isenção, pluralismo e qualidade; o
apoio e valorização das rádios locais e da imprensa regional; e a luta para que
a entidade reguladora que substituirá a Alta Autoridade para a Comunicação
Social (extinta na última revisão constitucional) detenha meios e poderes reais
e uma composição pluralista, como é acrescidamente indispensável para a sua
importante missão.
2.5. A política necessária
A política necessária, que o
PCP defende, de acordo com o seu Programa, implica a ruptura com as políticas
de direita seguidas por sucessivos governos e exige a realização de uma
política que tenha como grandes objectivos estratégicos resolver os principais
problemas do país, responder aos anseios e aspirações da maioria dos portugueses
e aprofundar o regime democrático:
Uma política económica ao
serviço do progresso de Portugal, de um país desenvolvido em todo o seu
território com a salvaguarda do ambiente e da melhoria das condições de vida do
povo. Uma política em que prevaleça o interesse nacional, combatendo a destruição do aparelho
produtivo e defendendo a produção nacional; pondo fim às privatizações e ao
desmantelamento e liberalização de serviços públicos essenciais; defendendo
como fundamental um sector público forte, dinâmico e eficiente; promovendo o
desenvolvimento científico e tecnológico; apostando no crescimento económico
sustentado; concretizando uma mais justa e eficaz política fiscal e uma
política orçamental sem os condicionalismos do Pacto de Estabilidade; determinado
pelos objectivos estratégicos no plano económico e social; combatendo as
assimetrias regionais e agressões ambientais; diversificando as relações
económicas internacionais e libertando o país de imposições externas.
Uma política social que
defenda e amplie os direitos sociais, garanta o trabalho com direitos e emprego
de qualidade e uma mais justa repartição da riqueza nacional, revalorizando os salários e as
pensões, defendendo o sistema público e universal de Segurança Social e o
Serviço Nacional de Saúde universal e geral, reforçando os serviços de apoio
social, concretizando a igualdade entre homens e mulheres, a integração das
comunidades imigrantes e o combate a concepções e práticas racistas e
xenófobas.
Uma política cultural que,
entendendo a cultura como factor de desenvolvimento, de transformação da vida e
de emancipação colectiva e individual, defenda o património e a afirmação das
identidades culturais do país, promova uma efectiva democratização e acesso ao
conhecimento, à criação e à fruição culturais, afirme e projecte a língua e a
cultura portuguesas no mundo. E uma política de educação e ensino que assegure efectiva
igualdade de oportunidades de acesso a uma formação humanística, científica e
artística, garantindo a todos um ensino público, gratuito, democrático e de
qualidade, assegure aos professores e educadores o exercício de uma actividade
profissionalmente estimulante e socialmente reconhecida, integre as escolas e
estabelecimentos de ensino numa perspectiva de real progresso e desenvolvimento
nacional.
Uma política que assegure a
defesa e o reforço do regime democrático, credibilizando as funções políticas e das instituições
públicas, realizando reformas verdadeiramente democráticas do Estado e da
Administração Pública, combatendo a corrupção e o tráfico de influências;
realizando uma política de segurança interna assente na legalidade democrática
e na prevenção e combate ao crime e uma política de justiça que assegure a
igualdade dos cidadãos perante a lei; restabelecendo o domínio do poder
político sobre o poder económico; estimulando a participação dos cidadãos na
vida cívica, social e política.
Uma política de Paz,
cooperação e amizade com todos os povos do mundo e por um novo rumo para a
integração europeia com base em Estados soberanos e iguais, assumindo a independência e soberania
nacionais como valores inalienáveis, assente em relações externas amplas e
diversificadas; assegurando uma política de defesa em conformidade com estes
princípios e uma política externa autónoma e independente do imperialismo;
combatendo os blocos político-militares; lutando pelo desarmamento e pela
dissolução da NATO.
Os problemas com que o povo
português e Portugal se confrontam nestes primeiros anos do século XXI têm
solução. O PCP, vinculado aos valores de Abril, assume a responsabilidade de,
no tempo que se aproxima, pela sua intervenção e luta, apresentar propostas e
caminhos alternativos aos que a política de direita vem impondo ao país, para
afirmar uma política alternativa.
Com confiança em que o país não
está condenado às mesmas e erradas políticas que avolumam e agravam os
problemas e as condições de vida do povo; confiança em que não só uma outra
política é possível como se afirmará, mais cedo ou mais tarde, como
indispensável; confiança em si próprio e nos trabalhadores e nas suas lutas
para a construção de uma política alternativa, afirmar que é possível um país
mais desenvolvido, mais solidário e mais justo.
3. LUTA DE MASSAS E
INTERVENÇÃO DO PARTIDO, CONDIÇÕES PARA UMA ALTERNATIVA
3.0. Introdução
3.1. Arrumação das
forças de classe
3.2 Os trabalhadores como
motor da luta de massas
3.3. A luta de outras
camadas e grupos sociais e das populações
3.4. A intervenção do
PCP no combate à política de direita
3.5. A classe operária,
os trabalhadores e as suas organizações de classe
3.6. Outras organizações
e movimentos de massas
3.7. Acção de massas e
intervenção nas instituições
3.8. Batalhas eleitorais
3.9. Quadro partidário
3.10. A luta por uma
alternativa de esquerda
3.11. Reforço do PCP -
uma questão fundamental
3.0. Introdução
A luta de massas, com destaque
para a luta dos trabalhadores, em que novas camadas de assalariados se têm
vindo a incorporar, dando maior dimensão e mais força à luta, constituiu um
factor determinante no combate à política de direita e um elemento
insubstituível na defesa dos direitos dos trabalhadores e na elevação da sua
consciência social e política.
Foram quatro anos de intensa
luta em que o Partido interligou a acção de massas, a acção institucional e a
intervenção geral do Partido, e que confirmam a importância da ligação
dialéctica entre a capacidade de luta dos trabalhadores e das frentes sociais e
a influência política, ideológica e a capacidade organizativa das forças do
Partido.
Num quadro em que a natureza
exploradora e agressiva do capitalismo se manifesta com particular violência e
se agudiza a luta de classes, a validade e a actualidade da luta de massas e,
em particular, a luta dos trabalhadores, a sua dimensão, diversidade e grau de
convergência, as forças e os sectores que a protagonizam e dinamizam, as causas
e objectivos que levam à sua realização, reclamam do Partido que temos e somos
a análise aprofundada do quadro político, económico e social em que se
desenvolve, das dificuldades com que se confronta e das potencialidades que
encerra.
3.1. Arrumação das forças de
classe
A análise da arrumação das
forças de classe na sociedade portuguesa é um elemento de grande importância
para a intervenção do Partido. Esta análise tem suporte na aplicação de
conceitos e métodos, na experiência e observação directa resultante da acção
partidária e em indispensáveis elementos estatísticos, como os censos da
população, que no entanto não estão isentos de fragilidade.
No XIV Congresso, em 1992,
procedeu-se a uma análise global que adiantou pistas de metodologias e
aprofundou dados e caracterizações. Uma contribuição sobre estas matérias foi
também dada pelo Encontro Nacional do PCP sobre a Acção e Organização do
Partido nas Empresas e Locais de Trabalho, em 2002.
A Resolução Política do XIV
Congresso refere que «as análises e conclusões avançadas devem ser consideradas
como grandes linhas de abordagem da realidade social portuguesa, sem pretensões
a um julgamento definitivo, pontos de partida para análises mais completas e
integradas, a realizar obrigatoriamente pelo colectivo partidário». Tal como
então, também as análises que agora se adiantam implicam aferição,
aprofundamento e desenvolvimento.
Em particular é preciso ter
presente que a questão da arrumação das forças de classe e da definição
objectiva da pertença de classe se associa, nas exigências da acção partidária,
à necessidade de um maior aprofundamento do conhecimento dos factores
objectivos e subjectivos que hoje promovem e condicionam a formação da
consciência de classe.
A população total residente em
território português, nacional e estrangeira, aumentou, nos dez anos que
medeiam os censos de 1991 e 2001, cerca de 5%, 9 milhões e 867 mil, para 10
milhões e 356 mil habitantes. A população activa aumentou cerca de 13,5%, tendo
a taxa de actividade crescido de 44,6% para 48,2% e a percentagem de mulheres
de 41% para 45%.
O assalariamento progrediu mais
rápido do que o crescimento da população activa, tendo o número de
trabalhadores por conta de outrém recenseados aumentado cerca de 20%, de 3
milhões 169 mil, em 1991, para 3 milhões 794 mil, em 2001.
A sociedade portuguesa
apresenta-se, em termos de classe, fortemente polarizada. Num pólo, a classe
operária, a que se agrega o conjunto dos assalariados, todos os explorados, a esmagadora
maioria da população. No outro pólo, a burguesia monopolista, a grande
burguesia, uma ínfima minoria que comanda o sistema de exploração.
A classe operária é
fundamentalmente constituída pelos trabalhadores assalariados em que é
dominante o trabalho directamente produtivo, exercendo a sua actividade nas
esferas económicas de produção material, onde não desempenham funções
superiores de direcção ou de mera vigilância no enquadramento de outros
trabalhadores.
No âmbito dos assalariados
recenseados em 2001 identificam-se, desde logo, três destacamentos tradicionais
da classe operária:
o proletariado industrial,
incluindo as minas, a produção de energia, as obras públicas e os transportes,
com 1 milhão e 480 mil efectivos empregados, numa aproximação por defeito.
Aumentou ligeiramente a sua dimensão em cerca de 90 mil relativamente a 1991,
mas diminuiu o seu peso de 44% para 39% na massa de assalariados e de 34% para
32% na população activa;
o proletariado agrícola,
incluindo a criação de animais e os trabalhos florestais, com cerca de 90 mil
efectivos empregados. Prosseguiu o seu declínio, reduzindo o seu peso, em
relação a 1991, de 3,8% para 2,4% na massa de assalariados e de 3,1% para 2,1%
na população activa;
o proletariado das pescas,
incluindo a aquacultura, com cerca de 13 500 efectivos empregados, que reduziu
para metade os seus efectivos em relação a 1991.
O número de operários avaliado
numa acepção restrita e que considera apenas os números dos seus membros com
emprego na indústria, agricultura e pescas, passou, entre os censos de 1991 e
2001, de cerca de 1 milhão e 537 mil para 1 milhão e 582 mil assalariados.
É, no entanto, importante não
restringir a caracterização da classe operária a essa visão clássica e
restritiva e ter consciência de que o trabalho produtivo actual atravessa os
serviços e abrange uma parte crescente do trabalho intelectual.
Faz sentido considerar mais um
destacamento da classe operária, o proletariado dos serviços, o conjunto dos
operários do sector terciário, à excepção dos transportes, com cerca de, numa
primeira aproximação por excesso, 400 mil efectivos empregados. Este grupo
aumentou a sua dimensão aproximadamente em cerca de 95 mil, entre 1991 e 2001,
acompanhando o crescimento da massa de assalariados, de que representa cerca de
10%, e elevando ligeiramente o peso na população activa para cerca de 8,5%.
A automação, a robotização, a
informatização, as novas tecnologias, a colectivização e a especialização das
funções de direcção e gestão, originam uma maior complexidade na concertação
dos esforços dos trabalhadores na produção material e a integração de novos
assalariados com qualificações e actividades intelectuais mais elevadas.
Torna-se mais imprecisa e movediça a fronteira entre actividades produtivas e
improdutivas de mais-valia e a fronteira das actividades que asseguram a
colecta de mais-valia.
O conjunto dos assalariados
intelectuais e quadros técnicos cuja situação os aproxima em geral da classe
operária, uma parte, intervindo directamente na produção (ainda que, no caso de
alguns, em funções de concepção, planeamento e investigação aplicada),
subordinada aos ritmos, às metas, às exigências e ao comando da alta direcção
das empresas, integra-se objectivamente na classe operária.
Essa parte dos assalariados
intelectuais e quadros técnicos, transversal a toda a produção, engloba
trabalhadores que exercem predominantemente funções intelectuais, altamente
qualificadas, cuja execução exige, em geral, instrução de nível superior ou
pelo menos secundária especializada e reúne um número crescente de efectivos,
distribuídos pelos vários sectores económicos.
Parte minoritária, mas
significativa e crescente, da classe operária em Portugal é constituída por
trabalhadores imigrantes. Não será ousado admitir que mais de um sétimo da
classe operária no nosso país é já constituído por estrangeiros. Este movimento
tem-se acentuado com a vinda de trabalhadores do Leste da Europa e do Brasil. O
racismo e a xenofobia funcionam como arma do patronato para dividir os
trabalhadores, aumentar a exploração e enfraquecer as suas lutas, pelo que a
consciência da importância da unidade dos trabalhadores, independentemente da
origem étnica e nacional, se torna ainda mais premente.
Considerada numa visão mais
ampla, integrando a componente dos serviços e parte dos assalariados
intelectuais e quadros técnicos, a classe operária, estimando-se
estatisticamente por defeito, aumentou o número dos seus membros e deve ter
passado, entre os censos de 1991 e 2001, de cerca de 1 milhão e 845 mil, para 1
milhão 985 mil assalariados. A este número há que acrescentar muitas dezenas de
milhar de imigrantes clandestinos, parte dos falsos trabalhadores independentes
e ligeiramente menos de metade da população desempregada, o que dá um total de
pelo menos 2 milhões 145 mil efectivos.
A percentagem de operários na
população activa, sempre numa estimativa por defeito, reduziu-se, entre 1991 e
2001, de 45% para 43%. Actualmente cerca de um em cada dois assalariados é
operário. A diminuição da percentagem de operários no total de assalariados
deve-se essencialmente ao crescimento da massa assalariada em funções não
produtivas, tendência geral da composição orgânica do capital no capitalismo
desenvolvido, que traduz fenómenos cruzados, como o aumento da produtividade social
do trabalho produtivo, o aprofundamento da exploração à escala internacional,
as dificuldades de valorização do capital e a intervenção do Estado a favor dos
monopólios.
A desindustrialização, com a
destruição e fecho de grandes empresas nacionais, a utilização das novas
tecnologias, a fragmentação, externalização e subcontratação da produção e o
emagrecimento de efectivos das grandes empresas, invertem a tendência para as
grandes concentrações operárias por efeito da acumulação de capital, dificultando
a formação da consciência de classe e a mobilização na acção reivindicativa.
Isto, contudo, não nega a realidade de grandes concentrações operárias em
algumas zonas e regiões, resultantes da crescente interdependência da vida
social e constituindo focos de irradiação da influência do proletariado.
A classe operária em Portugal
apresenta-se, à entrada deste novo século, numerosa mas menos representada no
conjunto dos assalariados, mais diversificada étnica e nacionalmente, mais
precarizada laboralmente, sem alterações significativas na sua composição de
género, com cerca de 33% de mulheres, mais envelhecida, mais (mas muito
insuficientemente) qualificada, menos concentrada, mais heterogénea, com
diminuição ligeira do peso dos seus efectivos industriais e diminuição
substancial, a caminho de se tornar residual, do peso dos seus efectivos
agrícolas e das pescas na população activa.
Aumenta a complexidade da
composição da classe operária, persistem e agravam-se em alguns casos
contradições no seu interior que dificultam a sua coesão e unidade, a formação
da consciência de classe e a acção colectiva. As classes sociais não são
categorias estatísticas, pelo que, longe de esgotar o seu potencial
revolucionário, a classe operária deve ver avaliado o seu peso, para além da
sua expressão numérica, pelo seu papel decisivo na produção de riqueza, pelo
seu confronto objectivo com o mecanismo constitutivo da acumulação capitalista,
a extracção de mais-valia, e pela sua intervenção na luta social e política.
O outro grande sector dos
assalariados, designado genericamente por camadas intermédias assalariadas,
é constituído basicamente por todos os assalariados não operários. Excluem-se
os falsos assalariados, que pertencem às camadas superiores da burguesia, como
os directores e os membros dos conselhos de administração das grandes empresas,
e aqueles que, com funções superiores de direcção e enquadramento, nas grandes
empresas privadas ou na administração e instituições públicas, são os seus
auxiliares directos na manutenção do regime de exploração. Muito heterogéneas
internamente, incluem a esmagadora maioria dos assalariados administrativos, do
comércio e dos serviços e a esmagadora maioria dos assalariados das profissões
intelectuais e científicas. Estes assalariados não intervenientes na produção
material, improdutivos do ponto de vista da criação da mais-valia, mas
despojados de meios de trabalho, são obrigados a viver da venda da sua força de
trabalho a níveis de exploração crescentes.
Este sector dos assalariados,
incluindo desempregados, aumentou perto de meio milhão entre 1991 e 2001,
atingindo cerca de 1 milhão 820 mil, representando 44% da massa assalariada e
37% da população activa, excluindo, pela sua especificidade, as forças armadas.
Um crescimento superior ao do assalariamento, que traduz a continuada extensão
dos serviços pessoais e colectivos, nomeadamente estatais, e as dificuldades
crescentes de realização da mais-valia, empolando o sector financeiro e
exigindo um destacamento crescente de assalariados para as funções comerciais,
de publicidade e administrativas das empresas. A percentagem das mulheres
aumentou de 57% para 61%. Muitos trabalhadores são envolvidos em novas formas
de trabalho, como o trabalho em rede, o teletrabalho, o trabalho à distância,
mas isso não nega nem o assalariamento de facto de alguns falsos trabalhadores
independentes nem, tal como sucede com os operários, apaga a manutenção e mesmo
o desenvolvimento de grandes concentrações físicas de assalariados não
operários, por exemplo nas universidades e hospitais.
Os empregados de escritório ou
comércio, dos serviços pessoais e gerais, trabalham quase tantas horas como os
operários em geral, em certos casos mais, têm cada vez menor autonomia, vêem
frequentemente o seu trabalho desqualificado, exigindo apenas um mínimo de
competências ou o domínio de técnicas normalizadas simples, as tarefas
especializadas afuniladas, repetitivas e compartimentadas, as qualificações
desperdiçadas, as remunerações contidas, a segurança no emprego degradada. As condições
de vida e de trabalho tendem a alinhar-se pelas dos operários em geral. Mesmo
subjectivamente, desapareceu em larga medida a consciência de pertencer a uma
«classe» à parte. Esta realidade revela a agregação de um conjunto de
assalariados dos serviços à classe operária, além dos que nela se integram, e
constitui um elemento que reforça a actualidade da política de alianças da
classe operária com as camadas intermédias.
Com um peso crescente nos
assalariados em geral estão os intelectuais e quadros técnicos. Este é
um grupo social transversal a todas as classes, muito diferenciado do ponto de
vista da sua relação com os meios de produção e distribuição e do seu lugar no
sistema de produção social. Os seus membros distinguem-se na sua actividade
profissional, no papel que desempenham na organização social do trabalho, pelo
exercício predominantemente de funções intelectuais complexas, altamente
qualificadas. Enquanto grupo social, o traço mais relevante da sua evolução
recente é o crescimento do seu peso na população activa e na massa assalariada.
Entre 1991 e 2001, o total dos
intelectuais e quadros técnicos empregados, assalariados e não assalariados,
excluindo os directores e gerentes de pequenas empresas, aumentaram cerca de
55%, para quase 960 milhares.
No mesmo período, os
intelectuais e quadros técnicos assalariados aumentaram cerca de 70%,
ultrapassando os 850 mil empregados. Acentua-se a exploração a que estão
sujeitos. Degrada-se o seu estatuto social, profissional, laboral e
remuneratório, reduzem-se as suas funções de enquadramento e de comando,
diminui o seu papel hierárquico, são cada vez mais excluídos das decisões,
limitam-se as suas perspectivas de carreira, desqualifica-se em muitos casos o
seu trabalho, com a especialização redutora e castradora das suas
potencialidades, desaproveitam-se as suas vocações e formação,
instrumentaliza-se a sua intervenção social e cívica.
Verifica-se uma aproximação
geral e mesmo uma integração objectiva e crescente de efectivos da
intelectualidade na classe operária. Subsistem, no entanto, diferenças
substanciais em relação aos restantes assalariados, que lhes dificultam a
tomada de consciência social, que importa ter em conta na acção política. O seu
papel na organização social, a sua participação na produção, a natureza da sua
actividade, o seu modo de trabalhar, o montante e as formas da sua remuneração,
as suas funções de autoridade, a sua ligação e contactos com a direcção das
empresas e organismos, as suas possibilidades de ascensão na carreira, a sua formação
e qualificações, as suas necessidades, a sua psicologia e os seus percursos
sociais, continuam, ainda que de forma menos marcada, a distingui-los.
Fora dos assalariados, as
camadas intermédias
incluem a pequena burguesia e camadas inferiores da burguesia. A pequena
burguesia é a classe social constituída pelos trabalhadores por conta própria,
possuindo meios de produção ou distribuição, recorrendo fundamentalmente a
mão-de-obra familiar e, regular ou excepcionalmente, a um número muito reduzido
de assalariados. As camadas inferiores da burguesia são a fracção da burguesia
constituída pelos micro empresários (de empresas com menos de 10 trabalhadores,
que os censos permitem distinguir) e pelos pequenos empregadores, com
profissões intelectuais e científicas ou técnicas, da indústria, do comércio e
serviços ou do sector primário.
As camadas intermédias não
assalariadas, incluindo desempregados, diminuíram um pouco mais de 10%, entre
1991 e 2001, para cerca de 810 milhares de efectivos, numa estimativa por
excesso, reduzindo o seu peso na população activa para cerca de 16%. A
percentagem de mulheres mantém-se praticamente constante, cerca de 35%.
Esquematicamente, duplicou o número de pequenos patrões (incluindo os micro
empresários empregadores), que, contando com os desempregados e familiares não
remunerados, atingiram cerca de 480 milhares. Em contrapartida, a pequena
burguesia encurtou-se substancialmente, com a sua fracção não empregadora
reduzida a metade, menos de 330 milhares. Mesmo tendo presente a indefinição e
mobilidade sociais, o intervalo dos censos forneceu uma demonstração
concludente da instabilidade social da pequena burguesia.
O pequeno patronato vê cada vez
mais destruída a miragem da independência económica. Aprofunda-se a sua
integração, em posição subordinada, nomeadamente por via da subcontratação, na
actividade do grande capital, por conta de quem explora o trabalho assalariado.
No campo, com a permanência de
uma estrutura fundiária dual, explorações familiares dominantes no Norte e Centro
e grandes explorações de dimensão latifundiária e formas empresariais
capitalistas no Sul (mais de 50% do número de sociedades agrícolas do país,
ocupando mais de 90% da área explorada globalmente sob essa forma e 25% da área
agrícola do Alentejo e Ribatejo - incluindo o Oeste), assiste-se à diminuição
acentuada do campesinato. Os recenseamentos agrícolas de 1989 e 1999 registaram
uma diminuição em 37% da população agrícola familiar, para 1 milhão 235 mil e,
em 44% da sua parte que trabalha a mais de meio tempo na exploração, para cerca
de 360 milhares. Em 1999, 83% da população agrícola familiar trabalhava na
exploração, mas apenas 29% mais de 20 horas semanais, o que revela um enorme
grau de pluriactividade.
Envelhecido (os agricultores
familiares tinham uma idade média de aproximadamente 57 anos em 1999),
desfalcado pelas migrações para os centros urbanos e o estrangeiro, obrigado
parcialmente a vender a força de trabalho para sobreviver, esmagado pela
produção estrangeira e a grande distribuição comercial, acusando fortemente o
choque da integração comunitária, o campesinato acelerou a queda do seu peso na
população activa.
A classe social dominante do
regime social é a burguesia, constituída fundamentalmente pelos
proprietários dos meios de produção e de troca, que vivem da exploração do
trabalho alheio. Compreende os dirigentes e grandes accionistas das empresas e
sociedades financeiras; os empresários de todos os sectores e os patrões que
empregam trabalho assalariado, salvo quando em número muito reduzido; os
especuladores, nomeadamente da bolsa; os grandes detentores de acções,
obrigações e outros activos financeiros; os grandes promotores e proprietários
imobiliários; os grandes proprietários rurais; todos quantos vivem de grandes
rendimentos da propriedade.
Considera-se, no âmbito da
burguesia, o conjunto dos altos funcionários - directores-gerais, de serviços e
actividades de empresas e instituições, dirigentes de topo da função pública,
comandos superiores das forças armadas e de segurança - que, apesar de
assalariados, pertencem na realidade à burguesia ou são os seus auxiliares
directos no enquadramento e comando da produção, distribuição, repartição, vida
e ordem sociais.
A burguesia sem o pequeno
patronato, conjuntamente com os seus auxiliares directos, aumentou, de 1991
para 2001, em quase metade os seus efectivos na população activa, elevando o
seu peso aproximadamente de 1,9% para 2,5%. A percentagem de mulheres na
burguesia, sem o pequeno patronato e incluindo os auxiliares directos, aumentou
notavelmente de 19% para 28% entre os censos, mas o aumento, ainda
significativo, teria sido menor se excluíssemos os auxiliares. O pequeno
patronato - os micro empresários mais os pequenos empregadores - reforça a
crescente presença das mulheres na burguesia activa.
As camadas superiores da
burguesia, a burguesia monopolista, reforçaram, desde o início da década de 90,
o seu poderio económico e, por via deste, a sua influência na vida social e
política, bem evidenciada na concentração da propriedade dos principais media
nacionais em meia dúzia de grandes grupos, reduzindo drasticamente o espaço
para a expressão das necessidades e reivindicações sociais.
A progressiva concentração do
volume total de negócios nas grandes empresas é expressão da crescente
concentração económica do grande capital. As grandes empresas, com pelo menos
250 pessoas ao serviço ou um volume de negócios igual ou superior a 40 milhões
de euros, reforçaram a parte que lhes cabe no volume de negócios de todas as
empresas para cerca de 48,3% em 2003.
Elucidativo, por um lado, da
crescente terciarização da economia portuguesa e, por outro, do crescente poder
económico da burguesia comercial, bem visível na grande distribuição, é o facto
do crescimento da parte das grandes empresas comerciais no volume nacional de
negócios ter crescido, entre 1993 e 2003, aproximadamente ao dobro do ritmo da
parte das grandes empresas em conjunto. As grandes empresas comerciais
representam cerca de 31% do volume de negócios e as empresas financeiras cerca
de 17% do volume de negócios das grandes empresas, que são esmagadoramente
inseridas ou controladas por grandes grupos económicos e financeiros.
Menos de 60 grupos económicos,
na sua esmagadora maioria privados ou quase integralmente privatizados, têm uma
facturação equivalente a cerca de 60% do PIB. Os maiores lucros resultam não só
de melhorias de produtividade, de fornecimentos, capitais e créditos mais
baratos, de apropriação de patentes, alvarás e outras vantagens, de reduções e
isenções fiscais, de encomendas, subvenções e outros favores do Estado, da
especulação económica, financeira e imobiliária, e de melhores assessorias
jurídicas, em relação às outras empresas, mas também da capacidade de elevar o
preço de venda acima do preço de produção, num verdadeiro sobrelucro de
monopólio.
Os altos dirigentes, os membros
dos conselhos de administração, os grandes accionistas dos grandes grupos
económicos comandam, em crescente inter-relação e dependência dos
estados-maiores das transnacionais estrangeiras, a economia nacional. O grande
capital nacional inter-relaciona-se, entrelaça-se, interpenetra-se, integra-se
e funde-se crescentemente com o grande capital transnacional, que ganha
posições e domínio sobre a economia e a sociedade portuguesas. Não obstante as
suas contradições e competições internas, a burguesia monopolista é o principal
inimigo do proletariado e seus aliados, a luta contra ela é também uma luta
pela independência e soberania nacionais, susceptível de chamar à acção comum
sectores da própria burguesia.
De 1991 a 2001, a população
sem actividade económica diminuiu de 5 milhões 469 mil para 5 milhões 366
mil, tendo diminuído a sua percentagem de mulheres de 60% para 58%, mas é
preciso ter em conta que, entre as duas datas, a população activa passou a
contabilizar-se, em vez dos 12 anos, a partir dos 15.
A população inactiva com 12 ou
mais anos em 1991 e 15 ou mais anos em 2001 também regrediu de cerca de 3
milhões 980 mil para 3 milhões 710 mil, tendo diminuído a sua percentagem de
mulheres de 65% para 62%. No seu âmbito, identificam-se quatro grupos
principais, considerando-se a sua evolução, entre as duas datas em que a
posição de classe dos seus efectivos é geralmente determinada pela situação
profissional anterior, ou pela dos agregados domésticos onde se inserem:
Os reformados, aposentados ou
na reserva aumentaram 16% os seus efectivos, para 1 milhão 935 mil, detendo
como principal meio de vida pensões ou reformas.
Os estudantes, contabilizados a
partir dos 15 anos, com cerca de 680 mil efectivos, mais do que duplicaram no
ensino superior e vivem, em mais de 97% dos casos, principalmente a cargo da
família.
Os domésticos, quase na
totalidade mulheres, reduziram-se em um terço, para menos de 615 mil, devido ao
aumento da taxa de actividade feminina.
Os incapacitados permanentes
para o trabalho, aumentaram mais de 90%, ascendendo a mais de 175 mil
efectivos, e dependem, em cerca de 70% dos casos, principalmente de pensões e
reformas.
As classes, camadas e grupos
sociais têm uma distribuição desigual no território nacional, sendo útil o
aprofundamento do seu estudo à escala regional para um melhor conhecimento da
realidade nacional.
Acentuou-se a polarização de
classes na sociedade portuguesa. Em termos aproximados, o conjunto da classe
operária e das camadas intermédias assalariadas aumentou, entre 1991 e 2001, o
seu peso na população activa de 75% para 80%. A burguesia e seus auxiliares
directos, sem o pequeno patronato, aumentou de 1,9% para 2,5%. No meio, as
camadas intermédias não assalariadas, que englobam a pequena burguesia e as
camadas inferiores da burguesia, diminuíram de 21% para 16% (a diferença da
soma para os 100% deve-se fundamentalmente a situações real ou estatisticamente
indefinidas).
O crescimento da classe
operária e demais assalariados, por um lado, e das camadas superiores da
burguesia e seus auxiliares directos, por outro; a diminuição relativa e
absoluta das camadas intermédias não assalariadas; o esvaziamento da pequena
burguesia; o nivelamento pela situação material média do proletariado de largas
camadas de assalariados intermédios; a diminuição do trabalho familiar na
agricultura; a concentração da propriedade agrícola; a concentração do volume
de negócios nas grandes empresas; são indícios seguros de que na sociedade portuguesa
se acentuou a polarização social.
A política de direita e de
abdicação nacional praticada por sucessivos governos, uma política de classe ao
serviço dos grandes grupos económicos e financeiros, da grande burguesia
associada ao capital transnacional, beneficia um grupo extremamente reduzido,
atinge os interesses da esmagadora maioria da população e compromete o futuro
de Portugal.
A ruptura com a política de
direita, uma alternativa de esquerda que trave o agravamento da exploração, o
afundamento do país e abra caminho a um Portugal com futuro, a luta por uma
democracia avançada e pelo socialismo, têm como força motriz a classe operária,
exigem a unidade dos trabalhadores e a concretização de uma vasta frente social
envolvendo as classes e camadas antimonopolistas.
As alianças sociais básicas,
consagradas nos Estatutos, são a aliança da classe operária com o campesinato e
a aliança da classe operária com os intelectuais e outras camadas intermédias.
Nas condições actuais, de redução do peso do campesinato, mas em que se mantêm
largos sectores da população com ligação ao trabalho no campo (embora não como
actividade principal) e de grande alargamento do peso dos intelectuais e outras
camadas intermédias (indissociável da maior concentração da população nos meios
urbanos), esta definição mantém a sua validade, reforçando-se a importância da
aliança da classe operária com os intelectuais e outras camadas intermédias.
A unidade da classe operária e
dos trabalhadores, e as alianças sociais básicas são elementos fundamentais de
uma vasta frente social que abrange a classe operária, os empregados, os
intelectuais e quadros técnicos, os pequenos e médios agricultores, os micro,
pequenos e médios empresários do comércio, indústria e serviços e também os
jovens, as mulheres, os reformados e pensionistas, as pessoas com deficiência e
outras forças sociais, designadamente sectores da média burguesia que são
atingidos pela concentração monopolista e a política ao seu serviço, nos planos
nacional, europeu e mundial.
3.2 Os trabalhadores como
motor da luta de massas
A luta de massas, em particular
a luta dos trabalhadores, constituiu um elemento marcante na evolução da
vida política nacional. A par da importância da luta da classe operária - a
força mais dinâmica, combativa e consequente - assumiu papel relevante uma mais
ampla participação dos trabalhadores de diferentes sectores da Administração
Central e Local, de sectores directamente ligados ao aparelho do Estado
(magistrados, militares e forças de segurança), dos agricultores, dos
pescadores, de sectores da intelectualidade, da juventude.
Nos últimos quatro anos, e
apesar do nível da luta nem sempre corresponder às necessidades do combate à
política de direita, foi intensa a resposta dos trabalhadores à política de recuperação
capitalista e de privilégios para o grande capital. Política essa assente na
tese de que a competitividade exige «moderação salarial», uma maior
desregulamentação laboral e a diminuição dos direitos de quem trabalha.
Esta contestação teve o seu ponto
alto na greve geral de 10 de Dezembro de 2002, com a adesão de centenas de
milhar de trabalhadores, que foi seguida de um vasto movimento de acções de
luta e esclarecimento convocadas pela CGTP de que se destacam: a grandiosa
manifestação nacional de 8 de Fevereiro de 2003; as jornadas de luta nacional
de 11 de Março e 30 de Outubro do mesmo ano; sem esquecer as manifestações do
25 de Abril e 1.º de Maio, com destaque para as comemorações de 2004.
Registem-se neste período as
centenas de lutas, com o envolvimento de muitos milhares de trabalhadores na
defesa do emprego, com particular destaque para a combativa luta dos
trabalhadores da Mortensen e Mandata na Marinha Grande, da Bombardier na
Amadora, e a luta dos trabalhadores de dezenas de empresas dos sectores têxtil
e do calçado pela dignificação do trabalho com direitos e dos salários, no
combate à precariedade pela segurança e contra a sinistralidade do trabalho; a
luta articulada entre a defesa do sector público e dos serviços públicos, com
destaque para as lutas nos sectores dos transportes, Carris, Metro, Transtejo,
Soflusa e sector ferroviário, nas telecomunicações, energia e água; a luta
contra a fúria privatizadora de serviços públicos essenciais como a saúde,
notários, abastecimento de água, infra-estruturas e empresas estratégicas (rede
eléctrica nacional, rede fixa de telecomunicações, rede de distribuição de gás
natural, TAP, Portucel, as já diminutas participações do Estado na EDP, Brisa,
Galp e PT); a luta dos trabalhadores da Administração Pública Central e Local
contra a privatização de serviços, contra a desfiguração do serviço nacional de
saúde, pela defesa da escola pública, pela dignificação das carreiras, por
aumentos salariais justos; as lutas contra a deslocalização de empresas e pela
defesa dos postos de trabalho como na Clarks, Ecco, Eres, Alcoa, Merloni,
Alcatel, Siemens e Bombardier.
Tendo em conta o seu papel
decisivo como força de trabalho, nas lutas e contra a exploração capitalista,
os trabalhadores deram uma contribuição insubstituível no desenvolvimento da
luta de massas e no combate à política de direita. Apesar de não terem
conseguido derrotar o conteúdo essencial do pacote laboral, alcançaram êxitos
nos seus objectivos imediatos e obrigaram os governos a recuar, a adiar ou
mesmo a abandonar alguns dos seus projectos e medidas. Reflectindo a tomada de
consciência sobre a natureza da ofensiva contra os seus direitos, a luta dos
trabalhadores teve um papel decisivo no isolamento social e político do governo
de António Guterres/PS e na estrondosa derrota eleitoral sofrida pelo governo
do PSD/CDS-PP nas últimas eleições europeias.
3.3. A luta de outras
camadas e grupos sociais e das populações
A classe operária em
particular e os trabalhadores em geral assumiram um papel motor e muitas
vezes determinante no desenvolvimento da luta de massas. Um papel que se
revelou condição para atrair outros sectores e camadas sociais muito
diversificados a uma intervenção comum, como aconteceu com os agricultores, os
estudantes, as forças de segurança, os reformados e as populações em geral, e
fazer convergir as suas lutas em torno de objectivos comuns na defesa de
objectivos imediatos, pela melhoria das condições de vida, na defesa de
importantes conquistas sócio-profissionais, mas também na luta por objectivos
gerais como o combate à ofensiva de direita, a defesa do regime democrático e a
luta por uma alternativa política.
No desenvolvimento da luta de
massas confirmou-se o importante papel dos movimentos e organizações
unitárias, com destaque para a CGTP-IN e o Movimento das Comissões de
Trabalhadores, a par da crescente importância que assumiram as associações
de estudantes, as associações socioprofissionais e sindicais da GNR e da PSP,
as associações de pais, de moradores, os movimentos de utentes, as associações
de Pequenos e Médios Agricultores, a CNA, as associações de Micro, Pequenos e
Médios Empresários, o movimento das mulheres, da paz, de reformados e das
pessoas com deficiência.
Constituíram um importante
contributo para o desenvolvimento da luta de massas as acções de luta e
protesto desenvolvidas pelos estudantes, contra a Lei do Financiamento do
Ensino Superior e o pagamento das propinas no superior, e contra a reforma
curricular e a elitização do ensino, no secundário, as diversas acções em torno
da liberdade sindical e do direito ao associativismo socioprofissional da PSP e
da GNR; a grande manifestação nacional convocada pela CNA contra a revisão da
PAC e a defesa da floresta portuguesa; a luta dos pescadores contra a Política
Comum de Pescas; e as muitas iniciativas das comissões de utentes, cujo
movimento tem vindo a crescer e a prestigiar-se em muitas regiões do país em
torno das questões do direito à saúde, por transportes públicos de qualidade e
a preços acessíveis, pela abolição e não abertura de algumas portagens e a
defesa da água como um bem e um serviço público a preservar.
Os movimentos e organizações
sociais de massas, que na sua composição têm uma raiz profundamente popular,
assumiram uma inquestionável importância, quer no aumento da compreensão por
vastas camadas sociais da influência das acções de massas na resolução dos
problemas concretos, quer no relevante contributo para alargar a participação
dos trabalhadores e das populações na vida política, social e cultural do país.
A ampla aliança que se tem
vindo a estabelecer no plano social entre a classe operária e as outras camadas
intermédias constituiu factor determinante para a sua convergência no plano
político, para a derrota da política de direita.
A importância do reforço dos
movimentos de massas e outras organizações e movimentos sociais para a derrota
das políticas de direita e para a construção de uma verdadeira alternativa
política de esquerda exige do Partido uma ainda maior atenção aos seus
problemas, tendo presente o seu papel determinante para a prossecução de uma
estratégia de alianças sociais básicas - as alianças da classe operária com
diferentes camadas intermédias.
No desenvolvimento da luta de
massas confirmou-se o peso e a influência dos comunistas para o seu estímulo,
mobilização e participação. O reforço da contribuição dos comunistas para o
fortalecimento dos movimentos e lutas de massas e das organizações sociais, sem
prejuízo da afirmação e acção própria do Partido e das suas organizações, é não
só importante para o estímulo à participação e a mobilização desses movimentos
e organizações para a luta, mas também para a unidade dos sectores
progressistas na reclamação por uma nova política.
3.4. A intervenção do PCP no
combate à política de direita
O povo português e em
particular os trabalhadores foram confrontados nestes últimos quatro anos com
uma ofensiva política e ideológica contra importantes direitos consagrados
constitucionalmente como património da Revolução de Abril, ofensiva que se acentuou
desde a entrada em funções do governo PSD/CDS-PP e que tem como objectivo
central subverter a matriz fundamental do nosso regime
democrático-constitucional.
Num quadro em que se avolumam
as ameaças a direitos e conquistas democráticos dos trabalhadores, em que se
agudizam as condições de luta e se tenta destruir e descaracterizar a natureza
e a autonomia das organizações dos trabalhadores, a realidade torna imperativa
a existência e reforço do partido político da classe operária e de todos os trabalhadores,
um partido revolucionário, o Partido Comunista Português.
Tal como o XVI Congresso
previu, o PCP assumiu-se como a principal força política de oposição à política
de direita, não se confundindo na sua intervenção com aqueles que criticando as
políticas do governo se não distanciam, no que propõem e defendem, das questões
essenciais dessas mesmas políticas, nem daqueles que se afirmando de uma dita
«nova esquerda» procuram com uma intervenção inconsequente e um discurso dito
«apelativo» esconder a sua verdadeira matriz política e ideológica e fugir a
assumir uma clara posição sobre as questões de fundo.
O PCP assumiu um papel central
e insubstituível no combate à política de direita e foi indiscutivelmente a
força política que mais dificultou o avanço da ofensiva do governo PSD/CDS-PP.
Fê-lo apoiando e dinamizando a luta de massas, alertando para os perigos e as
consequências da política do governo e traduzindo na sua intervenção
institucional os combates da população e dos trabalhadores.
Ao longo dos últimos anos o
PCP, esteve de forma inigualável na luta contra o pacote laboral e a destruição
de direitos dos trabalhadores; combateu a degradação, a privatização e a
elitização de sectores sociais como a saúde, a educação e a segurança social;
exigiu salários e reformas dignos; defendeu a Administração Pública e a sua
reforma democrática; deu luta às privatizações de empresas e sectores
essenciais; defendeu os sectores produtivos e a criação de emprego;
protagonizou a luta pelos direitos das mulheres e em especial pela
despenalização da IVG; opôs-se ao envolvimento de Portugal na guerra conduzida
pelo imperialismo norte-americano; bateu-se pela realização de um referendo
sobre a vinculação do país ao novo tratado europeu; propôs a substituição do
pacto de estabilidade e crescimento; apresentou propostas para o
desenvolvimento do país.
No quadro da ligação
dialéctica entre a acção de massas, a acção institucional e a sua intervenção
geral, o Partido promoveu um conjunto de Campanhas Nacionais de Contactos
com os trabalhadores de que se destacam: a dirigida aos problemas da juventude
trabalhadora; as realizadas em torno da prevenção e reparação da sinistralidade
do trabalho, dos contratos a prazo e dos créditos devidos aos trabalhadores de
empresas falidas; e as campanhas sob os lemas «Pacote laboral, segurança social
- Andar para trás Não» e «Mais força ao PCP para dar a volta a isto!».
Destaca-se igualmente o
abaixo-assinado por salários mais justos e melhores condições de vida lançado
pelo PCP, e que se tornou no maior abaixo-assinado realizado em Portugal,
subscrito por cerca de 200 mil portugueses.
Pelo carácter interdependente e
complementar da sua intervenção na dinamização da luta de massas, articulando-a
com a intervenção institucional e a intervenção directa do Partido, o PCP
confirmou-se como uma força reconhecidamente indispensável na resistência à
política de direita, no assumir das aspirações e reivindicações das massas
populares e na batalha para se alcançar uma verdadeira alternativa de esquerda.
O PCP esteve nas empresas e
locais de trabalho com os trabalhadores na defesa dos seus direitos, na luta
pela defesa dos postos de trabalho e de salários justos, contra a precariedade
e pelo direito ao trabalho com direitos, pela dignificação dos trabalhadores,
pela defesa da produção nacional. Foi o PCP que denunciou e lutou em defesa de
um forte sistema público de segurança social contra as alterações aos critérios
de atribuição de diversas prestações sociais, contra os atrasos nos seus
pagamentos e pelo aumento do seu montante. Foi o PCP que esteve sempre nas
pequenas e grandes lutas em defesa do direito à saúde e à protecção social
pública, por um ensino público gratuito e de qualidade, contra o aumento brutal
do custo de vida, pelo cumprimento por parte do Estado das suas
responsabilidades sociais. Foi o PCP que, em estreita ligação às populações,
não só assumiu a organização da luta pela resolução de problemas concretos como
dinamizou a criação de muitos dos movimentos de utentes que se afirmaram nos
últimos anos. E foi o PCP que de forma mais consequente e responsável se bateu
contra a imposição de retrocessos nos direitos das mulheres, especialmente das
trabalhadoras, e para que a Assembleia da República assumisse as suas legítimas
responsabilidades, aprovando uma Lei de despenalização do aborto, ao mesmo
tempo que na Maia, em Aveiro e em Setúbal manifestou a sua solidariedade com as
mulheres sujeitas a julgamento. Julgamentos que o PCP considera intoleráveis, o
que justificou a apresentação de uma iniciativa legislativa visando a suspensão
das investigações e processos até à votação definitiva na Assembleia da
República de iniciativas de alteração à actual lei.
O desenvolvimento da luta de
massas, conjugado com uma reforçada intervenção do PCP e dos comunistas nas
instituições e na sociedade, é um factor determinante para alcançar novos
avanços e conquistas favoráveis às massas populares, para derrotar a política
de direita e para criar condições para uma verdadeira alternativa de esquerda.
Na Assembleia da República,
no Parlamento Europeu, nos Parlamentos Regionais e nas Autarquias Locais, os eleitos do Partido, numa acção
articulada com o Partido e o movimento de massas, cumpriram de forma
responsável e consequente os compromissos assumidos com o eleitorado em defesa
dos interesses nacionais e do nosso povo.
A par da intervenção constante
nos movimentos e acções de massas e da contribuição para a sua unidade e
combatividade, assim como nas batalhas eleitorais que, em si mesmas, foram
grandes batalhas de esclarecimento e combate à política de direita, o Partido,
dando mostra de grande vitalidade, interveio activamente com a sua identidade e
projecto próprios com propostas concretas, em toda a acção política e social.
Pela identificação com os
anseios e aspirações das massas populares, pela sua acção e intervenção
políticas, pelo combate persistente e coerente à política de direita, pela
contribuição para a resolução dos grandes problemas nacionais, pelo seu
projecto ligado à vida e a partir dos problemas concretos, o PCP afirmou-se
como a mais importante e consequente força de oposição à política de direita e
objectivamente a expressão política da frente social que a ela se opõe.
Num quadro de profunda
instrumentalização dos principais meios de comunicação social ao serviço da
ideologia dominante, é pela acção política do PCP e da organização e
intervenção directa das massas que os trabalhadores e a generalidade dos
portugueses melhor poderão compreender a importância da acção colectiva, e
adquirir a consciência social e política necessária para as transformações
estruturais da sociedade, necessária para a resolução dos seus problemas e dos
do país.
3.5. A classe operária, os
trabalhadores e as suas organizações de classe
A classe operária, os trabalhadores
e as suas organizações de classe, com grande destaque para o movimento
sindical, demonstraram, pela sua acção e luta organizadas que continuam a ser
determinantes e predominantes na defesa dos interesses dos trabalhadores, dos
seus direitos sociais e do regime democrático.
Esta realidade, globalmente
considerada, não deve impedir a avaliação das debilidades e retrocessos e das
razões que lhes estão na origem, dos processos e alterações que se
desenvolveram neste período e dos seus impactos na composição do emprego, na
estrutura empresarial, nas modificações introduzidas na organização da produção
e do trabalho, nas relações entre os trabalhadores e entre estes e as suas
organizações.
A luta organizada da classe
operária e dos trabalhadores é travada num quadro muito alterado marcado pelo
confronto com o processo de reestruturação geral das condições de exploração de
mão-de-obra e pela desregulamentação das relações laborais.
O movimento sindical é a
maior organização social de massas, continuando a assumir-se como força que
mais une, mobiliza e organiza os trabalhadores na luta em torno dos seus
interesses e direitos sociais, profissionais e de classe.
A CGTP-IN, pela sua capacidade
de agregar e influenciar o movimento sindical unitário, alicerçada na sua
natureza e nos seus princípios, definindo como objectivo estratégico a acção, a
intervenção, a organização e a luta sindical a partir das empresas e dos locais
de trabalho, sem abdicar da participação noutros espaços de intervenção,
reforçou o seu papel e influência juntos dos trabalhadores e na sociedade
portuguesa.
Por razões da sua própria
história, por vontade expressa e pela confiança dos trabalhadores, o movimento
sindical conta com a participação, a intervenção e responsabilização de
milhares de militantes comunistas que, em conjugação com outros sindicalistas
sem partido ou de outros partidos e sensibilidades políticas, ideológicas e
religiosas, determinam as características e natureza da CGTP-IN e do movimento
sindical unitário português. A UGT, pela sua natureza e acção concreta
confirmou o seu papel de instrumento dos governos e do capital, designadamente
no processo que conduziu à aprovação do código do trabalho.
Resultante dos processos de
reestruturação das empresas e sectores, mas fundamentalmente da prolongada e
profunda ofensiva protagonizada pelo capital e pela direita, os trabalhadores e
o movimento sindical são hoje confrontados com problemas e situações de grande
complexidade política, social, sindical e ideológica.
As graves alterações às leis
laborais, tanto no plano dos direitos individuais como no dos direitos
colectivos, articuladas com as alterações produzidas nos mecanismos e métodos
de dominação do capital sobre o trabalho, as mutações tecnológicas e de divisão
do trabalho, num quadro de uma relação de forças desfavorável aos
trabalhadores, colocam o movimento sindical perante novas exigências e a
necessidade de novas dinâmicas.
Mas é a partir da sua natureza
e do carácter indissociável dos seus princípios unitários, democráticos, de
autonomia, de massas e de classe; é na concretização da opção estratégica de
intervir, agir, reivindicar e organizar a partir das empresas e locais de
trabalho; é na ligação aos trabalhadores e aos seus problemas, interesses e
direitos - que o movimento sindical continuará a encontrar o caminho mais
sólido e mais realizador para fazer frente à ofensiva e encontrar respostas
para a complexidade das novas realidades, mutações e alterações em curso.
Como foi confirmado no X
Congresso da CGTP-IN, o reforço da influência e prestígio do sindicalismo de
classe passou e passa pelo reforço da organização de base, sindicalizando mais
trabalhadores, elegendo mais delegados sindicais, mais representantes para as
Comissões de Higiene, Saúde e Segurança nos locais de trabalho, estabelecendo a
ligação e complementaridade da acção reivindicativa com a contratação
colectiva. A linha ofensiva do capital e da direita para, no terreno e por via
da lei, condicionar a acção sindical não anula antes actualiza e valida o
esforço iniciado dos processos de reestruturação sindical em curso, visando
concentrar meios e estruturas e descentralizar a acção nas empresas, sectores e
regiões.
Numa concepção cada vez mais
integrada, o reforço da organização é inseparável do reforço da intervenção. A
luta por melhores salários e melhores horários, pelo emprego qualificado e com
direitos, a defesa e efectivação da contratação colectiva são elementos
cruciais e prioritários da acção sindical. A defesa da Segurança Social pública
e universal, do Serviço Nacional de Saúde, do ensino público e democrático, dos
serviços públicos e funções sociais do Estado integram os objectivos da luta
sindical.
A ofensiva contra os
trabalhadores e os seus direitos, desencadeada pelo governo PSD/CDS-PP, a sua
natureza e objectivos, não diferem da natureza e objectivos de governos
anteriores e dos partidos que a realizaram. A diferença está na sua dimensão,
no seu carácter global num quadro de relação de forças profundamente
desfavorável aos trabalhadores e de um afrontamento ideológico de grande
intensidade e envergadura.
Enquanto se ataca o direito ao
trabalho e à segurança no emprego, aos salários, ao horário de trabalho, à
evolução da carreira profissional, à contratação colectiva, à greve, à acção
sindical, surgem de diversos quadrantes político-ideológicos as teses e
práticas da renúncia à transformação social, do esbatimento da luta de classes,
da «luta possível» que civilize o capitalismo e o mantenha nos seus limites, da
diluição do movimento sindical de classe no «movimento» dos movimentos sociais
liderado por Directórios autonomeados que secundarizam a luta de classes,
subestimam a luta concreta por objectivos concretos e a luta nacional em nome
de um chamado cosmopolitismo internacionalista.
Resultante da grande pressão
ideológica, forças e sensibilidades político-ideológicas, designadamente
reformistas e ex-esquerdistas, que se reviam e participam no projecto colectivo
e unitário na CGTP-IN, têm vindo a evoluir para concepções e posições que, a
serem concretizadas no plano do funcionamento e composição das estruturas de
Direcção do movimento sindical nos seus diversos níveis, conduziriam ao
desvirtuamento e desagregação do que constitui a obra mais criativa dos
trabalhadores portugueses, o movimento sindical unitário, consubstanciado na
CGTP-IN, um projecto de classe, de unidade e autonomia.
Numa linha de
«parlamentarização» e de transposição partidária para o seio da estrutura
sindical, tais forças subestimaram os sentimentos unitários e a elevada
consciência de classe dos trabalhadores inequivocamente demonstrados no debate
democrático e nas decisões do X Congresso da CGTP-IN.
Para os comunistas, a unidade é
assumida como orientação estratégica mas não constitui um fim em si mesmo. É
inseparável dos princípios da democracia, da autonomia, de massas e de classe e
pressupõe a necessidade do fortalecimento da organização e da acção para dar
eficácia à luta. O reforço da unidade alcança-se na base da justeza de
objectivos, no desenvolvimento da acção reivindicativa sustentada na
participação e mobilização dos trabalhadores a partir das empresas e locais de
trabalho.
Sem abdicar de nenhum espaço de
intervenção, o movimento sindical demonstrou que a luta de massas é o caminho
mais sólido e mais realizador. Envolve e faz intervir os trabalhadores nos seus
problemas e aspirações e torna-se numa forma mais avançada de participação
democrática e de afirmação social da classe operária e dos restantes
trabalhadores.
A greve geral realizada em
Dezembro de 2002, as grandes e diversificadas lutas travadas em praticamente
todos os sectores e em numerosas empresas num quadro de uma violenta e ampla
ofensiva, provaram a validade e a actualidade da luta, e constituíram o
alicerce para o alargamento da influência e prestígio da CGTP-IN e do movimento
sindical que agrega.
A luta de classe entre o
capital e o trabalho não só se confirma actual como continua a manifestar-se
com grande intensidade. A actualidade e a necessidade de um movimento sindical
de classe continua a ser uma realidade incontornável.
A luta concreta no plano
nacional não é contraditória nem contrária ao desenvolvimento da cooperação e
da solidariedade internacionalista. O poderoso e alargado domínio da economia
por parte do capital multinacional, o prosseguimento e aprofundamento dos
processos de integração, o carácter global e articulado da ofensiva que é
desferida contra os trabalhadores e seus direitos, exigem um relacionamento
mais forte nos domínios da coordenação, cooperação e solidariedade
internacional.
No plano europeu, a filiação e
participação da CGTP-IN na CES (Confederação Europeia dos Sindicatos), apesar
das contradições e conflitualidades que resultam da sua orientação defensora da
integração no sistema dominante, permitiu uma maior cooperação e relacionamento
com diversas organizações sindicais da União Europeia. O papel, objectivos e
características da CES e os níveis e formas de participação da CGTP-IN no seu
seio também demonstram que eles não são substitutivos ou alternativos às
organizações de classe de âmbito nacional, das suas orientações e decisões.
No plano mundial, embora com as
limitações decorrentes dos meios disponíveis para esta importante frente, a
CGTP-IN, estruturas intermédias e sindicatos, têm procurado desenvolver a sua
solidariedade com a luta dos trabalhadores de diversos países, sendo de
destacar a solidariedade com os trabalhadores e os povos da Palestina e de
Cuba.
Resultante da realidade do
movimento operário português, da sua experiência, da avaliação própria quanto
ao que melhor serve a sua coesão e unidade, dos seus princípios e da sua
composição unitária, a CGTP-IN tomou a opção de não se filiar e de manter o seu
relacionamento e cooperação com as três centrais sindicais mundiais (Federação
Sindical Mundial, Confederação Mundial do Trabalho e Confederação Internacional
dos Sindicatos Livres) em torno de acções e objectivos concretos.
A evolução recentemente
verificada, com tendência para a fusão/integração da Confederação Mundial do
Trabalho (CMT) e da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres (CISL),
coloca a necessidade de se conhecer e avaliar o projecto político-sindical e as
práticas sindicais concretas que vai ter, mas o facto de se posicionar como uma
estrutura de natureza exclusivista e não oposta do sistema de exploração
capitalista, configura a justeza da opção unitária da CGTP-IN no plano
internacional.
Os reflexos da destruição do
aparelho produtivo, particularmente de grandes empresas, das privatizações,
geralmente precedidas de saída massiva de trabalhadores com vínculo efectivo e
com mais consciência de classe, e o aumento da precariedade, conduziram a uma
redução do número de Comissões de Trabalhadores (CT). Simultaneamente,
num quadro de confrontação ideológica, as empresas multinacionais desenvolvem
uma linha de conciliação, envolvimento e corresponsabilização das CT com
sentido concorrencial ao movimento sindical em processos negociais e acordos de
empresa. O governo PSD/CDS-PP perante os direitos das CT consagrados na
Constituição, em particular o direito ao controlo de gestão, procurou na Lei
Regulamentadora do Código de Trabalho ultrapassar e esvaziar a natureza e
objectivos desse direito.
Na linha das concepções do PS
sobre o papel das Comissões de Trabalhadores, o BE, apesar da sua reduzida
influência no movimento das CT, procura, no essencial, desempenhar o papel do
reformismo e conciliação de classes que o PS nunca conseguiu desde a aprovação
da Lei das CT em 1979, ou seja, transformá-las em estruturas substitutivas do
movimento sindical, em órgãos de concertação a nível de empresa. Apesar desta
convergência objectiva das forças de direita, do capital multinacional, do PS e
do Bloco de Esquerda, e das dificuldades que resultam da destruição e
desmantelamento de grandes empresas e da evolução mais tardia e complexa da
consciência de classe de jovens trabalhadores, as listas unitárias, onde os
comunistas se integram, continuam a confirmar-se como determinantes e
predominantes em grandes empresas e sectores estratégicos.
Os militantes comunistas devem
continuar a defender as características unitárias das CT como instrumentos
democráticos nas mãos dos trabalhadores para a defesa dos seus interesses e
direitos, para o reforço da sua unidade e da sua consciência de classe, para
dinamizar a cooperação e complementaridade com o movimento sindical unitário,
para a efectivação dos direitos de participação e intervenção e controlo de
gestão, para combater a desconstitucionalização dos seus direitos e a sua
descaracterização em órgãos de conciliação.
O Partido, pela acção da sua
organização e dos seus militantes, deve empenhar-se na eleição de novas CT,
reforçar o papel das Comissões Coordenadoras de CT e aprofundar com
criatividade a ligação e envolvimento dos trabalhadores com vínculos precários.
3.6. Outras organizações e
movimentos de massas
O Movimento dos Pequenos e
Médios Agricultores portugueses confrontou-se, no período 2000/2004, no
contexto da política agrícola de direita, com a terceira reforma da Política
Agrícola Comum (PAC), parte integrante das negociações em Cancun da Organização
Mundial do Comércio (OMC) para a liberalização total do comércio internacional
da produção agro-alimentar. Período que fica também marcado pelos devastadores
incêndios florestais do Verão de 2003 e 2004, resultado de anos e anos de
erradas políticas agro-florestais, de incúria e passividade de sucessivos
governos do PSD, do PS e do PSD/CDS-PP.
A intervenção e a luta dos
pequenos e médios agricultores desenvolveram-se com um ritmo irregular,
persistentes diferenças regionais e formas muito diversificadas, mas com uma
significativa presença e visibilidade no país. Tiveram como origem novos e
velhos problemas dos agricultores e do mundo rural causados pela política de
direita e as imposições e directivas da PAC.
Em Fevereiro de 2003, a
Confederação Nacional da Agricultura (CNA) comemorou 25 anos com a realização
do seu IV Congresso. Foi a consagração política, social e institucional de 25
anos de luta em defesa da agricultura familiar e da agricultura portuguesa. Foi
também a viva expressão associativa do âmbito nacional de uma confederação de
classe, bem ancorada no mundo rural português. Foi ainda a expressão de uma
intensa actividade internacional, junto de associações congéneres do mundo
inteiro, e em particular das plataformas internacionais de que faz parte: a
Coordenadora Agrícola Europeia (CPE) e a Via Campesina.
Incapazes de continuar a negar
a existência da CNA, dada a sua força e implantação e a inegável visibilidade
da sua luta, sucessivos ministros da agricultura do PSD e do PS acabaram por se
ver obrigados a aceitar o seu reconhecimento formal e institucional como
principal confederação da agricultura familiar. Mas permaneceram as medidas e
tentativas para a sua efectiva discriminação, como foi o caso da
institucionalização por um governo PS de uma pretensa medição da
representatividade das associações agrícolas.
A continuação da forte e viva
presença da CNA e do conjunto da diversificada rede de associadas e de
estruturas não filiadas que com ela colaboram junto dos pequenos e médios
agricultores não deve ocultar as dificuldades e obstáculos objectivos ao seu
desenvolvimento e necessário reforço. Muito condicionadas pelas discriminações
do poder político, vivendo a crise económica dos agricultores seus associados,
com estruturas demasiado dependentes e absorvidas pelos serviços que prestam,
as organizações de pequenos e médios agricultores devem persistir no que foi e
é a razão de ser da sua existência e do seu enraizamento: a ligação aos
agricultores, aos seus problemas concretos, às carências e problemas do mundo
rural português.
Com uma contribuição única no
espectro partidário português, o PCP continuou a dar um forte contributo à luta
dos agricultores portugueses, com uma intervenção diversificada quer na
Assembleia da República e Parlamento Europeu quer através da presença junto dos
agricultores, das suas lutas e associações. Sublinhe-se a sua persistente luta
por uma reforma da PAC conforme aos interesses da agricultura nacional e de uma
União Europeia que deve ter como princípio orientador da sua política agrícola
o direito de todos os povos à soberania e segurança alimentares.
A agricultura portuguesa
continua a ser uma questão incontornável de qualquer processo de
desenvolvimento do país e da própria segurança nacional, que não pode ser
medida pela dimensão quantitativa da sua participação no Produto Interno Bruto.
Defender a agricultura e os seus principais trabalhadores (agricultores
familiares e assalariados agrícolas) e lutar por reformas que garantam a
actividade produtiva e a boa exploração da terra agrícola portuguesa por
aqueles que a querem trabalhar, devem continuar a ser objectivos do PCP.
No entanto, as profundas
alterações verificadas e em curso no tecido agrícola e no mundo rural português
- liquidação de milhares de explorações agrícolas; desertificação económica e
humana de extensas áreas e devastação por incêndios de milhares de hectares;
diminuição significativa da mão-de-obra agrícola e da população rural; novas
articulações entre os espaços agrícola e rural e o espaço urbano; crescentes
problemas ambientais decorrentes das actividades agro-pecuárias; necessidade de
defender a biodiversidade e consagrar o princípio da precaução no uso das
sementes transgénicas - exigem do PCP uma profunda reflexão e avaliação do
papel e significado da agricultura na sociedade portuguesa hoje.
Continuam entretanto a
colocar-se como principais direcções de trabalho, até como importante ponto de
partida para a reflexão acima referida, o reforço da acção e intervenção das
organizações do Partido junto deste sector social e a intensificação do
trabalho dos comunistas nas organizações de agricultores e no apoio ao
desenvolvimento das suas lutas reivindicativas.
Verificaram-se, no período
decorrido desde o último Congresso, diversas movimentações e lutas contra as
políticas de pesca prosseguidas por sucessivos governos e contra a Política
Comum de Pesca, traduzidas num brutal ataque às condições e possibilidades de
exercício da actividade piscatória. Políticas que tiveram como consequência o
abate de parte significativa da frota pesqueira portuguesa e a redução para
metade dos activos do sector.
Promovidas e conduzidas pelos
sindicatos e associações/organizações de produtores do sector, pescadores e
pequenos proprietários de embarcações travaram diversas lutas na defesa da
continuidade da actividade, pela garantia de acesso aos recursos, pela
soberania nacional sobre o Mar Territorial e sobre a Zona Económica Exclusiva e
na defesa das suas condições de vida e de trabalho. No alargamento da base de
apoio a essas lutas desenvolveram-se contactos com organizações espanholas e
francesas, que permitiram conjugar esforços em defesa de interesses comuns.
As pescas portuguesas, cuja
importância ultrapassa em muito a sua contribuição para o PIB nacional,
mantêm-se como um sector estratégico para o País. Defender o sector da pesca,
os seus trabalhadores e, em particular, a pequena pesca costeira e artesanal e
reforçar a sua influência junto das suas organizações, devem continuar a ser
objectivos do PCP, pelo que se exige uma reflexão e avaliação sobre a situação
actual do sector e o caminho a prosseguir pelo PCP em defesa das pescas
portuguesas.
A evolução da situação dos intelectuais
e quadros técnicos é caracterizada pelo aumento do seu peso e importância
enquanto grupo social, atravessando importantes áreas - cultura e artes,
educação, ciência, investigação, tecnologia - e envolvendo um vasto conjunto de
profissões.
Apresentando particularidades
de acordo com a área de intervenção específica, a situação dos intelectuais e
quadros técnicos apresenta, no entanto, algumas características comuns a outras
camadas sociais e profissionais e alguns denominadores comuns de entre os quais
se destacam: crescimento do desemprego nas novas gerações de licenciados e o
aumento do assalariamento nas profissões intelectuais; bloqueio de perspectivas
de realização satisfatória das actividades para as quais os jovens intelectuais
adquiriram competências; surgimento de fenómenos de pseudo-emprego e de
pseudocarreiras, nomeadamente com a utilização abusiva da situação dos
bolseiros de investigação, no quadro de formações pós-graduadas e de projectos
de investigação; crescimento do número de indivíduos com formação nas diversas
áreas de criação artística sem o correspondente aumento dos apoios à produção
artística e à formação de públicos; crescente feminização das profissões
intelectuais sem que essa realidade se reflicta numa correspondente presença em
posições de direcção; aumento de imigração, com uma importante parcela de
imigrantes provenientes da Europa de Leste - com uma significativa percentagem
de trabalhadores com qualificações intelectuais e técnicas; tendência para a
precarização generalizada da prestação de trabalho, atingindo sectores que, com
o 25 de Abril, tinham alcançado estabilidade de emprego e condições de
progressão profissional.
A evolução verificada confirma
que os intelectuais e quadros técnicos deixaram de constituir uma elite, ainda
que persista uma concepção tradicional do «intelectual» - reduzido a um grupo
particularmente activo na criação e na teorização, na formação e intermediação
de opiniões e valores, na batalha das ideias, aparentando um especial papel de
representação ideológica e ético-política - que continua a dificultar que muitos
grupos de intelectuais se assumam como tal.
Aprofunda-se a tendência para
uma crescente limitação de direitos e para o aumento dos condicionalismos à
actividade intelectual que, afectando igualmente a generalidade dos
trabalhadores no exercício de uma actividade profissional, criam maiores
possibilidades de convergência e de solidariedade entre os intelectuais e
quadros técnicos e o conjunto dos trabalhadores.
No movimento sindical,
associativo e representativo dos intelectuais, destaca-se a existência de
um diversificado número de organizações que representam ou associam
intelectuais: organizações sindicais, ordens profissionais, associações
científicas, outras associações visando finalidades específicas.
No quadro das organizações de
classe profissional destaca-se a existência de um forte e representativo
movimento sindical docente.
Entretanto, em sectores
profissionais importantes, alguns dos quais em acentuado crescimento
(arquitectos, juristas, economistas), aumenta o número dos que exercem uma
actividade em condições de assalariamento ou de trabalho a recibo verde, cujas
organizações representativas são as respectivas ordens profissionais de cujo
âmbito de acção estão excluídas matérias de ordem sindical. Em vários outros
sectores profissionais é estimulada a constituição de ordens profissionais,
mesmo em casos em que as organizações sindicais existentes já desempenham
competências de regulação profissional.
Apesar da existência de fortes
e activas organizações de intelectuais e quadros técnicos mantêm-se
dificuldades na dinamização de estruturas de enlace entre organizações ou na
dinamização da sua cooperação, mesmo entre as que organizam sectores com clara
proximidade e afinidade profissional ou de campo de actividade. Refira-se ainda
a importante aproximação entre muitas organizações de trabalhadores
intelectuais e o movimento sindical, na qual se destaca a adesão à CGTP-IN de
sindicatos que integram a FENPROF.
A Confederação Nacional de
Quadros Técnicos e Científicos desempenha um importante papel no acompanhamento
dos problemas e reivindicações específicas comuns dos trabalhadores a quem se
dirige, nomeadamente às relativas as suas condições de trabalho.
A Associação Portuguesa de
Escritores e a Sociedade Portuguesa de Autores podem desempenhar um relevante
papel na defesa dos autores, na promoção das suas obras e na defesa dos
direitos de autor.
O PCP prosseguiu esforços para
dinamizar e melhorar o trabalho de organização e intervenção junto de muitos
intelectuais comunistas, e embora subsistam muitas insuficiências, destacam-se
neste período a reorganização e dinamização das estruturas nacionais para o
acompanhamento da área da educação e ensino, e da área da cultura, bem como o
trabalho realizado pelos sectores intelectuais das Organizações Regionais de
Lisboa, Porto e Coimbra.
Como linhas de orientação para
a acção dos comunistas salientam-se: o reforço da organização e da unidade dos
trabalhadores intelectuais na luta pelos seus direitos, contribuindo para o
desenvolvimento da organização e intervenção sindical, associativa e outras; a
atenção às reivindicações de cada sector, nomeadamente através do
reconhecimento da especificidade do exercício de algumas das profissões
intelectuais, nomeadamente das artísticas; o alargamento da convergência de
muitas das reivindicações dos trabalhadores intelectuais com as dos demais
trabalhadores; o aprofundamento do conhecimento das alterações que se têm vindo
a verificar na condição social dos intelectuais; a atenção às grandes
concentrações que se registam no ensino superior, que cobre o conjunto do
território nacional, com a constituição ou reforço de organismos de quadros
técnicos e intelectuais e incremento da sua iniciativa em organizações
regionais onde eles ainda não existem, com o reforço da iniciativa própria, da
ligação às restantes organizações e a dinamização dos sectores intelectuais já
existentes nos principais centros urbanos; a valorização do papel da cultura na
solução dos problemas do país e a dinamização da intervenção dos intelectuais
num desenvolvimento cultural que responda às necessidades do país num quadro de
acrescida interdependência internacional, combatendo todas as formas de
colonização cultural; a procura de que a intervenção dos intelectuais contribua
mais activamente para a luta por uma alternativa de esquerda e para a denúncia
do capitalismo como sistema explorador e opressor, para a defesa da paz e a
solidariedade internacionalista.
O 25 de Abril de 1974 deu um
forte impulso à luta organizada das mulheres e à acção das organizações
em defesa dos seus direitos específicos; determinou uma radical alteração na
situação de facto e no plano jurídico da mulher; e foi decisivo para o acesso e
a participação feminina em novas áreas. Apesar das significativas mudanças
registadas, a evolução da situação das mulheres é caracterizada pelo
incumprimento das leis que consagram os seus direitos específicos por parte dos
sucessivos governos (onde se incluem os do PS).
Com a maioria PSD/CDS-PP
deram-se profundas alterações legislativas que afectam o direito de contratação
colectiva e facilitam o despedimento, a exploração e o uso de mão-de-obra
feminina a mais baixo custo, o que introduz novos e decisivos factores de
desvalorização do valor do trabalho das mulheres, de maior desprotecção na doença,
no desemprego, na maternidade e na velhice.
Foram aprofundadas as políticas
de abandono do papel social do Estado em áreas essenciais a uma evolução
positiva na situação das mulheres, tais como a educação, a saúde e a segurança
social, acompanhadas por uma forte ofensiva ideológica que visa centrar na
família a causa de todos os problemas que afectam as mulheres no trabalho e na
sociedade. Foram dados novos passos na imposição, na esfera do Estado, de
valores e princípios de actuação que contrariam direitos em matéria de
planeamento familiar, contracepção e educação sexual e foi, mais uma vez,
inviabilizada a despenalização do aborto.
A ofensiva ideológica, visando
limitar a mobilização e protesto de importantes sectores femininos
profundamente afectados pelas políticas de direita, tem-se caracterizado pelo
fomento da «desideologização» das questões da igualdade e da participação, pela
centralização das causas da discriminação em aspectos estritamente culturais e
desligada dos efeitos das políticas económicas e sociais, pelas tentativas de
fomentar divisões entre organizações feministas e não feministas a par da
desvalorização do carácter unitário de organizações com a presença de
comunistas face a outras que contam com a participação de militantes do BE e do
PS. Acresce que a recente «especialização» de algumas organizações de mulheres
para determinadas áreas de intervenção, visando a obtenção de financiamentos
públicos e/ou comunitários, tem vindo a condicionar a diversidade de
intervenção dessas organizações em áreas e âmbitos muito restritos.
Com o governo PSD/CDS-PP tem
vindo a verificar-se um deliberado enfraquecimento do papel da Comissão para a
Igualdade no Trabalho e Emprego (CITE) na observância do cumprimento da lei no
que se refere ao cumprimento dos direitos de maternidade e paternidade, e numa
activa intervenção de detecção das discriminações indirectas, que continuam a
afectar as trabalhadoras, tendo deixado de funcionar o Observatório para a
Igualdade na Contratação Colectiva.
A secção das ONG do Conselho
Consultivo da Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, constituída
por 52 organizações, debate-se com crescentes dificuldades em resultado do
incumprimento por parte do governo das suas competências legais a que acresce o
enfraquecimento da iniciativa, do entendimento e acção comum das organizações
que nela têm assento, o que constitui um retrocesso relativamente às
experiências positivas do passado.
A evolução nos últimos quatro
anos não favoreceu o importante papel das organizações de mulheres no elevar da
consciência e da participação de muitos milhares de mulheres em torno de
múltiplos problemas concretos com que estão confrontadas. Destacou-se, contudo,
o contributo dado por algumas organizações na intervenção organizada das mulheres
contra as políticas de direita, designadamente contra o aumento do custo de
vida, os baixos salários e reformas, contra o pacote laboral, a privatização da
segurança social, contra a guerra e pela paz. As comemorações do 8 de Março
constituíram momentos especiais na denúncia das discriminações específicas das
mulheres e na sua mobilização na luta em defesa dos seus direitos.
A Comissão de Mulheres da
CGTP-IN desenvolveu uma importante intervenção na sensibilização dos
sindicatos para a luta contra as discriminações das trabalhadoras, para a
necessidade de garantir a igualdade na contratação colectiva e a protecção da
maternidade-paternidade.
A intervenção organizada das
mulheres no movimento sindical e na CGTP-IN constituiu a expressão mais dinâmica
e combativa da luta organizada das mulheres neste período. A luta contra o
encerramento de empresas, os despedimentos e o desemprego contou com uma
empenhada intervenção de importantes sectores de trabalhadoras. Registou-se um
importante aumento da sindicalização de mulheres e da sua eleição para
delegadas sindicais.
O Movimento Democrático de
Mulheres (MDM) é um movimento de âmbito nacional, com estatuto de parceiro
social, filiado na Federação Democrática e Internacional de Mulheres, que
desempenha um específico e relevante papel na dinamização da acção organizada
das mulheres em torno de problemas e reivindicações específicas e na elevação
da sua consciência social e política. A sua acção neste período caracterizou-se
pela reactivação de vários núcleos, abertura de sedes e pela dinamização de uma
intervenção própria, a par da sua participação com outras organizações no
movimento da paz, no Fórum Social Português e na secção das ONG da CIDM.
Destaca-se ainda a importante
acção realizada por outras organizações unitárias como: a Associação A Mulher e
o Desporto; a Associação para o Planeamento da Família; O «Ninho» (de combate à
prostituição e ao tráfico de mulheres e crianças e pela inserção social das
vítimas); a Associação de Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas; a Rede de
Mulheres Autarcas e a Associação Moura Saluquia (participação das mulheres no
desenvolvimento local).
A Organização das Mulheres
Comunistas é acompanhada pela Comissão junto do Comité Central para os
problemas e movimento das mulheres e integra o Conselho Consultivo das ONG da
CIDM. Foi responsável pela elaboração e publicação dos estudos sobre a evolução
da participação das mulheres nas autarquias e sobre os Maus Tratos às Mulheres
na Madeira, que motivaram a realização de diversas acções e campanhas. O PCP
assumiu neste período um papel fundamental na dinamização da iniciativa
política, aos diversos níveis da acção partidária, contra os retrocessos nos
direitos das mulheres e na defesa dos direitos conquistados com Abril, em defesa
dos direitos sexuais e reprodutivos, de solidariedade com as mulheres em
julgamento pela prática de aborto, pelo combate à prostituição e tráfico de
mulheres.
São, entre outras, orientações
de trabalho para a intervenção do Partido aos vários níveis e para a acção
das(os) comunistas: o desenvolvimento da luta pela construção de uma
alternativa à política de direita como condição necessária à efectivação dos
direitos das mulheres; a promoção do recrutamento e integração das mulheres na
vida partidária nos seus diversos níveis, nos organismos de direcção e no plano
da intervenção institucional do Partido (autarquias, Assembleia da República);
o reforço da luta organizada das trabalhadoras no movimento sindical e na
CGTP-IN, valorizando a IV Conferência Sindical sobre Igualdade entre Mulheres e
Homens, a ter lugar em 15 de Abril de 2005, em torno de problemas e
reivindicações mais directamente ligados com a sua situação de desigualdade e
os seus direitos específicos; o estímulo à acção e papel de organizações
femininas, designadamente do Movimento Democrático de Mulheres, pelo seu
contributo a uma maior visibilidade aos múltiplos aspectos que determinam a
situação das mulheres na sociedade, destacando o seu 7.º Congresso, agendado
para 21 de Maio de 2005, ao alargamento da consciência social e política de
amplos sectores femininos e cuja acção pela transformação da situação e do
estatuto das mulheres se insere num objectivo mais vasto de transformação
social.
A Juventude, na sua
diversidade, posturas e comportamentos, assume na sua essência valores de
solidariedade e de partilha e traduz uma vontade de participação e de acção que
se manifesta de diferentes formas e em torno de diferentes interesses, gostos e
vontades com uma intensa actividade e intervenção, da qual muitas vezes não tem
consciência do seu real alcance político.
O movimento juvenil
constitui assim uma importante expressão desta acção, fomentando espaços de
intervenção concebidos, dinamizados e dirigidos por jovens, sendo também ele um
corpo diverso que se organiza de forma diversa e em torno de diferentes
problemas, anseios, realidades, locais e especificidades de intervenção. As
distintas formas de organização, que vão desde a organização não formal em
torno de interesses pontuais, à participação em espaços recreativos, musicais,
desportivos, no movimento sindical e em estruturas representativas de
trabalhadores, às associações juvenis de base local e ao associativismo
estudantil com toda a sua vitalidade, são exemplos da organização do movimento
juvenil e da sua profunda diversidade que envolvem milhares de jovens nas suas
acções e iniciativas.
Pelo seu papel na formação,
intervenção na vida social, política e cultural, no esclarecimento e
reivindicação o movimento associativo é alvo da ofensiva do poder, de
tentativas de partidarização e de instrumentalização através dos mecanismos
governamentais ao seu dispor, o IPJ e a Secretaria de Estado da Juventude.
Exemplo dessas práticas foi a exclusão da direcção, elaboração e participação
do movimento juvenil nas duas últimas edições do Encontro Nacional de
Juventude, tentando transformá-los em veículo de ligação e propaganda do
governo junto dos jovens.
O PCP valoriza e apoia o papel
do movimento juvenil e considera-o indispensável para a construção e definição
de uma política transversal para a juventude em que a concretização de questões
fundamentais como o acesso à educação e ao ensino, a um emprego com direitos, a
uma vida independente, à produção e fruição culturais, à prática do desporto, a
uma vida sexual saudável e assumida, à paz e à solidariedade entre os povos,
sejam imperativos e efectivos.
As políticas de ensino e as
tentativas de afastamento dos estudantes da definição da vida das instituições,
o desemprego e o aumento da precariedade que afecta 46% dos jovens
trabalhadores, o pacote laboral, o encerramento do ensino nocturno em várias
escolas e a retirada de direitos aos trabalhadores-estudantes, os cortes
orçamentais e a chantagem política ao movimento associativo juvenil, o corte ao
crédito bonificado, a não existência de uma política de saúde sexual e
reprodutiva, o não fomento da prática desportiva e da fruição e produção
culturais, a incapacidade de dar combate eficaz ao flagelo da toxicodependência
e aos novos fenómenos associados, são testemunhos da política governativa dos
últimos quatro anos. Uma política de direita em que convergem a incapacidade
para fazer face aos reais problemas dos jovens e a ruptura deliberada com as
conquistas de Abril e a criação de novas gerações sem direitos.
O movimento associativo
estudantil e juvenil, o movimento sindical com destaque para a Interjovem e
outros espaços de participação juvenis, têm assumido um papel determinante no esclarecimento, na
mobilização e dinamização da forte luta juvenil. As acções dos estudantes do
ensino básico e secundário contra a revisão curricular, pela educação sexual e
por melhores condições físicas e humanas nas escolas, as grandiosas
manifestações dos estudantes do ensino superior contra as propinas e a lei de
financiamento, a participação dos jovens trabalhadores nas lutas pelo emprego,
salários e contra o pacote laboral, as iniciativas dos estudantes do ensino
profissional contra as propinas e a revisão curricular, o envolvimento da
juventude na luta contra a retirada do crédito bonificado à habitação, a luta
desenvolvida contra o encerramento do ensino nocturno em várias escolas e a
participação nas manifestações contra a guerra, são alguns exemplos da intensa
luta dinamizada pelo movimento juvenil.
A JCP, organização autónoma
dos jovens comunistas, teve nos processos de luta juvenis desenvolvidos um
papel estruturante e muitas vezes decisivo. Os últimos quatro anos confirmam a
capacidade de ligação da JCP aos principais sectores do movimento juvenil e o
aumento do prestígio do PCP junto da juventude.
Com uma acção diária nas
escolas e com iniciativas regulares junto dos jovens trabalhadores,
fundamentais para o esclarecimento e mobilização da juventude para a luta, a
JCP, no quadro da orientação geral do PCP, reafirmou o seu papel insubstituível
de ligação do Partido à juventude. O trabalho em áreas diversificadas como a
habitação com as iniciativas pela reposição do crédito bonificado à habitação,
as campanhas em torno dos direitos sexuais e reprodutivos e as novas frentes
desenvolvidas como a intervenção organizada junto dos estudantes do ensino
profissional e nas várias expressões do associativismo juvenil de base local,
permitiram uma intervenção mais abrangente e um conhecimento mais profundo
destas realidades e criaram melhores condições para o desenvolvimento de novas
frentes de luta.
Num quadro de profunda ofensiva
ideológica que procura empurrar a juventude para os valores do individualismo,
do reformismo, para o sucesso a qualquer preço, para o conformismo e amorfismo
políticos, a JCP tem combatido e procurado cumprir o seu papel de organização
revolucionária da juventude, nomeadamente na transmissão das nossas propostas e
valores democráticos, de solidariedade, igualdade, paz e combate às injustiças
e de afirmação da existência de outro caminho e outro projecto de sociedade.
Esta acção tem contribuído para
ganhar o apoio de largas massas juvenis para valores e propostas do PCP e da
JCP, traduzidas em níveis de adesão à JCP (mais de 4000 novos recrutamentos
neste período), que reflectem uma importante capacidade de atracção dos valores
e ideais comunistas.
Merece particular destaque e
importância para a JCP, para o Partido e para o movimento juvenil a realização
do 7.º Congresso da JCP em Novembro de 2002. A preparação constituiu um momento
de profunda discussão e afirmação da JCP, das suas propostas para a juventude e
de afirmação ideológica da nossa visão do mundo. Ao juntar cerca de 800
delegados, o 7.º Congresso foi uma demonstração de força, convicção e confiança
no futuro.
É de destacar também a assunção
desde Março de 2003 pela JCP da presidência da Federação Mundial da Juventude
Democrática (FMJD), organização juvenil internacional de massas,
anti-imperialista, de esquerda e defensora da paz, que reúne em si organizações
juvenis de todo o mundo. Também neste plano são de assinalar pelo seu
significado a realização do Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes
(FMJE), em Agosto de 2001 em Argel, e o agendamento para Agosto de 2005, na
Venezuela, do 16.º Festival como um momento muito importante para a afirmação e
reforço do movimento dos festivais e do movimento juvenil anti-imperialista.
O trabalho articulado entre a
JCP e o PCP tem permitido ao Partido estar em melhores condições de intervir de
forma consequente em defesa dos interesses e direitos da juventude,
nomeadamente com acções legislativas nas áreas da educação, emprego e
associativismo, e com a dinamização de acções em áreas que afectam os jovens
como foi o caso das iniciativas desenvolvidas em torno de milhares
recém-diplomados desempregados e do nível de iliteracia entre a juventude.
Desenvolvidas a partir da
Comissão junto do Comité Central para o trabalho junto da Juventude, estas
iniciativas mostram as potencialidades desta estrutura central. Uma maior
regularidade no funcionamento, com o contributo das organizações regionais e
sectores centrais, são caminhos para cumprir os seus objectivos de contribuir
para a definição da orientação política para o trabalho junto desta camada e
fazer a coordenação nacional da intervenção junto da juventude.
Apesar dos avanços registados,
é necessário e possível progredir quer na afirmação própria da JCP, com os seus
valores e propostas quer no reforço junto da juventude. A par de uma mais larga
acção em torno dos problemas da juventude, o reforço do apoio do Partido ao
trabalho e acção próprios da JCP e uma maior coordenação contribuirão para
superar dificuldades existentes e abrir novas perspectivas à acção da JCP, que
se traduza num aumento da capacidade de luta do movimento juvenil e para um
decisivo contributo para o Partido.
Os reformados, pensionistas
e idosos constituem cerca de 2 milhões e quinhentos mil portugueses, parte
dos quais vivendo em situação extrema de pobreza. Uma situação que é
inseparável do facto de a maioria dos reformados e pensionistas terem
rendimentos inferiores a 60% do salário mínimo nacional.
Os últimos governos são
responsáveis pela forte agudização das condições de vida dos reformados e
idosos em resultado dos insignificantes aumentos dos valores das pensões e
reformas (e do salário mínimo nacional) a par do brutal aumento dos preços de
bens e serviços essenciais, designadamente da alimentação, transportes, água,
electricidade, medicamentos, telefones.
Contrariando as promessas de
convergência das reformas e pensões ao salário mínimo nacional, a Lei da
Segurança Social da responsabilidade da maioria PSD/CDS-PP veio limitar a
fixação dos valores das pensões correspondentes ao valor do salário mínimo às
situações de carreira contributiva superiores a 30 anos e criar condições, com
a tentativa de imposição de tectos contributivos, para a descapitalização do
sistema e com a ameaça de exclusão das novas gerações do Sistema Público de
Segurança Social.
A escalada privatizadora das
funções sociais do Estado na saúde e na segurança social, a par da
transferência das suas responsabilidades sociais para a família, para as
autarquias e para a economia social (IPSS, Misericórdias, cooperativas,
fundações, associações), cria novos e insanáveis factores de desigualdade e de
pobreza que impedem o acesso a uma vida com dignidade e criam um vazio nas
diversas respostas sociais adequadas às necessidades específicas das pessoas
idosas.
O movimento dos reformados tem
vindo a desenvolver uma importante acção quer pela sua presença activa nas
acções convergentes com os trabalhadores e outras camadas quer através de
acções específicas contra as políticas de direita, designadamente do governo
PSD/CDS-PP, no que se refere à exigência de aumentos condignos das pensões e
das reformas, ao direito à saúde e à segurança social.
A par da actividade diária das
diversas Associações de Reformados realizaram-se diversas manifestações e
outras acções de rua, Tribunas Públicas (de que é exemplo a efectuada em defesa
do Sistema Público de Segurança Social), debates e apresentação de
reivindicações ao governo e à Assembleia da República.
O 4.º Congresso da Confederação
Nacional de Reformados Pensionistas e Idosos - MURPI - realizado em Julho de
2003, afirmou um conjunto de orientações de luta contra as políticas económicas
e sociais que estão na origem das suas dificuldades em defesa de direitos
constitucionalmente consagrados, do acesso a um serviço de saúde público e de
qualidade e a um forte Sistema Público de Segurança Social.
O MURPI englobando mais de 200
organizações, comissões e associações de reformados, pensionistas e idosos no
Continente e na Madeira, continua a ser a força determinante na dinamização da
organização e da luta dos reformados. A intervenção do MURPI e da
Inter-Reformados nas suas áreas específicas e a sua acção convergente têm
contribuído para ampliar e reforçar a mobilização dos reformados.
A defesa dos interesses dos
reformados e a afirmação dos seus direitos exigem como linhas de orientação: o
aprofundamento do conhecimento dos problemas e reivindicações dos reformados,
pensionistas e idosos, e o reforço da acção política do Partido, com a sua
intervenção própria junto dos reformados aos diversos níveis; a dinamização do
trabalho unitário, em cada região, designadamente a partir da acção das
Associações de Reformados e das Federações Regionais do MURPI.
O Movimento Associativo
Popular e outras formas de associação exprimem uma ampla diversidade de
campos de acção - colectividades de cultura, recreio e desporto, comissões e
associações de moradores, associações de condóminos, de defesa do património
ambiental e construído, dos direitos dos utentes dos serviços públicos,
cooperativas, associações de bombeiros, IPSS e outras na área social.
Expressão organizada da vontade
popular e da resposta crescente às necessidades concretas da população face à
crise social provocada pela política de direita, o movimento associativo - pela
sua natureza, pela sua influência social, cultural, económica, política e ideológica,
e pela sua legitimação (estima-se em mais de 4 milhões os seus associados) -
assume formas concretas de exercício de um poder específico a nível local,
muitas vezes com uma influência decisiva na vida das comunidades.
O voluntariado, elemento central
e decisivo da vida associativa, afirma-se no essencial por uma atitude de
serviço à comunidade que contrasta com a falta de correspondência por parte do
Estado nos apoios e meios indispensáveis ao exercício da actividade voluntária
de milhares de cidadãos, já de si afectada pela menor disponibilidade
resultante da crise laboral e social.
As colectividades de cultura,
recreio e desporto são uma fortíssima componente do movimento associativo
popular. Existem mais de 17 mil colectividades legalmente constituídas,
dirigidas por mais de 234 mil dirigentes, e com um número de associados que
ultrapassa os 3 milhões. A sua distribuição pelo território nacional é
generalizada no Continente e Regiões Autónomas e em países com forte presença
de comunidades portugueses.
Desde o último Congresso do PCP
os governos do PS e do PSD/CDS-PP mantiveram uma postura demagógica de elogio
ao papel das colectividades ao mesmo tempo que no exercício do poder foram
esquecendo promessas e compromissos, seja em termos de apoios financeiros e
estruturais seja em termos legislativos, surgindo os apoios do Estado de forma
pontual e avulsa, associados a objectivos políticos, partidários ou
ideológicos.
A recente criação da
Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto
introduziu a mais importante alteração qualitativa neste movimento, nos últimos
4 anos, permitindo uma maior articulação e coordenação do movimento, acelerando
a sua estruturação Distrital e Concelhia, criando novas condições de
mobilização das colectividades e de intervenção junto do poder político,
visando o reconhecimento e valorização do movimento associativo popular e dos
seus dirigentes, através de um conjunto de acções de que se destaca a petição à
AR, assinada por mais de seis mil cidadãos, que manifestaram a urgência de
aprovação de um quadro legislativo ajustado à realidade associativa e às suas
necessidades, de apoio e afirmação na sociedade portuguesa.
Neste período entre congressos,
o PCP apresentou na Assembleia da República várias iniciativas legislativas que
conduziram, com o apoio e a pressão do associativismo, à aprovação das leis
sobre «Reconhecimento e Valorização do Movimento Associativo Popular», que fixa
o dia 31 de Maio como o Dia Nacional das Colectividades e reconhece o Estatuto
de Parceiro Social ao Movimento Associativo, e sobre o «Estatuto Social do
Dirigente Associativo», que, no essencial, define créditos de horas para os
trabalhadores dirigentes associativos. Constituindo passos positivos ficam
muito aquém do necessário.
Através da intervenção dos
comunistas no movimento associativo popular, da acção dos seus eleitos no poder
local, em especial em situações de maioria, e da sua intervenção parlamentar, o
PCP tem afirmado a importância que atribui ao movimento associativo como um
patamar de exercício de liberdade, de participação organizada das populações,
de consciencialização das suas necessidades e das formas de intervir para lhes
responder, e como componente fundamental de uma democracia participada.
Para o PCP, uma gestão
democrática e participada tem de ter em conta o papel social e político do
movimento associativo popular e de outras instituições associativas locais,
incentivando mecanismos, formas de organização e espaços de participação na
definição das políticas locais, designadamente nas áreas sociais, culturais e
desportivas.
São de considerar como
orientações fundamentais para a acção dos comunistas no movimento associativo
popular: o melhor acompanhamento dos problemas do Movimento Associativo por
parte das organizações partidárias e dos organismos de direcção,
responsabilizando quadros aos vários níveis de direcção, criando espaços de
debate, apoio e coordenação que envolvam os membros do Partido com actividade
nesta frente; o reforço da coordenação associativa nacional, regional e local,
assim como a articulação nacional entre as diferentes expressões do
associativismo; a concretização do Estatuto de Parceiro Social, reconhecido ao
Movimento Associativo, na sua relação com os poderes central e local, assim como
de um novo quadro legislativo ajustado às necessidades do movimento; o reforço
da participação dos comunistas na vida associativa, enquanto forma de
participação social e intervenção política e ideológica na sociedade, e de
relacionamento institucional do PCP com as estruturas associativas; o
contributo para a participação e intervenção do movimento na luta social por
políticas que melhorem a qualidade de vida dos associados e criem melhores
condições de participação associativa.
O Movimento Associativo dos
Bombeiros desenvolve, para além de uma importante actividade cultural,
desportiva e social, uma inestimável actividade, prestando múltiplos serviços à
comunidade nas áreas do socorro, sinistralidade, catástrofes, saúde e
transporte de doentes. Contando com mais de 406 associações e 45 mil
voluntários, este movimento tem sido confrontado com tentativas de
responsabilização pela ausência de políticas de prevenção dos fogos florestais,
apesar do seu empenho e esforço na preservação do património florestal que as
políticas de sucessivos governos vêm descurando. Na verdade, o Serviço Nacional
de Protecção Civil e Bombeiros continua a não funcionar como um serviço
estruturado e com capacidade de intervenção e a revelar-se incapaz de resolver
com eficácia as situações de articulação e coordenação que levaram à sua
constituição (fusão do Serviço Nacional de Protecção Civil com o Serviço
Nacional de Bombeiros); mantém-se por concretizar a legislação relativa aos
bombeiros e aos seus direitos; subsistem a falta de meios, medidas de prevenção
e equipamentos.
Afigura-se indispensável a
acção e a luta com vista ao fortalecimento do Associativismo de Bombeiros, à
consolidação da sua autonomia e à melhoria da capacidade de resposta, através
da dotação dos meios adequados ao exercício das suas funções em prol das
populações.
É crescente e cada vez mais
significativo o número de associações de solidariedade social - cerca de
4500 empregando mais de 70 mil trabalhadores - , a maioria das quais com um
estatuto de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), cujo
âmbito de intervenção se insere na área social, designadamente nas valências de
infância (creches, infantários, ATL), de apoio a idosos (serviços de refeições,
apoios domiciliários, centros de dia, lares de idosos) e outras como as de
inserção social (apoio a mulheres prostituídas, a cidadãos sem abrigo e a
toxicodependentes).
A par do forte peso das IPSS de
matriz religiosa existe um número crescente das que apresentam uma natureza
laica e associativa, envolvendo um amplo conjunto de pessoas como utentes,
dirigentes e voluntários. Em muitas localidades e áreas sociais estas
instituições são a única resposta disponível face à continuada e deliberada
demissão do Estado das suas funções sociais.
Importa assim na acção do PCP e
das suas organizações aprofundar o conhecimento da natureza e dimensão social e
política das IPSS nas diferentes regiões e promover uma maior articulação entre
os comunistas que intervêm nestas instituições - dirigentes, trabalhadores,
utentes.
As pessoas com deficiência, pela natureza dos seus problemas,
pelos apoios específicos que requerem e pelas discriminações de que são vítimas
na sociedade, continuaram a ser gravemente penalizados com a política de
direita.
Promessas repetidas de resolver
os problemas mais candentes, foram sendo sucessivamente adiadas e mesmo medidas
sobre as quais já há legislação promulgada ficaram pura e simplesmente no
papel: quota de emprego para a Função Pública, Planos Nacionais de Emprego,
Inclusão Social, Acessibilidades. As Tabelas de Incapacidade continuam
escandalosamente desajustadas. A Educação Especial foi alvo de forte ataque
visando a destruição do ensino inclusivo. Na sinistralidade do trabalho, apesar
de continuar a fazer milhares de vítimas, os governo do PSD/PP enfraqueceu
ainda mais os já débeis mecanismos de fiscalização. Verificou-se um quase total
afastamento das organizações de pessoas com deficiência da elaboração das
políticas para esta área.
Apesar da situação desta camada
social ter sido gravemente atingida pela política de direita
contraditoriamente, a luta contra esta política e pela satisfação de
reivindicações específicas esteve longe das exigências da situação e das
possibilidades objectivas, a que não são alheias as ilusões criadas com as
promessas governamentais, a demagogia em torno do Ano Europeu do Deficiente, o
esforço dos governos do PS e do PSD/PP para «integrarem« as organizações de
pessoas com deficiência em mecanismos ditos de «diálogo».
O Partido, com grande prestígio
junto desta camada social, foi a força política que mais se destacou na defesa
dos interesses e das reivindicações das pessoas com deficiência, exigindo a sua
satisfação, denunciando a gravidade da sua situação, tomando iniciativas
legislativas e realizando na A.R. uma audição parlamentar às organizações de
pessoas com deficiência e outras intervenientes nesta área.
Entretanto, continuaram a
acentuar-se atrasos e insuficiências no trabalho partidário já anteriormente
detectadas, nomeadamente um menor número de quadros a intervir nesta área e uma
menor atenção de algumas organizações por esta frente de trabalho.
É necessário dar maior atenção
aos problemas das pessoas com deficiência, destacando mais quadros para esta
frente e reforçando e melhorando o acompanhamento dos militantes que intervêm
nas diferentes estruturas unitárias.
O movimento associativo dos
pais, expressando a importância da participação organizada dos pais na
escola, tem características particulares e peculiares que lhe criam
dificuldades de consolidação, as quais se devem, em primeiro lugar, aos limites
da duração dos percursos lectivos dos educandos por cada nível de ensino. Este
facto cria alguma instabilidade às associações de pais, nomeadamente ao nível
dos órgãos sociais, a que acrescem os problemas e entraves que resultam da
situação laboral dos encarregados de educação, da ausência de apoios às
famílias e das limitações quanto ao crédito de horas (4 por trimestre) para um
encarregado de educação poder acompanhar a vida escolar.
Os comunistas, dado o projecto
humanista da sua ideologia, em que a educação e a cultura ocupam lugar de
destaque na formação integral do indivíduo como ser humano, devem assumir um
activo papel na dinamização ou reactivação de associações de pais, conferindo-lhes
um carácter reivindicativo; no contributo para uma maior mobilização dos pais e
famílias para as questões do ensino e da educação; na participação dos
representantes dos pais nos conselhos escolares do pré-escolar e 1.º ciclo do
ensino básico; na aplicação e regulamentação da Lei n.º 2/2004, de 5 de Junho;
na alteração do Código de Trabalho de modo a garantir um maior crédito de horas
que permita aos pais um efectivo acompanhamento da actividade escolar; num
efectivo apoio do Estado ao movimento associativo de pais nomeadamente quanto
ao financiamento das suas actividades associativas e de formação.
A generalidade dos micro,
pequenos e médios empresários enfrenta, na sua actividade, as dificuldades
decorrentes da recessão económica e da crescente monopolização de sectores,
actividades e mercados e das políticas macroeconómicas favoráveis ao grande
capital, em particular do sector financeiro e da grande distribuição,
praticadas pelos sucessivos governos, com destaque para o do PSD/CDS-PP. Entre
os problemas graves com que se confrontam as micro, pequenas e médias empresas
estão os critérios e as garantias exigidas para o acesso aos fundos do III
Quadro Comunitário de Apoio, que os mantém praticamente inacessíveis a estas,
favorecendo as empresas do grande capital nacional e estrangeiro.
Na política fiscal, continuaram
as facilidades e os milhões de euros em benefícios fiscais atribuídos ao grande
capital, e uma política fiscal desadequada e penalizadora das micro, pequenas e
médias empresas, com destaque para o chamado Pagamento Especial por Conta. A
nova lei do licenciamento comercial, aprovada pelo governo PSD/CDS-PP,
liberalizou ainda mais a implantação de novos espaços comerciais, favorecendo a
expansão de grandes grupos nacionais e multinacionais da distribuição. Também
as projectadas alterações à Lei do Arrendamento vão traduzir-se por
instabilidade e aumentos de rendas que cavarão ainda mais a ruína de pequenas
empresas do comércio e serviços e pequenas oficinas, em particular dos centros
históricos de vilas e cidades, descaracterizando-os, pois têm nessa actividade
uma importante dinâmica da vida social e urbana. A que se acrescentam as
dificuldades no acesso à justiça, créditos bancários, apoios ao associativismo
e à formação, que continuam a favorecer as estruturas associativas do grande
patronato.
É no contexto do agravamento
dos problemas dos micro, pequenos e médios empresários, decorrente da política
de centralização e concentração capitalistas prosseguida pelo governo
PSD/CDS-PP, que se pode perceber o quadro extremamente complexo no seio das
estruturas associativas dos empresários portugueses. Quadro que, continuando
determinado pelas confederações dominadas pelo grande capital português e só
representativas dos interesses deste (CIP, CCP, AIP, AEP), é palco de
rivalidades e interesses conflituantes, particularmente quanto à distribuição
dos fundos comunitários e das verbas do Orçamento do Estado, o que não impede
entretanto a sua plena convergência com vista à apropriação dos rendimentos e
mercado das micro e pequenas empresas em proveito das grandes e de uma maior
exploração dos trabalhadores portugueses.
É também nesse quadro que se
verificam «deserções» e afastamentos dessas confederações por parte de
associações dominadas por micro, pequenos e médios empresários que não se
revêem nessas confederações (e lutas eleitorais pelo seu domínio) e o crescer
de movimentos e estruturas independentes de micro e pequenos empresários,
procurando afirmar \e defender os seus interesses de classe. Situação particularmente
visível no sector do comércio retalhista, em que o domínio triturador dos lobbies
das farmácias, das grandes empresas do comércio automóvel e da grande
distribuição torna mais nítida a fractura e a diferença dos interesses, que
serão ainda mais evidentes com o desenvolvimento do chamado comércio
electrónico.
Abre-se, assim, um vasto campo
de potencialidades e possibilidades, já realçados nos congressos anteriores,
para expansão e fortalecimento de amplas movimentações e lutas dos micro,
pequenos e médios empresários. É na base desse ambiente que, apesar de
dificuldades e limitações, a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e
Médias Empresas (CPPME) vai afirmando um associativismo de classe intimamente
ligado aos problemas concretos deste importante sector social. Um
associativismo enriquecido por um conjunto de quadros com experiência sindical
e política, ex-assalariados que, vítimas da política de direita, tiveram de
optar pela actividade empresarial.
A importância política e social
deste sector - ao nível de emprego, peso na actividade económica e na produção
nacional - e as contradições dos processos económicos e sociais que o
atravessam tornam possível a evolução da sua consciência e posicionamento de
classe, facilitam o crescimento das suas organizações independentes,
constituindo um factor de interesse relevante para a construção de uma
alternativa de esquerda.
O impulso e desenvolvimento
orgânico e independente desta camada, com o apoio às suas lutas e
reivindicações justas, com uma maior expressão institucional dos seus
interesses de classe, é do interesse da luta do PCP e deve ser inscrita como
tarefa e objectivo.
O Movimento Cooperativo
mantém uma importância no tecido económico, social e cultural de grande relevo,
embora quase tenham desaparecido as cooperativas de produção operária e as
agrícolas ligadas à reforma agrária.
Aos impactos económicos que as
empresas cooperativas geram, há ainda que valorizar os sociais traduzidos na
criação de emprego, na defesa dos direitos dos consumidores, na melhoria das
condições de vida nos campos, na edificação de habitação a custos controlados,
na promoção da defesa do meio ambiente, no envolvimento e animação das
comunidades em que estão inseridas.
Esta realidade não ilude a
existência de aproveitamentos por parte do capital que, fazendo uso do estatuto
cooperativo, retiram vantagens, em especial fiscais, funcionando como normais
empresas capitalistas.
Inseridas na economia, de
acordo com estabelecido na Constituição da República, as cooperativas continuam
a não ver solucionados por parte do actual governo PSD/CDS-PP, tal como dos que
o antecederam, questões como o acesso ao crédito, aos fundos comunitários, bem
como o cumprimento e a promoção do estatuto e valores cooperativos e a sua
integração nos currículos escolares. O poder político não só não cumpre a
Constituição como privilegia os grupos económicos e financeiros e sectores da
economia social e algumas instituições, como as fundações e misericórdias,
beneficiários da privatização da prestação de cuidados de saúde e da protecção
social.
As consequências da política de
direita dos sucessivos governos e a crise económica e social reflectem-se nas
dificuldades que muitas cooperativas atravessam, de que são exemplo os ramos da
habitação e agrícola.
O ramo das cooperativas de
consumo, alvo de profunda reestruturação por via do desenvolvimento do
intercooperativismo e do aproveitamento das suas sinergias, embora também
afectado pela crise conseguiu crescer e recuperar influências. A este
desenvolvimento não poderão estar desligados recente esforços no plano do
Partido em acompanhar a intervenção dos comunistas no movimento. A realização
de um Encontro Nacional e de plenários anuais, bem como a criação de uma
coordenadora, são passos que necessitam de ser reforçados pela
responsabilização de quadros para esta frente no âmbito da Direcções Regionais,
em especial nas regiões de maior influência do movimento.
Os emigrantes estão confrontados
com os efeitos das políticas de direita prosseguidas em Portugal pelos
sucessivos governos que não salvaguardam os direitos constitucionais destes
cidadãos portugueses cujas remessas enviadas são de grande importância para o
país. A acção governamental tem sido marcada por permanentes promessas e pela
tentativa de instrumentalização das comunidades para efeitos estritamente
eleitorais, sem dar resposta aos seus problemas. A acção do PSD/CDS-PP na
Assembleia da República, no governo e no Parlamento Europeu, deu novos passos
na privatização de importantes funções sociais do Estado à custa da destruição
de importantes direitos constitucionais dos emigrantes.
Contrariando o importante papel
do Conselho das Comunidades Portuguesas, enquanto órgão representativo dos
emigrantes e órgão consultivo para as políticas de emigração, os sucessivos
governos, não conseguindo instrumentalizá-lo, têm optado por uma deliberada
tentativa de dificultar o exercício das suas competências e de reduzir meios
financeiros e técnicos essenciais à sua intervenção.
Destaca-se, entretanto, a
importante acção que tem sido desenvolvida pelos emigrantes contra a tentativa
da maioria PSD/CDS-PP de fechar consulados e de destruir o seu carácter
público, com redução de meios financeiros, técnicos e humanos e a sua entrega a
entidades privadas, criando insanáveis dificuldades nas respostas às suas
solicitações; na luta contra a nova Lei de Bases de Educação que se repercutirá
negativamente numa maior exclusão e abandono do acesso à aprendizagem da língua
portuguesa; a ausência de uma política de acompanhamento do Acordo Bilateral
UE-Suíça sobre a livre circulação de pessoas que penaliza os emigrantes, tal
como a tentativa de retirar aos ex-emigrantes na Suíça o direito constitucional
de acesso aos serviços de saúde em Portugal.
Num processo de luta com mais
de 20 anos em defesa dos seus direitos, os trabalhadores externos do MNE viram
finalmente aprovado o seu Estatuto Profissional, prosseguindo, agora, essa luta
pela concretização destes direitos na prática.
Os comunistas desenvolvem uma
importante intervenção em defesa dos direitos dos trabalhadores emigrantes e
das suas famílias, exigindo o cumprimento dos seus direitos constitucionais, a
defesa e salvaguarda da língua portuguesa e das especificidades culturais, a
par da reivindicação da sua integração nos países de acolhimento. Esta acção
desenvolve-se no quadro da intervenção institucional, na Assembleia da
República e no Parlamento Europeu, através da organização do PCP na emigração e
da participação de comunistas, com outros democratas, no Conselho das Comunidades
e em diversas associações.
No desenvolvimento da sua
acção, os comunistas deverão ter como objectivo: o reforço da sua organização
nos vários países onde existem comunidades portuguesas tendo em atenção o
recrutamento, a participação dos militantes na vida partidária e o alargamento
da influência política e eleitoral do PCP; a intervenção tendo como objectivo o
reforço do papel das Associações de emigrantes numa acção persistente e
continuada visando o encontro, o debate e o reforço da sua acção de modo a
permitir aumentar a sua participação cultural, social e política; o contributo
para um activo e regular papel do conselho das comunidades e para o seu papel
na defesa dos direitos dos emigrantes.
De uma realidade marcada
fortemente pela emigração, Portugal tornou-se, no espaço entre congressos, o
destino de milhares de cidadãos imigrantes oriundos especialmente do
Brasil e dos países da Europa do Leste.
Esta massa de trabalhadores,
movidos por razões semelhantes às que levaram a outros países muitos milhares
de portugueses, estão sujeitos a condições de trabalho e de vida degradantes e
a uma exploração da sua mão-de-obra. A situação de ilegalidade em que muitos se
encontram colocam-nos numa situação de maior exploração, de exclusão do acesso
ao direito à saúde e à aprendizagem da língua portuguesa, e de plena
vulnerabilidade face a todo o tipo de arbitrariedades a que são sujeitos.
Os trabalhadores imigrantes e
suas famílias, especialmente de comunidades com uma mais antiga presença em
Portugal, são confrontados com uma persistente precariedade de condições de
vida e de trabalho, perpetuando um ciclo de desigualdades e de pobreza que se
repercute nos seus descendentes, particularmente vulneráveis ao insucesso e
abandono escolar e a dificuldades de integração social.
Os sucessivos governos -
oscilando entre os discursos de preocupação social para dar cobertura a medidas
paliativas de que foi exemplo o governo do PS, e os discursos perigosamente
xenófobos e racistas de Paulo Portas e do governo PSD/CDS-PP, supostamente
justificativos de políticas de «rigor» - procuram esconder o carácter
restritivo da legislação em vigor quanto à admissão legal de imigrantes,
utilizado por parte de engajadores e entidades patronais sem escrúpulos para a
entrada em Portugal de mão-de-obra ilegal, barata e sem direitos.
A maioria PSD/CDS-PP criou
novas e intransponíveis exigências à regularização dos imigrantes ao mesmo
tempo que, a pretexto do combate à criminalidade, aumentou as acções de
carácter repressivo e intimidatório por parte de forças policiais e do SEF, e
cujo resultado concreto se salda em transformar a comunidade de imigrantes em
bodes expiatórios dos problemas de segurança.
O Conselho Consultivo para os
Assuntos de Imigração não vê devidamente valorizado o seu papel.
O movimento sindical,
designadamente a partir da acção de sindicatos em que se verifica uma maior
presença de imigrantes, tem vindo a desenvolver uma importante acção de
esclarecimento e defesa dos direitos dos imigrantes.
A Frente Anti-Racista (FAR)
integra o Conselho Consultivo do Alto Comissariado para a Imigração, tem
participado anualmente na Festa da Diversidade e tem desenvolvido diversas
iniciativas públicas de denúncia das causas e responsáveis pelo racismo e
xenofobia e projectos de intervenção local. A FAR integra a Comissão Contra a
Discriminação Racial, que é constituída por associações de imigrantes e de
minorias étnicas.
A acção desenvolvida pelos
comunistas na Assembleia da República e no Parlamento Europeu pautou-se pela
apresentação de iniciativas legislativas visando a alteração da «lei dos
estrangeiros» e a alteração da lei da nacionalidade, no sentido do
reagrupamento familiar.
No quadro da acção que o PCP e
os comunistas vêm desenvolvendo, desde a publicação de materiais à realização
de iniciativas dirigidas a imigrantes e respectivas associações, são de
considerar como direcções de trabalho futuro: o reforço da intervenção sindical
visando a sindicalização dos trabalhadores imigrantes e a integração da sua
luta no quadro da luta mais geral dos trabalhadores; o reforço do debate
ideológico e da iniciativa política das organizações do Partido pela integração
social dos cidadãos estrangeiros que vivem e trabalham em Portugal, de modo a
pôr fim à sobrexploração destes trabalhadores (e o seu uso numa dinâmica de
redução dos direitos do conjunto dos trabalhadores) e a garantir o respeito
pelos seus direitos elementares; uma empenhada intervenção no combate às causas
que estão na origem do racismo e da xenofobia, a par da luta por alterações de
mentalidades que permitam um maior conhecimento das diversas identidades
culturais, o respeito pela diferença e por uma efectiva promoção do diálogo
intercultural; a ampliação do conhecimento da situação de diversas comunidades
étnicas, com especial atenção às que se encontram numa situação de maior
vulnerabilidade social.
O movimento da paz
conheceu uma forte e diversificada intervenção face à escalada do imperialismo
no plano internacional e à total subordinação do governo do PSD/CDS-PP à política
agressiva e belicista da Administração norte-americana.
Destacam-se, neste âmbito, as
diversas manifestações para impedir o desencadeamento da guerra no Iraque,
contra a sua ocupação e pela retirada do contingente da GNR desse país, a par
de outras acções contra a guerra do Afeganistão, a militarização da UE, a
corrida armamentista, o reforço e alargamento da NATO.
De igual modo se evidenciam as
acções de solidariedade com o povo palestiniano pela criação do seu Estado
independente e soberano, contra a política de terrorismo de Estado de Israel e
a construção do muro do apartheid; contra o bloqueio a Cuba; de
solidariedade com os povos em luta no Iraque, na Venezuela, Colômbia, Brasil,
Timor-Leste, Saara Ocidental.
O Conselho Português para a
Paz e Cooperação (CPPC) confirmou-se como estrutura aglutinadora e
impulsionadora do movimento pela paz, reforçando as suas posições junto da
opinião pública. Simultaneamente, o alargamento e a amplitude do movimento
unitário em defesa da paz contou, neste período, com o empenho e a contribuição
do movimento sindical para a promoção da convergência de organizações sociais
de dimensões e influência muito distintas, de individualidades, de autarquias e
outras instituições, nomeadamente religiosas, em torno de objectivos precisos e
concretos de que foram exemplo as importantes manifestações de massas de 15 de
Fevereiro e 22 de Março de 2003, realizadas no quadro de jornadas mundiais pela
paz.
A JCP tem desenvolvido
importante acção, no plano nacional, na mobilização dos jovens na luta pela Paz
e, no plano internacional, através da Federação Mundial da Juventude
Democrática a que preside.
A iniciativa própria do
Partido, aos vários níveis, conheceu um forte impulso com uma mais regular
tomada de posições públicas, a edição de documentos e propaganda, a realização
de debates e outras acções de esclarecimento dos trabalhadores e da população,
e o contributo com a sua intervenção própria para iniciativas unitárias em
defesa da paz.
Perante a ofensiva do
imperialismo e as consecutivas agressões a Estados soberanos, a violação
sistemática do direito internacional e a instrumentalização da ONU, a corrida
aos armamentos, nomeadamente o nuclear, o alargamento da NATO e a militarização
da UE, permanece como um perigo real a generalização das guerras de agressão, o
que torna esta frente de luta numa das prioridades da acção dos comunistas que
deverão agir no sentido de atrair ao movimento da paz os mais diversos sectores
sociais e correntes de opinião.
O movimento de defesa do
ambiente encontra na crescente degradação dos recursos naturais um
importante campo de intervenção e de luta mais visivelmente preenchido pela
actividade de organizações nacionais e internacionais existentes que, com
expressões e objectivos diferenciados e com maior ou menor autonomia face aos
poderes políticos e económicos, intervêm neste domínio. A pressão sobre os
recursos naturais e a degradação progressiva do ambiente, inseparáveis do
processo capitalista de apropriação privada da natureza, exigem uma mais decidida
atenção das organizações do Partido e uma maior intervenção dos comunistas não
apenas nas diversas associações e movimentos ambientalistas existentes, mas
também na criação de novas estruturas que, centradas em objectivos diversos -
combate à poluição, degradação de recursos, pressões urbanísticas, defesa da
biodiversidade, direito à água, etc. - , possam e devam dinamizar a luta e
fazê-la convergir com os objectivos mais gerais de resistência e oposição às
políticas e interesses económicos do capitalismo.
No quadro da dinâmica
internacional do chamado movimento antiglobalização, a realização do
Fórum Social Português, em Junho de 2003, possibilitou um momento de encontro
de organizações e movimentos com intervenção, influência e experiências muito diversificadas.
Na sua preparação e realização,
o Fórum Social Português foi percorrido por uma intensa luta ideológica
e por uma indisfarçável tentativa de o usar como instrumento de disputa de
condução política e de marcação dos seus conteúdos e objectivos. Com efeito,
desde o início da sua preparação, destacados quadros do Bloco de Esquerda,
acompanhados por pessoas e organizações que influenciam, tentaram impor um novo
modelo de iniciativa, valores e tendências que não correspondem à realidade e
às dinâmicas nacionais nem respeitam a autonomia e a expressão das diversas
organizações.
A intervenção e a presença dos
comunistas, abertas à convergência e coincidência de pontos de vista sobre as
consequências do neoliberalismo, sublinhando a identificação do capitalismo
como gerador das desigualdades e injustiças valorizando a luta concreta no
espaço nacional, e o elemento crucial da luta de classes, deram uma elevada
contribuição para a realização do Fórum Social Português e que devem constituir
referências para a participação e intervenção dos militantes comunistas em
próximas iniciativa e Fóruns no nosso país.
3.7. Acção de massas e
intervenção nas instituições
O combate à política de direita
e sua substituição por uma política de esquerda constituem um inadiável
objectivo de luta e uma necessidade imperiosa para o país e para os
portugueses.
As organizações de massas
constituem a base organizada da vasta frente social de luta que se tem oposto
com a sua intervenção, quer na defesa de interesses específicos quer pela sua
convergência por objectivos mais gerais, à política de direita. Estas
organizações e movimentos, reflectindo uma efectiva aspiração de largos
sectores a uma participação democrática, constituem um elemento essencial na
luta por uma nova política.
A influência de massas do
Partido, inseparável da intervenção de milhares de comunistas nestas
organizações, exige uma atenção crescente à acção nestas estruturas, de acordo
com as orientações do Partido, no sentido do seu reforço, da afirmação do carácter
unitário das mesmas e da prossecução dos seus objectivos específicos.
O desenvolvimento das
organizações de massas é essencial para uma ampla e eficaz acção e luta das
massas, e é em si mesmo um factor indispensável para a elevação da sua consciência
social e política.
No quadro de uma crescente
polarização da vida política no plano parlamentar, a intervenção institucional
do PCP acompanhou o seu envolvimento na luta de massas, traduzindo-se numa
actividade ímpar, em volume e qualidade, que procurou responder aos principais
problemas dos portugueses e do país, assim como combater e denunciar as medidas
e orientações do governo.
Ao assumir a importância da
articulação da luta de massas com a intervenção institucional, os deputados
comunistas traduziram, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, as
reivindicações populares e ao mesmo tempo utilizam as potencialidades de
iniciativa e intervenção no Parlamento nas batalhas concretas.
A valiosa actividade do Grupo
Parlamentar do PCP, importante instrumento para a iniciativa do Partido, para a
visibilidade da sua política alternativa e para a crescente ligação a todos os
que aspiram a uma sociedade mais justa, traduziu-se em intervenção oportuna e
de qualidade, abordando as grandes causas políticas e sociais, mas também as
questões mais imediatas, retomando lutas de sempre, mas dando igualmente
resposta às novas realidades e desafios do presente, combatendo a política do
governo, mas ao mesmo tempo apresentando alternativas e soluções para os problemas
do país.
A actividade dos deputados do
Parlamento Europeu, integrados no Grupo Confederal da Esquerda Unitária
Europeia/Esquerda Verde Nórdica, constituiu igualmente uma importante frente do
trabalho institucional no combate às políticas de direita, no contexto social e
europeu, e de proposta de uma política comunitária assente na defesa
intransigente da soberania nacional e dos interesses do país, contra o
neoliberalismo, o federalismo e o militarismo, por uma Europa de paz e
cooperação entre países iguais e soberanos.
A intervenção dos deputados do
PCP continua a pautar-se por elevados padrões de exigência ética, pelo
cumprimento dos compromissos assumidos, pela permanente disponibilidade para o
contacto com as populações, os trabalhadores e os seus problemas, pela sua
qualidade e oportunidade de iniciativa e intervenção.
O balanço positivo da
intervenção institucional não dispensa contudo um esforço constante no
enriquecimento do seu conteúdo, do seu acerto técnico e político, na melhoria
da sua divulgação e na exploração de potencialidades existentes para uma melhor
articulação com o trabalho de massas e a intervenção local, regional e
sectorial do Partido.
3.8. Batalhas eleitorais
As eleições presidenciais de
Janeiro de 2001 saldaram-se pela eleição para um segundo mandato, logo à
primeira volta, de Jorge Sampaio que alcançou 55,8% dos votos contra 34,5% de
Ferreira do Amaral, candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS.
A votação (5%) alcançada pelo
candidato do PCP, António Abreu, traduz o quadro muito específico e concreto
destas eleições presidenciais, muito marcadas pelo sentimento geral de que
Jorge Sampaio tinha a reeleição assegurada e em que, portanto, no campo
eleitoral mais à esquerda uns propendiam para a vantagem de uma afirmação
eleitoral autónoma enquanto outros se inclinavam para derrotar o candidato da
direita logo na primeira volta.
Entretanto, é razoável admitir
que, ao menos em parte, o resultado obtido pela candidatura do PCP tenha também
sido influenciado pela tardia decisão de ida às urnas, a qual, num contexto
particularmente complexo, teve o valor democrático de proporcionar a 220 mil
eleitores um voto inteiramente conforme com a sua consciência e vontade que, de
outro modo, com grande probabilidade se teria deslocado maioritariamente para a
abstenção e que, expressando-se em vez disso nas urnas, comportaram um útil
sentido de exigência crítica sobre o segundo mandato de Jorge Sampaio, que os
seus mais recentes posicionamentos plenamente justificam.
As eleições autárquicas de
16 de Dezembro de 2001 traduziram-se num resultado negativo para a CDU e
para o PS e num progresso das posições conquistadas e influência eleitoral da
direita.
Por comparação com as
anteriores eleições autárquicas, a CDU sofreu uma perda de 1,4 pontos na sua
percentagem nacional, de 13 Presidências de Câmara (entre as quais as de Évora,
Loures e Barreiro, obviamente não compensadas pela importante conquista do
município de Setúbal) e de 391 mandatos em CM, AM e AF.
Apesar destas perdas
significativas, os resultados alcançados pela CDU - 28 Presidências de Câmaras,
250 Presidências de Juntas de Freguesia, cerca de 3 mil eleitos, cerca de 580
mil votos (excluindo o concelho de Lisboa) e 10,6% dos votos para as Câmaras
Municipais - confirmaram-na como a terceira força no plano autárquico.
De sublinhar que, como é
característico da especificidade das eleições autárquicas, as perdas de
posições sofridas pela CDU voltaram a assumir uma dimensão desproporcionada em
relação à sua perda de influência eleitoral nacional. De uma forma geral,
parecem ter sido patentes as dificuldades causadas à manutenção de posições
pela CDU pela especifica «bipolarização» existente a sul do país (entre a CDU e
o PS) e pelo efeitos negativos da estagnação ou erosão eleitoral do PSD nessas
regiões.
Também a parcial transformação
das eleições autárquicas numa espécie de legislativas antecipadas, bem como
certos elementos de dramatização eleitoral, terão pesado no sentido de uma
maior aproximação da votação autárquica da CDU à sua tradicionalmente menor
votação em eleições legislativas.
Embora tal não possa ser
convertido numa explicação geral ou única para os resultados nacionais, sem
dúvida que deficiências diversas no trabalho e na gestão autárquicos e na
preparação e desenvolvimento das campanhas eleitorais, insuficiências na acção
de organizações locais e na sua influência, situações de esbatimento dos traços
mais distintivos do nosso projecto autárquico no exercício do poder autárquico,
movimentos de opinião e aspirações difusas de «mudança» entre sectores do
eleitorado (que também penalizaram em alguns importantes concelhos o PS), têm
de ser integrados no conjunto de factores que terão contribuído para as
derrotas sofridas pela CDU.
No quadro das eleições
autárquicas de 2001, assumiu um efeito e significado particularmente negativos
a conquista, embora por uma margem tangencial, pelo PSD da Câmara Municipal de
Lisboa, pondo termo a um período que, globalmente, representou uma grande e
positiva mudança para a capital impulsionada, desde 1989, por sucessivas
coligações integrando o PS, PCP e «Os Verdes».
Embora os resultados no
concelho de Lisboa tenham atestado uma grave erosão da anterior base eleitoral
da coligação «Amar Lisboa», parece legítimo admitir, até pela escassa margem de
votos que a ditou, que a derrota sofrida não é separável de numerosos e graves
erros de orientação durante a pré-campanha e a campanha (para as quais o PCP
repetidamente alertou mas que, num quadro de muito deficiente funcionamento
colegial e colectivo da coligação, não conseguiu rectificar). Neste contexto, é
também de assinalar que a candidatura autónoma do Bloco de Esquerda, decidida
por esta formação na base da sua completa recusa de um diálogo político que
considerasse a sua integração na coligação «Amar Lisboa», e a sua postura de
concentração da crítica e do ataque nesta coligação, ficou responsável por uma
dispersão de votos e um desgaste favoráveis à direita e aos seus objectivos.
Os resultados das eleições
autárquicas de 2001 não representaram em termos de correlação de forças e
influência uma significativa viragem eleitoral. Mas, servindo de motivo ou de
pretexto para o pedido de demissão de António Guterres e a consequente
convocação de eleições antecipadas, permitiram ao PSD proclamar e
instrumentalizar uma «dinâmica de vitória» que se projectaria nas legislativas
de 17 de Março de 2002.
As eleições legislativas
antecipadas de 17 de Março de 2002 vieram a marcar o fim do ciclo político
iniciado em 1995, com o PSD a alcançar a posição de partido mais votado (40,1%
contra 37,8% do PS) e sobretudo com a conquista de uma maioria absoluta de
deputados do PSD e do CDS-PP que, por posterior acordo de coligação, viriam a
dar suporte à formação de um novo governo da direita dirigido por Durão
Barroso.
A CDU obteve nessas eleições um
resultado negativo (6,9%) que traduziu a perda de 2 pontos percentuais e de
cinco deputados e em que é legitimo admitir que tenham pesado fortemente
elementos conjunturais muito desfavoráveis (não verificados nas eleições de
99), com a agravante do seu encadeamento e concentração num curto espaço de
tempo, designadamente:
a súbita e inesperada
convocação de eleições legislativas numa conjuntura política e de opinião muito
marcada, quanto à CDU, pelos variados impactos dos seus maus resultados nas
autárquicas de Dezembro de 2001;
os profundos danos causados à
imagem do PCP, durante toda a pré-campanha das legislativas, por processos de
contestação pública e deturpação das suas orientações por parte de alguns
membros do Partido em que avultaram nomeadamente acusações de intolerância e a
responsabilização do PCP pela falta de uma alternativa de esquerda;
a manifesta animosidade,
preconceito e parcialidade que marcaram a cobertura por grande parte dos media
da pré-campanha e da campanha da CDU;
a «dinâmica de vitória»
protagonizada pelo PSD a partir das autárquicas com o correspondente avolumar
do perigo do regresso da direita ao governo (situação inexistente nas eleições
de 1999) e os seus reflexos em segmentos do eleitorado da CDU no sentido de favorecer
um voto no PS «para derrotar a direita».
As eleições para o
Parlamento Europeu realizadas em 13 de Junho de 2004 caracterizaram-se por
uma estrondosa derrota da coligação PSD-CDS (33,3%), pela obtenção pelo PS do
seu melhor resultado de sempre (44,5%), por um êxito do BE (ao atingir 4,9% e
eleger um deputado) que beneficiou de uma intensa promoção mediática, e por um
resultado da CDU (9,1% e a manutenção de dois deputados) que se pode considerar
positivo no concreto enquadramento e condicionalismo desta eleição. É ainda de
registar que os partidos de direita ficaram a 26 pontos percentuais da soma da
votação dos partidos de oposição.
Com efeito, apesar de ter
perdido 1,2 pontos por comparação com as europeias de 99, a verdade é que a CDU
subiu 2 pontos em relação às legislativas de 2002, apesar de realizada toda a
pré-campanha e quase toda a campanha debaixo das previsões de sondagens
veiculadas pelos media de resultados catastróficos e limitados à eleição de um
único deputado é de admitir que tenha sido prejudicada pelo inesperado
cancelamento da campanha eleitoral numa altura em que se começava a afirmar
mais fortemente um movimento de mobilização, esperança e confiança num bom
resultado da CDU.
As eleições para as Assembleias
Regionais dos Açores e da Madeira, realizadas em 17 de Outubro de 2004, ficam
marcadas no plano dos resultados eleitorais obtidos pela CDU de modo
contraditório: na Madeira, pelo significativo aumento da expressão eleitoral da
CDU e da eleição de dois deputados, num quadro de conhecidos constrangimentos
democráticos e em que se regista um recuo da expressão eleitoral do PSD; e nos
Açores, pela perda da representação parlamentar da CDU no quadro de uma
campanha forte e artificialmente bipolarizada e de ostensiva discriminação, que
não deixará de pesar muito negativamente na vida democrática, na defesa dos
interesses dos trabalhadores e do povo açoreano e no desenvolvimento da região.
Como foi salientado na
Conferência Nacional realizada em Junho de 2002, é de admitir que, pesando de
forma variada mas interligada, entre as causas da perda de influência eleitoral
do PCP e das suas dificuldades de recuperação se encontrem por vários factores,
designadamente:
-
os
múltiplos efeitos ainda não superados em termos de opinião pública das derrotas
do socialismo no Leste da Europa e a sua projecção negativa sobre a capacidade
de atracção dos ideais e do projecto político próprio do PCP;
-
um
conjunto de profundas mudanças na vida política, nas estruturas económicas e no
tecido social, na relação dos cidadãos com a política e no plano dos valores e
das atitudes sociais e políticas, para as quais o Partido ainda não encontrou
resposta eficaz e que têm dificultado poderosamente ou a apreensão da mensagem
e propostas do PCP ou a sua tradução em opções eleitorais;
-
as
múltiplas debilidades, atrasos e deficiências na organização do Partido e na
sua intervenção a variados níveis, que dificultam um maior enraizamento social
do Partido, uma maior agregação política e ideológica do seu eleitorado e a
conversão em apoio eleitoral da larga adesão que muitas das suas propostas,
iniciativas e acções suscitam, nomeadamente no plano social;
-
a
crescente e diversificada influência dos media sobre a formação da opinião dos
cidadãos e sobre a vida política, induzindo designadamente negativas
generalizações sobre «os partidos», a desagregação de valores e referências,
uma fragmentação da informação, uma grande volatilidade dos movimentos de
opinião e o silenciamento, deturpação e falsificação da real identidade,
posições e orientações do PCP que criam especiais dificuldades à sua
intervenção e mensagem;
-
as
patentes dificuldades do Partido em superar ou atenuar os efeitos sobre as
opções de voto da prolongada propaganda e favorecimento da «bipolarização»
entre PS e PSD, induzindo critérios de opção de voto que, secundarizando o
debate de propostas e de políticas, manifestamente prejudicam a afirmação
eleitoral do PCP;
-
a
perda de perspectivas e o desânimo causados em sectores do eleitorado do PCP
pela prolongada imposição da política de direita e a sua correspondente falta
de confiança na próxima concretização de uma real alternativa de esquerda.
Sendo certo que o papel do PCP
na vida nacional não pode ser aferido exclusivamente pelos seus resultados
eleitorais e pela sua representação nas instituições é entretanto
indiscutível que estes aspectos têm assinaláveis reflexos sobre o conjunto da
sua actividade, luta, intervenção e capacidade de atracção, pelo que o reforço
da sua influência eleitoral tem de continuar a constituir uma preocupação
fundamental e um objectivo inseparável dos progressos e avanços que se
alcançarem na organização, intervenção e acção política do Partido.
As eleições para as
autarquias locais a realizar em 2005, pela primeira vez no mês de Outubro,
constituem uma das mais importantes batalhas políticas a exigirem uma pronta e
adequada concentração de atenções e energias para as enfrentar com êxito.
Num quadro, por um lado, ainda
incerto - quanto à evolução da situação política nacional, à arrumação das
forças políticas presentes em cada concelho ou ao quadro legal em vigor quanto
ao sistema eleitoral - , mas, por outro, marcado pela quase certa ofensiva sem
escrúpulos, que o passado recente confirma, de que seguramente as posições do
PCP nas autarquias serão alvo por parte do PS e da direita, a concretização dos
objectivos eleitorais do PCP e da CDU exigirá de cada organização, militante e
activista uma intervenção intensa e determinada.
O reforço e ampliação das
posições do PCP no quadro da CDU, no âmbito da qual se prepara para concorrer
em todo o país, contribuirão para afirmar um projecto autárquico com provas
dadas na defesa intransigente dos interesses populares, na promoção das
condições de vida, de desenvolvimento e progresso locais, na garantia de uma
gestão democrática transparente e participada.
Definindo como objectivos o
reforço das suas posições na autarquias - quer pela consolidação e ampliação
das suas posições em maioria quer pelo alargamento da sua presença em minoria -
e concorrer ao maior número possível de autarquias a começar pelo conjunto dos
órgãos municipais - pelo significado e possibilidades que daí decorre de
afirmação da presença e intervenção política no conjunto do território nacional
- , a preparação das eleições exige, na perspectiva da concretização desses
objectivos, as seguintes medidas e direcções de trabalho: a mobilização do
conjunto do Partido na sua preparação, no quadro da acção geral e em
convergência com o desenvolvimento da luta social e política no plano local e
nacional; a dinamização da CDU em cada local com o alargamento da participação
dos seus principais activistas e com o envolvimento e comprometimento de novos
apoiantes, confirmando a CDU como espaço de acção política unitária e de
convergência; a constituição de listas que, assegurando capacidade de
influência e atracção, garantam uma efectiva qualidade de trabalho e uma acção
nas autarquias de acordo com os objectivos, princípios e projecto autárquico do
PCP; a valorização do trabalho e obra realizadas, a sua projecção futura e a
avaliação e correcção atempada de deficiências e problemas que limitem ou
prejudiquem essa valorização, bem como a afirmação do valor das proposta e do
projecto alternativo e a demonstração da importância decisiva do reforço ou
conquista de novas posições.
O projecto autárquico do PCP
e o valor que lhe é reconhecido, seja pela obra realizada seja pela proximidade
e identificação com as aspirações populares, são indissociáveis de um estilo de
gestão pelos eleitos comunistas das autarquias locais que é expressão dos
objectivos, natureza e concepção democrática e participada de exercício do
poder. Um projecto que é obra colectiva de milhares de comunistas, homens e
mulheres, eleitos e não eleitos que, com o seu trabalho e dedicação, intervieram
e intervêm na luta pela melhoria das condições de vida do povo e pela
transformação social.
A Conferência Nacional do PCP
«A intervenção nas autarquias e a acção local do Partido», realizada em Maio de
2003, debateu, analisou e definiu as principais orientações, tarefas e
objectivos que se colocam à intervenção dos comunistas nas autarquias e à acção
local do Partido. Nas suas conclusões sublinha-se que a corporização e a
concretização do projecto autárquico são inseparáveis da assunção do trabalho nas
autarquias como componente da acção geral do Partido enquanto frente de luta e
acção dos comunistas; da intervenção e participação dos trabalhadores e da
população como condição essencial para uma gestão democrática em que o conceito
de democracia participada, mais que um enunciado programático, é expressão
natural da conduta de um partido que tem na ligação às massas a sua fonte
principal de apoio e energia; da isenção, honestidade e entrega à defesa dos
interesses das populações enquanto critérios de decisão e de conduta no
exercício dos mandatos; da recusa de benefícios pessoais pelo exercício de
cargos políticos enquanto expressão de integridade política e pessoal; da
salvaguarda do serviço público municipal nas áreas da competência do Poder
Local; da coincidência entre os objectivos políticos do Partido na sua acção
presente e os objectivos e atribuições do Poder Local; da permanente procura
para desenvolver uma acção marcada pela proximidade aos problemas, para
estimular a luta e elevar a consciência política e social das populações
indispensável aos objectivos mais gerais de transformação da sociedade. Como
então se salientou, é decisivo o alargamento da consciência em todo o Partido
da acção nas autarquias como um espaço de afirmação do PCP, de reforço da sua
ligação às massas e da sua influência, assumido como uma importante frente de
intervenção do Partido no plano local, que a incorpora mas não a esgota.
A confirmação e aprofundamento
dos traços mais distintivos da acção dos comunistas nas autarquias, num quadro
de maior complexidade e condicionamentos, são inseparáveis do reforço do
trabalho de direcção do Partido, de uma mais afirmada actividade política das
organizações locais e de uma melhor articulação entre o trabalho desenvolvido
na autarquia com a acção local das organizações do Partido e a luta das
populações.
As eleições presidenciais de
2006, num quadro ainda não definido mas que, perante acontecimentos
recentes e previsível evolução da situação política, vão ser marcadas por uma
maior complexidade em relação a eleições anteriores. O PCP participará nesta
batalha com o objectivo de impedir que a direita se aposse deste órgão de
soberania e consequentemente, sem perder o seu grau de decisão soberana e
autónoma e afirmação da sua opinião própria, contribuir para um resultado capaz
de assegurar a defesa da Constituição e o prosseguimento do regime democrático
que ela comporta e projecta.
As eleições para a
Assembleia da República a realizar em 2006, se até lá não forem convocadas
eleições antecipadas, devem constituir um momento decisivo para o afastamento
do governo do país da actual coligação de direita e uma clara condenação da sua
política e para afirmação, pelo reforço das posições e expressão eleitoral do
PCP, de uma nova perspectiva e um novo rumo para a política nacional. A
concretização do reforço da influência política e eleitoral do PCP dificultará
soluções construídas na base da mera alternância no poder entre o PSD e o PS,
destinadas a prosseguir no essencial as orientações mais negativas e
penalizadoras para os interesses dos trabalhadores, da população e do
desenvolvimento do país, e criará condições mais favoráveis para soluções
políticas que se traduzam numa efectiva alternativa à política de direita. O
desenvolvimento da luta, a afirmação do PCP como força necessária e
indispensável a uma nova política e a valorização do trabalho realizado na
Assembleia da República são elementos indissociáveis dos objectivos políticos
definidos e do trabalho necessário para os concretizar.
3.9. Quadro partidário
A situação política resultante
das eleições legislativas de 2002 ficou marcada pela constituição da coligação
de direita PSD/CDS-PP, num quadro em que o PSD sozinho dispunha apenas de
maioria relativa na Assembleia da República. A coligação PSD/CDS-PP surgiu como
condição para assegurar o apoio a um governo que, após a derrota do PS, pudesse
intensificar a política de direita e garantir a subordinação da acção
governativa aos interesses do grande capital nacional e estrangeiro. Traduziu-se
no reforço dos sectores mais à direita, em particular ligados ao CDS-PP,
designadamente nas áreas de governo ligadas aos sectores militares, policiais e
do aparelho repressivo, no quadro mais geral da tomada do aparelho do Estado
pelos representantes partidários e dos grandes interesses económicos.
A acção da coligação
PSD/CDS-PP alicerçou-se numa forte ofensiva ideológica, exprimindo valores
reaccionários, demagógicos e populistas, acompanhados de um forte pendor
anticomunista, em que pontuaram frequentemente manifestações de arrogância e
prepotência.
A solidez inicial da coligação
de direita foi entretanto sendo crescentemente afectada por divergências
internas, quer entre os dois partidos quer entre os diversos grupos de
interesses neles existentes, sobretudo após a estrondosa derrota eleitoral nas
eleições para o Parlamento Europeu. Existem, apesar disso, possibilidades de
manutenção da coligação para além da legislatura em curso.
O Partido Socialista
manteve nestes últimos quatro anos uma orientação caracterizada por uma
identificação, nas questões mais essenciais e estruturantes, com as defendidas
pela direita e por uma insistente postura e disponibilidade para acordos
preferenciais com esta.
Na verdade, o PS prosseguiu
enquanto foi governo e sem prejuízo de aspectos positivos em determinados
sectores, áreas ou problemas, os traços fundamentais de política de direita já
caracterizados no XVI Congresso, confirmados na sua acção governativa com a
significativa opção por privilegiar, quer o PSD ou o CDS-PP, na elaboração e
aprovação das orientações e instrumentos orçamentais mais estruturantes. Na
oposição, o PS, afirmando-se com frequência contrário às decisões e orientações
do governo PSD/CDS-PP, o que permitiu em diversos momentos a convergência entre
as diversas forças de oposição designadamente com o PCP, manteve no entanto
concordâncias expressas ou implícitas com orientações estruturantes da política
de direita. Nuns casos, mantendo divergências de intensidade ou de método no
quadro da concordância com opções de fundo, como acontece com o processo de
privatização de hospitais e centros de saúde ou com a chamada «reforma da
Administração Pública». Noutros casos, manifestando visíveis hesitações na
definição da sua posição em relação às opções do governo PSD/CDS-PP, como
aconteceu inicialmente em relação ao Código de Trabalho, à aplicação do pacto
de estabilidade ou à condenação da guerra no Iraque. Noutros casos ainda,
expressando uma inequívoca concordância com as orientações da direita, como
aconteceu em matéria de privatizações, de financiamento dos partidos ou de
política europeia e aprovando em conjunto com a coligação PSD/CDS-PP alterações
que constituem profundos retrocessos políticos e democráticos, com destaque
para as duas mais recentes revisões constitucionais e para a nova lei dos
partidos políticos.
Acresce que o recente Congresso
do PS confirmou e acentuou orientações de clara vinculação às políticas
neoliberais, de pretensões hegemónicas, de hostilidade à cooperação e
convergência entre as forças democráticas e de insistência numa linha de
alternância de governo face à direita que não corresponde à necessidade e
aspiração de uma efectiva alternativa de esquerda.
Tendo tido a sua origem na
junção de várias forças de pendor esquerdista, o Bloco de Esquerda
caracteriza-se fundamentalmente pelo seu carácter social-democratizante, embora
mantendo traços de radicalismo de esquerda em muitas das suas acções e na
construção da sua imagem, e por um discurso frequente e convenientemente
afastado do confronto ideológico e de classe.
Desde a sua criação, o BE
logrou alcançar o alargamento da sua expressão eleitoral e representação
institucional, ao que não será alheia uma intensa e permanente promoção
mediática de que sempre beneficiou, a que se juntou nos últimos dois anos a não
inocente focalização nas suas iniciativas e intervenções das reacções do
governo e dos partidos da direita no debate político. A sistemática construção
de uma imagem de novidade e modernidade esconde frequentemente, sem prejuízo da
atribuição de relevância e da expressão de posições diferenciadas em relação a
algumas matérias, a não originalidade das suas propostas, tantas vezes
património de luta e de intervenção do PCP há vários anos, e conduz por vezes a
uma intervenção que, centrada na busca de protagonismo mediático, valoriza
aspectos acessórios em detrimento de opções de fundo.
Sem prejuízo da natural
diversidade de posicionamentos à esquerda e de um normal relacionamento entre
forças democráticas, a que acresce a desejável congregação de posições no
combate à política de direita, note-se no entanto que, para além de procurar
alargar o seu espaço de influência em diversos movimentos sociais e políticos,
em que contribuem para recorrentes preconceitos anticomunistas, o BE assume hoje
o objectivo prioritário de disputar a influência eleitoral do PCP, continuando
para isso a recorrer a deturpações e caricaturas das posições e orientações do
PCP.
O Partido Ecologista «Os
Verdes» mantém diversificada e positiva intervenção que contribui para o
enriquecimento da CDU nos seus diversos espaços de intervenção. Privilegiando
naturalmente as crescentemente relevantes questões ecológicas e dos recursos
naturais, em que tem marcado posição em relação aos novos desafios que a
evolução científica e tecnológica vai colocando (como por exemplo nas questões
dos Organismos Geneticamente Modificados, da manipulação genética e da
segurança alimentar), o PEV multiplica igualmente a sua intervenção em áreas de
significativo interesse social, como as questões da igualdade, dos direitos das
minorias ou das pessoas com deficiência. Não obstante a sua actividade, o PEV
continua a ser alvo de uma descarada e permanente menorização e discriminação
pelos principais meios comunicacionais em flagrante contraste com o tratamento
dado a outras forças com representação parlamentar.
3.10. A luta por uma
alternativa de esquerda
Tendo como perspectiva e
referência o seu projecto e a sua proposta programática de uma democracia
avançada e de uma sociedade socialista, a luta por uma alternativa política
pela qual o PCP se bate é indissociável da luta por uma política alternativa
que, inspirada nos valores e conquistas de Abril, rompa com a política de
direita que cíclica e continuadamente tem vindo a ser desenvolvida tanto pelo
PS como pelo PSD sozinhos ou acompanhados pelo CDS/PP.
Nos quatro anos que medeiam
desde o XVI Congresso, o governo PS e posteriormente o governo PSD/CDS-PP
confirmaram pela sua prática política, em particular nas questões
estruturantes, a validade do conjunto de teses então formuladas e o erro que
constituiria aprisionar o Partido a posições imediatistas e voluntaristas
perante um PS claramente alinhado com políticas de direita.
Reafirmando a necessidade e a
perspectiva de construção de uma política alternativa e de uma alternativa
política de esquerda, processo necessariamente complexo e eventualmente
prolongado, são condições determinantes para a sua concretização a ampliação da
influência social, política e eleitoral do PCP e correspondente alteração da
actual correlação de forças entre o PCP e o PS, no plano institucional
favorável ao PCP, e o desenvolvimento e articulação da luta do movimento de
massas e dos movimentos sociais a partir de objectivos concretos que convirjam
simultaneamente para a reclamação e exigência de uma nova política, uma
política de esquerda.
O empenhamento do PCP na
procura da convergência, da unidade, da cooperação das forças democráticas, do
alargamento de uma vasta frente social de oposição à política de direita com
projecção e reflexos no plano político e institucional é inseparável do seu
firme combate e denúncia da política de direita do PS e consequentemente de um
forte apelo à intervenção dos trabalhadores e dos democratas, que não só
responsabilize o PS pelas opções políticas de direita como exija a alteração da
sua postura de bloqueio à construção de uma alternativa de esquerda.
O PCP, reafirmando a sua
disponibilidade para o diálogo político e na perspectiva da construção e
concretização de uma alternativa no quadro das instituições democráticas e do
regime constitucional, não está nem estará disponível para se transformar em
força de apoio ou ser cúmplice de um governo ou de políticas que, mesmo
retocadas ou pontualmente alteradas, mantenham em questões estruturantes ou de
fundo uma orientação e práticas de direita.
Assumindo o seu papel como
força portadora de uma verdadeira alternativa com capacidade e aptidão para o
exercício de responsabilidades governativas, mantendo uma linha de iniciativa e
proposta tanto no plano das políticas como de soluções governativas que
considere necessárias e que sejam do interesse dos trabalhadores, do povo e do
país, o PCP manterá a sua autonomia e soberania de decisão face aos
desenvolvimentos concretos que se registarem.
3.11. Reforço do PCP - uma
questão fundamental
A luta e a intervenção do PCP
não se limitam ou esgotam no objectivo de construção de uma alternativa de
esquerda. Alicerçado em valores, causas e ideais, persegue o objectivo de
transformação social inscrito no seu programa.
Mas é essencial e determinante
nesta fase da vida nacional que o PCP alargue a sua influência junto dos
trabalhadores e das massas populares, afirme o seu projecto, os seus valores
ímpares e distintos dos de outras forças políticas, desmistifique e vença
preconceitos, reforce a sua intervenção e organização, estabeleça com mais
vigor laços com os trabalhadores, os agricultores, os intelectuais e quadros
técnicos, com todos os que são atingidos pela política de direita e que
perfilham ideais democráticos, de progresso e justiça social, e que é imperioso
mobilizar activamente para a luta pela construção da alternativa de esquerda.
São tarefas de grande exigência
colocadas aos comunistas e ao seu Partido. Mas serão as mais realizadoras e a
mais sólida garantia para construir esta alternativa.
4. O PARTIDO
4.0. Introdução
4.1.Breve balanço de actividade
4.2. Identidade
comunista
4.3. Autonomia e
independência
4.4. Direcção
4.5. Quadros
4.6. Organização
4.7. Intervenção
política e ligação às massas
4.8. Informação,
propaganda, imprensa do Partido e Festa do Avante!
4.9. Meios financeiros
4.10. Actividade
internacional
4.11. Nota final
4.0.
Introdução
Desde o XVI Congresso, o
Partido desenvolveu uma permanente intervenção e actividade em defesa dos
interesses dos trabalhadores e do povo, com acção determinante na promoção da
luta de massas em articulação com a intervenção nas instituições,
confirmando-se como o grande Partido da classe operária e de todos os
trabalhadores, patriótico, internacionalista, imprescindível para a defesa dos
interesses do povo e de Portugal.
Apesar das dificuldades e
insuficiências conhecidas, a experiência confirma que é possível melhorar e
fortalecer a organização, elevar a militância, alargar a actividade política
das organizações, assegurar um Partido mais forte, fundamental para a luta por
uma alternativa de esquerda, pela democracia avançada e pelo socialismo.
4.1. Breve balanço de
actividade
No tempo decorrido desde o XVI
Congresso, persistiu uma situação internacional desfavorável, traduzida em
novos avanços na agressividade do imperialismo e das forças do capital e em
desenvolvimentos negativos no processo de integração europeia, ao mesmo tempo
que no plano nacional prosseguiu a política de direita com o governo PS,
aprofundada pelos governos reaccionários do PSD/CDS-PP, e a ofensiva para
desvirtuar o regime democrático saído da Revolução de Abril. A que se somou,
neste período e convergentemente, uma campanha dirigida contra o Partido, em
que se integra a acção fraccionista, para o desagregar, deturpar as suas
propostas, posições e actividade.
O Partido, embora com
insuficiências e dificuldades, desenvolveu uma ampla e determinante intervenção
com o envolvimento das suas organizações e militantes. Milhares de militantes
do Partido assumiram de forma decisiva o esclarecimento, a mobilização e a
organização da luta da classe operária, dos trabalhadores e de outras camadas
sociais contra a política governamental em inúmeras lutas, de que se destaca a
greve geral de Dezembro de 2002 contra o pacote laboral.
Numa situação adversa,
comprovou-se que o empenho e a dedicação dos comunistas são essenciais para a
expressão da luta dos trabalhadores e do povo e que o seu papel é um elemento
determinante para a influência, independência, características de classe e
unidade do movimento sindical unitário.
O Partido levou a cabo inúmeras
acções de esclarecimento, denúncia, protesto e proposta em defesa dos direitos
dos trabalhadores, dos serviços públicos e das funções sociais do Estado,
contra as privatizações, o encerramento de empresas e o desemprego. O Partido
assegurou uma activa e empenhada intervenção nas batalhas eleitorais
realizadas, assim como assumiu as reivindicações dos trabalhadores e do povo
nas instituições (nacionais, europeias, regionais e locais) e aí desenvolveu
uma importante acção.
O Partido realizou, para além
da actividade regular e diária das organizações, diversificadas iniciativas
políticas ou de convívio, milhares de reuniões e plenários, assembleias das
organizações e ainda encontros, debates, colóquios, sobre diversificados temas.
Sublinhem-se, entre as iniciativas mais importantes realizadas após o XVI
Congresso, o Encontro Nacional sobre as Eleições Legislativas, a Conferência
Nacional - O Novo Quadro Político e as Tarefas para o Reforço da Intervenção e
Influência do Partido, o Encontro Nacional do PCP sobre a Acção e Organização
do Partido nas Empresas e Locais de Trabalho, a Conferência Nacional - O PCP e
o Poder Local, o Encontro Nacional sobre a Agricultura Portuguesa e a Reforma
da PAC, o Encontro Nacional sobre os Micro, Pequenos e Médios Empresários, a
acção Em Movimento Por um Portugal com Futuro e as iniciativas no âmbito das
Mil localidades nela inserida, o Seminário sobre a Festa do Avante! e o
Seminário Internacional sobre a Actualidade das Transformações e dos Ideais de
Abril.
Promoveu o movimento geral de
reforço da organização partidária sob o lema «Sim, é possível! Um PCP mais
forte». Realizou Jornadas Nacionais de esclarecimento e de propaganda.
Organizou anualmente de forma atractiva e criadora a Festa do Avante!.
Realizou a 14.ª Festa da Alegria. O PCP esteve na primeira linha da luta pela
Paz, contra a guerra de agressão dos EUA ao Afeganistão e ao Iraque e
desenvolveu intensa actividade de solidariedade com os povos vítimas de
agressão e opressão imperialista, em particular com o povo palestiniano e com
Cuba. Promoveu as comemorações do 25 de Abril com destaque para os 30 anos da
Revolução e largas centenas de iniciativas de comemoração dos aniversários do
Partido com a participação de muitos milhares de camaradas e amigos.
4.2. Identidade comunista
A realidade do mundo neste
início do Século XXI confirma e evidencia que o capitalismo, sistema que tem
por base a exploração, opressão, agressão e guerra, com o seu projecto de
domínio imperialista sobre os povos, promove uma enorme regressão
civilizacional e não está em condições de dar resposta aos anseios da
humanidade. O início deste novo século reforça a actualidade do projecto
comunista e a necessidade da luta por uma sociedade liberta da exploração e da
opressão capitalistas.
São confirmadamente difíceis as
condições em que lutam hoje os partidos comunistas e as forças revolucionárias.
O imperialismo procura liquidar ou neutralizar todas as forças que se possam opor
ao seu projecto de hegemonia e domínio mundial, no plano dos Estados e no plano
das forças políticas, em particular os partidos comunistas e as forças
revolucionárias. É neste quadro de luta de classes que deve ser compreendida a
intensa acção contra o PCP, procurando anular o seu papel e força na
sociedade portuguesa e comprometer a sua existência.
O PCP é alvo de uma permanente
acção de desgaste, designadamente a partir da comunicação social, com o
objectivo de silenciar propostas e iniciativas e de promover uma campanha
sistemática de deturpação das posições e projecto do Partido, visando isolar,
abalar e dificultar o alargamento da sua influência e limitar a sua capacidade
de atracção.
O grande capital, com o vasto
arsenal de forças políticas, estruturas e meios que tem à sua disposição, sabe
que a força do Partido assenta na sua ideologia e orientação políticas, nos
seus quadros e militantes, na sua unidade e coesão no quadro dos princípios de
funcionamento do Partido, na sua organização, no seu entusiasmo, dedicação e
militância, e por isso desenvolve campanhas para provocar a dúvida, quebrar o
entusiasmo, desanimar e desmobilizar o colectivo partidário.
Esta ofensiva visa promover o
anticomunismo, uma falsa e má imagem do Partido e o aumento dos preconceitos
contra ele. Visa também promover a sua desagregação e atingir o compromisso que
une cada militante ao colectivo partidário, elo de união que faz a diferença
entre um conjunto de indivíduos dispersos, isolados ou em conflito entre si, e
uma organização que passa à acção a partir da discussão onde conta a opinião de
todos e do apuramento de uma decisão comum.
Nesta acção têm participação
activa ex-membros do Partido e alguns outros que invocam a qualidade de membros
e que convergem na acção anticomunista para atacar o Partido na sua essência e
criar dificuldades ao reforço da sua influência social, política e eleitoral. E
que, usando abusiva e enganosamente a ideia de renovação, de facto dão provas
de capitulação ideológica, rendem-se e submetem-se à ideologia e à política do
grande capital, fomentam a desagregação orgânica do Partido, prosseguindo no
desgaste da sua imagem e influência, assumindo-se cada vez mais como apêndice
do PS e do BE.
Face a esta ofensiva dos
inimigos do Partido, a percepção e compreensão pelo colectivo partidário dos
seus objectivos é não só essencial como indispensável para resistir ao ataque e
às tentativas de desmobilização e compreender que a integração de cada quadro e
militante no colectivo partidário é a força indispensável de um partido
revolucionário. É essa compreensão que, na salvaguarda do direito de opinião
reconhecido nos princípios e na prática do funcionamento do Partido e na
permanente preocupação com a resposta às novas realidades, tem permitido não só
resistir à ofensiva dirigida contra o PCP como tem garantido uma intervenção
ímpar na sociedade portuguesa em defesa dos trabalhadores, do povo e do país.
A ofensiva contra o PCP,
indissociável do ataque contra os trabalhadores e o regime democrático, assumiu
com a Lei sobre os Partidos e a Lei de financiamento dos Partidos e das
campanhas eleitorais uma outra e mais grave expressão.
Rompendo com o regime
democrático nascido com o 25 de Abril, o objectivo destas novas leis é retirar
aos membros do Partido a liberdade de decidir sobre a forma de organização,
impor ao PCP o modo de funcionamento de outros partidos e desencadear contra
ele um processo de devassa da vida interna e de abusiva limitação à angariação
dos meios que lhe permitam garantir a sua intervenção política.
Estas leis que visam o PCP,
para além do que directamente estabelecem, abrem portas a todo o tipo de
ingerência em função das conveniências e da correlação de forças do momento e
constituem uma ameaça pendente sobre os que não se conformam com o modelo
dominante e têm um projecto político alternativo de sociedade.
A ilegítima e abusiva pretensão
de introduzir limitações às receitas com origem na recolha militante de fundos
a pretexto do significativo aumento da subvenção estatal visa essencialmente,
favorecendo os partidos como o PSD e o PS que em boa parte dela vivem, impor
restrições à angariação de meios financeiros e às possibilidades de intervenção
do PCP. Desiludam-se os que ambicionam através destas leis, por mais
monstruosas que sejam do ponto de vista democrático e constitucional, poder
levar o PCP a comprometer o seu funcionamento e a transformar-se naquilo que
nunca foi, não é, nem será: uma imitação do PSD, do CDS-PP ou do PS.
Reafirmando que o funcionamento
do PCP é incomparavelmente mais democrático que o de qualquer outro partido em
Portugal, o XVII Congresso sublinha o carácter inaceitável destas leis e
considera que o Partido deve desenvolver contra elas um combate no sentido da
exigência da sua revogação como objectivo de luta e imperativo para a afirmação
de um efectivo curso democrático na sociedade portuguesa.
São claros os objectivos destas
leis: enfraquecer e destruir o Partido. Desde logo pela tentativa de imposição
de preceitos e interpretações que conduziriam ao seu enfraquecimento, divisão e
desagregação. E, também, pelo uso dos mecanismos legais por si criados e em
função da correlação de forças em cada momento ingerir-se coercivamente na vida
do Partido a pretexto do não cumprimento da legislação.
É justamente tendo em conta
estes objectivos que o PCP tem de procurar encontrar respostas que, não
comprometendo o seu funcionamento nem aceitando procedimentos contrários aos
seus princípios e natureza de classe, não o exponham a riscos desnecessários.
A resistência e a luta contra
as leis sobre os Partidos e pela sua revogação devem ser asseguradas em
permanência pelas organizações e organismos do Partido, tendo como momentos
salientes a realização dos Congressos e Assembleias e as respectivas fases de
preparação. Com a certeza, também, de que o reforço do funcionamento
democrático do Partido constitui um elemento importante de resistência e luta.
O determinante papel do PCP na
luta pelo derrube do fascismo e pela conquista do regime democrático no nosso
país, dão-lhe uma autoridade inigualável. Em matéria de luta pela liberdade e a
democracia, o PCP não tem de receber lições de ninguém, muito menos dos seus
adversários políticos e inimigos de classe.
Na grave situação de Portugal e
do mundo, o PCP, orgulhoso da sua história, assegura o firme compromisso de
prosseguir com confiança e convicção inabaláveis a sua luta e intervenção pela
concretização do seu projecto.
O Partido Comunista Português,
partido necessário, indispensável e insubstituível para os trabalhadores, o
povo e o país, afirma a sua identidade comunista consagrada no Programa
e nos Estatutos como base da sua organização, intervenção e objectivos, cujos
elementos centrais o diferenciam e definem:
o objectivo da construção de
uma sociedade nova liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, das
discriminações, desigualdades, injustiças e flagelos sociais do capitalismo - o
socialismo e o comunismo;
a natureza de classe como
partido e vanguarda da classe operária e de todos os trabalhadores,
independente da influência, dos interesses, da ideologia e da política das
forças do capital, e que tem como características e preocupação uma estreita
ligação à classe operária, aos trabalhadores e ao povo em geral;
a base teórica, o
marxismo-leninismo, concepção materialista e dialéctica do mundo, instrumento
científico de análise da realidade, guia para a acção, ideologia crítica e
transformadora, sistema aberto, contrário à dogmatização bem como à revisão
oportunista dos seus princípios e conceitos fundamentais, que, em ligação com a
vida, constantemente se enriquece e se renova;
a estrutura orgânica e
princípios de funcionamento que assentam no desenvolvimento criativo do
centralismo democrático, de que são características básicas uma profunda
democracia interna, uma única orientação geral e uma única direcção central;
a concepção articulada das
tarefas nacionais e dos deveres internacionalistas, que considera
indissociáveis e complementares, e que o definem como partido patriótico e
internacionalista.
O Programa do PCP aprovado
no XIV Congresso, no qual se inscreve a luta por uma Democracia Avançada como
parte integrante e constitutiva da luta dos comunistas portugueses pela
construção do socialismo, corresponde à actual etapa histórica. As alterações
verificadas na situação nacional e internacional não põem em causa a
actualidade dos seus objectivos e propostas fundamentais que é necessário
afirmar e projectar junto dos trabalhadores, da juventude, do povo português.
Os Estatutos do Partido,
base essencial da sua natureza, correspondem às necessidades e exigências que
se colocam ao seu funcionamento e intervenção na fase actual. As alterações
cuja introdução é proposta são as consideradas estritamente necessárias em
função da experiência e avaliação própria do Partido. Referem-se no essencial:
à consideração da Comissão Central de Controlo como órgão de jurisdição; a uma
maior precisão do que significa a não admissão de fracções; à explicitação das
funções do Secretariado do Comité Central em matéria de administração do património
e dos recursos financeiros; ao estabelecimento de um prazo para recurso e à
indicação dos sítios Internet e edições electrónicas nacionais como imprensa do
Partido.
4.3. Autonomia e
independência
Organização, enraizamento,
influência, intervenção, unidade e coesão do Partido são questões essenciais
que, nas condições de hoje, se colocam com redobrada força para que possa
cumprir o seu papel. As forças e meios próprios são elementos decisivos para a
sua concretização.
Há quem queira fazer crer que o
caminho é a adopção de soluções desagregadoras, dissolução de compromissos e
princípios, liquidação do colectivo, dispersão dos indivíduos e ligações
difusas entre eles, apresentadas como aprofundamento da democracia, mas
escondendo de facto formas de controlo individual mais fortes, enfraquecimento
e empobrecimento real da democracia.
No entanto, agindo no quadro de
uma sociedade capitalista e numa situação de forte ofensiva do imperialismo e
do grande capital, face à sua forte organização e meios com que exercem o
poder, não é possível sustentar que um partido que tenha de facto como
objectivo a transformação social, possa travar a sua luta no quadro da
dissolução dos compromissos e princípios, da dispersão e da desorganização. Nos
dias de hoje, é ainda mais evidente, para um partido comunista, a necessidade
de uma sólida organização, assente em fortes compromissos entre os seus
membros, ligada às massas, com meios próprios de intervenção, que promova neste
quadro uma profunda democracia interna, a participação dos seus membros, a
iniciativa e a acção militantes.
A organização partidária é o
elemento decisivo. A
organização não pode viver fechada sobre si própria, tem de estar ligada às
massas e intervir na realidade concreta. Mas a organização, para ser isso
mesmo, implica vida colectiva, agregação entre os militantes e compromissos
sólidos de acordo com os princípios do Partido que assegurem a ligação entre
eles.
Um partido comunista para
cumprir o seu papel tem de basear-se nas suas próprias forças, na sua
organização, nos seus meios, na sua imprensa, nas suas iniciativas de
propaganda, nos seus quadros e militantes e na capacidade que estes têm de
informar, esclarecer, mobilizar e influenciar. É a única forma de garantir a
sua independência de análise, elaboração, decisão, posicionamento político e
intervenção. É a base de apoio e de projecção da intervenção de um partido que
existe para transformar a sociedade, acabando com a exploração e opressão e não
para ser mudado pela sociedade capitalista, formatado de acordo com os valores
desta e diluído como mais uma força política da órbita dos interesses
dominantes.
Há forças políticas que, pelos
interesses de classe que efectivamente servem ou pelo papel que desempenham de
colaboração e convergência com os interesses dominantes recebem apoios
decorrentes da influência que o grande capital readquiriu na sociedade
portuguesa e podem até não ter organização, a não ser para certos momentos,
nomeadamente os processos eleitorais. Há forças que na prática foram criadas
pelos meios de comunicação social e insufladas por eles de tal maneira que se
acabasse esse apoio a sua projecção pública deixaria de existir. Essas forças
políticas cumprem o seu papel e têm apoio e projecção para esse efeito. Mas o
PCP, com a sua natureza e objectivos, reclamando o direito de ser tratado sem
discriminações, não pode basear a sua acção nesses meios. A garantia da sua
independência e capacidade de intervenção exige que conte essencialmente com as
suas próprias forças.
O PCP, determinado a cumprir o
seu papel, afirma o propósito de enfrentar as acções e campanhas que contra ele
são desencadeadas e manifesta a sua determinação de prosseguir no reforço da
sua influência social, política e eleitoral, no reforço da sua organização e
intervenção. Considerando as exigências que se colocam no presente e no futuro
estabelece como objectivo prosseguir o trabalho para assegurar um partido mais
coeso, mais forte e mais influente, um partido mais apto para resistir, mais
capaz para intervir, mais preparado para avançar.
4.4. Direcção
O trabalho de direcção do
Partido ao longo dos últimos anos foi sujeito a provas exigentes. O quadro
internacional, a situação nacional e a ofensiva geral contra o Partido em que
se inserem as leis sobre os partidos e a acção fraccionista com grande apoio,
promoção e amplificação na comunicação social, exigiram novas e mais complexas
respostas ao trabalho de direcção, entre as quais se destacaram a necessidade
de uma intervenção estratégica de acordo com o projecto do Partido a par de uma
forte intervenção e resposta quotidiana; as realizações e prioridades
partidárias articuladas com acontecimentos e iniciativas fruto da dinâmica
política e social e de uma constante dispersão mediática, a acção política e o
contributo para o desenvolvimento da acção de massas associados com as medidas
de reforço da organização partidária e de formação política e ideológica.
Neste quadro de grande
complexidade, a direcção do Partido no seu conjunto deu uma resposta
apreciável, assegurando que o PCP cumprisse o seu papel para com os
trabalhadores, o povo e o país, reforçasse as suas raízes nas empresas e locais
de trabalho, afirmasse as suas tarefas internacionalistas, enfrentasse e
contivesse a agressiva ofensiva contra ele dirigida, intervindo e afirmando o
Partido e o seu projecto.
Evidenciaram-se entretanto
insuficiências, dificuldades e problemas que é necessário ultrapassar,
nomeadamente no aprofundamento de algumas questões de fundo, no trabalho
colectivo em articulação com a resposta imediata exigida, na coordenação global
do trabalho partidário, na capacidade de definir prioridades e de concentrar
atenções nas prioridades definidas, no arrastamento ou adiamento da solução de
problemas, num insuficiente controlo de execução.
É necessário cuidar mais do estilo
de trabalho do Partido a todos os níveis. Um estilo que combine: uma grande
operatividade e forte dinâmica de intervenção com o estudo das realidades; a
valorização do trabalho colectivo com o incentivo à participação e iniciativa
individuais; uma direcção e orientação central únicas com descentralização na
acção. Um estilo que concentre atenções nas prioridades definidas e imprima
celeridade à solução de problemas; que tenha como preocupação permanente a
integração na dinâmica partidária de um número sempre crescente de membros do
Partido e promova a assunção de responsabilidades, a crítica e a autocrítica e
a frontalidade e combata a rotina, o burocratismo, o deixa andar, o praticismo,
que introduza confiança na possibilidade de superar dificuldades e limites, que
aprofunde a análise e a discussão políticas e aperfeiçoe a coordenação do
trabalho.
O Comité Central cumpriu
no essencial o seu papel, exercendo as suas responsabilidades em momentos
fundamentais na complexa situação em que o Partido desenvolveu a sua actividade
nos últimos anos. Realizou 22 reuniões. Manifestaram-se no entanto
insuficiências no aprofundamento de análises e orientações sobre questões
relevantes da situação nacional e internacional e da situação e intervenção do Partido.
O Comité Central deve assumir mais o trabalho superior de direcção do Partido,
com o reforço da participação dos seus membros e uma abordagem de questões
essenciais sem prejuízo da sua contribuição para a orientação política mais
imediata.
O Comité Central a eleger pelo
XVII Congresso, reflectindo a natureza e os objectivos do Partido, deve ter uma
larga maioria de operários e empregados, com uma forte componente operária, uma
composição diferenciada que assegure uma estreita interligação com os principais
sectores da actividade partidária, a participação de quadros inseridos nas
organizações e movimentos de massas com destacada intervenção em diferentes
áreas da vida nacional, quadros funcionários e não funcionários, uma mais
elevada participação juvenil, designadamente da JCP, e feminina. A renovação e
rejuvenescimento são aspectos que devem ser assegurados. O novo Comité Central
a eleger pelo XVII Congresso deve manter uma dimensão próxima da actual, não
devendo no entanto ultrapassá-la.
Considera-se que a estrutura da
direcção central deverá continuar a assentar no Comité Central, na Comissão
Política e no Secretariado do Comité Central (assumindo estes dois organismos a
direcção executiva do trabalho partidário), e bem assim na Comissão Central de
Controlo com os ajustamentos de funções e critérios de composição que se
considerem adequados face à experiência e à componente das suas funções como
órgão de jurisdição. A articulação entre a estrutura central e as DOR poderá
justificar, além de outras soluções intermédias no plano regional, a existência
de reuniões, mais ou menos regulares, com a participação dos membros da
Comissão Política, Secretariado, dos responsáveis das DOR e de sectores
centrais da actividade partidária, com definição que o Comité Central avaliará.
As Direcções Regionais
assumem um papel fundamental na ligação entre a direcção central e as
organizações partidárias e são decisivas, no âmbito das suas competências, para
a direcção do trabalho partidário e da iniciativa política regional.
Persistiram nos últimos anos situações de DOR com dimensão e peso muito
diferenciado e com meios limitados face às suas necessidades. Mantendo-se a
regra de DOR de âmbito distrital prosseguiu a experiência de DOR com outros
âmbitos. Estas experiências devem ser prosseguidas, avaliando-as no quadro da
necessidade de resposta do Partido, adoptando as soluções mais adequadas a cada
caso. Os organismos intermédios, assumindo o papel de ligação com a estrutura
de direcção central e o de contributo para a coordenação e direcção do trabalho
em algumas regiões, são uma solução que precisa ser alargada e aprofundada,
reforçando o seu papel e competências. Deve ser estimulado e aprofundado o
relacionamento e ligação com os organismos de base. Ao mesmo tempo é necessário,
no quadro das possibilidades existentes, assegurar que as DOR disponham dos
meios indispensáveis para a sua intervenção. Deve prosseguir no quadro da
adequação das estruturas e quadros às possibilidades e meios existentes, uma
ajustada distribuição de forças e meios entre a estrutura central e o conjunto
das DOR, prosseguindo a concentração de actividades e tarefas na estrutura
central que se entenda adequada para a eficácia e melhor utilização de meios,
designadamente no apoio às organizações partidárias, e uma melhor coordenação
com a acção institucional.
Os organismos intermédios de
direcção (Comissões Concelhias, Organismos de Direcção de Sectores
Profissionais ou de Empresas, Comissões de Freguesia) têm uma grande
importância no trabalho partidário. A sua dimensão e papel são muito
diferenciados. É necessário alargar o seu número, elevar o seu papel de
direcção, acentuar a sua iniciativa e intervenção política, assim como a sua
contribuição para o estímulo ao desenvolvimento da luta de massas e ao
fortalecimento das organizações dos trabalhadores e das populações. É preciso
assegurar a sua maior intervenção para a criação e dinamização das organizações
de base, no plano local e principalmente nas empresas e locais de trabalho.
As estruturas de apoio à
direcção central (áreas, comissões, grupos de trabalho e de estudo) desempenham
um papel de grande importância na análise dos problemas, no contributo para a
definição de orientações e no acompanhamento da acção partidária.
Manifestaram-se no seu trabalho desequilíbrios, irregularidades e
desajustamentos face às possibilidades, disponibilidades de quadros e
prioridades. É necessário reequacionar a sua dimensão e articulação em função
das prioridades e disponibilidades de quadros nas diversas áreas, das
possibilidades de participação das DOR, evitando duplicações e assegurando um
funcionamento mais regular e eficaz das estruturas que venham a ser
constituídas. Deve ser valorizado e estimulado o trabalho colectivo no
funcionamento destas estruturas ao mesmo tempo que, inserido nesse estilo de
trabalho, se deve procurar alargar o numero de camaradas chamados a contribuir,
por meios diversos, incluindo pela colaboração individual.
A coordenação de empresas e
sectores de âmbito nacional, confirmadamente importante, continua
excessivamente marcada por questões sindicais. É indispensável acentuar o seu
contributo para a intervenção do Partido e o reforço da organização partidária.
A responsabilidade de membros dos organismos executivos por este trabalho revelou-se
útil, embora a acumulação de tarefas que em alguns casos se verifica justifique
que outros camaradas possam assumir responsabilidades neste trabalho.
A forma específica de exercício
democrático do poder pelos comunistas que decorre da identidade e dos
objectivos do PCP - em diferentes situações, no Partido, nas organizações
sociais, nas autarquias, instituições e órgãos de soberania - é marcada por
traços, desenvolvidos nas Resoluções Políticas do XV e XVI Congressos, que lhe
dão uma especificidade própria. A experiência do exercício do poder pelos
comunistas é uma realidade que é preciso valorizar, ao mesmo tempo que é
indispensável prosseguir um esforço permanente para o seu aprofundamento,
corrigindo erros, aperfeiçoando criativamente métodos e formas de trabalho,
sendo exigente e rigoroso de modo a salientar a diferença da postura e da acção
dos comunistas.
4.5. Quadros
São milhares os quadros,
estreitamente ligados aos problemas e interesses das massas, actuando em
diversas frentes de luta, que asseguram diariamente a actividade revolucionária
do Partido e são garante da sua capacidade de intervenção.
A situação coloca hoje ao
Partido e aos seus membros questões novas e complexas que tornam mais exigente
a formulação e concretização de uma correcta política de quadros, audaciosa e
simultaneamente ponderada, adequada às novas realidades. A ajuda aos quadros
(partidária, pessoal e humana), a sua preparação e formação política e
ideológica, o seu conhecimento e avaliação, a sua promoção e responsabilização
são elementos fundamentais da política de quadros do Partido essenciais para o
seu fortalecimento devendo constituir uma preocupação permanente dos organismos
de direcção aos vários níveis.
Os quadros devem ser avaliados
pelo seu trabalho, pelas suas qualidades e capacidades, pelo seu empenhamento
na actividade revolucionária do Partido. Desde o XVI Congresso deram-se passos
positivos na avaliação e conhecimento dos quadros, quer a nível de cada DOR,
quer a nível central. O levantamento realizado pela CCQ relativo aos quadros
funcionários é uma importante base de trabalho para a sua melhor avaliação.
A promoção de quadros a
tarefas de maior responsabilidade, particularmente a promoção de quadros
jovens, é uma condição essencial para o desenvolvimento e reforço do Partido.
Embora com excepções que importa examinar, os passos dados nesse sentido, ainda
que insuficientes, revelaram-se positivos. É necessário responsabilizar mais
quadros do Partido que têm condições e capacidade para assumir tarefas de maior
responsabilidade, quer no acompanhamento de organizações de base, concelhias,
de sector, ou outras, quer com a sua intervenção em estruturas de âmbito
nacional.
No conjunto dos quadros,
assumem particular importância, para a indispensável afirmação das características
e funcionamento do PCP, os funcionários do Partido que dedicam a sua vida à
acção política e revolucionária. Tem-se revelado correcta a promoção e
responsabilização em tarefas do Partido de quadros jovens, particularmente
quadros vindos da JCP, que têm dado um bom contributo ao desenvolvimento do
trabalho partidário, bem como o apoio central a novas funcionalizações, que tem
permitido a várias Organizações Regionais funcionalizarem ou subsidiarem
quadros prioritariamente jovens.
A formação dos quadros e
a elevação do nível político e ideológico dos militantes exigem, ao mesmo
tempo, o estudo individual, a leitura da imprensa e dos documentos fundamentais
do Partido, o estudo do marxismo-leninismo, o estudo de questões nacionais,
regionais, de sectores de actividade, a participação regular na actividade
partidária, em reuniões, assembleias, encontros, conferências, seminários,
debates e outras iniciativas, a frequência de cursos políticos que se têm
revelado um precioso auxiliar em estreita ligação com a realidade, a
experiência e as tarefas práticas do Partido.
Desde o XVI Congresso
regista-se como um dado positivo, embora insuficiente, os avanços sensíveis
registados com a realização, na Escola do Partido, de 40 cursos dirigidos a
colectivos do Partido e da JCP frequentados por 600 camaradas, para além de
outros cursos e debates realizados por organizações do PCP e da JCP com o apoio
da Escola.
De destacar a experiência
positiva de organização de cursos, com programas específicos, para funcionários
do Partido e da JCP, para quadros jovens operários e para delegados ao Encontro
Nacional do PCP sobre a acção e organização do Partido nas empresas e locais de
trabalho e às Assembleias das Organizações Regionais, que referiram o interesse
em participar em cursos, assim como, embora noutro plano da formação, a
realização de cursos de informática para funcionários do Partido.
São direcções fundamentais da
política de quadros:
ampliar e reforçar o núcleo de
quadros do Partido através da promoção e responsabilização audaciosa de novos
quadros, particularmente operários, jovens e mulheres; promover uma acção e
concentração de esforços com um objectivo associado à formação e ajuda aos
camaradas que assumam novas responsabilidades;
Prestar cuidadosa atenção à origem
social dos quadros, particularmente dos funcionários, não perdendo de vista que
o reforço do Partido está estreitamente ligado à composição social dos seus
quadros;
elevar o nível político do
trabalho partidário em todos os organismos e organizações do Partido, visando
fazer corresponder o desenvolvimento político dos quadros às necessidades do
Partido e à complexidade das suas tarefas actuais e futuras;
melhorar o acompanhamento,
conhecimento e ajuda aos quadros; integrar os quadros em organismos colectivos
e proceder a uma justa divisão de tarefas tendo em conta as possibilidades e
capacidades de cada um;
valorizar o papel dos
funcionários, dando mais atenção à sua selecção, acompanhando a sua evolução
política, ideológica e cultural;continuar a avaliação do quadro de funcionários
tendo em vista a sua renovação e rejuvenescimento; fazer corresponder o quadro
de funcionários às necessidades e aos meios financeiros do Partido;
reforçar o trabalho de formação
política e ideológica dos quadros, seja pelo incentivo ao estudo individual
seja pela frequência de cursos políticos, procedendo à utilização intensiva da
Escola do Partido, à ampliação e renovação do colectivo de formadores, à
revisão de programas e textos de apoio, à actualização de métodos pedagógicos,
à implementação de novos cursos e iniciativas de formação ideológica que vão ao
encontro das necessidades e do reforço do Partido.
4.6. Organização
A organização partidária é o
elemento decisivo para que o Partido intervenha e concretize os seus objectivos.
O Partido conta com milhares de militantes activos, conscientes, determinados,
um grande colectivo partidário, único na sociedade portuguesa pela sua
generosidade, combatividade, militância e capacidade de mobilização e
intervenção. A organização respondeu a grandes exigências de intervenção desde
o XVI Congresso, assegurando uma intensa e qualificada acção partidária.
A acção nacional de contacto
com os membros do Partido para esclarecimento de situações, actualização de
dados e contactos e elevação da participação na vida partidária, em curso há um
ano e meio, constitui uma das mais relevantes no âmbito do reforço do Partido
desde o XVI Congresso.
Tarefa complexa, de grande
envergadura e nunca antes concretizada, está a constituir um assinalável êxito
na recepção dos membros do Partido contactados e assume uma grande importância
partidária. Esta acção apontada pelo XVI Congresso e definida pela Conferência
Nacional do Partido sobre o novo quadro político e o reforço do Partido (Junho
de 2002) assumiu um papel muito importante no contributo para esse mesmo
reforço. A sua plena concretização significará um avanço de grande importância
no reforço da organização partidária que abre caminho a novos e importantes
passos no reforço do Partido.
Entre outros aspectos, esta
acção contribuiu para o alargamento do núcleo activo, o aumento do valor das
quotizações, o estabelecimento de formas diversificadas para o seu pagamento
regular e a ampliação do número de camaradas que efectivamente as pagam, a
elevação do número de camaradas com tarefas e responsabilidades, a actualização
das empresas e locais de trabalho de milhares de militantes, o apuramento de
moradas e endereços actualizados, incluindo endereços electrónicos, permitindo
utilizar as novas tecnologias da informação no contacto com um número
considerável de militantes, o alargamento da difusão da imprensa partidária, em
particular do Avante! e o aumento da capacidade de mobilização
partidária.
Um dos maiores impactos desta
acção foi o contributo para o esclarecimento da situação dos inscritos no
Partido, alguns dos quais sem contacto há muitos anos, permitindo assim avançar
muito no conhecimento da realidade partidária. Com base no trabalho realizado
pode desde já referir-se que o esclarecimento da situação dos membros do
Partido deverá apontar para um número global de efectivos quando terminar a
acção de contacto, da ordem dos 75 mil a 80 mil.
Este número, a confirmar-se,
reflectirá uma redução do número de inscritos, em grande parte aparente uma vez
que em muitos casos se trata de pessoas que há mais de 20 anos não tinham
contacto com o Partido e cuja situação só agora foi possível esclarecer com a
acção nacional de contactos com os membros do Partido. Entretanto, o número
referido traduz não apenas um número de inscritos mas de facto o número de
membros do Partido com ligação ou contacto, o qual, comparado com o apurado no
último balanço de organização em que eram referenciados cerca de 69 mil membros
do Partido nessas condições, significará um real reforço do Partido.
A acção de contacto e
esclarecimento da situação dos efectivos partidários envolveu já mais de metade
dos inscritos no Partido. É necessário prosseguir e intensificar esta acção e
simultaneamente é indispensável que os membros do Partido que ainda não fizeram
a actualização dos seus dados tomem a iniciativa de contactarem as organizações
partidárias para o fazerem. No sentido de fazer o apuramento da realidade da
organização partidária, de contribuir para uma mais rápida finalização deste trabalho
e de permitir uma concentração de atenções em linhas de reforço do Partido que
passem pela elevação dos níveis de estruturação, de funcionamento colectivo e
participação, de militância e de intervenção, aponta-se o dia 30 de Junho de
2005 como a data a partir da qual os efectivos partidários aos vários níveis
passam a ser contabilizados pelo número de membros do Partido que por sua
iniciativa ou iniciativa das organizações partidárias têm os seus dados
actualizados comprovando assim também a sua vontade de continuarem como membros
do Partido. Os membros do Partido que nesta data não tenham os seus dados
actualizados, quando por sua iniciativa e/ou contacto da organização a sua
situação for esclarecida e os respectivos dados actualizados passam a ser contabilizados
nos efectivos partidários.
O Balanço da organização
elaborado no terceiro trimestre de 2004, resultante da contabilização das
fichas de membros do Partido existentes, mas em que é já visível parte do
resultado da acção nacional de contacto com os membros do Partido, reflecte
assim um número de inscritos (113 mil) intermédio entre os dados apurados no
Balanço de Organização de 1999 e o que se estima venha a ser o número de
membros do Partido a apurar no Balanço da Organização a elaborar após Maio de
2005 na base de critérios de contabilização dos efectivos partidários decididos
pelo XVII Congresso (75 mil a 80 mil membros). O Balanço de Organização que
acabou de ser elaborado, apesar das limitações resultantes de não reflectir
ainda o fundamental dos resultados da acção nacional de contactos com os
membros do Partido, apresenta um conjunto de dados úteis na consideração da
realidade partidária. Aumenta a percentagem dos membros do Partido com ligação
ou contacto e daqueles que estão integrados em organismos. Estabiliza a
percentagem dos membros do Partido a pagar quotas, representando um número
insuficiente. A composição social, etária e por sexos dos efectivos não
apresenta alterações significativas. A composição social traduz uma forte
composição operária (perto de 50%) com uma ligeira redução. Os empregados
representam 23,8%, verificando-se uma larga maioria de operários e empregados
(74%). A percentagem de intelectuais e quadros técnicos, pequenos e médios
empresários e estudantes sobe ligeiramente. A proporção de mulheres aumenta
para 25,6%. Relativamente à composição etária, sem contar com os membros da JCP
que não são membros do Partido, 13,4% têm menos de 40 anos, 22% têm entre 41 e
50 anos, 34,2% entre 51 e 64 anos e 29,5% mais de 64 anos. Continua a
verificar-se o aumento do número de membros do Partido com mais de 50 anos que,
tal como já foi assinalado no XVI Congresso corresponde à manutenção no Partido
de dezenas de milhares de membros que a ele aderiram em diferentes fases da
vida nacional e ao alargamento da esperança de vida média da população na
sociedade portuguesa. O número de jovens continua a ser insuficiente, embora
seja de notar como positivo o facto de cerca de 40% dos novos militantes que
aderiram ao Partido nos últimos anos terem menos de 30 anos, além dos milhares
de jovens que aderiram à JCP. O número de organismos, incluindo as organizações
que reúnem em plenário, 2490, estabilizou, com ligeiro crescimento. No plano
territorial contam-se mais de 700 organismos traduzindo uma tendência de
estabilização. Mantêm-se as insuficiências no plano das empresas e locais de
trabalho.
O XVI Congresso definiu
importantes orientações para o reforço do Partido que a Conferência Nacional de
Junho de 2002 especificou e calendarizou lançando o movimento geral de
reforço da organização partidária «Sim, é possível! Um PCP mais forte»,
cuja concretização envolveu significativo empenhamento das organizações
partidárias.
Deram-se passos no reforço da
organização e intervenção junto da classe operária e dos trabalhadores nas
empresas e locais de trabalho, embora desiguais, aquém das necessidades e
insuficientes para vencer as fragilidades existentes. Intensificou-se a atenção
e intervenção sobre os problemas dos trabalhadores e das populações. A acção
junto da juventude desenvolveu-se com destaque para o papel e intervenção da
JCP. Embora de forma insuficiente, avançou-se na responsabilização de quadros e
no rejuvenescimento de organismos.
O recrutamento de novos
militantes teve uma significativa expressão, atingindo cerca de 6000. Deu-se um
grande avanço na avaliação da organização e dos efectivos partidários, na
ligação e contacto com os membros do Partido e ainda que de menor escala, na
sua integração, em formas diferenciadas, na vida partidária. A dinâmica de
realização de assembleias das organizações foi significativa, tendo-se
realizado mais de 400, apesar das insuficiências que continuaram na realização
de assembleias das organizações de base.
Os passos dados na aplicação de
orientações, cuja concretização à partida era considerada muito difícil, de que
são exemplo o alargamento da difusão da imprensa partidária, os níveis de
recrutamento alcançados ou os resultados da acção nacional de contacto com os
membros do Partido numa parte significativa das organizações, mostram que, além
de necessário, é possível um PCP mais forte.
No entanto, tal realidade não
ilude debilidades, insuficiências e estrangulamentos que se mantêm,
nomeadamente em aspectos como: a estruturação partidária; o funcionamento e a
intervenção de muitas organizações de base, nomeadamente no plano dos locais de
residência; a responsabilização de quadros; a militância e a dimensão do núcleo
activo; a organização e intervenção do Partido nas empresas e locais de
trabalho e a acção junto de diversas camadas e sectores sociais.
O PCP é indispensável e
insubstituível na defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país,
na luta por uma alternativa que garanta um Portugal com futuro, na afirmação do
projecto comunista. A luta pelos seus objectivos, travada em cada momento com
as forças de que dispõe, exige, para a concretização do seu projecto, um PCP
mais forte.
Estando em desenvolvimento a
acção nacional de contacto com os membros do Partido, que é preciso completar,
o XVII Congresso aponta como questão central a dinamização e concentração de
atenções do colectivo partidário no lançamento e concretização de uma nova fase
do movimento geral de reforço da organização partidária «Sim, é possível! Um
PCP mais forte». Com esta acção visa-se concretizar um profundo avanço na
agregação, funcionamento colectivo, estruturação e capacidade de intervenção,
de modo a que o Partido esteja mais coeso e preparado para responder às grandes
exigências que se lhe colocam.
Neste quadro, o XVII Congresso
considera como orientações fundamentais para o reforço do Partido a concretizar
de forma integrada:
reforçar a acção junto da
classe operária e dos trabalhadores, levando à prática as conclusões do
Encontro Nacional sobre a acção e organização do Partido nas empresas e locais
de trabalho realizado em Outubro de 2002, designadamente a responsabilização de
mais quadros pelo trabalho junto dos trabalhadores, nomeadamente funcionários
do Partido; o desenvolvimento de trabalho organizado do Partido nas empresas
prioritárias, em particular as com mais de 1000 trabalhadores e/ou de
importância estratégica; o alargamento e criação de sectores profissionais ou
de empresas como forma de estruturação das organizações regionais e concelhias,
privilegiando a organização a partir do local de trabalho e elevando
significativamente o número de membros do Partido organizados nesta base; a
intervenção política e o estímulo à luta como orientações fundamentais
associadas ao reforço da organização; o aprofundamento do estudo da realidade e
da sua evolução;
promover uma acção geral de
estruturação da organização partidária, reforçando a estrutura intermédia (DOR,
comissões concelhias, de freguesia, organismos sectoriais e de empresas) e o
apoio à sua intervenção; assegurando a definição nominal das organizações de
base - as células - (no plano dos locais de trabalho e de residência, a partir
não apenas do número de membros mas da disponibilidade de participação e
procedendo aos agrupamentos necessários de modo a garantir que tenham um
funcionamento efectivo), bem como mantendo o seu funcionamento regular quer na
base de um maior número de organismos, quer da generalização de plenários
regulares, de preferência mensais, e dinamizando a sua intervenção;
fortalecendo e alargando a estrutura e as formas de coordenação da acção junto
de diversas camadas sociais (juventude e apoio à JCP, intelectuais e quadros
técnicos, PME, pequenos e médios agricultores, pescadores, mulheres,
reformados, deficientes);
intensificar a responsabilização
de quadros, a sua formação e ajuda de modo a que assumam e desempenhem com mais
facilidade as novas responsabilidades, contribuindo para o rejuvenescimento de
organismos, a elevação da capacidade de direcção e o aumento da intervenção do
Partido. Sendo a responsabilização de quadros um trabalho de sempre, exige a
concentração de atenções em determinados momentos para vencer rotinas e
assegurar um maior aproveitamento das potencialidades existentes. Neste quadro,
o XVII Congresso define a necessidade de promover uma acção geral de
levantamento e responsabilização de quadros com linhas de apoio à sua formação
para as novas responsabilidades que assumem, de modo a contribuir para o
fortalecimento, renovação e rejuvenescimento dos organismos existentes aos vários
níveis e constituição de mais organismos;
intensificar a realização das
assembleias das organizações, assegurando a sua regularidade, não ultrapassando
um período de três anos sem a sua realização, com particular atenção para as
organizações de base (cuja periodicidade tem vantagem em ser anual);
alargar a compreensão de que a
militância, a participação de cada militante, é o elemento decisivo da força do
Partido e assegurar que um maior número de membros do Partido assuma tarefas
regulares ou permanentes por pequenas que sejam, aproveitando as
disponibilidades e capacidades de cada militante e encorajando a sua
iniciativa;
intensificar o recrutamento de
novos militantes (em particular operários e outros trabalhadores, nomeadamente
nos grandes sectores nacionais, jovens e mulheres), garantindo a sua integração
e responsabilização, dando-lhes a conhecer o Programa e os Estatutos,
promovendo a sua formação na acção partidária e em iniciativas específicas;
promover uma melhor integração
dos membros do Partido em organismos, assegurar formas que facilitem a
participação, com prioridade para o enquadramento daqueles que têm acção
militante, estimular a distribuição de tarefas, o seu cumprimento e a prestação
de contas, reforçar as estruturas (de contacto, distribuição da imprensa
partidária, recebimento de quotização, etc.) e alargar o recurso a outras
formas que permitam uma maior ligação ou contacto com o conjunto dos membros do
Partido (correio, telemóvel - SMS, correio electrónico);
assegurar uma mais rápida e
regular actualização da situação, dados e contactos dos membros do Partido,
realizando anualmente o contacto com uma parte dos militantes com este
objectivo, proceder a uma mais regular avaliação dos efectivos partidários;
alargar a compreensão dos organismos
do Partido de que a organização não é um fim em si mesmo, mas sim um
instrumento para a acção e que, por isso, os problemas dos trabalhadores, da
população, das áreas em que actuam e as linhas de orientação, propostas e
iniciativas para lhes dar resposta devem estar no centro das suas atenções.
Melhorar neste sentido o conteúdo das reuniões e a sua preparação, bem como o
acompanhamento da concretização das decisões tomadas;
dinamizar os centros de
trabalho, importante elo e suporte físico da nossa organização, ponto de
encontro e base de apoio do trabalho partidário.
4.7. Intervenção política e
ligação às massas
O PCP tem na sua ligação e
enraizamento no seio dos trabalhadores e do povo a condição essencial da sua
força indestrutível. Alargar a intervenção política e aprofundar a ligação do
Partido às massas são, por isso mesmo, das tarefas mais prementes e essenciais
que se colocam ao Partido e devem estar na primeira linha de prioridades de
todos os organismos e militantes.
A sociedade nova, livre,
solidária, liberta da exploração do homem pelo homem e por isso verdadeiramente
democrática por que lutamos terá de resultar da força e da determinação da luta
de massas. E em primeiro lugar da luta travada no local onde é mais latente o
confronto dos instrumentos de classe: a empresa e o local de trabalho.
A luta de massas, elemento
determinante da transformação social e política é, em regra, facilmente
entendido no plano teórico pelo colectivo partidário como um princípio central
da actividade e intervenção políticas do Partido. Até porque, directa ou
indirectamente, são conhecidos exemplos ou experiências de luta em que ficou
claro que o capital não cede em nada sem a força e a determinação da luta. A
participação dos trabalhadores e das populações na luta e na actividade
política e social é por isso, pela solidez política que representa e pela
transformação que provoca, um alicerce estratégico que permite alargar a
resistência e passar à ofensiva pelos nobres objectivos por que lutamos.
Não obstante os avanços nesta
importante área de trabalho, continuam a evidenciar-se dificuldades para
introduzir na discussão e concretizar na actividade diária o que tão facilmente
é entendido no plano teórico.
Entre as principais
dificuldades detectadas anota-se a ausência de discussão dos problemas dos
trabalhadores e das populações com origem, entre outros aspectos, na não
realização de reuniões, ou na falta de espaço para a sua discussão nos
organismos ou ainda porque das reuniões e conclusões se acaba por dar prioridade,
não à luta como melhor caminho para a sua resolução mas à mera diligência pela
acção dos eleitos locais junto dos órgãos do poder. As formas de ultrapassar as
dificuldades detectadas devem ser encontradas de acordo com cada situação
concreta.
A alteração da situação
política a favor dos trabalhadores e do povo português exige o contributo
decisivo da actividade política de todos os organismos e de todos os militantes
do Partido, e que exerçam as suas tarefas no trabalho ligado à organização, nas
estruturas dos trabalhadores, nos órgãos de Poder Local ou em associações do
mais diverso tipo. Passa pela mais ampla iniciativa das organizações e
militantes na esfera da sua intervenção e no quadro geral da orientação
partidária.
Na preparação e desenvolvimento
das acções de massas, sem prejudicar os objectivos imediatos e concretos que as
animam, conhecendo os problemas, o sentimento e a disponibilidade para a luta,
é de ter em conta que a alteração da situação política exige uma mais ampla e
profunda consciência social e política das massas só possível de adquirir
através do carácter transformador e revolucionário da luta.
Às organizações, aos
organismos, a todos os militantes cabe a responsabilidade de transformar em
natural e permanente a promoção de iniciativas e acções do próprio Partido
sobre o meio em que actuam e, a partir dos problemas concretos, elaborar
propostas e tomadas de posição, promover o diálogo com sectores de opinião
democráticos, cidadãos independentes, estruturas e instituições de carácter
económico, social, cultural e científico, e dinamizar a luta dos trabalhadores
e das populações.
Nesta acção, cabe um papel
importante aos militantes do Partido com tarefas nas organizações de massas -
eleitos nas estruturas dos trabalhadores, nos órgãos de poder local, nas
comissões de utentes e de moradores, colectividades, associações do mais
diverso tipo - , pela possibilidade que têm de contactar e influenciar muitos
homens e mulheres no sentido de os levar a uma maior intervenção política na
sociedade, a acreditar na força transformadora da luta e a reforçar a sua
aproximação ao Partido. Seja qual for a tarefa que cada militante desempenhe,
seja qual for a área onde desenvolva e dirija a actividade partidária nunca
pode perder de vista que, com a sua acção, está a ajudar a luta mais geral que
o Partido trava a nível nacional e que, por isso, necessita de enquadramento e
discussão política no Partido.
O carácter democrático,
humanista e libertador do projecto do nosso Partido potencia um extraordinário
poder de atracção, quando conhecido e compreendido pelas massas. Divulgá-lo e
afirmá-lo como a única alternativa ao sistema capitalista é, em articulação com
as acções de massas e a iniciativa sobre problemas concretos, tarefa de
carácter estratégico na situação actual, para marcar a diferença em relação aos
partidos que defendem o capitalismo, abrir perspectivas aos trabalhadores,
rasgar novas janelas de futuro às camadas jovens e colocar na ordem do dia a
necessidade de lutar pelas grandes causas da humanidade: pôr fim à exploração
do homem pelo homem, lutar pela paz, construir a sociedade socialista e
comunista.
4.8. Informação, propaganda,
imprensa do Partido e Festa do Avante!
A intervenção do Partido,
assente no papel decisivo da organização partidária e tendo como elemento
principal a luta de massas à qual se associa a luta institucional, exige
coordenação e unificação de forças e integra outras linhas, meios ou
instrumentos de acção em que se destacam a imprensa partidária, a informação e
propaganda, a Festa do Avante! e outras iniciativas partidárias.
A desproporção no acesso aos
grandes órgãos de comunicação social que se tem vindo a agravar obriga os
comunistas a reforçar o combate persistente pela igualdade de tratamento por
parte dos media.
A intervenção partidária na
luta quotidiana visando alcançar os objectivos de curto, médio e longo prazos -
desenvolvendo-se a partir de linhas, meios e instrumentos de intervenção que
têm as suas dinâmicas próprias e estando ligada à iniciativa de cada organização
- , terá reais possibilidades de influenciar a vida política e de ter êxito se
o Partido tiver a capacidade de coordenar e unificar num dado momento o
conjunto das suas forças para uma determinada acção ou objectivo. Apesar de
experiências positivas, mantêm-se dificuldades de o fazer de modo sistemático,
excepto nas campanhas eleitorais e, mesmo aí, com insuficiências.
Impõe-se prosseguir a
experiência de realização de grandes campanhas políticas de massas de protesto,
proposta e reivindicação promovidas pelo Partido, cuidando da sua programação
de forma a deixar espaço para as dinâmicas sectoriais, regionais e locais, e
não prescindindo da agilidade necessária para a decisão e resposta em função do
momento.
No conjunto do trabalho de
comunicação do PCP, que envolve muitos elementos e vertentes, tem
particular importância e relevo o papel da informação e da propaganda, que são
crescentemente essenciais e indispensáveis a quase todas as formas de
intervenção política do PCP.
Apesar de enormes restrições de
meios e recursos, os últimos quatro anos ficam marcados por uma intensa e
diversificada actividade de informação e propaganda, apoiada no trabalho
do Departamento de Propaganda, do Gabinete de Imprensa central e das
organizações regionais, entre as quais se destacam: o apoio a diversas
campanhas eleitorais nacionais e regionais; a promoção de acções nacionais de
informação e esclarecimento temáticas, como sejam o pacote laboral, a IVG e a
guerra no Iraque; a produção de numerosos materiais temáticos ou dirigidos e de
tempos de antena de rádio e de televisão; a manutenção actualizada do sítio do
Partido na Internet e a sua crescente utilização como meio de intervenção e
comunicação e também como instrumento de dinamização de acções de agitação; a
organização e circulação de diversas exposições temáticas, bem como a produção
de CD, DVD, sobre o 25 de Abril, Ary dos Santos, a imprensa partidária, a
conquista das oito horas de trabalho no campo; a crescente colaboração para a
concretização de grandes iniciativas do Partido e uma persistente actividade de
contacto com a comunicação social para difusão das posições e iniciativas
partidárias e para corresponder eficazmente às suas solicitações.
Um balanço do trabalho
desenvolvido nestas áreas comporta evidentemente o reconhecimento de numerosas
deficiências, lacunas e atrasos em relação a muitas questões, preocupações e
linhas de trabalho enunciadas em anteriores Congressos - e que mantêm no
essencial validade e actualidade - mas que, entretanto, não são de molde a
invalidar, tendo em conta os recursos limitados do Partido e a desequilibrada
correlação de forças no plano da luta das ideias, a valiosa contribuição da
acção desenvolvida.
As tendências, evoluções e
mudanças que percorrem a vida política e o sistema mediático, e a crescente
conexão destas duas áreas, longe de atenuarem a importância ou reduzirem o
papel da informação e da propaganda do Partido, apelam imperativamente ao seu
fortalecimento, crescente qualificação, melhoria e expansão: na razão directa da
necessidade de enfrentar a pressão exercida pelos critérios mediáticos no
sentido da fragmentação e distorção da realidade e da informação sobre ela, com
sacrifício da compreensão dos processos e da ligação entre os fenómenos; na
razão directa da necessidade de dotar os militantes, os eleitores do Partido e
largos sectores sociais de elementos de informação consistentes e verdadeiros
sobre a realidade nacional e as propostas do Partido, contrariando por esta via
o efeito de gritantes discriminações contra o PCP e de valores e critérios
dominantes nos media e na vida política que veiculam a superficialidade, o
conformismo, as viciadas generalizações sobre todos os partidos e fomentam a
amnésia política e impunidade dos responsáveis da política de direita; na razão
directa do valor acrescido que a informação e propaganda do Partido representam
para a própria dinamização da actividade partidária e para um maior contacto
directo das organizações e militantes com os sectores sociais e com as
comunidades em que estão inseridos.
Neste quadro, mantêm-se actuais
as questões, linhas de trabalho e orientações constantes da Resolução Política
do último Congresso, a que é necessário continuar a prestar particular atenção
e tomar decisões para a sua implementação:
reforçar uma qualificada e
continuada linha de trabalho central no domínio da informação e propaganda e da
relação com a comunicação social, apoiada em estruturas e quadros
especializados e capaz de assegurar a resposta às necessidades da actividade de
comunicação nacional do Partido e de garantir o necessário apoio complementar à
actividade e iniciativa própria das organizações, nomeadamente no sentido de
melhorar a preparação das iniciativas que, apesar de serem de âmbito local ou
regional, têm projecção e expressão nacional;
desenvolver, animar e apoiar
uma efectiva descentralização da iniciativa e do trabalho de comunicação,
nomeadamente ao nível das organizações de base, como elemento indispensável de
uma intervenção mais pronta, mais esclarecedora e mais próxima dos
acontecimentos e das pessoas - e, portanto, mais eficaz - e também como
contributo importante para um mais intenso relacionamento das organizações com
os trabalhadores e as populações;
mantendo conceitos e princípios
que têm orientado a actividade de comunicação do Partido (como é o caso da
defesa da coerência entre a forma e o conteúdo, da distinta valorização da
propaganda política relativamente à publicidade e aos seus critérios, da
harmonização da iniciativa descentralizada com elementos unificadores e
nacionais da mensagem política e da imagem, da valorização da organização do
Partido e dos seus militantes como factor decisivo de comunicação), estimular a
pesquisa e a inovação nos meios, nas linguagens e nas formas e progredir na
avaliação da eficácia e dos resultados do trabalho de comunicação, com base num
mais estreito relacionamento e diálogo com as organizações e no recurso a
elementos especializados das técnicas de comunicação e da área das Ciências
Sociais;
continuando a valorizar formas
clássicas e provadas de informação e propaganda como os boletins de célula, os
documentos sobre os vários problemas sentidos pelos trabalhadores e pelas
populações, e a colocação e exposição pública de materiais, promover a reflexão
e o estudo sobre as mudanças qualitativas em curso e no horizonte no sistema
mediático (massificação da Internet e comunicação social electrónica, televisão
e rádio digitais, multiplicação de canais, interactividade, alterações de
conteúdos e padrões de informação, etc.) e sobre os modos de o Partido
assegurar neste quadro uma activa e eficaz intervenção e projecção das suas
ideias e valores que tenha em conta a diversidade e diferenciação das pessoas a
quem se dirige, dos seus níveis de literacia e de graus de acesso às novas tecnologias
de informação;
combater concepções e políticas
que, a pretexto de justificadas e legítimas preocupações ambientais e de defesa
do património, que partilhamos, visam restringir e condicionar o exercício do
direito e da liberdade de propaganda política.
A Festa do Avante!
é expressão da Revolução de Abril que assegurou a liberdade e a democracia ao
povo português. Concretização da vontade, da iniciativa e da capacidade
colectiva dos membros do Partido, a Festa do Avante! é um importante
factor de mobilização e dinamização da organização do Partido.
Festa do PCP, do povo e da
juventude, a Festa é em cada ano de luta um momento alto de resistência,
tenacidade e determinação face à dura e prolongada ofensiva política de
direita. A Festa foi e continua a ser uma demonstração de camaradagem, de
fraternidade, de imaginação, de criatividade, de militância e capacidade de
organização, de valores democráticos, de solidariedade de classe e
internacionalista, de luta e de confiança na possibilidade de uma política diferente
e de uma sociedade melhor.
A imprensa partidária -
O Avante! e O Militante - constitui um instrumento insubstituível
quer na informação com verdade, quer na batalha das ideias e na formação
ideológica dos militantes comunistas, quer na divulgação das posições, análises
e orientações do Partido nos planos nacional e internacional, quer ainda no
reforço da organização partidária e no aumento da influência do Partido junto
dos trabalhadores e das populações.
No quadro actual, face à
fortíssima ofensiva anticomunista - potenciada pela crescente concentração da
propriedade dos media nas mãos de grandes grupos económicos e financeiros - a
importância da imprensa partidária assume uma expressão ainda mais relevante,
pelo que é necessário reconhecer que o Avante! e O Militante não
têm ainda o lugar necessário na actividade partidária e que a sua promoção e
difusão se apresentam como tarefa essencial a exigir a atenção permanente de
todo o Partido.
A experiência recente na
campanha de difusão do Avante! - muito positiva apesar das
insuficiências evidentes e da irregularidade de empenhamento das diversas
organizações - confirma as enormes potencialidades existentes e aponta, de
forma clara, o caminho da insistência e da persistência nos esforços visando
fazer chegar mais longe o órgão central do Partido. A linha de edições
especiais de que são exemplo os números sobre o pacote laboral (com uma edição
de 50 mil exemplares), sobre a saúde e sobre a lei das rendas de casa, ou a
produção do CD com o poema As Portas Que Abril Abriu de Ary dos Santos
constituiu um importante êxito a que importa dar continuidade.
O Avante!, órgão
central do Partido, desempenha um papel fundamental na informação e no
esclarecimento político e ideológico. Num tempo em que o grande capital domina
a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social, que servem os seus
interesses, o Avante! - informando sobre as lutas dos trabalhadores em
Portugal e no mundo, sobre a resistência dos trabalhadores e dos povos ao
imperialismo - assume-se como uma voz ímpar no panorama da imprensa nacional e
cuja leitura é cada vez mais necessária para uma compreensão real dos
principais problemas e desafios do mundo contemporâneo. O seu prestígio junto
dos trabalhadores e do povo é factor que potencia o alargamento da influência
do Partido. O papel que o Avante! representa para o conjunto do Partido
exige um contínuo aperfeiçoamento, uma melhor articulação com as organizações,
questão que implica, designadamente, a participação de todas as organizações e
militantes, com o fornecimento de informações, notícias e sugestões. Assim como
exige a adopção de medidas orgânicas de responsabilização pela difusão e venda
por parte das organizações, para alargar a difusão que a experiência mostra ser
possível.
O Militante, como
instrumento virado para a informação e formação políticas e ideológicas e para
a abordagem de questões de organização, cujo conteúdo também se tem
enriquecido, exige igualmente uma maior divulgação.
As edições electrónicas, com
destaque para o sítio do PCP e o sítio do Avante! na Internet,
representam uma importante forma de divulgação das propostas e projecto do
Partido e de interacção com um
vasto número de pessoas. É necessário prosseguir na sua dinamização numa
perspectiva que inclua simultaneamente uma visão global e uma preocupação
descentralizadora. A riqueza e diversidade temática já existente pode ser
ampliada e aprofundada com novos conteúdos, nomeadamente os relacionados com o
conhecimento, divulgação e valorização da história do Partido.
A actividade editorial
representa um importante património e um meio de intervenção de grande valor. É
necessário promover a sua dinamização, nomeadamente no plano das edições e das
iniciativas de promoção, integrada numa mais forte linha de acção política, cultural
e ideológica.
4.9. Meios financeiros
A capacidade do Partido para
realizar as tarefas políticas está estreitamente relacionada com a sua
capacidade financeira. A questão dos fundos, desde a sua angariação até à sua
criteriosa gestão, constitui um problema da maior importância na actividade
quotidiana dos militantes, dos organismos e das organizações.» Esta conclusão
da Resolução Política do XVI Congresso do Partido mantém toda a actualidade,
tal como se mantêm actuais as deficiências ali apontadas, assim como a
enumeração das medidas para as ultrapassar.
O aumento dos recursos
materiais, na perspectiva de assegurar a independência financeira do Partido, a
par da luta pela revogação da iníqua Lei de Financiamento dos Partidos
Políticos e das Campanhas Eleitorais, aprovada pela direita com o apoio do PS e
do Presidente da República, é uma questão fulcral para a garantia da manutenção
do carácter de classe do nosso Partido, da sua independência política e
ideológica.
No último Congresso foram
definidas linhas orientadoras para o trabalho partidário nos quatro anos
seguintes que apontavam para um aumento das receitas no seu global,
particularizando o aumento das quotas e a sua cobrança regular, das
contribuições dos filiados e dos eleitos nos diversos órgãos autárquicos e
legislativos. A sua concretização quatro anos passados está longe de ser
satisfatória, continuando a verificar-se incompreensões e subestimações
políticas nesta área decisiva da vida partidária.
O objectivo proposto não foi
alcançado, quer por razões relacionadas com as deficiências na actividade do
Partido, quer por acontecimentos políticos a ela exteriores. Os resultados
eleitorais do Partido e da CDU nas eleições autárquicas e legislativas que se
realizaram neste período, desfavoráveis em termos políticos, tiveram reflexos
negativos também ao nível das receitas, quer nas institucionais (menos 9,68%)
quer nas contribuições dos eleitos (menos 23,71%).
As contas, consideradas
globalmente, têm apresentado resultados líquidos negativos nos últimos três
anos, traduzindo uma arrecadação de receitas muito aquém das despesas, o que
exigiu o recurso a receitas extraordinárias, através da gestão do património do
Partido.
No que respeita às contas das
organizações regionais, a taxa de cobertura das despesas pelas receitas, em
2000, foi de 79,9%, enquanto que, em 2003, subiu para 85,1%. Esta variação
significa que os esforços que as organizações têm vindo a fazer para diminuir
as despesas, ainda que positivos, são insuficientes.
As quotizações, que para
além da sua importância financeira têm no PCP um significado político muito
importante, ficaram aquém dos objectivos. O aumento verificado de 8,39% nesta
rubrica em 2003 relativamente ao ano de 2000 não é separável da campanha de
contactos e actualizações, levada a cabo à escala nacional, o que em si revela
as potencialidades e a necessidade de consolidar o trabalho no sentido de que
cada militante do Partido cumpra o dever estatutário de pagar a sua quotização
e de a manter actualizada.
Globalmente, as receitas
operacionais aumentaram passando de 7 167 336,56 euros em 2000 para 8 208
233,41 euros em 2003, o que representa, um aumento de 14,52%.
As receitas das organizações
regionais globalmente consideradas apresentam um aumento de 57,6%, passando de
4 089 768,90 euros em 2000, para 6 445 362,66 euros em 2003, insuficiente para
cobrir o aumento das despesas entretanto verificado.
As despesas operacionais,
consideradas globalmente, aumentaram 29,12%, passando de 7 852 086,89 euros em
2000 para 10 138 237,13 euros em 2003. Neste ano mais de 46% do total destas
dizem respeito aos «custos com o pessoal», situação que se justifica plenamente
atendendo à natureza e características do Partido que somos.
As despesas do conjunto das
organizações regionais aumentaram 47,98%, passando de 5 120 464,92 euros em
2000 para 7 577 455,56 euros em 2003.
A procura de um equilíbrio
financeiro nas contas do Partido exige as seguintes medidas e objectivos de
trabalho:
o aumento de receitas, dando
particular atenção: à recolha da quotização, quer pela via orgânica
responsabilizando mais camaradas pelo acompanhamento respectivo, quer
dinamizando novas formas de recebimento - transferência bancária e pagamento
pelo Multibanco - , tendo como objectivo ganhar o conjunto dos militantes para
um valor ínimo de quota definido a partir da referência de 1% do respectivo
vencimento (ou remuneração) mensal; à recolha e controlo das contribuições dos
eleitos em cargos públicos e de membros de cargos de nomeação política, levando
à prática o princípio ético e estatutário de não ser beneficiado nem
prejudicado; à recolha de contribuições dos militantes e simpatizantes; à
realização de iniciativas públicas, importante forma de obtenção de receitas e
meio de contacto com os militantes e para aproximação às massas; à dinamização
dos locais de convívio nos centros de trabalho, tornando-os atractivos,
funcionais e fonte de receita para a organização;
a contenção e redução das
despesas, visando particularmente: aprofundar o controlo financeiro com o
objectivo de estancar e banir gastos supérfluos não fundamentais paraa
actividade política; combater liberalismos e dar mais atenção à utilização de
meios materiais e financeiros do Partido e diminuir o peso relativo de
funcionários sem tarefas na organização; defender e salvaguardar o património
do Partido, adequando a sua utilização ao necessário equilíbrio financeiro;
a definição por cada organismo
do Partido do seu plano de trabalho anual com vista à concretização dos
objectivos da política de fundos.
A política financeira do
Partido e as medidas que lhe têm que estar associadas nos próximos anos não
podem deixar de ter presente a necessidade de garantir um equilíbrio financeiro
sem recurso às verbas de gestão do património e uma redução da dependência de
subsídios centrais por parte das organizações regionais.
Ao Partido no seu conjunto, e a
cada organização em particular, coloca-se o objectivo de, no âmbito da sua
actividade, procurar um aumento das receitas e uma redução das despesas que
assegurem a indispensável actividade política no quadro das reais
possibilidades financeiras do Partido.
O Partido, como Partido da
classe operária e de todos os trabalhadores, dispõe de possibilidades
objectivas para vencer e ultrapassar as actuais dificuldades nesta importante
área da sua actividade.
4.10. Actividade
internacional
O PCP interveio na intensa
batalha política e ideológica imposta pela ofensiva do imperialismo, dando
resposta, no essencial, a um conjunto muito diverso de novos problemas,
desenvolvendo a sua solidariedade com os povos em luta, intervindo na frente da
paz e no «movimento antiglobalização».
A actividade internacional do
PCP caracterizou-se pelo reforço e alargamento das suas relações com partidos
comunistas e outras forças progressistas, pelo restabelecimento de relações com
alguns partidos e o estabelecimento de novas relações, nomeadamente no Leste da
Europa. Há a salientar dois traços essenciais: um negativo, que é a tendência
para a diminuição da visita de delegações a Portugal, apesar da participação
regular de cerca de 40 delegações na Festa do Avante! e outro positivo,
o grande número de delegações ao estrangeiro para visitas oficiais ou de
estudo, congressos, festas da imprensa comunista, encontros de solidariedade,
conferências e seminários.
Na Europa, a actividade foi
intensa e exigente. O PCP deu activa contribuição para a actividade do Grupo de
Esquerda Unitária Europeia/EVN no Parlamento Europeu. Promoveu encontros sobre
questões sociais e para a elaboração da Plataforma comum para as eleições para
o PE. Participou em várias iniciativas sobre a problemática europeia.
Participou no Fórum da Nova Esquerda Europeia, como observador, e em reuniões
de partidos de esquerda que conduziram ao «partido da esquerda europeia», que
não integrou por não o considerar adequado ao necessário reforço da cooperação.
O PCP continuou a dar atenção e
a valorizar as suas relações em África, Ásia e América Latina. É de salientar a
participação nos Seminários de partidos comunistas da América Latina e Europa,
nos Encontros do Fórum de S. Paulo, nos Encontros Internacionais de Atenas, nas
Conferências Euro-Mediterrânicas de partidos de esquerda e em Seminários como o
promovido pelo Partido Comunista da China «Socialismo, realidade e
desenvolvimento». Em Portugal, regista-se como muito positivo a realização do
Seminário Internacional por ocasião do 30.º aniversário do 25 de Abril.
Atento ao desenvolvimento dos
processos de contestação da política exploradora e agressiva do imperialismo, o
PCP interveio no movimento pela paz e «antiglobalização» com a preocupação de
defender o seu conteúdo anti-imperialista. Participou nos Fóruns Sociais
Mundiais e Europeus, em várias contra-Cimeiras, nas Marchas da Rota (Espanha).
O PCP, partido patriótico e
internacionalista, orienta a sua actividade internacional na defesa dos
interesses dos trabalhadores, da soberania e independência nacionais, na luta
pela paz e no reforço da amizade e cooperação com todos os povos. Deverão ser
linhas fundamentais para a intervenção do Partido: o reforço das relações
bilaterais e multilaterais entre partidos comunistas e outra forças
revolucionárias e para a sua crescente unidade na acção; a afirmação dos
valores e ideais do socialismo e contribuir para a recuperação e relançamento
do movimento comunista e revolucionário; o reforço das relações de intercâmbio
com outras forças políticas e sociais anticapitalistas; a resposta pronta aos
acontecimentos internacionais desenvolvendo iniciativas de agitação,
esclarecimento e solidariedade; a criação de condições para o estudo mais
sistemático e aprofundado da evolução da situação internacional; a abordagem
das questões internacionais no seu discurso político; o reforço da informação
ao Partido sobre a actividade internacional e o prosseguimento da divulgação
para o exterior das principais análises do Partido; a melhoria da articulação
da actividade internacional dos comunistas nas instituições e nos movimentos de
massas; a contribuição para o desenvolvimento das iniciativas nacionais e
internacionais dos movimentos unitários pela paz e de solidariedade
internacionalista.
4.11. Nota final
O XVII Congresso, avaliando a
situação internacional e nacional, o papel indispensável e insubstituível do
PCP na sociedade portuguesa e a sua contribuição para o movimento comunista e
revolucionário, as exigências a que está sujeito, afirma a disposição de
assegurar que o PCP, partido comunista que foi, é e vai continuar a ser,
cumprirá o seu papel, sejam quais forem as condições em que tenha que actuar.
A intervenção e a força do PCP
baseiam-se no seus quadros e militantes, organizados e unidos em torno de um
projecto, com sólidos princípios de funcionamento, fortes laços de fraternidade
e solidariedade, ligados aos trabalhadores e à população. Da reflexão, iniciativa,
militância e acção de cada um e de todos os militantes, depende a força do
Partido e sua capacidade de intervir, influenciar e transformar.
O XVII Congresso salienta que
os militantes e organizações do Partido, as gerações de comunistas que fazem o
PCP neste início do século XXI, ligados aos trabalhadores, à juventude, ao povo
português, intérpretes no tempo presente da gesta heróica, da abnegação,
espírito de sacrifício e humanismo de gerações de comunistas que ao longo de
muitas décadas têm formado o Partido, são o colectivo capaz de impulsionar os
avanços progressistas de que a sociedade portuguesa carece, são o colectivo
capaz de contribuir para o relançamento e reforço do movimento comunista e
revolucionário que a luta dos trabalhadores e dos povos precisa para a
liquidação do capitalismo e a sua substituição por uma nova sociedade liberta
da exploração e da opressão - o socialismo e o comunismo.
Almada, 28 de Novembro de 2004
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